VOCÊ S.A. - Agosto/2000 - Tom Morris

Edição 26 – artigo 3                                                              05/09/2000
Sabedoria antiga
Quer se preparar para o futuro? Aprenda com o passado. É lá que estão as mais profundas verdades da natureza humana.
Por Tom Morris

Por milhares de anos, os filósofos procuraram compreender a natureza humana. Estiveram em busca da sabedoria sobre a melhor maneira de viver. Os mais brilhantes fizeram profundas descobertas, que resistiram ao teste do tempo, sobre a excelência e sobre o sucesso.
Mais do que nunca, em toda a História humana, precisamos de sabedoria sólida. O ritmo das mudanças em nosso mundo é o mais rápido já alcançado. E o futuro nos acena com uma aceleração ainda maior em termos de inovação tecnológica, globalização e reconfiguração do modo como trabalhamos e competimos em todas as atividades. Somente tomando como base as mais profundas e imutáveis verdades acerca da natureza humana, estaremos aptos a lidar com todas as coisas mutáveis à nossa volta. Estou convencido de que muitos aspectos da antiga sabedoria podem nos preparar, de maneira única, para tirar o máximo proveito das oportunidades de negócios com que o futuro nos brindará. Vamos a eles:
AUTOCONHECIMENTO E SUCESSO

Na Antiguidade, muitas pessoas procuravam os conselhos do filósofo pré-socrático Tales. Em resposta a questão "Qual a coisa mais difícil do mundo?", ele_dizia, muito simplesmente: "Conhecer-se a si mesmo". Quando lhe perguntavam "Qual a coisa mais fácil do mundo?", Tales replicava "Aconselhar as outras pessoas”. E quando lhe colocavam uma terceira questão, "De todas as coisas, o que causa maior satisfação?", o filósofo respondia: "O verdadeiro sucesso".
Trata-se de uma série de intuições iluminadoras. A coisa mais fácil do mundo é dar conselhos às outras pessoas. É por isso que o mundo está tão repleto de gurus e comentaristas que aconselham sem sair de suas poltronas. Conselho é uma das mercadorias mais disponiveis do mundo. Mas bons conselhos, ironicamente, são difíceis de encontrar. Os que se aproximavam de Tales para levar suas questões sobre a vida faziam bem em procurar um verdadeiro especialista em natureza humana. E o filósofo não os desapontava.
Tales estava certo em cada uma dessas respostas. Todos os pensadores antigos recomendavam insistentemente a seus ouvintes a necessidade de se autoconhecer. Mas o autoconhecimento pode ser a coisa mais difícil de atingir e de ser renovado. E, no entanto, pode-se afirmar que é o fundamento mais importante para o que dá mais satisfação, que é o verdadeiro e duradouro sucesso. É por esse motivo que o sucesso representa tamanho desafio, nos negócios e na vida. Sem autoconhecimento, pessoas talentosas e habilidosas estão desprovidas, em tudo o que fazem, de um dos alicerces mais básicos do sucesso duradouro.
Todo trabalhador no século 21, seja nas linhas de produção, seja nos escritórios, precisará ver a si mesmo como um empresário independente, um vendedor especializado de serviços com uma marca muito especial, conhecida de todos. Só isso nos ajudará a atrair recursos, respeito e oportunidades que manterão o trabalho interessante, a empresa poderosa e as carreiras florescentes. Mas isso requer uma grande dose de autoconhecimento. É pela sua importância nas atividades mais criativas que antigos filósofos, como Tales, queriam que compreendêssemos quão difícil é alcançar o autoconhecimento. No futuro, com todas as suas possibilidades criativas e empresariais, o ramo dos negócios exigirá mais do que nunca essa rara mercadoria. Assim, faço coro aos antigos pensadores, recomendando: "Conhece-te a ti mesmo".
AS CONDIÇÕES UNIVERSAIS DO SUCESSO NOS NEGÓCIOS

O verdadeiro sucesso nos negócios e na vida envolve três coisas - descobrir nossos talentos, desenvolvê-los e utilizá-los tanto para o bem alheio quanto para o próprio bem. A essência do sucesso não reside, de modo algum, em dinheiro, fama, poder, status, fatia do mercado ou lucro. Esses são meros efeitos colaterais contingentes do verdadeiro sucesso. A substância do sucesso envolve sempre autoconhecimento, crescimento pessoal e atividade em um nível de excelência que produz grandes relacionamentos e resulta em algo positivo para o mundo - nem mais nem menos. O verdadeiro sucesso em geral se reflete nesses parâmetros externos que muitas vezes buscamos obsessivamente. Mas jamais é encontrado quando se busca somente a eles.
Em meu livro True Success: A New Philosophy of Excellence (publicado no Brasil como O Verdadeiro Sucesso, Cultrix), apresentei sete condições universais de sucesso de acordo como eram entendidas pelos maiores filósofos de todas as culturas, desde os tempos mais remotos. Em cada desafio é preciso estruturar nossas ações e atitudes em torno delas.
AS SETE CONDIÇÕES UNIVERSAIS DE SUCESSO

Em toda empresa, precisamos de:
1.   Uma CLARA CONCEPÇÃO do que queremos.
2.   Uma FORTE CONFIANÇA de que podemos atingir nosso objetivo.
3.   Uma CONCENTRAÇÃO FOCALIZADA no que faremos.
4.   Uma CONSISTÊNCIA OBSTINADA na busca do que almejamos.
5.   Um COMPROMISSO EMOCIONAL com o que estamos fazendo.
6.   Um BOM CARÁTER para nos guiar e manter no trajeto.
7.   Uma CAPACIDADE DE DESFRUTAR do processo.
Podemos encontrar uma compreensão e apreciação desses sete pontos nos escritos de figuras tão diversas quanto os antigos pensadores chineses Confúcio e Lao-Tsé, os estoicos romanos Sêneca e Marco Aurélio e o jesuíta do século 17 Baltasar Gracián, ou em pensadores modernos como Ralph Waldo Emerson. O sucesso em qualquer empreendimento é bastante facilitado quando essas sete condições são seguidas. Por mais importantes que tenham sido no passado, estou convencido de que serão ainda mais vitais para o sucesso nos negócios no futuro.
MANTENDO O SUCESSO

O sucesso duradouro nos negócios se baseia na compreensão e no respeito das necessidades universais contidas na natureza humana. Os filósofos antigos diagnosticavam com especial agudeza os motivos profundos que nos levam a dar o melhor de nós mesmos em cada situação. E nos deixaram os mais diversos tipos de conselhos sobre o que realmente importa em qualquer atividade humana. Tendemos com frequência a pensar nos negócios em termos de produtos e processos, mas é um terceiro elemento que acaba sempre sendo o mais importante - as pessoas que fazem o trabalho. Processos eficientes e produtos de qualidade são vitais para qualquer companhia que quiser ser bem-sucedida. Mas a fonte e o fundamento real do sucesso duradouro é, em última instância, o espírito das pessoas envolvidas.
Muitos dos antigos filósofos compreenderam que há quatro dimensões da experiência humana que estruturam tudo o que sentimos e fazemos. Se pudermos apreender a importância desses quatro fundamentos, podemos acumular mais energia para nossos fins empresariais.
OS QUATRO FUNDAMENTOS DA EXCELÊNCIA SUSTENTADA:        
·      A dimensão INTELECTUAL da experiência e sua meta, a VERDADE.
·      A dimensão ESTÉTICA da experiência e sua meta, a BELEZA.
·      À dimensão MORAL da experiência e sua meta, a BONDADE.
·      A dimensão ESPIRITUAL da experiência e sua meta, a UNIDADE.
Expus a importância dessas coisas em um livro intitulado If Aristotle Ran Out General Motors: The New Soul of Business (Se Aristóteles Dirigisse a General Motors: O Novo Espírito dos Negócios) e utilizei essas ideias para ajudar os lideres de algumas das maiores companhias do mundo a compreender o que será necessário para liderar no futuro. As pessoas precisam de uma certa dose de verdade, beleza, bondade e unidade em sua experiência diária de trabalho. Se respeitarmos e alimentarmos esses quatro preceitos em todas as nossas relações com as pessoas, criaremos em nossas organizações um espírito de corporação mais forte e novas formas de lealdade - que não dependem unicamente de condições imprevisíveis de mercado -, tanto no interior de nossas companhias quanto com os vendedores e clientes. Ao seguir esses princípios, alcançamos as raízes profundas da motivação humana e fornecemos as condições para manter o sucesso em tudo o que fazemos. O futuro dos negócios exigirá que compreendamos essas intuições, que são as mais antigas, e as apliquemos em tudo o que fizermos.
LIDERANÇA EM TEMPOS DE MUDANÇA

O poema épico Beowulf foi escrito, muito provavelmente, no século 8 d.C., foi o primeiro grande texto literário da Inglaterra. Está recheado de intuições sobre liderança e advertências para realizadores de grandes feitos, coisas em que precisamos prestar atenção à medida que ingressamos no futuro.
Segundo o relato, Beowulf se tornou o mais completo guerreiro de sua época, vencendo repetidamente os inimigos mais duros. Sua reputação se estabeleceu por séculos quando, ainda jovem, lutou com dois monstruosos inimigos e venceu-os sozinho. Como resultado de sua força, bondade, honestidade e grande renome tornou-se rei, e governou seu povo com justiça por 50 anos. Seu reino foi então, repentinamente, ameaçado pelo mais feroz adversário que ele jamais enfrentou, um horrível dragão que cuspia fogo.
Diante do maior desafio de sua carreira, Beowulf reuniu uma dúzia de homens para acompanhá-lo ao covil do dragão, mas levou-os como testemunhas, não como companheiros de armas. Seu orgulho e seus hábitos, há muito arraigados, determinaram que ele tentasse lutar sozinho com seu adversário. A violência da luta foi tão grande gue os espectadores fugiram para salvar suas próprias vidas, apesar de serem soldados experimentados. Mas seu líder nunca os preparou para enfrentar os mais exigentes desafios - ele sempre cuidou sozinho das grandes tarefas. E assim, quando o maior de todos os testes surgiu, eles estavam despreparados para ajudar. Exceto um jovem, Wiglaf, que permaneceu e se apressou em lutar ao lado de seu líder. Juntos, "em parceria", diz o poeta, eles derrotaram o dragão, mas não sem que Beowulf fosse mortalmente ferido.
Esse grande homem encontrou a morte porque não foi capaz de mudar quando era necessário. Nada garantia que o que funcionou em sua juventude funcionaria em seus últimos anos. Mas ele era orgulhoso. E tinha hábitos que o fizeram agir de uma maneira quando outra era a mais apropriada. O antigo filósofo Cícero recomendara, muito antes, que devemos estar preparados, à medida que passam os anos, a nos adaptar a novas maneiras de agir no mundo e a ensinar a outros, com parcerias - mediante as quais podemos deixar nossa marca mesmo numa idade avançada.
Isso deveria servir de aviso para todos nós. O que funcionou no passado nem sempre se revelará a melhor estratégia no futuro. Não podemos deixar que nossos hábitos e orgulho impeçam a abertura e a mudança. Precisamos de fato do autoconhecimento para evitar nos tornar nossos piores inimigos em tempos de mudança.
A lição final de Beowulf é que nenhum de nós pode fazer as coisas mais importantes sozinho. A parceria, a colaboração e a aliança são as chaves para enfrentar os mais assustadores desafios com os quais nos defrontamos. E o futuro dos negócios requererá isso mais do que nunca.
Existe muita sabedoria para o futuro dos negócios nas obras dos grandes filósofos, sabedoria a que precisamos prestar atenção e incorporar, se quisermos que o futuro seja o melhor possível.





O professor de filosofia da Universidade de Notre-Dame, é um dos mais populares escritores americanos de negócios dos últimos tempos. Seus livros e palestras ensinam homens e mulheres de negócios a usar a sabedoria de filósofos como Sócrates e Aristóteles para enfrentar os desafios de hoje. Ph.D. em filosofia e estudos religiosos pela Universidade de Yale, o professor Morris é conhecido por seu comportamento pouco usual. Não esperem um acadêmico sisudo e cheirando a mofo. Você vai vê-lo mais facilmente num show de rock, tocando sua guitarra, e em programas de televisão da rede NBC, divulgando filosofia antiga.

03/01/2014


Tesão & TarasAnalisar ou derrapar

Qualquer análise tem que ser honesta, afinal o maior pecado que podemos cometer é o autoengano, mormente se queremos analisar como funcionam empresas, pessoas e sociedades.

Que carro você quer pra entrar nessa corrida?

Um tem os melhores freios do mundo, freios tão bons que ele já nasce parado e... sem motor!

O outro tem um motor potente, pneus carecas e...    
nenhum freio, mas você vai precisar entrar com ele andando.


Se você não quer entrar em nenhum dos dois você é uma pessoa normal. Afinal de que serve um carro parado e, por outro lado, como fazer as curvas com um carro sem freios. No entanto nem sempre decidimos com tal sensatez nas curvas da vida.

Muito se fala, principalmente no âmbito corporativo, de Missão e Valores e ninguém questiona a importância desses atributos, seja para empresas, seja para as pessoas.

Não nos ocorre que mais importante do que “Missão e Valores” é descobrir qual é nosso “Tesão” e quais são nossas “Taras”.

Um carro para ser bom tem que estar equipado com algumas coisas fundamentais:
  • Motor é o Tesão: aquilo – e a única coisa – que te move.
  • Pneus são as Taras: sempre prontos para derrapar.
  • Freio é a Missão: só serve para diminuir o ritmo.
  • Direção são os Valores: como indicamos aonde queremos ir.
Missão e Valores são coisas meramente ideais. Não só não existem, uma vez que são apenas promessas, como também são altamente questionáveis porque derivadas de moral e ética, coisas fundamentalmente variáveis conforme a sociedade e a época em que vivemos.

À medida que vamos nos atrelando a essas “invenções” criadas para nos sentirmos aceitos pela sociedade em que vivemos, vamos travando nossos freios e fritando nossos pneus, que vão ficando cada vez mais carecas.

Isso provoca desequilíbrios que vão desde a busca de subterfúgios como ser torcedor fanático, ser obcecado por um rabo de saia ou, por outro lado, possessivo e doente de ciúme, precisar daquele trago todo fim de dia, colecionar coisas malucas, virar algum tipo de “ólatra”, cair na rede de alguma seita ou filosofia mirabolante, até extremos como tornar-se um serial killer, um estripador de prostitutas, um skin head perseguidor de negros, nordestinos e homossexuais etc., etc., etc.

– Pô, aí você já está viajando... – dirão alguns.

Entretanto, apesar de serem, felizmente, casos pouco frequentes (embora ocorra cada vez mais), parece certo que muitas dessas aberrações são provocadas por algum tipo de repressão ou auto repressão que ultrapassou algum limite, desembocando em comportamentos hediondos.


O fato é que só nos movemos pelo Tesão ou, usando uma expressão mais polida: pelo Entusiasmo, o resto são apenas controles. Quanto mais percebermos isso melhor poderemos administrar nossas vidas e nossos sentimentos.

Missão e Valores são relativos

Essa frase choca, mas infelizmente, é nessa armadilha que nos jogamos quando começamos a questionar tudo, todas as regras sociais que inibiam a nossa liberdade. Nunca foi tão claro o significado da “expulsão do paraíso”.

Talvez não precisemos jogar fora nossas convicções, apenas ficar atentos às nossas taras, elas são o melhor indicador de como está nossa capacidade de fazer as curvas que vão aparecendo na estrada da vida.

“Missão e Valores” não são mais do que controles, não definem como vamos sair da imobilidade, como vamos competir, é o “Tesão” que nos move, porém não podemos esquecer de nossas “Taras”, pneus carequinhas que, se por um lado nos dão mais velocidade, por outro nos deixam sem controle nenhum e, acredite: VOCÊ TEM “TARAS”.

Missão é aquilo que nós acreditamos com o “lobo frontal” (Sabe? Aquele, que nos permite mentir melhor que os macacos?), invenções ideais que podem servir de orientação, mas é só motivação, o Tesão é que nos entusiasma.

Muito mais do que os Valores – essas promessas de amor verdadeiro e eterno que fazemos a alguém que nos dá tesão – são as Taras que definem como vamos nos comportar, principalmente frente às tentações da vida.

A primeira mudança é aceitar que temos Taras, todos temos Taras, e nossa atitude será tão melhor quanto mais reconhecermos isso e, a partir daí, pudermos administrar melhor nossos sentimentos.

Alguém disse que alcançaremos a felicidade ou, ao menos, a alegria de viver, quando se PODE e DEVE aquilo que se QUER.

O que queremos, o que nos dá Tesão, depende, em maior ou menor grau, de nossas Taras. Se conseguirmos determinar nossa Missão pelo nosso Tesão e administrar nossos Valores em constante diálogo com nossas Taras, tudo bem, estamos na corrida, caso contrário viveremos parados ou voando pelos barrancos, apenas para sustentar médicos e analistas.

Por que existem as máfias?

Está cada vez mais claro que o mundo é dividido em duas formas de governo:
  1. As máfias, o chamado crime organizado, um sistema de governo baseado em Tesão & Taras que usa Missão e Valores como instrumento de poder: honra, lealdade, devoção à causa da famiglia;
  2. E os governos institucionais, sistema baseados em Missão e Valores e que usam Tesão & Taras como instrumento de poder: marketing político, corrupção, aliciamento.
Tesão & Taras se manifestam de várias formas como fenômenos sociais: uma delas são os rebeldes, insurrectos, idealistas, outra são as máfias, o crime organizado e, entre as duas, os black bloc, estes sem direção nem controle e que, justamente por isso, serão inevitavelmente submetidos por um dos dois lados.

Governos não se baseiam em Tesão & Taras e sim em Missão e Valores e as máfias não toleram se submeter a isso.

Na verdade ninguém tolera, a maioria apenas não tem coragem de se rebelar.

Essa é a realidade da espécie humana, viver no meio da luta entre o bem e o mal, bem e mal que nós mesmos inventamos. Viver entre Orcs e Elfos, em busca do Anel da invulnerabilidade. Nós os trouxas[1] do Harry Potter, sendo levados como as trouxas que os aventureiros levam nas costas.

Já falamos também sobre essa imagem criada por J. K. Rowling[2], autora de Harry Potter, a figura dos trouxas, aqueles que não são versados nos conhecimentos de magia. Basicamente diz respeito à maioria de nós, que se julga incapaz de mudar as coisas, que não tem coragem de assumir um lado dessa partilha do poder.

Aí está, mais uma vez de forma inequívoca, a nossa sina da “expulsão do paraíso”. A questão eterna da humanidade! E os livros sagrados são muito claros em uma questão: a única saída para os degredados é o apocalipse, seja como um fim, seja como um recomeço.

Se acreditamos que o apocalipse significa um recomeço, precisamos, urgentemente, do terceiro evangelho, um novo livro sagrado que nos oriente, porque as duas forças: Tesão & Taras e Missão e Valores, estão aí para sempre, não temos mais como apaga-las de nossas consciências, e não estão lá fora, no mundo, estão dentro de nós, de cada um de nós.
Como vejo o mundo
Albert Einstein
A respeito da degradação do homem de ciência
...
Hoje, o homem de ciência se vê verdadeiramente diante de um destino trágico. Quer e deseja a verdade e a profunda independência. Mas, por estes esforços quase sobre-humanos, produziu exatamente os meios que o reduzem exteriormente à escravidão e que irão aniquilá-lo em seu íntimo. Deveria autorizar aos representantes do poder político que lhe ponham uma mordaça. E, como soldado, vê-se obrigado a sacrificar a vida de outrem e a própria, e está convencido de que este sacrifício é um absurdo. Com toda a inteligência desejável, compreende que, num clima histórico bem-condicionado, os Estados fundados sobre a ideia de Nação encarnam o poder económico e político e, por conseguinte, também o poder militar, e que todo este sistema conduz inexoravelmente ao aniquilamento universal. Sabe que, com os atuais métodos de poder terrorista, somente a instauração de uma ordem jurídica supranacional pode ainda salvar a humanidade. Mas é tal a evolução, que suporta sua condenação à categoria de escravo como inevitável. Degrada-se tão profundamente que continua, a mandado, a aperfeiçoar os meios destinados à destruição de seus semelhantes.
Estará realmente o homem de ciência obrigado a suportar este pesadelo? Terá definitivamente passado o tempo em que sua liberdade íntima, seu pensamento independente e suas pesquisas podiam iluminar e enriquecer a vida dos homens? Teria ele se esquecido de sua responsabilidade e sua dignidade, por ter seu esforço se exercido unicamente na atividade intelectual? Respondo: sim, pode-se aniquilar um homem interiormente livre e que vive segundo sua consciência, mas não se pode reduzi-lo ao estado de escravo ou de instrumento cego.
Se o cientista contemporâneo encontrar tempo e coragem para julgar a situação e sua responsabilidade, de modo pacífico e objetivo, e se agir em função deste exame, então as perspectivas de uma solução racional e satisfatória para a situação internacional de hoje, excessivamente perigosa, aparecerão profunda e radicalmente transformadas.
As “direitas” são muito mais pragmáticas, lidam muito melhor com essa dualidade, pelo menos no que diz respeito à manutenção do poder – lembrando que muita “esquerda” por aí não passa de lobo em pele de cordeiro.

Serra e Alckmin negociam com o PCC sem nenhum constrangimento, Kennedy buscou apoio em Chicago com o capo SamGiancana: eles entendem que essas forças sempre existiram e sempre existirão, não podem ser eliminadas, então precisam ser consideradas na equação política.

A “esquerda” real é muito mais ingênua, muito mais idealista, acredita que pode fugir do apocalipse, eliminar o mal e finalmente libertar o povo oprimido, só que dentro de cada um, idealistas, opressores e oprimidos, estão lá Tesão & Taras, confundindo, provocando derrapadas monumentais e tirando o carro da pista.

Ou escrevemos o novo livro sagrado da humanidade, cuja fórmula nós ainda não encontramos, ou vamos rumo ao apocalipse, a alternativa é avaliar como negociar entre esses dois lados, o bem e o mal, Tesão & Taras e Missão e Valores e, finalmente, estabelecermos um diálogo entre direita e esquerda, branco e vermelho, explorador e conservador, usurpador e filhos da terra.


Um exercício de raciocínio

Sabemos, ou pelo menos deveríamos saber, que o exercício físico nos faz sentir melhor, com mais disposição, menos sujeitos a doenças etc., entretanto a prática é penosa, exige força de vontade.

Quando vencemos a preguiça e iniciamos, as coisas vão ficando progressivamente mais fáceis.

Ocorrem dois fenômenos simultâneos: a redução dos sintomas como cansaço, desconforto respiratório, dores musculares etc., devido ao condicionamento físico e um segundo fenômeno, muito mais importante que o primeiro, que é a redução da sensibilidade negativa.

Eu chamo de sensibilidade negativa a sensibilidade ao sofrimento: à medida que nos exercitamos vamos reduzindo essa sensibilidade negativa permitindo que a gente vá se superando cada vez mais.

Esse mesmo processo se dá ao lidarmos com nosso comportamento: se encararmos Tesão & Taras de forma honesta podemos começar a nos exercitar para o que julgamos ser nossa Missão e nossos Valores, lembrando que estes serão sempre adaptáveis, porque fruto única e exclusivamente de nossa imaginação, real mesmo são Tesão & Taras.

Quanto menos encaramos Tesão & Taras mais estamos vulneráveis a eles e menos fiéis à nossa Missão e nossos Valores.

Missão e Valores devem ser bem dosados, de acordo com as circunstâncias e com a capacidade de cada um a cada momento, da mesma forma que no condicionamento físico.

Não se trata de abrir mão de nossas convicções, ao contrário, como já dissemos em outra ocasião, devemos sempre ser fiéis ao nosso conhecimento, podendo até reconstruí-lo, mas sempre respeitando o que já sabíamos e, partindo daquele ponto, rever e aprimorar nossas conclusões.

Um aspecto interessante desse processo é que, ao reduzir a sua sensibilidade negativa, que é a sensibilidade ao sofrimento, à privação, ao esforço de nos enquadrarmos àquilo em que acreditamos, mais você desenvolve a sua sensibilidade positiva: a sensibilidade ao prazer, ao belo, à alegria de viver, a sensibilidade ao que dá Tesão.


[1] Muggles no original.
[2] Joanne Kathleen Rowling Murray
13/10/2013


CORAGEM

A trilogia se completa!

Falamos de Liberdade, o maior anseio, de Confiança, o melhor meio, falta falar da Coragem, o instrumento.

Ao falar de coragem pensamos em luta e, ao pensar em luta, pensamos em inimigo e o grande inimigo a ser vencido é o medo e só precisamos de uma arma: a Coragem!

O MEDO

Esse talvez seja, dentre os “inimigos do homem”[1], o pior ou, pelo menos, o mais insidioso, sorrateiro e difícil de identificar. Uma coisa muito comum é ele vir disfarçado por uma atitude jocosa, de despreocupação, quase uma arrogância ante questões ligadas ao ‘mistério’.

O medo, que por vezes não é evidente, está influindo todo o tempo em nossas decisões e, principalmente, nos enfraquecendo nos embates da vida, sejam eles no trabalho, nos negócios, na família e até mesmo com os filhos, quando muitas vezes nos tornamos reféns de sentimentos de culpa e cedemos a pedidos que acabam por atrapalhar o bom desenvolvimento de suas personalidades em formação.

A atitude de ‘querer’ acreditar em algo – dar um sentido para nossa vida – é um dos melhores antídotos para o medo.

Essa atitude é uma forma de romper o ciclo vicioso do medo: “medo gera medo”, com o ciclo virtuoso: “coragem gera coragem”. Coragem de assumir os riscos dessa tomada de posição.

Uma das formas de medo mais sutis é a aversão à análise da vida.

“Se eu paro eu penso, se eu penso eu choro!”

É a negação em responder a perguntas que, independente de nossa vontade, estão presentes em nosso espírito.

Essas perguntas, ainda que afirmemos veementemente que não nos preocupam nem um pouco, estão lá, minando nossa vontade e nossa coragem.

Quantas vezes nos deparamos com situações em que, por falta de coragem, deixamos de conseguir alguma coisa: uma namorada, um emprego, uma promoção, um bom negócio e, ao olharmos para o lado, vemos alguém se dando bem. Claro: ou o cara é virado pra lua ou é apaniguado de alguém, não é mesmo? Nem sempre, pode ser apenas uma pessoa de coragem!

Pode ser que muitas das perguntas só possam ser respondidas com um rotundo: – Não sei! Mas, ainda assim, servem para conduzir nossa análise: partindo do fato de que não sabemos podemos adotar uma atitude mais coerente do que mantendo a ilusão de sabemos.

Uma das perguntas que causa mais medo é: – Deus existe? Basta verificar o que você pensa sobre isso e escrever a palavra “Deus”. Acho que, como eu, você escreveria com letra maiúscula, afinal, nas aulas de catecismo, em casa ou em algum lugar, alguém, em algum momento nos disse que era assim que tinha que ser escrito, caso contrário estaríamos desrespeitando e, de certa forma, desafiando o ser supremo.

Será normal ter medo de algo que nem se sabe se existe? Apesar de parecer prudente, não é! Pelo simples fato de que é um medo e, portanto, não pode ser ignorado porque nos atrapalhará.

Claro, você pode dizer: – Estou contente com minha vida, é bobagem me preocupar com isso!

Apenas digo que, infelizmente, você já está preocupado, só não tem coragem de encarar!

Medo em prosa

Medo de mudar de emprego, medo de não ser aceito, medo de não ser admirado, medo de não ser respeitado, medo de perder a companhia, medo de assumir riscos, medo de perder dinheiro, medo de perder a saúde, medo de perder uma oportunidade...
Medo de não estar certo...
e quando falta o sono, medo do dia seguinte: insônia certa!


MEDO de ter MEDO!

O medo de perder dinheiro é um dos mais perturbadores, porque perder a saúde é muito mais distante em nosso inconsciente.

Bem, posso dizer que já fiquei sem dinheiro, não por alguns meses, mas por vários anos. Tivemos que contar com ajuda, engolir o orgulho e ir e frente, mas posso dizer que viver sem dinheiro não é muito diferente do que com dinheiro, porque nos adaptamos às dificuldades e seguimos em frente.

Não fiquei sem dormir, não deixei de me divertir, não colocamos nossa família em risco, apenas tínhamos menos conforto, mas, como eu disse, é apenas uma questão de adaptação, em pouco tempo a gente se organiza e continua tocando a vida, fazendo piadas com nossa própria situação e la nave va.

Verso da Coragem

O emprego e os patrões assinalados,
assumindo a sua alma lusitana,
ainda que d’outras plagas desterrados,
impondo respeito à moda romana,
amigos e amores conquistados
assumindo os riscos com força humana
e da saúde e das chances aproveitaram
como a riqueza auferida bem usaram...
          Paródia de Os Lusíadas [2] de Luís Vaz de Camões

Coragem de ter dúvida...
e quando o sono faltar, a coragem de deixar pra lá: zzzzzz...

CORAGEM de ter CORAGEM!


Lúcifer
O que fez a luz

Não nos esqueçamos do mito da expulsão do paraíso. A serpente tentou Eva com o fruto da árvore do conhecimento.

Esse é o conceito de Lúcifer: aquele que ilumina, esclarece e... implanta o medo.

Em contrapartida temos um Deus, inescrutável, incompreensível, que tudo pode e que... opera milagres!

Muita informação favorece o medo, por isso, quanto mais nos informamos mais coragem devemos ter.

A informação não é conhecimento, é preciso ter disposição para transformá-la em algo útil, pesquisando, estudando, verificando enfim o conteúdo da informação. Essa atitude desenvolve a coragem e transforma conhecimento em sabedoria.

Bom exemplo disso é o ‘efeito Dráuzio Varela’, personagem bem intencionado que, todos os domingos, nos enche de informações sobre doenças, da mesma forma que o ‘oráculo de Google’, onde podemos pesquisar qualquer sintoma, por mais incipiente que seja. Eles mexem com um de nossos medos mais terríveis, que é o de perder a saúde. Antigamente, com menos informações disponíveis, tínhamos todo tipo de sintoma e, exceto quando se tratava de algo muito grave, esperávamos passar. Se dizia então: – Antes de casar sara!

Se a dor ou desconforto fosse insuportável, ou se perdurasse por muito tempo, algo como 30 dias ou mais, só então íamos procurar um médico. Hoje, ao contrário, ao menor sintoma, já estamos no pronto-socorro.

Não se trata de viver irresponsavelmente, mas precaução e previdência não são, nem devem ser, resultados do medo. A virtude da prudência[1] ensina: ser prudente é não titubear, tomar as decisões no momento e no prazo exigidos a cada situação.

Os riscos que a vida apresenta não são terríveis por si mesmos, mas única e tão somente pelo medo que provocam. É isso que faz o terrorismo e a igreja católica tão eficientes.

Mas, sendo assim, seria o medo uma arma dos poderosos, um ardil ou apenas parte da natureza humana, uma arma do gene?

Já sabemos que o gene não está nem aí para o indivíduo, só se interessa por ele quando é interessante para a sua preservação (do gene em si), daí criar armadilhas para que, através do medo, os mais capazes dominem os demais.

Isso se dá utilizando o próprio medo dos poderosos, por isso a impressão de conspirações tenebrosas e, essencialmente, misteriosas, porque as pessoas agem não por estratégias ou ardis, mas por impulsos provocados pelo gene.

O medo é o pai de todos os pecados: a vaidade, por exemplo, é um medo profundo de não ser aceito, não ser admirado, não ser respeitado.  A competitividade, embora não seja um pecado é fruto do medo, produzido pelo gene egoísta[3].

A confiança é perdida em função do medo, disfarçado de competitividade.

Ficar dependente das redes sociais, respondendo freneticamente todas as chamadas e nem pensar em ficar offline é puro medo. Medo de ficar de fora.

Estar vivo é ter medo, não há como fugir disso, porém quando esse medo nos impede de viver bem, se torna um inimigo a ser vencido.
"O anjo não pode ser forte porque é invulnerável."
Forte não é o que vence um combate, é o que consegue vencer o medo.

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem!
João Guimarães Rosa
A quem devemos nos curvar: Lúcifer ou Deus?

Nenhum dos dois. A Coragem pode nos libertar!





[2] As armas e os barões assinalados,| que da ocidental praia lusitana,
por mares nunca dantes navegados,| passaram ainda além da taprobana,
em perigos e guerras esforçados| mais do que prometia a força humana
e entre gente remota edificaram| novo reino que tanto sublimaram...
[3] Gene egoísta não é o lado egoísta do ser humano, mas a natureza do gene, qualquer gene.
01/11/2013


Entusiasmo[1]

Quando temos entusiasmo estamos sintonizados com nossa intuição e harmonizados com nossa programação básica.
Poder + Querer + Dever

CÓDIGO DA ROBÓTICA
·       Um robô NÃO PODE ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
·       Um robô QUER obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que isso contrarie a primeira lei.
·       Um robô DEVE proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira e a segunda lei.
MANUAL DE ROBÓTICA
Isaac Asimov
CÓDIGO DO COMPORTAMENTO HUMANO
·       Um ser humano PODE estimular a Motivação e o Entusiasmo de outros, desde que tal ação não entre em conflito com a terceira e a segunda lei.
·       Um ser humano QUER seguir a sua Motivação, exceto nos casos em que isso contrarie a terceira lei.
·       Um ser humano NÃO DEVE ignorar o seu Entusiasmo ou, por omissão, sucumbir ao Medo ou a Utopia.
LIVRO SAGRADO DA HUMANIDADE
Alguém deveria ter escrito

Não nos foi dado o dom de ensinar, apenas o de aprender!

Essa afirmação suscita muitas dúvidas, não? Afinal, de que se ocupam os professores?

Bem, para esclarecer essa questão precisamos usar um pouco de imaginação.

Uma sala de aula, o melhor mestre de filosofia disponível, porém, ao invés de pessoas, estão assistindo a essa aula apenas robôs.

Os robôs, mesmo os mais avançados, não conseguiriam entender nada! Óbvio!

Mas, alguém perguntaria, e quando os robôs forem muito mais avançados?

Para essa questão podemos recorrer às experiências que vem sendo feitas nesse campo há mais de 40 anos e que, até agora, não apresentam progresso significativo.

Sempre que acompanhamos uma entrevista ou documentário mostrando os cientistas envolvidos na tarefa de construir e “ensinar” robôs “inteligentes”, ouvimos a mesma ladainha: “ainda não conseguimos estabelecer um diálogo efetivo com a máquina porque ela só consegue captar alguns aspectos da comunicação humana, assim que dotarmos esses aparelhos com outros sensores e outras programações então...”.

Ora, o pensamento complexo já demonstrou que somos capazes de mais do que interpretar informações codificadas, expressões, contextos etc., temos na verdade um contato com o universo infinito que estava em nós antes mesmo de nascermos, somos capazes de sutilezas inexplicáveis. Caso não concorde, tente explicar porque sente vontade de chorar ao ouvir uma música, ou leveza ao ler um poema.

Temos acesso ao transcendente que, antes de significar espiritualidade, religiosidade ou misticismo, significa apenas além de nossa capacidade de compreensão. Isso os robôs não têm e nunca terão!

Só aprende quem, antes de tudo, tem Motivação & Entusiasmo para aprender, não só por ser dotado dos recursos necessários, mas por estar com disposição para aprender. Na verdade não ensinamos de fato, só podemos criar, através da intensidade no relacionamento com o grupo, ambientes propícios ao aprendizado, sem nunca esquecer nossas próprias emoções.





[1] Vem do Latim ENTHUSIASMUS, do Grego ENTHOUSIASMOS, “inspiração divina”, do verbo ENTHOUSIAZEIN, “estar inspirado ou possuído por um deus, estar em êxtase”, de ENTHEOS, “divinamente inspirado, possessão por um deus”, formada por IN-, “em”, + THEOS, “deus”.