O homem cordial *
e o país do futuro




Poucos discordariam que nós, brasileiros, somos um povo cordato, pacífico, alegre, avesso a conflitos etc. Nem eu! Desde que me conheço por gente tenho essa “verdade” como absoluta.

A realização das Olimpíadas no Rio foram um exemplo de nossa cordialidade, assim como a Copa de 2014 também havia sido. Mesmo vivendo uma crise sem precedentes conseguimos receber os visitantes com uma hospitalidade que os encantou e com uma capacidade de organização surpreendente até para nós mesmos.
Entretanto, de tempos em tempos, vemos situações que não se coadunam com essa visão. Além de algumas revoluções, ditaduras e outras manifestações pouco tranquilas, vivemos, no dia a dia, um verdadeiro estado de guerra entre “nós” e a bandidagem, isso faz a gente pensar sobre a imagem que temos de nós mesmos.
Há uma parcela não desprezível da população em permanente estado de guerra contra o cidadão comum e as instituições de um modo geral, algo muito além do que se espera de uma sociedade razoavelmente saudável. Além de uma elite cleptocrata sugando tudo que podem.
Crime organizado, instituições tomadas pela corrupção, traficantes em guerra por espaço, aglomerados de gente sem condições de habitação, saúde, trabalho digno, pichadores, vândalos, tudo isso gerando um estado de insegurança generalizada. Roubos, assaltos, latrocínios, balas perdidas, além das baixas causadas por um bando de motoristas irresponsáveis. Qualitativamente são os mesmos tipos de transgressões que ocorrem em qualquer país, o problema é quantitativo, somos campeões nesse quesito.
Fruto da estrutura patrimonialista e individualista que construímos, das desigualdades geradas por esse modelo, do baixo nível da nossa educação, o fato é que não se pode mais dizer que vivemos em uma sociedade pacífica e cordata.
O caso mais recente é a polarização gerada pela crise política, na minha opinião uma espécie de revanche ao eterno sectarismo das esquerdas. Digo isso porque vivi dentro desses grupos pelos últimos 30 anos e, ainda que com algum senso crítico, compactuei com a ideia de que éramos melhores e mais esclarecidos que os contrários. Lembram-se do discurso sobre os eleitores do Collor: – “São mal informados ou mal intencionados!”

O mito

Na verdade, esse mito do brasileiro pacífico vem de uma ilusão baseada na falta de disposição para a luta do cidadão comum.
O homem cordial, estereótipo criado por Ribeiro Couto e detalhado por Sérgio Buarque de Holanda para definir o nosso jeito de ser, finge humildade para evitar o confronto, pois, não tendo disposição para a autocrítica - leia-se disposição para entender seu próprio comportamento - age guiado pelos sentimentos, cedendo facilmente à vaidade e ao egoísmo, ainda que mascarados por atitudes de fachada. E finge tão bem que acaba acreditando ser, de fato, muito humilde.

Essa é a característica mais relevante do brasileiro genuíno: o
Macunaíma! Em outras palavras: nós! Sim, porque o personagem de Mário de Andrade não é um ser folclórico de origem misteriosa, é, isto sim, a melhor representação do cidadão brasileiro.

Mas não considero isso um grande problema não! Afinal, vivemos o Entusiasmo como ninguém, só precisamos abrir um diálogo com a Motivação.
Mas, antes de continuar, quero ir um pouco mais fundo:









(*) Ver “O Homem Cordial” de Sérgio Buarque de Holanda.



Liberdade e Felicidade
quem espera nunca alcança
quem busca gera confiança

Dois sentimentos tão desejados e tão inatingíveis

Claro que desempenhamos um papel quando agimos socialmente, normalmente o de um personagem mais livre e mais feliz do que somos de fato, tem até uma anedota sobre isso:
"Queria ser tão bonito quanto minha mãe acha que sou,
tão rico quanto meus vizinhos acham que sou,
tão pegador quanto minha mulher acha que sou,
e tão bom de cama quanto eu acho que sou."
Quando essas diferenças são bem percebidas, entre o que representamos e o que somos de fato, está tudo bem, o problema é quando a gente “táxi” acha. Apesar de repetitivo, insisto: o que não podemos cometer é o auto-engano.
Pois muito bem! Se estamos conseguindo separar bem nossa persona de nós mesmos, temos que concordar que, ao menos para nós, liberdade e felicidade ainda não chegaram.
Pois é, e nem vão chegar, porque são impossibilidades lógicas.

Quando falo em lógica me refiro aos conceitos de lógica que
Descartes desenvolveu e uso o mesmo exemplo que ele usava, o da geometria. Se afirmo que a soma dos ângulos de qualquer triângulo é igual a dois retos, não posso ter dúvida disso pois é possível demonstrar esse teorema até graficamente e de forma bem simples.

Se afirmarmos que a soma dos ângulos de algum triângulo não é igual a dois retos, precisamos nos convencer que o esquema ao lado não representaria qualquer triângulo e isso contraria nossa própria percepção.
Uma possibilidade (ou impossibilidade no caso) lógica é algo que, como num postulado da geometria, não admite questionamentos porque se admitirmos o oposto estaríamos incorrendo em absurdo.

Pois bem, voltando ao tema, ser plenamente livres e felizes é uma impossibilidade lógica porque isso determinaria o fim do que chamamos vida. Em outras palavras: a vida é a busca constante e deliberada da liberdade e da felicidade. Yin perseguindo Yang sem descanso.

Se atingíssemos qualquer uma extinguiríamos a vida. Qualquer uma porque são dois lados de uma mesma medalha: se conseguíssemos a liberdade absoluta atingiríamos a felicidade suprema e, por outro lado, nunca seríamos verdadeiramente livres se não tivéssemos atingido a felicidade e aí nada mais restaria para ser vivido. Kaput!
Associação de ideias:
  • Tudo está bem quando acaba bem, se não está bem ainda é porque não acabou!
  • Don Juan, o feiticeiro mexicano do Castañeda, diz da velhice:
    “aquele que morrer lutando será um homem de conhecimento”.
  • No pain, no gain.
  • Se o malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem.
Apesar de lógico, é de notar como isso ainda não está claro para a maioria das pessoas. Fazendo um paralelo com o desenvolvimento do conhecimento humano, vimos fenômenos como os alquimistas em busca da pedra filosofal, exploradores atrás da fonte da juventude, cientistas jurando que inventaram o motocontínuo e, atualmente, a busca do fim das doenças e da vida eterna.
Novamente se constata uma verdade milenar: cada nova geração inventa novos meios de cometer os mesmos erros das gerações passadas.
Para dar substância a esses conceitos preciso explorar um pouco mais as várias maneiras como lidamos com eles.

LIBERDADE

Quando uso minha liberdade de escolha, na verdade sou condicionado a me privar de todas as alternativas, é a “insustentável leveza do ser”.
Ao escolher um item do cardápio estou me privando de todos os outros, por mais que goste deles também.
Se priorizo a qualidade de vida (seja o que for que isso signifique), me condiciono a obter os recursos necessários para isso: trabalhar, ganhar dinheiro, além de me condicionar a viver no local e conforme as regras dessa opção de vida. Se prefiro a liberdade (que é difícil definir também) terei que, da mesma forma, lidar com as privações que essa escolha me impõe.
Se priorizo minha carreira, meu prazer, minha realização, tenho que repensar, por exemplo, a formação de uma família, que condicionaria muito a minha “liberdade” individual.
Quem consegue perseguir sem alcançar e, ainda assim perseverar, tem muita sorte, já que se trata apenas de fazer escolhas, não havendo certo ou errado.
Entretanto, as escolhas sempre representam riscos porque dependem da capacidade que cada um tem de competir, seja qual for a escolha, mesmo as aparentemente seguras.
Ser atleta, ser artista, construir uma carreira profissional de sucesso, ter uma família, ter filhos, viver no campo com muito espaço, ter uma casa de luxo, um carrão, um iate, viver tranquilo, qualquer dessas escolhas, exige potenciais que dependem do meu DNA e da minha formação intelectual e psicológica.
Se a privação de algo que desejo muito significa ser prisioneiro das circunstâncias, escolher algo para o qual não estou preparado, física, intelectual ou psicologicamente, pode significar, também, uma prisão.

FELICIDADE

O que é felicidade?
Ao tentar focalizar a felicidade, colocamos rótulo em algo que nos pareça representar essa felicidade em dado momento, mas ao obter essa “coisa”, imediatamente descobrimos outra a ser alcançada, mudando o foco para essa nova meta.
Seja um bem material ou imaterial, ao alcançá-lo já estamos desejando outro. Isso é que faz querer viver e “querer” é a única coisa que nos mantém vivos.
O sorriso de uma criança, principalmente o das nossas, ou o sucesso na carreira, sempre terá o mesmo efeito de satisfazer por um instante. Não discordo que nesse processo podemos nos sentir felizes, mas sempre será algo incompleto, com “gosto de quero mais”.
O bicho homem parece ser o único que teve a chance de perceber a felicidade, mas ao comer do “fruto da árvore do conhecimento” foi apresentado ao mundo que o rodeava, ao passado e ao futuro, como que liquefazendo a felicidade, que passou a escorrer sempre entre nossos dedos.
Seja na realização de um ato heroico, como no caso de uma Madre Teresa, seja na compra de um carro novo, o fenômeno será sempre o mesmo: uma sensação passageira impelindo para diante, para novos desejos.

CONFIANÇA

Talvez o aspecto mais fundamental dessa questão é que nos organizamos em sociedades. Todas as pessoas que você conhece são seres sociais, os eremitas não convivem conosco.
Mesmo um morador de rua não procura lugares isolados, ermos, mas a convivência nos locais mais movimentados das cidades, pode ser porque facilita a sobrevivência ou por uma necessidade de estar minimamente incluído.
A esmagadora maioria de nós não suporta viver isolado. Não suporta a liberdade!
Precisamos nos apoiar uns nos outros para nos sentirmos seguros. Precisamos da confiança!
Vejam esta TED-Talk, o que cientistas de Harvard tem a dizer sobre este assunto:
TED - Harvard Adult Life
Pensando nisso tentei classificar meu nível de confiança em geral, apenas por curiosidade, e deu isso:
Família
100
Amigos
90
Google
85
Santander
80
Waze
80
Decolar
80
Amazon
80
Walmart/Extra/PontoFrio/FNAC/Cultura/Saraiva
80
Receita Federal
80
Colegas
75
Governo Federal
70
Empresas privadas
65
Vizinhos
60
Governo São Paulo
60
Brasileiros
55
Chefes
50
Empresas públicas
45
Prefeitura São Paulo
40


O ICS - Índice de Confiança Social, medido anualmente pelo IBOPE, mostra o grau de confiança em diversas instituições:


O que me chamou a atenção é que a família é, disparadamente, o ponto de apoio mais importante para todos nós, não que isso me pareça novidade, apenas não pensamos nisso muito frequentemente.
Considerando os resultados do estudo de Harvard, apresentado na TED acima, é para levar em conta na hora de fazer nossas escolhas.


B  R  A  S  I  L
meu Brasil brasileiro

Aqui, Macunaíma diz a que veio!

Se perguntarem a um jovem americano o que ele faria com um milhão de dólares, muito provavelmente ele responderá com muitas ideias, algumas poderão ser até estapafúrdias, de como iniciar algum negócio extraordinário e se tornar um magnata dono de um império.
A mesma pergunta feita a um jovem Macunaíma receberá sem titubeio a resposta: – NADA! Vou deitar em uma rede e viver de renda o resto da minha vida!
Bom, não corremos o risco de adoecer por excesso de trabalho, sem dúvida, mas não perceber que liberdade e felicidade são como a endorfina, que só se consegue com esforço intenso e prolongado, faz com que esse personagem esteja sempre “esperando” mais, entretanto, e paradoxalmente, dizendo estar “satisfeito” com a vida que Deus lhe deu.
É tão seduzido pela liberdade que não percebe a natureza paradoxal dessa condição. Ao se preservar do que julga serem limitações, se torna não confiável e, claro, passa a desconfiar de todos, ficando refém de sua própria escolha.
O Macunaíma vive uma permanente e imobilizante inconsistência entre expectativa e capacidade de realização.
Daí, de tempos em tempos, se volta contra alguém, seja o patrão, seja o “rico”, sejam os imperialistas, seja o governo e, da mesma forma, vez por outra, se entrega de corpo e alma a qualquer “pai dos pobres” ou “justiceiro” que aparecer, personagens sempre muito “bons de bico”.
Nosso cordial Macunaíma, não percebendo suas reais capacidades, prefere acreditar que tem direitos e acha mais fácil reclamar dos que julga serem seus exploradores do que lutar pelos seus sonhos.
Isso é que faz com que a gente não perceba que vaiar ou brigar em competições esportivas é vergonhoso, ganhar uma competição “roubando” não é legal, viver às custas do governo é imoral e chegar ao poder através da corrupção é criminoso.


DO UNIVERSO ENTRE AS NAÇÕES
R e s p l a n d e c e   a  do  Brasil

1822 a 1947

Nossa história sempre foi ganha no grito:

Primeiro o grito do Ipiranga, bravata do príncipe D. Pedro que fez a coroa portuguesa recolher-se à sua insignificância, depois de ter sido invadida pela França e saqueada pela Inglaterra.
Depois foi Deodoro que, também no grito, fez a coroa brasileira, já sem voz ativa, emudecer de vez.
Mais tarde, depois de crises econômicas devastadoras e uma guerra mundial, foi o grito de carnaval que balançou o coreto de Olga e Prestes, prepostos da União Soviética, que tiveram que abortar a revolução comunista tupiniquim.
Daí para frente os Estados Unidos assumiram as rédeas do mundo e, obviamente, dos destinos do Brasil. Antes mesmo da criação da CIA (1947) manobraram diplomática e militarmente (os famosos ataques de submarinos “nazistas” nas costas brasileiras) para colocar Getúlio no prumo, já que ele pendia para o lado das potências do eixo: Alemanha, Itália e Japão.

1948 a 2016

70 anos de domínio americano

Todas as previsões dos marxistas, trotskistas e outros “istas” falharam, ainda que tivessem acertado no diagnóstico inicial, de que haveria concentração de poder e riqueza no mundo do século XX. Falharam porque subestimaram a capacidade dos governos liberais em aprimorar os controles da economia, evitando que eventuais crises globais nos levassem à ruína.
Isso, sem dúvida, não evitou a desigualdade nem a concentração de poder e renda, apenas regulou precariamente o sistema, de forma a manter o seu funcionamento eternamente enquanto dure, ainda que persista o risco de colapso.
Colapso esse que o sistema centralizador autoritário dos comunistas não conseguiu evitar, seguindo-se a sua virtual extinção.
Deixou como legado, depois da queda da ditadura soviética, os países que saíram da opressão comunista em situação de atraso e pobreza.
O exemplo mais evidente é o da Alemanha: a ocidental, submetida aos aliados, leia-se, ao poder americano, e a oriental, submetida à planificação de estado soviética.
Em 1989, ano da queda do muro de Berlim, a primeira, já recuperada, tinha voltado com força total ao ciclo de desenvolvimento interrompido pelas crises do início do século e pelas guerras, agora sem inflação, com as finanças equilibradas e um mercado de trabalho saudável, já a oriental tinha se tornado um país de terceiro mundo.
A pergunta que não quer calar:
Por quê Canadá, Austrália e, mais recentemente, Coreia do Sul e Vietnã, países que, reconhecendo a supremacia americana, se dedicaram a aperfeiçoar as relações com esse país e ao seu próprio desenvolvimento, sem paranoias nem ufanismos, apresentam situação econômica e social tão superior aos países latino-americanos, eternamente resistentes ao “imperialismo”?
Ainda que se argumente que os primeiros já começaram bem, desde suas origens como nação - o que é bem discutível se lembrarmos, por exemplo, que a Austrália nasceu como colônia penal da Grã-Bretanha - que eram melhor organizados ou tinham uma cultura mais desenvolvida, ainda assim temos que admitir que, no mínimo, não foram muito prejudicados pelos 70 anos de tutela americana, nem perderam soberania. É bom lembrar que o Canadá, abaixo do Brasil na lista das maiores economias do mundo, faz parte do G7, tendo uma influência mundial incomparavelmente superior à nossa.
Analisando os países que, realisticamente, reconheceram sua posição no mundo, seja por convicção ou que o fizeram pela força, vemos o seguinte: no primeiro grupo: Europa quase toda, Austrália, Canadá, Países Árabes, exceto Síria e Sudão, Coreia do Sul, Vietnã etc., no segundo: Japão, Alemanha e Itália.
De um modo geral, seja porque foram forçados, seja porque decidiram assim, são países sem força militar expressiva (pelo menos quando comparada à dos americanos) e que contam com os EUA e a OTAN para sua defesa. Entretanto, esses países experimentaram mais soberania, desenvolvimento e bem-estar social do que qualquer outra nação no mundo, ainda que apresentem deficiências e colaborem em certo grau para a desigualdade no mundo.
Os paranoicos de plantão poderão argumentar que isso é só uma ilusão, que “eles” estão apenas permitindo certa liberdade a esses países para, no momento certo, dar o bote e dominá-los definitivamente, talvez escravizando seu povo, como era feito no Império Romano. Ora, ainda que isso fosse verdade, 70 anos de liberdade seria um bom motivo para se submeter a esse império.
Comparando com as alternativas experimentadas: União Soviética, Cuba e, mais recentemente, a ditadura Síria, o Bolivarianismo e o Lulismo (este meio amorfo, essencialmente Macunaímico), vemos que os países que foram submetidos por essas forças caíram ou estão caindo todos, com pobreza, desigualdade muito mais profunda e “soberania” só para os “soberanos”. A China, acho que todos vão concordar, é um caso atípico, cuja reprodução em um país do ocidente é altamente improvável, se não impossível.
Outro argumento é a imposição avassaladora da cultura americana, com prejuízo das culturas locais, inclusive do modo de vida, consumista e individualista. Na minha opinião esse é um fenômeno que independe de como cada país organiza sua sociedade.
Na verdade vemos exemplos de conservação da cultura própria, principalmente nos países asiáticos, mas mesmo nas sociedades mais preservadas, a influência do modo de vida ocidental é enorme.


Não podemos esquecer que o
McDonald’s chegou a Moscou em 1990, ano da dissolução da União Soviética e causou tumulto pelas filas que provocou.
É um erro pensar que isso é fruto apenas da propaganda. Há algo mais nessa escolha, afinal a propaganda nos estimula usando nossas próprias taras e quanto mais repressora for a sociedade mais vulneráveis à propaganda estarão as pessoas.
E por quê podemos confiar na liderança americana? Na minha opinião pelo simples fato de que o poder deles vem da confiança que o mundo tem na sua conduta democrática e verdadeiramente liberal.
Hoje a dívida externa dos Estados Unidos é impagável, só se sustenta devido à confiança do mundo inteiro na capacidade desse país gerar oportunidades. Ao menor sinal de que eles estariam desrespeitando acordos internacionais ou a soberania de outros países essa confiança escoaria pelo ralo e o poder americano viria abaixo.

A comparação

Interessante notar como a base filosófica dos  dois principais sistemas experimentados até hoje:
o comunista e o capitalista, é idêntica.
“De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.”
Princípio criado por Karl Marx

that dream of a land in which life should be better and richer and fuller for everyone, with opportunity for each according to ability or achievement.”

American dream - The Epic of America - James Truslow Adams, 1931



Claro que o conflito de ideias entre direita e esquerda não é uma exclusividade brasileira, o que me interessa é como e porque temos essa inclinação irresistível pelas ideias socialistas.
O que eu vejo na nossa maneira irrefletida de ser é uma confusão entre o que queremos e o que podemos ser. Recordando Darcy: Se queremos ser uma nação temos que saber que tipo de nação queremos ser!
Parece absurdo, mas o mesmo sentimento que nos impele para ideias de distribuição de renda e justiça social é o que nos faz acreditar que seremos uma potência mundial. Ambos são fruto dessa dissociação entre causa e efeito do nosso modo de pensar.
Delírios de Brasil potência já não tem lugar nos tempos atuais. Por quê não buscarmos o Brasil possível? Deixando de lado as paranoias antiamericanas e anticapitalistas para nos dedicar ao desenvolvimento de um país em que todos possamos usufruir das facilidades com que a natureza nos presenteou.
Se o capitalismo liberal vai sobreviver ou se vai ser substituído por outro modelo de sociedade eu não sei, o que sei é que o socialismo “moreno” não só fracassou como foi uma farsa total (poderíamos falar também do imperialismo “moreno”: o Mercosul).

Equívocos Comuns

Primeiro equívoco: A desigualdade e a pobreza são fruto do capitalismo e do liberalismo.
Desculpe, mas acho que o buraco é mais embaixo.
Ainda que eu tenha me seduzido pelos ideais da esquerda durante umas três décadas da minha vida, mesmo durante a ditadura militar nunca fui partidário de ideias radicais, como o comunismo por exemplo.
Ainda estudantes de colegial, na época dos movimentos estudantis na França e por aqui também, éramos contra a ditadura, qualquer que fosse a sua cor, aqui ou em Cuba, não importava.
Sempre intui alguns princípios em que continuo acreditando:
  1. A única forma de organização social viável é a livre iniciativa.
    Qualquer ideia de planificação ou controle estatal sempre gerará desequilíbrios.
    Toda sociedade é um ecossistema e, como tal, precisa de não intervenção para alcançar o seu equilíbrio.
  2. A liberdade é o bem mais caro ao ser humano.
    Qualquer sistema que cerceie a liberdade, além de perverso, será derrotado mais cedo ou mais tarde.
Hoje percebo, ainda que aceitando a boa fé de muitos teóricos de esquerda, o grande equívoco desse tipo de pensamento.
A primeira razão disso é o fato de que qualquer sistema baseado nos princípios marxistas ou qualquer outro da mesma linha, pressupõe um povo muito mais disciplinado do que aqueles formados por “gente comum”, só daria certo em uma sociedade de anjos: Motivação x Entusiasmo.
Segundo equívoco: Precisamos de leis mais rigorosas
Podemos analisar o funcionamento de uma sociedade considerando dois eixos: o vertical, representando o sistema de governo, a organização do estado, as instituições, a estrutura normativa ou seja, os aspectos formais do país, se é democrático ou não, se é socialista ou capitalista etc. e o horizontal, representando a ética vigente no país, se é baseada na confiança ou se é individualista, os aspectos informais.
É bom lembrar que a ética de uma sociedade se dá nas relações informais, ali ela é vivenciada e desenvolvida. As relações formais atuam, ou deveriam atuar, apenas onde a ética não está sendo suficiente para regular essas relações.
Entretanto, as relações formais são sistematicamente burladas onde elas se afastam muito da ética vigente.


Isso porque, como na Parábola de Muccillo (para quem não lembra ver na postagem deste
link), há uma relação de dependência entre esses dois aspectos: quanto mais rigorosa for a organização, menos desenvolvida resultará a ética, esticando o eixo vertical e encolhendo o horizontal. Lembrando: cada regra nova extermina uma infinidade de preceitos éticos.
Isso significa que, onde há excesso de leis e regras há uma ética pobre, mal desenvolvida, implicando em desobediência às regras como “regra”.
São os acordos tácitos que regem as transações, a ética da sociedade, e esses acordos podem ser bons ou deletérios, dependendo do grau de evolução dessas sociedades.
É importante reforçar que ética não é algo intrinsecamente bom, ética é simplesmente o conjunto de acordos tácitos que definem a forma como as pessoas se relacionam em uma sociedade.

Qualquer sistema funciona bem onde as consciências são evoluídas.

Voltando à soberania

O sonho de liberdade é permanente, seja para nós indivíduos, seja para as nações.
Já o ímpeto de dominação vem da necessidade de segurança, em outras palavras, do medo. Quanto maior for a minha esfera de domínio menos riscos vou correr.
O que eu questiono é o sonho de dominação que continuamos mantendo. A necessidade de nos sentirmos melhores que os demais, ainda que seja natural, vai um pouco além do simples respeito próprio, insistimos em ser algo para o qual não nos preparamos, apenas porque achamos que merecemos e, portanto, que os demais países tem que reconhecer.
O Mercosul é um bom exemplo. Liderar um bloco econômico sem o uso da força, não é uma tarefa fácil, o país com mais recursos vai ser o mais exigido no esforço de manter a coesão do bloco e isso parece que não foi percebido por aqui.
O poderio das nações sempre vai ser diferente de uma para outra, umas mais poderosas, outras menos e uma sempre vai ser a mais poderosa de todas. Essa diferença sempre significará enorme vantagem para o poderoso, o que é da lógica da vida em geral. Isso não significa que cada nação não possa exercer suas capacidades o mais plenamente possível.
Os acordos e controles internacionais em torno das soberanias nacionais, tem sido razoavelmente eficazes na preservação dessas soberanias, já em relação às liberdades individuais, direitos humanos etc. nem tanto, exatamente pelo “respeito” à soberania de cada estado.
De qualquer forma, as injustiças no mundo não podem ser atribuídas a essa estrutura de relacionamento e sim, muito mais, à própria natureza humana, basta verificar que as regiões mais carentes, como a África, onde se esperava houvesse mais solidariedade, ao contrário, são berço de ditaduras exploradoras, intolerantes e violentas.
Há formas de melhorar a situação geral de um país, mesmo sem ser uma potência mundial, começando por controlar a corrupção que mina a confiança e, esta sim, gera pobreza e injustiça. Como bem diz Benigno Aquino III, eleito presidente das Filipinas com o slogan: “Quando ninguém for corrupto, ninguém será pobre.”
No artigo do link a seguir, temos Sete exemplos de combate à corrupção que deram certo.
Este outro artigo, apesar de apresentar soluções um tanto quanto inviáveis, é interessante pelo diagnóstico que faz da nossa situação: Corrupção no Brasil

Explica, mas não justifica!

Sugiro assistir o filme Sicario, com Benício del Toro. É uma aula de como o círculo vicioso da corrupção contamina tudo a sua volta, com o pretexto de conseguir um “bem maior”, no caso o desmantelamento de uma organização criminosa.
Todo o controle tem o poder de corromper, porque, por um lado estimula a transgressão, por outro seduz o controlador.
No caso da atividade econômica, seja na promoção da distribuição de renda, seja no controle das próprias atividades, como no caso dos jogos de azar, do tráfico de drogas ou do aborto, qualquer controle absoluto é impossível porque a sociedade, para satisfazer suas necessidades, materiais ou psicológicas, sempre vai encontrar uma forma de burlar a lei, como em um ecossistema, já que ela nada mais é do que uma colônia de seres vivos, no caso nós.
Os ecossistemas se caracterizam por ter uma “mente” própria, auto-gestora, extremamente complexa porque completa, guiada única e exclusivamente pela necessidade de equilíbrio, impossível de se traduzir em um conjunto finito de regras. Daí qualquer intervenção externa criar desequilíbrios e levar ao colapso.

Nossa realidade em argumentos

Quando o Petrolão derrubou o PT e o governo, ouvi muita gente esclarecida dizer categoricamente que o Moro estava a serviço do PSDB, entretanto, quando o povo pediu o impeachment da malfadada presidenta, as mesmas pessoas “esclarecidas” passaram a dizer que a oposição queria o impeachment para acabar com a operação Lava-jato. Ora, ou o Moro está a serviço do PSDB ou contra ele? Parece uma mudança radical de percepção das coisas!
Muitos continuam negando a responsabilidade do finado governo petista sobre a crise econômica monstruosa em que o país se meteu, alguns, inclusive, se negam a aceitar que estejamos em crise.
É comum ainda encontrar quem nem admita discutir, sustentando argumentações vazias, do tipo “acho porque acho” ou “temos direitos e ponto final”.
Uma das ideias mais difundidas pela esquerda continua sendo a velha tese de que os que tem mais tem que pagar mais, como se isso fosse uma verdade insofismável, afinal parece justo, não é mesmo?
Quem estivesse disposto a analisar um pouquinho melhor esse questão perceberia que, a longo prazo, essa filosofia arruinaria a sociedade.
Embora ter mais não signifique ser mais eficiente, ser mais eficiente sempre resulta em ter mais. Ao impor maior taxação aos que tem mais estaríamos fazendo como o agricultor que separa as melhores espigas para comer e reserva para o plantio da próxima safra as que não são tão boas, em alguns anos a sua plantação estará arruinada.
Claro que existem muitos parasitas na sociedade, que têm muito e nada produzem, vivendo das rendas de sua fortuna, mas o critério não pode ser o quanto se tem, mas quanto aquela pessoa contribui para a sociedade.
Um produtor industrial ou agrícola, um grande distribuidor de produtos ou serviços, enfim um investidor que, assumindo os riscos inerentes à atividade econômica, cria uma empresa produtiva, geradora de empregos, é muito mais eficiente, sob o ponto de vista da sociedade, do que o funcionário disciplinado, avesso ao risco, que se limita a exercer uma função administrativa ou operacional. Qual deve ser mais tributado proporcionalmente?
Portanto, não se trata nem de aumentar nem de diminuir a taxação dos mais ricos e sim utilizar a política fiscal para estimular o desenvolvimento.
E é bom esclarecer que essa não é uma questão de garantia da qualidade de vida.
Que é preciso garantir as oportunidades para que todos possam conseguir as condições mínimas de subsistência, com um mínimo de qualidade de vida, acesso à saúde e à educação, moradia, saneamento, segurança etc., não resta nenhuma dúvida e aqui se inclui o direito de greve, de reivindicação mas, principalmente, um ambiente competitivo entre os agentes econômicos, para que os salários aumentem pela lei da oferta e procura. O que não se pode pensar é que tirando de uns e dando para outros com a mão viciada do estado corrigiremos alguma coisa.
Adicionalmente, políticas de renda mínima, salário desemprego, assistência social etc. são fundamentais para garantir que aqueles que não conseguem o suficiente para garantir uma vida digna sejam amparados, mas isso não pode afetar a saúde financeira do sistema.
Devemos ter mecanismos para que ninguém fique sem a oportunidade de viver bem, além de propiciar aos empreendedores as condições de entrar na competição com chances iguais e isso não se consegue com subsídios ou isenções, mas com estímulo e confiança.
Infelizmente, um dos problemas mais complicados do sistema capitalista liberal é que não há como coibir os excessos, porque a liberdade de escolher o modo de vida é o principal pilar desse sistema. Qualquer cerceamento dessa liberdade provocará um desequilíbrio inevitável. O instrumento para regular os excessos é exatamente a política fiscal e econômica do governo, que deve privilegiar a produção e a eficiência.
Volto a destacar: as injustiças e os excessos são absolutamente indesejáveis, por outro lado, o sistema capitalista liberal não conseguiu até hoje criar políticas que eliminassem essas distorções, entretanto, qualquer sistema que tenha como objetivo reduzir esses efeitos indesejáveis com mais controle são ineficazes e insustentáveis, basta rever os exemplos da história.
O que se espera é que, com os benefícios do desenvolvimento social e da educação, possamos ir reduzindo o percentual de indivíduos que tendem a essa prática, o que, seguramente, nunca chegará a zero, mas pode se estabilizar em níveis mais saudáveis, como os dos países nórdicos, do Japão, ou mesmo de alguns países da Europa.
Sofremos ainda de algumas mazelas que afetam nossa estrutura intelectual, nossa forma de pensar: a especialização extrema e a visão não sistêmica.
É comum ver especialistas propondo soluções para os problemas de seu campo de atividade sem se preocupar com os demais aspectos de sua proposta, com os impactos da tal solução no contexto geral.
Isso se dá tanto em relação aos desenvolvimentistas, propondo, por exemplo, a construção de usinas hidrelétricas pelo seu baixo custo de operação, em detrimento de aspectos ambientais, como aos “socialistas”, que pregam a necessidade de investimentos estatais para suas “causas” sem se preocupar com a origem dos recursos, ou pior, sugerindo que os recursos saiam exatamente dos setores mais produtivos da economia, com a velha tese de que quem tem mais deve pagar mais.
Estes últimos, paradoxalmente, usam o argumento de que a pressão por melhorias vai obrigar o governo e as corporações a se adaptar. O paradoxo é que essa forma de pensar é a base do liberalismo, no socialismo a planificação e o controle da atividade econômica deve ficar com o estado. Na verdade, sabendo disso, mantém um discurso meio esquizofrênico, defendendo o controle para quem produz e a liberdade para o povo.
A falta de visão sistêmica é absolutamente nefasta para a formulação de políticas públicas.
Se não me engano, foi na administração de Theodore Roosevelt (1901-1909) que o governo americano elaborou um mapa da atividade econômica nos Estados Unidos, isso em uma época que ainda não existiam nem ideia de computadores, contendo todas as transações possíveis na teia produtiva, para poder visualizar os efeitos diretos e indiretos de cada decisão no país como um todo.
Isso é pensar de forma sistêmica, planificar para entender e melhor direcionar a atividade econômica, ao contrário de tentar controlá-la, o que, como está cada vez mais claro, é impossível.

A sedução das ideias

Achamos que o condicionamento da cultura americana é odioso, moldando a forma de pensar no mundo inteiro por meio da propaganda, e não sabemos como nos defender dessa invasão.
Quando vemos a forma como jovens são aliciados por organizações radicais como o Estado Islâmico, achamos difícil aceitar que indivíduos aparentemente bem formados e informados possam ser seduzidos por ideias tão absurdas como matar todos os que não seguirem o credo daquele grupo.
Entretanto, guardadas as devidas proporções, estamos vendo o mesmo processo de lavagem cerebral entre nós.
Eu posso falar de cátedra porque, ainda que nunca tenha sido totalmente seduzido pelo PeTismo, vivi pelo menos 30 anos de minha vida (quase a metade) simpatizando, votando e participando da evolução desse partido. Apenas tentei manter minha mente livre para tirar minhas próprias conclusões.
Em 1990, durante as comemorações de 10 anos do PT, eu dizia que, a partir daquele momento, haveria uma PMDBização do partido. Na época a agremiação contava com 1 senador, 35 deputados federais e uma quantidade de cadeiras legislativas e prefeituras muito significativa. Isso foi suficiente, como ocorre em qualquer instituição, para transformar o partido, de uma instituição orientada por princípios e ideais para um grupo de poder preocupado com a manutenção e ampliação desse poder.
Não é preciso dizer que eles se superaram, não é mesmo?
Daí a minha gradual desconfiança em relação à consistência desse movimento que nascia do povo, mas aos poucos era sequestrado pela chamada “Articulação”, facção dominante do partido.
Hoje não tenho mais nenhuma dúvida do erro que foi dar força a esse grupo, mas tenho que reconhecer que, sob o ponto de vista da propaganda, eles fizeram um trabalho semelhante ao dos americanos ou do Estado Islâmico.
Vejo hoje pessoas duvidando da crise econômica em que nos afundaram, acreditando que tudo o que fizeram foi tirar dos ricos para dar aos pobres, que as forças do capitalismo, lideradas pelos Estados Unidos, sentindo-se ameaçadas, reagiram e criaram toda essa farsa apenas para derrubar o partido do poder. Ver este artigo: Quatro recessões.
Essas pessoas, que já não liam o Estadão por ser um jornal conservador, nem a Globo, por estar a serviço da oligarquia de direita, agora não querem saber da Folha, nem de qualquer outro órgão de imprensa grande, pois todos estão mancomunados com os poderosos. Sobrou só CartaCapital, revista confessadamente a serviço do Lulismo, mais do que do PT, a ponto de o senhor Mino Carta fazer editoriais sob encomenda do “chefão”, conforme conveniência deste.
Dessa forma se tornam, aqueles que eram defensores da participação, do engajamento, cada vez mais alienados da realidade e sem capacidade de crítica pela falta de debate de ideias.
Pior é que parece que não acreditam de fato no que defendem, aparentemente basta espernear e esperar que “alguém” se preocupe com a solução dos problemas. Aí é que está o perigo: qualquer “salvador da pátria” passa a ser uma tábua de salvação.
Na eleição do Collor dizíamos: ー Os eleitores desse cara são mal intencionados ou mal informados! Infelizmente acho que estamos vivendo a mesma situação, não há mais como sustentar a defesa do futuro ex-governo e, principalmente, de suas políticas, mas uns poucos insistem em conservar antigos conceitos. Este artigo coloca bem o assunto: Adotamos políticas públicas ruins por ignorância ou maldade?
Esse condicionamento é tão difícil de entender como o aliciamento feito pelos terroristas, ressalvada a  diferença, aliás abissal, de que por aqui ainda estamos falando apenas de atos de protesto.

Minha mudança de opinião
ou  o  retorno    às   origens

A forma como fui repensando essas questões está registrada nesses artigos:
Soberania Líquida - 04/02/2015
Direita, vou ver! - 05/02/2015
Que temos, como já disse, os elementos necessários para nos tornar uma potência mundial, ainda não tenho dúvidas, só não vejo as condições de realizar esse potencial agora. Preferível seria dar um passo de cada vez, esquecer a paranoia em relação aos inimigos externos ou ao capitalismo e nos organizarmos em torno de relações econômicas com os países desenvolvidos para melhorar nossas condições de desenvolvimento, sem querer dar um passo maior que a perna, acreditando que há uma disposição para o crescimento da economia global, mesmo considerando a competição entre nações e blocos.
Já falei sobre a ideia de que “a vida só vale ser vivida se for analisada”, que “o mundo é uma comédia para os que pensam, e uma tragédia para os que sentem” (Tutto nel mondo è burla!).
Nessa análise concluí que a ‘vida’ é, fundamentalmente capitalista, o que quer dizer:
“competitiva”, “cumulativa” e “expansionista”.
Sobre ser competitiva, acho que não há dúvida.
Cumulativa, porque o fluxo de recursos nunca é constante, então para garantir a subsistência, os seres vivos, em geral, tem que reservar recursos para os dias difíceis.
Finalmente, expansionista: a vida precisa aumentar continuamente seu domínio no meio para garantir a preservação da espécie, assim como o indivíduo precisa aumentar continuamente as suas capacidades para garantir a preservação do espécimen.
Não acredito que qualquer forma de organização proposta pelo homem consiga subverter essa ordem natural, o que podemos fazer é nos adaptar a ela.

De novo, o homem cordial



O Macunaíma é indolente e emocional, mas pode ser também o mais entusiasmado, só precisamos do estímulo adequado. Veja o que ocorre nos esportes em que há planejamento e um mínimo de organização: nos tornamos imbatíveis. Por quê?
Nossa forma de lidar com as emoções é muito mais intensa, sem intermediários, somos puro Entusiasmo, isso é o homem cordial.
Se conseguirmos fazer isso e se, durante o processo de desenvolvimento, continuarmos como uma nação coesa, chegaremos muito mais longe do que tentando antecipar nossos delírios ufanistas queimando etapas, inventando atalhos ou adotando filosofias sabidamente fracassadas.
Ver este artigo sobre o Brasil competitivo que compilei de várias fontes.
Que o mundo é injusto e que há muita iniquidade não tenho dúvidas, a questão é saber contra o que ou contra quem devemos lutar.
Deixar um pouco o Macunaíma, mas continuando a ser cordial. Ser competitivo sem necessariamente deixar de ser amável e alegre.
Lembrando que existe uma enorme parcela da população competente e eficiente, caso contrário não estaríamos entre as 10 maiores economias do mundo (com crise e tudo). Nosso problema é, sendo um pouco Macunaímas, deixar que os verdadeiros parasitas nos seduzam e nos controlem.
Um ex-jogador de vôlei dos EUA, campeão olímpico que chegou a bater a seleção brasileira, quando perguntado sobre o que fazia aquele time, que historicamente era freguês da nossa seleção, se transformar nas competições mais importantes, respondeu: é da nossa cultura, nós não nos importamos com o que pensam de nós, por isso muitos não gostam da gente.
Nós, ao contrário, nos preocupamos demais com o que pensam de nós (apesar de falarmos o tempo todo que a opinião dos outros não nos interessa). Vivemos nos auto-enganando o tempo todo.
Daí continuarmos repetindo que este é o país do futuro, acreditarmos em tudo que é lorota que os populistas nos contam e continuarmos na mesma.
Estou reconhecendo minha “inveja” e dizendo pra mim mesmo: “veja” e aprenda. Quero ver e aprender com essas pessoas que, temos que reconhecer, tem tido razoável sucesso em suas empreitadas.
Isso não quer dizer, necessariamente, adotar as mesmas ideias, a mesma visão de mundo, nem mesmo deixar de ser cordial, apenas aprender com a atitude desses povos.
O homem cordial quer agradar a todos. Essa humildade, tão propalada em prosa e verso e tão admirada por todos, é, na verdade, o vício de usar o ‘coitadinho’ que cultivamos em nós como escudo humano para o ‘safado’ dominante de fato. Comportamento que nada tem de virtuoso, só é usado para conseguir o que queremos e não temos coragem de ‘conquistar’, ‘disputar’, ‘negociar’ etc.
Isso é muito mais evidente nas camadas mais carentes da população! Já dizia um amigo “petista esclarecido”: uma parcela significativa dos ‘explorados’ só precisa de ‘poder’ para se tornar um ‘explorador’, ou seja, não é a atitude do indivíduo que mostra o seu caráter, depende da oportunidade que lhe é dada.
A atitude de falsa ‘humildade’, ‘acanhamento’, ‘ignorância’, muitas vezes é usada, descaradamente, para não agir de forma justa: desde ‘não entender’ uma fila de espera, até não devolver um objeto achado, não dar licença a quem mais necessita e por aí vai.
Vale lembrar que em nosso meio, muito mais abastado e instruído, também vemos muitos ‘se fazendo de mortos para comer o coveiro’, em estacionamentos, filas especiais etc.
O problema, como brasileiro, é que não sabemos lidar com o ‘capitalismo’ vital, não sabemos lidar com a competição, com o desafio, em outras palavras, não sabemos lidar com o risco de perder ou com as próprias perdas, uma vez que não há como competir sem perder muitas vezes.
Como mudar isso, se está tão fortemente impregnado em nossa maneira de pensar? Pode ser que o desmascaramento de tantos escândalos seja um começo, para que as pessoas percebam o prejuízo que todos sofrem com essas atitudes, não sei, apenas ‘espero’.
É hora de sermos realmente humildes, admitir que estamos na competição e que vamos ganhar umas e perder outras tantas, esse é o jogo, deixando de reclamar e saindo para a luta.
Da mesma forma, perceber nossa real capacidade de atuação como nação, que tem um grande mercado produtor e consumidor e que pode estabelecer relações comerciais vantajosas com as maiores nações do mundo, sem necessariamente ser uma potência global.
Uma coisa que me parece bastante clara é que o diferencial mais importante entre a realidade e o sonho é a racionalidade. No sonho a experiência é quase  totalmente emocional e na realidade a gente tem a chance de racionalizar as emoções, em grau maior ou menor, mas pode racionalizar.
No sonho somos mais Macunaímas.
Nossa cultura é eminentemente sonhadora, só que insistimos em sonhar acordados.
Já que falamos de sonhos, vamos falar de delírios.
Esse fenômeno da transformação de sonhos em realidade comporta duas explicações a partir de enfoques opostos: o científico e o mágico. Entretanto ambas nos conduzem à mesma conclusão: pensar positivamente nos ajuda a realizar sonhos.
O que são os delírios, então?
Pelo enfoque mágico, aquilo em que não acreditamos de fato, apenas gostaríamos de acreditar e, pelo enfoque científico, aquilo que não é possível no campo real, ou seja não está dentro de nossas possibilidades reais.
Seja qual for a nossa visão sobre o assunto, todos concordamos que delírios existem e é sobre isso que gostaria de falar: do delírio de nossa soberania.
Não é de hoje que deliramos com o Brasil potência, pensamento que nos coloca frequentemente em confronto com as verdadeiras potências mundiais.
O mais recente episódio é o chamado golpe que derrubou o governo da esperança (ou seria do delírio?).
Há uma infinidade de teorias denunciando a interferência de poderosos na soberania nacional.
Lamento informar que todas as suspeitas são fundadas. Os poderosos estão exercendo seu poder!
Falar que as forças que dominam o mundo, inclusive os Estados Unidos da América, estão ditando os rumos de nosso governo, derrubando os que não estão alinhados e apoiando seus acólitos, é chover no molhado.
Como não canso de repetir, soberania sem poder não existe, é como achar que temos direitos sem termos a capacidade necessária para defendê-los.
Voltando ao nosso velho Macunaíma, o primeiro inimigo a vencer é o medo e, dentre todos os nossos medos, o que mais nos imobiliza é o medo do stress!

Stress em três tempos
Corretivo / Preventivo / Preditivo

Nos países em que a civilidade é considerada por todos, locais e visitantes, como um aspecto positivo dessas sociedades, grupo em que, infelizmente, não podemos nos incluir, a forma como o stress é encarado diverge muito da forma como a maioria de nós encaramos.
Temos, miseravelmente, uma ideia muito errada do stress, considerando que vida boa é vida sem stress. O pequenino problema desse pensamento é que vida sem stress é como vida após a morte: não existe. Outra forma de dizer a mesma coisa: a ausência de stress só é possível na morte.
Isto posto, que deixo submetido a todo tipo de crítica e reparo, mas do que estou mais do que plenamente convencido, vamos falar dos tipos de stress a que me referi no título.
Aqui faço uma comparação grosseira com a atividade de manutenção de um equipamento, em que utilizamos os termos Corretiva, Preventiva e Preditiva para diferenciar essas três formas de intervenção. Termos óbvios por si só, mas que significam as ações de corrigir, prevenir e prever uma falha.
Os dois últimos tipos tentam evitar a necessidade de manutenção corretiva, que ocasiona maior prejuízo, seja pelo seu custo direto, seja pela indisponibilidade que ela causa.
A preventiva se faz através da substituição de componentes de desgaste ou itens de consumo de acordo com dados estatísticos de falhas.
A preditiva é feita através da observação de indícios, sejam ruídos, vibrações etc., de que uma falha está prestes a ocorrer, permitindo deixar a intervenção apenas para quando ela é de fato necessária, entretanto antes da ocorrência da falha.
Esta última representa a maior economia, uma vez que se antecipa ao problema, mas só é empregada quando efetivamente necessária.
Da mesma forma que na manutenção, o stress corretivo sempre vai ocorrer, já que nada, nem os equipamentos, nem a vida, é totalmente previsível e imune ao acaso. Esse tipo de stress é normalmente difícil de lidar e danoso para nossa saúde, entretanto ele pode ser reduzido ao mínimo inevitável.
O stress preventivo é aquele dos preocupados, que vivem tentando antecipar o inesperado, se assegurar que nada saia errado. É menos prejudicial do que o corretivo, mas como é mais constante pode se tornar tão danoso quanto.
É o stress preditivo que causa o menor dispêndio de energia e causa o menor prejuízo para nós. Para tentar explicar volto à comparação com os tipos de manutenção.
A diferença entre a manutenção preditiva e a preventiva é que nesta trocamos um componente a cada tantas horas de uso, precise ou não, e na preditiva instalamos sensores ou aprendemos a ler os sinais que os equipamentos dão quando estão precisando de atenção, um ruído diferente, uma vibração, uma variação de temperatura etc., e só substituímos o componente quando ele realmente já deu o que tinha que dar.
O stress preditivo é exatamente a mesma coisa, podemos aprender a ler os sinais de nosso corpo e de nossa intuição para avaliar quando é necessária uma precaução. No mais, “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”.
E basta saber disso, ter isso em mente. O simples conhecimento desse mecanismo vai nos fazer evoluir do stress preventivo para o preditivo naturalmente, mas deve-se começar pelo preventivo, pelo menos para os aspectos que consideramos mais relevantes para nossa vida, e aos poucos ir reduzindo os controles e substituindo pela percepção conforme formos nos sentindo mais confiantes.
É aquela velha ladainha sobre Motivação x Entusiasmo e sobre Jogo & Treino. O resultado só vem se o treino foi bom e o verdadeiro entusiasmo é aquele que se apoia nas motivações mais analisadas.
Manter o foco, a atenção, a preocupação com nossas atitudes, com as necessidades do outro, com nossa saúde física e financeira, cotidianamente, não deve ser encarado como um fardo e sim como a forma de treino para tornar a vida mais econômica no uso do stress.
Portanto o stress não deve ser encarado como bom ou ruim, apenas como um dos aspectos fundamentais da vida, inevitável como respirar.
O que é paradoxal é que quanto mais quisermos ignorar o stress mais estressados seremos.


Só encarando o bicho de frente, sentindo o bafo quente do demônio e aceitando que ele vai estar presente por toda a nossa vida é que podemos reduzir seus efeitos colaterais: irritação, desânimo, pessimismo, intolerância, medo etc.