Soberania líquida
04/02/2015
Vendam tudo, a presidente sumiu! (Piada sem Graça!!!)
Quem vai assumir um cargo que tem como desafios:
  1. Enfrentar a presidenta (sic), ciosa de seu partido, seu mandato e suas ideias ‘bolivarianas’;
  2. Enfrentar a concorrência, preparada para dar o golpe mortal em um potencial superconcorrente que emergia e agora sucumbe ante a sanha de políticos inescrupulosos e, muito pior, incompetentes;
  3. Assumir, sob o fogo cruzado acima, a responsabilidade de recuperar o respeito do mercado, o orgulho do seu pessoal, as finanças da empresa;
  4. Assumir a tarefa de sanear a administração dando consistência à governança corporativa prometida ao público em geral;
  5. … e o mais grave, assumir a defesa da empresa perante as instâncias judiciais nacionais e forâneas, colocando o seu CPF na reta.
Sem tirar o mérito de levar a maior empresa brasileira e uma das maiores do mundo, mesmo considerando o seu setor de atuação, à atual situação, dos dirigentes, políticos, da presidenta (sic, sic, sic), do projeto destrambelhado de poder do PT, enfim sem desmerecer a competência desse pessoal todo, não tenham dúvidas que houve, neste episódio, participação ativa de agentes das grandes corporações e, não me admiraria, de governos poderosos.
Podem escrever: agora ou dentro de alguns meses, num horizonte que não ultrapassará 2 anos, nossa grande empresa será finalmente privatizada e, considerando a situação em que a colocaram, com enorme deságio em relação ao seu valor real, representado, não só pelo patrimônio de suas jazidas prospectadas, mas também pela sua estrutura, seja industrial, administrativa, de pesquisa e de pessoal.
E sabe o que mais? Tô achando ótimo!
É curioso que, me deparando com essa possibilidade, na minha opinião, certa, cheguei à conclusão que pode não ser tão mau assim.
A primeira coisa que vem à mente neste caso é a perda da soberania, mas será que sabemos o que isso significa?
Afinal, desde o advento da Aldeia Global do McLuhan, houve uma liquefação, para usar a expressão de Bauman, da cultura, da economia, do modo de vida etc.
Não que eu goste disso, sempre achei que a pluralidade era muito mais divertida, permitia uma identificação muito mais forte do indivíduo com seu grupo, dava um colorido mais interessante à vida, mas o fato é que não há muito espaço para isso hoje em dia.
Consumimos as mesmas coisas, assistimos os mesmos filmes, ouvimos as mesmas músicas, lemos os mesmos livros, comemos as mesmas porcarias que a maioria do mundo e só não fazemos isso quando não conseguimos, porque, em função de uma preservação da soberania, ficamos isolados desses mercados.
Quero dizer, sempre lembrando que essa realidade não é a minha preferência, que só não participa dessa aldeia quem não consegue, porque querer todo mundo quer.
Ou seja, vivemos uma Soberania Líquida, uma soberania indefinida, amorfa, e quando sofremos alguma violência contra ela, caso dos inúmeros casos de privatização que entregaram a empresas estrangeiras setores importantes da nossa economia, passados alguns anos nem percebemos mais a diferença, que, justiça seja feita, na maior parte dos casos foi para melhor.
Cada vez mais estou convencido que nosso problema não é o ‘nosso’: o petróleo é ‘nosso’, a amazônia é ‘nossa’ e assim por diante, mas a dificuldade que temos em criar o novo.
Nossa sociedade não privilegia o trabalho, a criatividade e, por conseguinte, a educação e a distribuição justa das oportunidades. Essas são as verdadeiras armas que temos que desenvolver para confrontar as grandes corporações que tem um ponto extremamente fraco: dependem do consumidor para sobreviver no mercado.
A luta real deve ser contra a concentração de poder, seja econômico, militar ou político. Quanto mais diluído for o poder menos possibilidade de ocorrer injustiças e, quando ocorrerem, menos possibilidade de permanecerem.