Empresas GYPSY

Porque empresas GYPSY estão em risco e ainda não sabem
09 de fevereiro de 2014
Paródia do texto “Porque os jovens profissionais da geração Y estão infelizes”via Wait But Why
Este é Luís.

A História de Luís é muito semelhante à  História de Ana (siga o link), ele também é parte da Geração Y, a geração de jovens nascidos entre o fim da década de 1970 e a metade da década de 1990. Ele também faz parte da cultura Yuppie, que representa uma grande parte da geração Y.

“Yuppie” é uma derivação da sigla “YUP”, expressão inglesa que significa “Young Urban Professional”, ou seja, Jovem Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuem formação universitária, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas tendências da moda. - Wikipedia
Um nome para yuppies da geração Y poderia ser “GYPSY” (Gen Y Protagonists & Special Yuppies) ou “Yuppies Especiais e Protagonistas da Geração Y”. Um GYPSY é um tipo especial de yuppie, um tipo que se acha o personagem principal de uma história muito importante.
Então Luís está lá, curtindo sua vida de GYPSY, e ele gosta muito de ser Luís. Só tem uma pequena coisinha atrapalhando:
Luís está meio ansioso, poderíamos dizer estressado.
Para entender a fundo o porquê de tal ansiedade, antes precisamos definir o que faz uma pessoa tranquila, ou ansiosa. É uma formula simples:
Estado de Espírito = Quem somosQuem pretendemos ser
É muito simples — quando quem ou o quê alguém é supera sua própria autoimagem, ele está tranquilo. Quando o que somos acaba sendo pior do que pretendemos ser, então ficamos ansiosos.
Já vimos, na história de Ana que os GYPSY são filhos dos “Baby Boomers“, que definitivamente não são GYPSY. Tiveram uma vida mais suave e positiva do que seus próprios pais e criaram seus filhos com um senso de otimismo e possibilidades infinitas. Ensinaram seus filhos da geração Y que eles poderiam ser o que quisessem ser, induzindo assim a uma identidade de protagonista especial lá em seus subconscientes.
Isso deixou os GYPSY se sentindo tremendamente esperançosos em relação à suas carreiras, ao ponto de aquele gramado verde de estabilidade e prosperidade, tão sonhado por seus pais, não ser mais suficiente.
Isso nos leva ao primeiro fato sobre GYPSY:
GYPSY são ferozmente ambiciosos
O GYPSY precisa de muito mais de sua carreira do que somente um gramado verde de prosperidade e estabilidade. O fato é: só um gramado verde não é lá tão único e extraordinário para um GYPSY. Enquanto seus pais queriam viver o sonho da prosperidade, os GYPSY agora querem viver seu próprio sonho.
Mas outra coisa está acontecendo. Enquanto os objetivos de carreira da geração Y se tornaram muito mais específicos e ambiciosos, uma segunda ideia foi ensinada ao Luís, assim como à Ana, durante toda sua infância:
Esta é provavelmente uma boa hora para falar do nosso segundo fato sobre os GYPSY:
GYPSY vivem uma ilusão
Na cabeça de Luís passa o seguinte pensamento: “mas é claro… todo mundo vai ter uma boa carreira, mas como eu sou prodigiosamente magnífico, de um jeito fora do comum, minha vida profissional vai se destacar na multidão”. Então se uma geração inteira tem como objetivo um gramado verde e com flores, cada indivíduo GYPSY acaba pensando que está predestinado a ter algo ainda melhor:
Um unicórnio reluzente pairando sobre um gramado florido.
Mas por que isso é uma ilusão? Por que isso é o que cada GYPSY pensa, o que põe em xeque a definição de especial:
especial – adjetivo – melhor, maior, ou de algum modo diferente do que é comum

De acordo com esta definição, a maioria das pessoas não são especiais, ou então “especial” não significaria nada.
Mesmo depois disso, os GYPSY lendo isto estão pensando, “bom argumento… mas eu realmente sou um desses poucos especiais” – e aí está o problema.
Uma outra ilusão é montada pelos GYPSY quando eles adentram o mercado de trabalho. Enquanto os pais de Luís acreditavam que muitos anos de trabalho duro eventualmente lhes renderia uma grande carreira, Luís acredita que uma grande carreira é um destino óbvio e natural para alguém tão excepcional como ele, e para ele é só questão de tempo e escolher qual caminho seguir. Suas expectativas pré-trabalho são mais ou menos assim:
Infelizmente, o mundo não é um lugar tão fácil assim, e curiosamente carreiras tendem a ser muito difíceis. Grandes carreiras consomem anos de sangue, suor e lágrimas para se construir – mesmo aquelas sem flores e unicórnios – e mesmo as pessoas mais bem sucedidas raramente estarão fazendo algo grande e importante nos seus vinte e poucos anos.
Mas os GYPSY não vão apenas aceitar isso tão facilmente.
Paul Harvey, um professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, e expert em GYPSY, fez uma pesquisa onde conclui que a geração Y tem “expectativas fora da realidade”, “uma grande resistência em aceitar críticas negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”. Ele diz que “uma grande fonte de frustrações de pessoas com forte senso de grandeza são as expectativas não alcançadas. Eles geralmente se sentem merecedoras de respeito e recompensa que não estão de acordo com seus níveis de habilidade e esforço, e talvez não obtenham o nível de respeito e recompensa que estão esperando”.
Para aqueles contratando membros da geração Y, Harvey sugere fazer a seguinte pergunta durante uma entrevista de emprego: “Você geralmente se sente superior aos seus colegas de trabalho/faculdade, e se sim, por quê?”. Ele diz que “se o candidato responde sim para a primeira parte, mas se enrola com o porquê, talvez haja um senso inflado de grandeza. Isso é porque a percepção da grandeza é geralmente baseada num senso infundado de superioridade e merecimento. Eles são levados a acreditar, talvez por causa dos constantes e ávidos exercícios de construção de autoestima durante a infância, que eles são de alguma maneira especiais, mas na maioria das vezes faltam justificativas reais para essa convicção”.
Um fato preocupante é que o mundo atual tem cada vez mais contratantes como Luís, em empresas que vivem no mundo do “faz de conta”, normalmente rumo a crises que só não são anunciadas porque todos vivem de ilusão. Nessas empresas, que poderiam ser chamadas “empresas GYPSY”, o merecimento é cada vez menos um fator importante e o fracasso começa a ser considerado o resultado de atitudes corajosas que não estão tendo a contrapartida esperada das equipes, do mercado ou de algum outro vilão dos tempos modernos.
Assim, depois de poucos anos de formado, Luís, um “afortunado” colaborador de uma dessas “modernas organizações”, conseguiu uma carreira meteórica e chegou aqui:
Empresas como a de Luís são cada vez mais comuns, afinal velocidade é a característica dessa geração, cada vez mais os GYPSY estão ocupando postos de comando e dirigindo organizações construídas ao longo de décadas, algumas centenárias. São as empresas tradicionais se tornando empresas GYPSY.
Um aspecto notável é que esse fenômeno não ocorre em empresas fundadas por GYPSY, aquelas que começaram do nada. Estas passam pelo processo natural da seleção por competência, o que também está cada vez mais rápido. Há algumas décadas o período de duração de empresas que não davam certo era de alguns anos, hoje esse prazo não passa de 1 ano, por vezes algumas semanas bastam para que elas sucumbam.
Assim as empresas GYPSY natas que sobrevivem tiveram competência para isso, em outras palavras, conseguiram desenvolver qualidades reais e não fantasias oriundas de mentes deslumbradas consigo mesmo e com suas ideias mirabolantes.
Os fundadores dessas empresas deixaram de ser Yuppies (o Y de GYPSY) para se tornarem GPS, “Guias Para Sobrevivência”. Aprenderam com a experiência vivida e com a apreendida da experiência de outros GYPSY que o importante é a qualidade intrínseca do trabalho, que o lucro é a consequência da eficiência casada com a eficácia, que antecipar problemas é evitar prejuízos e, principalmente, que coragem não substitui a Confiança, que são as pessoas e não os procedimentos que importam, que a individualidade é uma ilusão, que Nós somos Nós.
Empresas como a Google são um bom exemplo desse fenômeno, mas existe uma grande quantidade de pequenas empresas que estão revolucionando as relações de trabalho e com o mercado, todas elas foram fundadas por GYPSY que se tornaram GPS.
Já as empresas tradicionais que, seduzidas pelos apelos da modernidade, se entregaram à geração GYPSY, incentivaram práticas GYPSY, mostraram admiração por essa “gana” demonstrada por esses jovens, estão sendo solapadas sem perceber, porque os poucos remanescentes da velha geração, a geração que as fundou, estão sendo colocados de lado, como “conselheiros” cujos “conselhos” são ouvidos na medida em que não atrapalhem a velocidade que ‘eles’ – os GYPSY – determinaram.
O lucro, os prazos, os custos, tudo passou a ser considerado como parâmetros pré-fixados, não mais variáveis imponderáveis, cujos valores dependem da eficiência e eficácia com que se planejam e depois se executam os projetos. Dessa forma se mascaram os dados, manipula-se informação, empurram problemas ‘com a barriga’, ignoram-se evidências de problemas, contemporiza-se com a incompetência, colocando a organização no ‘fio da navalha’.
Mas, voltemos ao nosso personagem.
A extrema ambição de Luís, combinada com sua arrogância, fruto da ilusão sobre quem ele realmente é, o faz ter expectativas extremamente altas, mesmo sobre os primeiros anos após a saída da faculdade. No caso dele as expectativas foram, de certa forma, até superadas. Aí é que surge um novo desafio:  A sinuca de caçapa!
Costuma-se dizer de quem está numa situação sem saída que essa pessoa está em uma Sinuca de bico – usando uma imagem vinda do jogo de sinuca, quando a bola fica cercada por outras bolas – no caso de Luís trata-se exatamente do contrário: a bola está na “boca” da caçapa. Ali, errar será, sem dúvida nenhuma, um vexame monumental, lembrando que o jogo do qual estamos falando é a vida de Luís, seu futuro profissional, sua imagem.
E a coisa só piora. Além disso tudo, os GYPSY tem um outro problema, que se aplica a toda sua geração:
GYPSY estão sendo atormentados
As redes sociais criam um mundo para os GYPSY onde: A) tudo o que as outras pessoas estão fazendo é público e visível a todos, B) a maioria das pessoas expõe uma versão maquiada e melhorada de si mesmos e de suas realidades, e C) as pessoas que expõe mais suas carreiras (ou relacionamentos) são as pessoas que estão indo melhor, enquanto as pessoas que estão tendo dificuldades tendem a não expor sua situação. Isso faz com que achem, erroneamente, que todas as outras pessoas estão indo super bem em suas vidas, só piorando seu tormento.
Entretanto, no caso de Luís, ele achava, com certa razão, que seu maior motivo de preocupação era a inveja de seus companheiros de geração, afinal ele tinha feito uma carreira meteórica, alcançando em poucos anos cargo de gestão próximo ao primeiro escalão da empresa. Ele não podia errar, se perdesse aquela posição, se cometesse alguma gafe, seria trucidado pelos invejosos.
Luís está sofrendo da “Síndrome da carreira meteórica”.
Profissionais que, por sorte ou acaso, chegam a cargos de alta responsabilidade antes de estar totalmente maduros para isso, morrem de medo de ser desmascarados, por isso estão todo o tempo tentando ser o que sabem que não são, aí vem o sintoma mais grave dessa síndrome, uma sensação que, associada à sinuca de caçapa em que se veem presos, cria todas as condições para induzir ao erro, é a “Fadiga de Ator”, uma exaustão psicológica que impede a concentração, induz ao relaxamento e aumenta a ansiedade. Ter que se apresentar o tempo todo como alguém que não é passa a ser um tormento, sim, o tempo todo, porque a “pose” continua em casa, entre os amigos, no clube, afinal ele não pode ser desmascarado.
Como a empresa está dominada por pessoas dessa geração, vai tomando decisões cada vez mais arriscadas, uma vez que cada um e todos estão, quase que permanentemente, dedicando suas energias e capacidade intelectual para manter as aparências e, não raro, remendar/ocultar seus próprios erros.
A história recente vem mostrando como isso pode ser fatal para as organizações.

Dísticos distribuídos nas mesas dos funcionários, em uma
empresa tradicional em franca transformação para o modelo GYPSY

Por trás de todas as grandes crises do século XXI estão os GYPSY. Sabemos que todas as novas gerações encontram novas formas de cometer os mesmos erros das gerações passadas, mas a molecada exagerou.
Se o século XX se caracterizou pela ascensão da competição e da super especialização, podemos dizer que o século XXI chegou para darmos um passo à frente.
A competição se tornou a única e efetiva meta dos jovens GYPSY, os resultados foram esquecidos, ignorados como se a responsabilidade por eles (os resultados) fosse de algum ser superior que dirige tudo e ajeita as coisas – nas empresas de grande porte e história consolidada, seriam os dirigentes de alto escalão, conselhos de administração etc.
Dizíamos (nós, os dinossauros de 15 arqueológicos anos atrás) que especialista é aquele que sabe tudo sobre quase nada e generalista é o que sabe quase nada sobre tudo. Pois bem, os GYPSY chegaram para elevar ao limite essa premissa: são especialistas em generalidades, ou seja, não sabem quase nada sobre muito pouco.
O fato é que, definitivamente, Luís está estressado. Já teve episódios de pressão alta, vive incomodado com uma gastrite insistente e, apesar de estar convencido da sua dedicação extraordinária, afinal a empresa é dominada pela filosofia GYPSY – tem que ter sangue nos olhos – e cobra de todos dedicação total[1], apesar disso não se sente seguro.

Bem Luís, não se aflija, há esperança!

Aqui vão alguns conselhos para você e para empresas, GYPSY ou não:

1) Continue ambicioso (LIBERDADE). O mundo atual está borbulhando de oportunidades para pessoas ambiciosas conseguirem sucesso e realização profissional, afinal essa é a busca de todo ser humano – liberdade. O caminho específico ainda pode estar incerto, mas ele vai se acertar com o tempo, apenas entre de cabeça em algo que você goste de verdade e trabalhe, trabalhe duro, dê consistência ao seu trabalho. Gosto muito de uma versão meio irônica da regra Beneditina: Ora et labora, que é: Ora sed Labora, ou seja: Ore, mas trabalhe!
2) Você poderá ser especial (CONFIANÇA). O fato é que, neste momento, você não é especial. Você é outro jovem profissional buscando experiência que não tem muito para oferecer ainda, mas você pode se tornar especial trabalhando duro por bastante tempo, confiando e conquistando confiança dos demais, porque só podemos ter sucesso como Nós, esqueça o Eu.
3) Encare o mundo (CORAGEM). A impressão de que o gramado do vizinho sempre é mais verde não é de hoje, mas no mundo da autoafirmação via redes sociais em que vivemos, o gramado do vizinho parece um campo florido maravilhoso. A verdade é que todas as outras pessoas estão igualmente indecisas e duvidando de si mesmas, assim como você. Se você apenas se dedicar ao que acha sinceramente importante, sendo você mesmo e enfrentando com coragem seus desafios, nunca se preocupará com o que os outros estão pensando.
Se todos pensarem seriamente nesses conselhos poderão se tornar os GPS que guiarão as novas empresas e, com sorte, algumas das empresas tradicionais, através do terremoto que, inexoravelmente, está por vir: ao mesmo tempo em que essa nova geração GPS estiver emergindo, muitas, mas muitas mesmo, grandes corporações estarão ruindo. Não, não acho que vai ser fácil, mas estou convencido que seguindo esses preceitos todos sobreviverão para construir a nova ordem que emergirá daí.

Índice de Sucesso no Trabalho


Podemos definir um ‘índice de sucesso no trabalho’ como multiplicação de indicadores de alguns objetivos. Nenhum desses indicadores pode ser nulo, pois, nesse caso, anularia o resultado final.

Considerando não apenas o sucesso imediato, mas algo que dure o tempo necessário para gerar estabilidade na relação empresa x funcionário.

A ordem em que colocamos esses objetivos vai definir a importância que damos a cada um deles e, portanto, o grau de empenho que dedicaremos para consegui-lo.

Um professor medíocre de ética do trabalho provavelmente proporia a seguinte ordem:

1.  Conquistar resultados para a empresa:           
A finalidade da contratação de alguém é a obtenção de resultados e, como quem contrata e paga o contratado é a empresa, é a ela que se deve esses resultados.
2.  Conquistar resultados para os colegas e subordinados:      
O trabalho em equipe é um importante fator de multiplicação de resultados e, como o objetivo é o resultado, os colegas são o segundo cliente em importância. Isso implica, necessariamente, em colaboração e troca, propiciando que colegas e subordinados se beneficiem também de nosso trabalho.
3.  Conquistar resultados para o chefe:     
Como é o chefe que comanda os resultados, é importante que ele esteja satisfeito com o trabalho realizado e seja beneficiado com a boa produtividade de sua equipe.
4.  Conseguir o sucesso:         
Finalmente chega a sua vez: conseguir o sucesso tão almejado como fruto dos três desafios iniciais.

Entretanto ética não é uma coisa simples, porque diferentemente da filosofia, não lida com ideias, mas com comportamentos e Viver é Paradoxal.

Na vida nem tudo segue uma lógica totalmente racional. Na verdade, no mundo humano, tudo segue a psicológica.

Analisando por um prisma mais realista veremos que a ordem pode mudar muito:

1. No fundo o que buscamos em primeiro lugar é o nosso sucesso, a nossa realização e faremos de tudo para atingir nossas metas, porém já sabemos que somos NÓS, então reconhecemos o que queremos e vamos em frente percebendo que o sucesso compartilhado é o único possível:       
Conseguir o sucesso.
2.  Temos que reconhecer que a empresa é um ente abstrato e que, no caso específico de nossa relação com ela, esse vínculo está representado pelo chefe.
Sob o ponto de vista da empresa, ele, o chefe, está mais bem habilitado para decidir quais resultados a empresa espera e como se deve obtê-los, não nós.        
É ele, o chefe, quem tem a autoridade delegada para exercer essa função e, mais importante que tudo mais, é ele que decide se vamos ser promovidos ou demitidos, portanto conquistar a Confiança do chefe passa a ser fundamental:
Conquistar resultados para o chefe.
3. A partir daí vem nossa relação de confiança com nossos colegas, estabelecendo uma verdadeiro espírito de equipe:  
Conquistar resultados para os colegas e subordinados.
4. Não é da nossa competência avaliar se a empresa está obtendo os resultados esperados ou não, o que nos cabe é fazer o melhor tendo como orientação os dois objetivos anteriores e, quando a empresa julgar conveniente nos galgar a uma posição superior... devemos continuar respeitando estas mesmas regras a partir de nossa nova posição.           
Nós não somos ‘a’ empresa, somos apenas pessoas trabalhando ‘na’ empresa, nossos resultados são necessários mas não suficientes para os resultados da organização, dessa forma, last but not least, temos que torcer para que nossos esforços atinjam o objetivo final:  
Conquistar resultados para a empresa.

Ver artigo no link a seguir: Sabedoria Antiga - Tom Morris

VOCÊ S.A. - Agosto/2000 - Tom Morris

Edição 26 – artigo 3                                                              05/09/2000
Sabedoria antiga
Quer se preparar para o futuro? Aprenda com o passado. É lá que estão as mais profundas verdades da natureza humana.
Por Tom Morris

Por milhares de anos, os filósofos procuraram compreender a natureza humana. Estiveram em busca da sabedoria sobre a melhor maneira de viver. Os mais brilhantes fizeram profundas descobertas, que resistiram ao teste do tempo, sobre a excelência e sobre o sucesso.
Mais do que nunca, em toda a História humana, precisamos de sabedoria sólida. O ritmo das mudanças em nosso mundo é o mais rápido já alcançado. E o futuro nos acena com uma aceleração ainda maior em termos de inovação tecnológica, globalização e reconfiguração do modo como trabalhamos e competimos em todas as atividades. Somente tomando como base as mais profundas e imutáveis verdades acerca da natureza humana, estaremos aptos a lidar com todas as coisas mutáveis à nossa volta. Estou convencido de que muitos aspectos da antiga sabedoria podem nos preparar, de maneira única, para tirar o máximo proveito das oportunidades de negócios com que o futuro nos brindará. Vamos a eles:
AUTOCONHECIMENTO E SUCESSO

Na Antiguidade, muitas pessoas procuravam os conselhos do filósofo pré-socrático Tales. Em resposta a questão "Qual a coisa mais difícil do mundo?", ele_dizia, muito simplesmente: "Conhecer-se a si mesmo". Quando lhe perguntavam "Qual a coisa mais fácil do mundo?", Tales replicava "Aconselhar as outras pessoas”. E quando lhe colocavam uma terceira questão, "De todas as coisas, o que causa maior satisfação?", o filósofo respondia: "O verdadeiro sucesso".
Trata-se de uma série de intuições iluminadoras. A coisa mais fácil do mundo é dar conselhos às outras pessoas. É por isso que o mundo está tão repleto de gurus e comentaristas que aconselham sem sair de suas poltronas. Conselho é uma das mercadorias mais disponiveis do mundo. Mas bons conselhos, ironicamente, são difíceis de encontrar. Os que se aproximavam de Tales para levar suas questões sobre a vida faziam bem em procurar um verdadeiro especialista em natureza humana. E o filósofo não os desapontava.
Tales estava certo em cada uma dessas respostas. Todos os pensadores antigos recomendavam insistentemente a seus ouvintes a necessidade de se autoconhecer. Mas o autoconhecimento pode ser a coisa mais difícil de atingir e de ser renovado. E, no entanto, pode-se afirmar que é o fundamento mais importante para o que dá mais satisfação, que é o verdadeiro e duradouro sucesso. É por esse motivo que o sucesso representa tamanho desafio, nos negócios e na vida. Sem autoconhecimento, pessoas talentosas e habilidosas estão desprovidas, em tudo o que fazem, de um dos alicerces mais básicos do sucesso duradouro.
Todo trabalhador no século 21, seja nas linhas de produção, seja nos escritórios, precisará ver a si mesmo como um empresário independente, um vendedor especializado de serviços com uma marca muito especial, conhecida de todos. Só isso nos ajudará a atrair recursos, respeito e oportunidades que manterão o trabalho interessante, a empresa poderosa e as carreiras florescentes. Mas isso requer uma grande dose de autoconhecimento. É pela sua importância nas atividades mais criativas que antigos filósofos, como Tales, queriam que compreendêssemos quão difícil é alcançar o autoconhecimento. No futuro, com todas as suas possibilidades criativas e empresariais, o ramo dos negócios exigirá mais do que nunca essa rara mercadoria. Assim, faço coro aos antigos pensadores, recomendando: "Conhece-te a ti mesmo".
AS CONDIÇÕES UNIVERSAIS DO SUCESSO NOS NEGÓCIOS

O verdadeiro sucesso nos negócios e na vida envolve três coisas - descobrir nossos talentos, desenvolvê-los e utilizá-los tanto para o bem alheio quanto para o próprio bem. A essência do sucesso não reside, de modo algum, em dinheiro, fama, poder, status, fatia do mercado ou lucro. Esses são meros efeitos colaterais contingentes do verdadeiro sucesso. A substância do sucesso envolve sempre autoconhecimento, crescimento pessoal e atividade em um nível de excelência que produz grandes relacionamentos e resulta em algo positivo para o mundo - nem mais nem menos. O verdadeiro sucesso em geral se reflete nesses parâmetros externos que muitas vezes buscamos obsessivamente. Mas jamais é encontrado quando se busca somente a eles.
Em meu livro True Success: A New Philosophy of Excellence (publicado no Brasil como O Verdadeiro Sucesso, Cultrix), apresentei sete condições universais de sucesso de acordo como eram entendidas pelos maiores filósofos de todas as culturas, desde os tempos mais remotos. Em cada desafio é preciso estruturar nossas ações e atitudes em torno delas.
AS SETE CONDIÇÕES UNIVERSAIS DE SUCESSO

Em toda empresa, precisamos de:
1.   Uma CLARA CONCEPÇÃO do que queremos.
2.   Uma FORTE CONFIANÇA de que podemos atingir nosso objetivo.
3.   Uma CONCENTRAÇÃO FOCALIZADA no que faremos.
4.   Uma CONSISTÊNCIA OBSTINADA na busca do que almejamos.
5.   Um COMPROMISSO EMOCIONAL com o que estamos fazendo.
6.   Um BOM CARÁTER para nos guiar e manter no trajeto.
7.   Uma CAPACIDADE DE DESFRUTAR do processo.
Podemos encontrar uma compreensão e apreciação desses sete pontos nos escritos de figuras tão diversas quanto os antigos pensadores chineses Confúcio e Lao-Tsé, os estoicos romanos Sêneca e Marco Aurélio e o jesuíta do século 17 Baltasar Gracián, ou em pensadores modernos como Ralph Waldo Emerson. O sucesso em qualquer empreendimento é bastante facilitado quando essas sete condições são seguidas. Por mais importantes que tenham sido no passado, estou convencido de que serão ainda mais vitais para o sucesso nos negócios no futuro.
MANTENDO O SUCESSO

O sucesso duradouro nos negócios se baseia na compreensão e no respeito das necessidades universais contidas na natureza humana. Os filósofos antigos diagnosticavam com especial agudeza os motivos profundos que nos levam a dar o melhor de nós mesmos em cada situação. E nos deixaram os mais diversos tipos de conselhos sobre o que realmente importa em qualquer atividade humana. Tendemos com frequência a pensar nos negócios em termos de produtos e processos, mas é um terceiro elemento que acaba sempre sendo o mais importante - as pessoas que fazem o trabalho. Processos eficientes e produtos de qualidade são vitais para qualquer companhia que quiser ser bem-sucedida. Mas a fonte e o fundamento real do sucesso duradouro é, em última instância, o espírito das pessoas envolvidas.
Muitos dos antigos filósofos compreenderam que há quatro dimensões da experiência humana que estruturam tudo o que sentimos e fazemos. Se pudermos apreender a importância desses quatro fundamentos, podemos acumular mais energia para nossos fins empresariais.
OS QUATRO FUNDAMENTOS DA EXCELÊNCIA SUSTENTADA:        
·      A dimensão INTELECTUAL da experiência e sua meta, a VERDADE.
·      A dimensão ESTÉTICA da experiência e sua meta, a BELEZA.
·      À dimensão MORAL da experiência e sua meta, a BONDADE.
·      A dimensão ESPIRITUAL da experiência e sua meta, a UNIDADE.
Expus a importância dessas coisas em um livro intitulado If Aristotle Ran Out General Motors: The New Soul of Business (Se Aristóteles Dirigisse a General Motors: O Novo Espírito dos Negócios) e utilizei essas ideias para ajudar os lideres de algumas das maiores companhias do mundo a compreender o que será necessário para liderar no futuro. As pessoas precisam de uma certa dose de verdade, beleza, bondade e unidade em sua experiência diária de trabalho. Se respeitarmos e alimentarmos esses quatro preceitos em todas as nossas relações com as pessoas, criaremos em nossas organizações um espírito de corporação mais forte e novas formas de lealdade - que não dependem unicamente de condições imprevisíveis de mercado -, tanto no interior de nossas companhias quanto com os vendedores e clientes. Ao seguir esses princípios, alcançamos as raízes profundas da motivação humana e fornecemos as condições para manter o sucesso em tudo o que fazemos. O futuro dos negócios exigirá que compreendamos essas intuições, que são as mais antigas, e as apliquemos em tudo o que fizermos.
LIDERANÇA EM TEMPOS DE MUDANÇA

O poema épico Beowulf foi escrito, muito provavelmente, no século 8 d.C., foi o primeiro grande texto literário da Inglaterra. Está recheado de intuições sobre liderança e advertências para realizadores de grandes feitos, coisas em que precisamos prestar atenção à medida que ingressamos no futuro.
Segundo o relato, Beowulf se tornou o mais completo guerreiro de sua época, vencendo repetidamente os inimigos mais duros. Sua reputação se estabeleceu por séculos quando, ainda jovem, lutou com dois monstruosos inimigos e venceu-os sozinho. Como resultado de sua força, bondade, honestidade e grande renome tornou-se rei, e governou seu povo com justiça por 50 anos. Seu reino foi então, repentinamente, ameaçado pelo mais feroz adversário que ele jamais enfrentou, um horrível dragão que cuspia fogo.
Diante do maior desafio de sua carreira, Beowulf reuniu uma dúzia de homens para acompanhá-lo ao covil do dragão, mas levou-os como testemunhas, não como companheiros de armas. Seu orgulho e seus hábitos, há muito arraigados, determinaram que ele tentasse lutar sozinho com seu adversário. A violência da luta foi tão grande gue os espectadores fugiram para salvar suas próprias vidas, apesar de serem soldados experimentados. Mas seu líder nunca os preparou para enfrentar os mais exigentes desafios - ele sempre cuidou sozinho das grandes tarefas. E assim, quando o maior de todos os testes surgiu, eles estavam despreparados para ajudar. Exceto um jovem, Wiglaf, que permaneceu e se apressou em lutar ao lado de seu líder. Juntos, "em parceria", diz o poeta, eles derrotaram o dragão, mas não sem que Beowulf fosse mortalmente ferido.
Esse grande homem encontrou a morte porque não foi capaz de mudar quando era necessário. Nada garantia que o que funcionou em sua juventude funcionaria em seus últimos anos. Mas ele era orgulhoso. E tinha hábitos que o fizeram agir de uma maneira quando outra era a mais apropriada. O antigo filósofo Cícero recomendara, muito antes, que devemos estar preparados, à medida que passam os anos, a nos adaptar a novas maneiras de agir no mundo e a ensinar a outros, com parcerias - mediante as quais podemos deixar nossa marca mesmo numa idade avançada.
Isso deveria servir de aviso para todos nós. O que funcionou no passado nem sempre se revelará a melhor estratégia no futuro. Não podemos deixar que nossos hábitos e orgulho impeçam a abertura e a mudança. Precisamos de fato do autoconhecimento para evitar nos tornar nossos piores inimigos em tempos de mudança.
A lição final de Beowulf é que nenhum de nós pode fazer as coisas mais importantes sozinho. A parceria, a colaboração e a aliança são as chaves para enfrentar os mais assustadores desafios com os quais nos defrontamos. E o futuro dos negócios requererá isso mais do que nunca.
Existe muita sabedoria para o futuro dos negócios nas obras dos grandes filósofos, sabedoria a que precisamos prestar atenção e incorporar, se quisermos que o futuro seja o melhor possível.





O professor de filosofia da Universidade de Notre-Dame, é um dos mais populares escritores americanos de negócios dos últimos tempos. Seus livros e palestras ensinam homens e mulheres de negócios a usar a sabedoria de filósofos como Sócrates e Aristóteles para enfrentar os desafios de hoje. Ph.D. em filosofia e estudos religiosos pela Universidade de Yale, o professor Morris é conhecido por seu comportamento pouco usual. Não esperem um acadêmico sisudo e cheirando a mofo. Você vai vê-lo mais facilmente num show de rock, tocando sua guitarra, e em programas de televisão da rede NBC, divulgando filosofia antiga.

03/01/2014


Tesão & TarasAnalisar ou derrapar

Qualquer análise tem que ser honesta, afinal o maior pecado que podemos cometer é o autoengano, mormente se queremos analisar como funcionam empresas, pessoas e sociedades.

Que carro você quer pra entrar nessa corrida?

Um tem os melhores freios do mundo, freios tão bons que ele já nasce parado e... sem motor!

O outro tem um motor potente, pneus carecas e...    
nenhum freio, mas você vai precisar entrar com ele andando.


Se você não quer entrar em nenhum dos dois você é uma pessoa normal. Afinal de que serve um carro parado e, por outro lado, como fazer as curvas com um carro sem freios. No entanto nem sempre decidimos com tal sensatez nas curvas da vida.

Muito se fala, principalmente no âmbito corporativo, de Missão e Valores e ninguém questiona a importância desses atributos, seja para empresas, seja para as pessoas.

Não nos ocorre que mais importante do que “Missão e Valores” é descobrir qual é nosso “Tesão” e quais são nossas “Taras”.

Um carro para ser bom tem que estar equipado com algumas coisas fundamentais:
  • Motor é o Tesão: aquilo – e a única coisa – que te move.
  • Pneus são as Taras: sempre prontos para derrapar.
  • Freio é a Missão: só serve para diminuir o ritmo.
  • Direção são os Valores: como indicamos aonde queremos ir.
Missão e Valores são coisas meramente ideais. Não só não existem, uma vez que são apenas promessas, como também são altamente questionáveis porque derivadas de moral e ética, coisas fundamentalmente variáveis conforme a sociedade e a época em que vivemos.

À medida que vamos nos atrelando a essas “invenções” criadas para nos sentirmos aceitos pela sociedade em que vivemos, vamos travando nossos freios e fritando nossos pneus, que vão ficando cada vez mais carecas.

Isso provoca desequilíbrios que vão desde a busca de subterfúgios como ser torcedor fanático, ser obcecado por um rabo de saia ou, por outro lado, possessivo e doente de ciúme, precisar daquele trago todo fim de dia, colecionar coisas malucas, virar algum tipo de “ólatra”, cair na rede de alguma seita ou filosofia mirabolante, até extremos como tornar-se um serial killer, um estripador de prostitutas, um skin head perseguidor de negros, nordestinos e homossexuais etc., etc., etc.

– Pô, aí você já está viajando... – dirão alguns.

Entretanto, apesar de serem, felizmente, casos pouco frequentes (embora ocorra cada vez mais), parece certo que muitas dessas aberrações são provocadas por algum tipo de repressão ou auto repressão que ultrapassou algum limite, desembocando em comportamentos hediondos.


O fato é que só nos movemos pelo Tesão ou, usando uma expressão mais polida: pelo Entusiasmo, o resto são apenas controles. Quanto mais percebermos isso melhor poderemos administrar nossas vidas e nossos sentimentos.

Missão e Valores são relativos

Essa frase choca, mas infelizmente, é nessa armadilha que nos jogamos quando começamos a questionar tudo, todas as regras sociais que inibiam a nossa liberdade. Nunca foi tão claro o significado da “expulsão do paraíso”.

Talvez não precisemos jogar fora nossas convicções, apenas ficar atentos às nossas taras, elas são o melhor indicador de como está nossa capacidade de fazer as curvas que vão aparecendo na estrada da vida.

“Missão e Valores” não são mais do que controles, não definem como vamos sair da imobilidade, como vamos competir, é o “Tesão” que nos move, porém não podemos esquecer de nossas “Taras”, pneus carequinhas que, se por um lado nos dão mais velocidade, por outro nos deixam sem controle nenhum e, acredite: VOCÊ TEM “TARAS”.

Missão é aquilo que nós acreditamos com o “lobo frontal” (Sabe? Aquele, que nos permite mentir melhor que os macacos?), invenções ideais que podem servir de orientação, mas é só motivação, o Tesão é que nos entusiasma.

Muito mais do que os Valores – essas promessas de amor verdadeiro e eterno que fazemos a alguém que nos dá tesão – são as Taras que definem como vamos nos comportar, principalmente frente às tentações da vida.

A primeira mudança é aceitar que temos Taras, todos temos Taras, e nossa atitude será tão melhor quanto mais reconhecermos isso e, a partir daí, pudermos administrar melhor nossos sentimentos.

Alguém disse que alcançaremos a felicidade ou, ao menos, a alegria de viver, quando se PODE e DEVE aquilo que se QUER.

O que queremos, o que nos dá Tesão, depende, em maior ou menor grau, de nossas Taras. Se conseguirmos determinar nossa Missão pelo nosso Tesão e administrar nossos Valores em constante diálogo com nossas Taras, tudo bem, estamos na corrida, caso contrário viveremos parados ou voando pelos barrancos, apenas para sustentar médicos e analistas.

Por que existem as máfias?

Está cada vez mais claro que o mundo é dividido em duas formas de governo:
  1. As máfias, o chamado crime organizado, um sistema de governo baseado em Tesão & Taras que usa Missão e Valores como instrumento de poder: honra, lealdade, devoção à causa da famiglia;
  2. E os governos institucionais, sistema baseados em Missão e Valores e que usam Tesão & Taras como instrumento de poder: marketing político, corrupção, aliciamento.
Tesão & Taras se manifestam de várias formas como fenômenos sociais: uma delas são os rebeldes, insurrectos, idealistas, outra são as máfias, o crime organizado e, entre as duas, os black bloc, estes sem direção nem controle e que, justamente por isso, serão inevitavelmente submetidos por um dos dois lados.

Governos não se baseiam em Tesão & Taras e sim em Missão e Valores e as máfias não toleram se submeter a isso.

Na verdade ninguém tolera, a maioria apenas não tem coragem de se rebelar.

Essa é a realidade da espécie humana, viver no meio da luta entre o bem e o mal, bem e mal que nós mesmos inventamos. Viver entre Orcs e Elfos, em busca do Anel da invulnerabilidade. Nós os trouxas[1] do Harry Potter, sendo levados como as trouxas que os aventureiros levam nas costas.

Já falamos também sobre essa imagem criada por J. K. Rowling[2], autora de Harry Potter, a figura dos trouxas, aqueles que não são versados nos conhecimentos de magia. Basicamente diz respeito à maioria de nós, que se julga incapaz de mudar as coisas, que não tem coragem de assumir um lado dessa partilha do poder.

Aí está, mais uma vez de forma inequívoca, a nossa sina da “expulsão do paraíso”. A questão eterna da humanidade! E os livros sagrados são muito claros em uma questão: a única saída para os degredados é o apocalipse, seja como um fim, seja como um recomeço.

Se acreditamos que o apocalipse significa um recomeço, precisamos, urgentemente, do terceiro evangelho, um novo livro sagrado que nos oriente, porque as duas forças: Tesão & Taras e Missão e Valores, estão aí para sempre, não temos mais como apaga-las de nossas consciências, e não estão lá fora, no mundo, estão dentro de nós, de cada um de nós.
Como vejo o mundo
Albert Einstein
A respeito da degradação do homem de ciência
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Hoje, o homem de ciência se vê verdadeiramente diante de um destino trágico. Quer e deseja a verdade e a profunda independência. Mas, por estes esforços quase sobre-humanos, produziu exatamente os meios que o reduzem exteriormente à escravidão e que irão aniquilá-lo em seu íntimo. Deveria autorizar aos representantes do poder político que lhe ponham uma mordaça. E, como soldado, vê-se obrigado a sacrificar a vida de outrem e a própria, e está convencido de que este sacrifício é um absurdo. Com toda a inteligência desejável, compreende que, num clima histórico bem-condicionado, os Estados fundados sobre a ideia de Nação encarnam o poder económico e político e, por conseguinte, também o poder militar, e que todo este sistema conduz inexoravelmente ao aniquilamento universal. Sabe que, com os atuais métodos de poder terrorista, somente a instauração de uma ordem jurídica supranacional pode ainda salvar a humanidade. Mas é tal a evolução, que suporta sua condenação à categoria de escravo como inevitável. Degrada-se tão profundamente que continua, a mandado, a aperfeiçoar os meios destinados à destruição de seus semelhantes.
Estará realmente o homem de ciência obrigado a suportar este pesadelo? Terá definitivamente passado o tempo em que sua liberdade íntima, seu pensamento independente e suas pesquisas podiam iluminar e enriquecer a vida dos homens? Teria ele se esquecido de sua responsabilidade e sua dignidade, por ter seu esforço se exercido unicamente na atividade intelectual? Respondo: sim, pode-se aniquilar um homem interiormente livre e que vive segundo sua consciência, mas não se pode reduzi-lo ao estado de escravo ou de instrumento cego.
Se o cientista contemporâneo encontrar tempo e coragem para julgar a situação e sua responsabilidade, de modo pacífico e objetivo, e se agir em função deste exame, então as perspectivas de uma solução racional e satisfatória para a situação internacional de hoje, excessivamente perigosa, aparecerão profunda e radicalmente transformadas.
As “direitas” são muito mais pragmáticas, lidam muito melhor com essa dualidade, pelo menos no que diz respeito à manutenção do poder – lembrando que muita “esquerda” por aí não passa de lobo em pele de cordeiro.

Serra e Alckmin negociam com o PCC sem nenhum constrangimento, Kennedy buscou apoio em Chicago com o capo SamGiancana: eles entendem que essas forças sempre existiram e sempre existirão, não podem ser eliminadas, então precisam ser consideradas na equação política.

A “esquerda” real é muito mais ingênua, muito mais idealista, acredita que pode fugir do apocalipse, eliminar o mal e finalmente libertar o povo oprimido, só que dentro de cada um, idealistas, opressores e oprimidos, estão lá Tesão & Taras, confundindo, provocando derrapadas monumentais e tirando o carro da pista.

Ou escrevemos o novo livro sagrado da humanidade, cuja fórmula nós ainda não encontramos, ou vamos rumo ao apocalipse, a alternativa é avaliar como negociar entre esses dois lados, o bem e o mal, Tesão & Taras e Missão e Valores e, finalmente, estabelecermos um diálogo entre direita e esquerda, branco e vermelho, explorador e conservador, usurpador e filhos da terra.


Um exercício de raciocínio

Sabemos, ou pelo menos deveríamos saber, que o exercício físico nos faz sentir melhor, com mais disposição, menos sujeitos a doenças etc., entretanto a prática é penosa, exige força de vontade.

Quando vencemos a preguiça e iniciamos, as coisas vão ficando progressivamente mais fáceis.

Ocorrem dois fenômenos simultâneos: a redução dos sintomas como cansaço, desconforto respiratório, dores musculares etc., devido ao condicionamento físico e um segundo fenômeno, muito mais importante que o primeiro, que é a redução da sensibilidade negativa.

Eu chamo de sensibilidade negativa a sensibilidade ao sofrimento: à medida que nos exercitamos vamos reduzindo essa sensibilidade negativa permitindo que a gente vá se superando cada vez mais.

Esse mesmo processo se dá ao lidarmos com nosso comportamento: se encararmos Tesão & Taras de forma honesta podemos começar a nos exercitar para o que julgamos ser nossa Missão e nossos Valores, lembrando que estes serão sempre adaptáveis, porque fruto única e exclusivamente de nossa imaginação, real mesmo são Tesão & Taras.

Quanto menos encaramos Tesão & Taras mais estamos vulneráveis a eles e menos fiéis à nossa Missão e nossos Valores.

Missão e Valores devem ser bem dosados, de acordo com as circunstâncias e com a capacidade de cada um a cada momento, da mesma forma que no condicionamento físico.

Não se trata de abrir mão de nossas convicções, ao contrário, como já dissemos em outra ocasião, devemos sempre ser fiéis ao nosso conhecimento, podendo até reconstruí-lo, mas sempre respeitando o que já sabíamos e, partindo daquele ponto, rever e aprimorar nossas conclusões.

Um aspecto interessante desse processo é que, ao reduzir a sua sensibilidade negativa, que é a sensibilidade ao sofrimento, à privação, ao esforço de nos enquadrarmos àquilo em que acreditamos, mais você desenvolve a sua sensibilidade positiva: a sensibilidade ao prazer, ao belo, à alegria de viver, a sensibilidade ao que dá Tesão.


[1] Muggles no original.
[2] Joanne Kathleen Rowling Murray