L i v r a i - n o s  d o  m a l  II 03/05/2015

Opinião líquida…

O último livro que ganhei ㄧ da Patrícia, mãe da Olívia e do Nilo (ah, é a esposa do Murilo também) ㄧ foi muito inspirador: Modernidade Líquida, Zigmunt Bauman.
Trata do “ponto de mutação”, da “era da incerteza”, da “insustentável leveza do ser" e outras expressões (e obras importantes, inclusive) que tentam explicar a imensa bagunça que virou nossa cabeça, a partir do momento que nos livramos dos dogmas e estruturas (familiares, religiosas, políticas etc.) que davam sustentação às nossas decisões.
Uma das coisas mais esclarecedoras para mim foi a conclusão de que fenômenos como o Estado Islâmico são mais “normais” do que parece.
Ao longo da história desta nossa humanidade ‘velha de guerra temos inúmeros exemplos desse tipo de motivação grupal: o nazismo, o fachismo, o comunismo, ditaduras de direita, como o governo militar de 64, ou de esquerda, como o Chavismo, etc. etc.
Menos institucionalizados, temos: Sandinismo na Nicarágua, Sendero Luminoso no Peru, FARC na Colômbia, Tupamaros no Uruguai e, mais recentemente, o Boko Haram na Nigéria, o Estado Islâmico no Iraque, Síria, hoje acantonado no Iêmen...
Trata-se do que Bauman descreve como movimentos auto-alimentados, cujo único motor é a sua própria perpetuação, necessária para dar a seus membros a segurança de “fazer parte” de algo consistente e permanente.
É interessante o fato de que esses movimentos precisam do inimigo, mais até do que de aliados. Eles ‘vivem’ da existência do inimigo.
Daí a sua semelhança com sistemas policiais - muitos até os denominam “sistemas policialescos” - já que não existiriam polícias se não existissem os transgressores da lei (os inimigos).
As religiões, a partir do seu objetivo básico que é Reunir Legiões, sempre usaram esse apelo, algumas servem até hoje como motivação para guerras sangrentas, muitas vezes entre povos da mesma etnia e quase da mesma cultura, inclusive o famigerado Estado Islâmico e tantos outros.
A necessidade da existência do inimigo é tão importante para a estabilidade desses grupos que vários Papas, inclusive o atual, reafirmaram a existência real do demônio: O Papa Francisco afirmou que “o demônio não é uma fábula; ele existe, e os cristãos não devem ser ingênuos diante de suas estratégias”.
Mas, por quê surgem esses movimentos? Qual o ‘estressor’ - para usar um termo da psicologia - que origina esses fenômenos sociais.
Não encontraremos essa resposta tentando analisar os ‘inimigos’ eleitos por esses movimentos, uma vez que, muitas vezes, são apenas e tão somente bodes-expiatórios (coitado do Lúcifer), escolhidos por algum malfadado casuísmo ou por uma estratégia dos líderes que, explorando o medo de seus seguidores, “inventam” estórias de terror para dar sustentação ao seu poder. Precisamos pesquisar em camadas mais profundas do funcionamento de nossa sociedade e, quiçá, de nossa psiquê.
Como não podia deixar de ser, vou tentar! Começando de um pequeno retrospecto:

Liberdade, Confiança e Coragem
A      t r í a d e      d e      o u r o !

Começo do começo, partindo da estrutura basilar para a existência humana: Liberdade, Confiança e Coragem.
Acho que a humanidade foi muito longe em seus sonhos de liberdade ‘grátis’. Continuamos em busca de soluções definitivas, do ‘santo graal’, da ‘pedra filosofal’ etc. Esquecemos dos ensinamentos dos nossos maiores filósofos, mostrando que felicidade não se alcança, mas se vive no processo de busca, que os caminhos mais confortáveis são, invariavelmente, os que levam ao ‘inferno’ etc.
Nessa convicção ㄧ de que chegaremos a um estado de prazer e segurança plenos ㄧ construímos uma estrutura que, sem que nos déssemos conta, excluiu a grande maioria do tecido social “são”, empurrando legiões de pessoas para a insegurança e para a carência, em alguns casos nações inteiras ou mesmo continentes.
Esse é o caldo gerador das ideias e grupos cujo motivo real é criar um núcleo de união, de agrupamento, quase como homens da idade da pedra que, ainda ignorantes dos fenômenos naturais, se encolhiam juntos em cavernas para sentirem-se mais confortados durante as tempestades ou outras ameaças.
Tudo isso em função de nossa ilusão de ‘paraíso terreno’. O problema é que, ainda que houvesse consciência desse problema e que estivéssemos dispostos a mudar nosso estilo de vida, perdemos a capacidade de viver a vida como deveria ser vivida: assumindo a responsabilidade sob todos os aspectos da preservação de nossa liberdade, construindo, com coragem, um ambiente de confiança mútua, sem hipocrisias nem ilusões de ‘perfeição’.
Avançamos demais neste caminho, da construção tecnológica, da especialização extrema das tarefas, da interdependência entre todos e dos sistemas sociais e políticos, de tal forma que qualquer correção de rota parece impossível. Será?
O futuro a Deus pertence, já dizia a VÓlinda, e, de fato, tudo pode acontecer: tendências se invertem, acidentes de percurso ocorrem. Acho que devemos tentar entender esse processo a partir de nós mesmos:

Metáfora Peripatética

Gosto da metáfora da caminhada ou do caminhar. É completa para representar as atividades da vida e fácil de experimentar.
Já estabelecemos que a Liberdade é o maior anseio, a Coragem o instrumento e a Confiança o caminho.
Também relacionamos a Liberdade com a Respiração, a Confiança com o Ritmo e a Coragem com a Força.
Um aspecto a ser percebido nessa experiência é que quando precisamos da Força (ou Coragem), corremos grande risco de esquecermos o Ritmo (Confiança) ou a Respiração (Liberdade) ou os dois.
O Ritmo ou Confiança, sempre ajuda na preservação da Respiração ou da Liberdade, entretanto quando um obstáculo exige o uso da Força ou da Coragem, é como se tudo se resumisse a vencer o desafio que se apresenta, a passar aquela fase e, nesses momentos, podemos colocar em risco a Confiança (Ritmo) e a Liberdade (Respiração).
É preciso perceber de forma muito clara que os obstáculos, sejam eles acidentes no caminho ou conflitos de interesses na vida em sociedade, sempre existirão e que atitudes são apenas isso: atitudes e como tal devem ser tratadas.
Não há sistema que sustente uma sociedade harmoniosa e não há divisão de tarefas que garanta nossa liberdade, livres do ônus da responsabilidade individual.
Ao nos colocarmos na tarefa de melhorar o mundo, corremos o risco de incorrermos no mesmo erro dos radicais de que falávamos. Vejam o caso do PT: em 35 anos, pouco mais de uma geração, passou de uma agremiação de pessoas altruístas e preocupadas com a construção de um país justo e descente, para algo como uma Igreja Universal, em que a arrecadação, a manutenção do poder e as benesses de seus comandantes substituiu quase totalmente qualquer objetivo mais nobre.
Hoje, tanto o PT como outros partidos sul-americanos, carecem de um inimigo a quem combater, ora viram suas baterias para o nosso grande irmão do norte ora para o sistema econômico internacional, mas no fundo o que lhes dava sustentação eram as ditaduras que os precederam.
Mudanças são necessárias, mas não no estado, nos governos e sim na nossa forma de viver. Claro que não vamos corrigir as imensas desigualdades existentes entre classes e povos, mas, como no caso da corrupção, o comportamento de cada um constrói ou destrói o tecido social e a confiança e esse é o único papel que podemos assumir.
Acabar com a corrupção(1) é impossível, ponto, entretanto, é possível colocá-la sob controle de forma a não prejudicar demais o clima de confiança necessário para continuarmos sendo uma sociedade.
Da mesma forma, não podemos acabar com a especialização da sociedade, assumindo imediatamente o trabalho dos médicos, dos policiais, dos lixeiros etc. etc., mas o que eu acredito é que, tendo consciência da inadequação de nossa forma de viver atual, podemos administrar melhor nossas vidas e, quem sabe, ir, aos poucos, promovendo a mudança.
Trata-se de olhar a essência das coisas, não apenas seus aspectos superficiais e práticos do dia a dia. Encarar de frente os deveres e repensar os direitos:

(1) Sobre a corrupção no Brasil, veja o artigo neste link: Cuidado, é cilada

Direitos e Deveres

Costuma-se acreditar que não DEVEMOS ser submissos e temos o DIREITO à independência. Ora, camaradas, qualquer um com mais de 16 anos já percebeu que nunca temos o que ‘merecemos’, apenas o que ‘negociamos’, e se não percebeu ainda é porque vive no mundo das ilusões.
A matemática comportamental já demonstrou que a forma como expressamos uma idéia faz toda a diferença. Ao formular nossa vida financeira colocando os Gastos à frente da Poupança, percebemos que nunca sobra nada!
Relembrando:
se encaramos nossa vida financeira pela fórmula
“Ganhos – Gastos = Poupança”
nunca teremos nada para guardar, entretanto, se invertemos o ponto de vista, adotando a fórmula
“Ganhos – Poupança = Gastos”,
milagrosamente começamos a poupar e. ainda assim, conseguimos viver sem privações e gozando muito melhor o que temos.
Da mesma forma, se invertermos a lógica do primeiro parágrafo, admitindo que não temos o DIREITO de ser submissos e que temos o DEVER de ser independentes, estaremos mudando radicalmente nossa atitude perante a vida e estaremos assumindo o que nunca deveríamos ter abdicado: a responsabilidade plena por nossos destinos!
  1. Você não pode criar prosperidade desalentando a iniciativa individual;
  2. Você não pode fortalecer o fraco, debilitando o forte;
  3. Você não pode ajudar aos pequenos, esmagando os grandes;
  4. Você não pode ajudar o pobre, destruindo o rico;
  5. Você não pode elevar o assalariado, pressionando a quem paga o salário.
  6. Você não pode resolver seus problemas enquanto gaste mais do que ganha;
  7. Você não pode promover a fraternidade da humanidade, admitindo e incitando o ódio de classes;
  8. Você não pode garantir uma adequada segurança com dinheiro emprestado;
  9. Você não pode formar o caráter e o valor de um homem cortando-lhe sua independência e iniciativa;
  10. Você não pode ajudar aos homens realizando por eles permanentemente o que eles podem e devem fazer por si mesmos.
DECÁLOGO DE ABRAHAM LINCOLN
Vamos um pouco mais além, o que quer dizer ser bom ou mau?

O silêncio dos inocentes
Inocentes?

O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
Martin Luther King
Volto à frase que se tornou famosa através do célebre líder negro. Com origem na filosofia de Heidegger, foi deturpada intencionalmente, como se fosse uma exortação, um chamado às consciências.
Ora! O líder bem intencionado, só fez aumentar muito a carga de culpa (não sei porque, lembrei da igreja católica) sobre os ombros daqueles em quem ele diz querer depositar sua confiança.
O fato é que os ‘silenciosos’ não o são por serem bons, mas por serem simplesmente acomodados e, na sua maioria, apenas acomodados.
Não digo que alguns não sejam ‘bons’, mas o que é ser bom?
Se agir é interferir na realidade, mudar alguma coisa, alterar o estado do universo à sua volta, então não se pode ser apenas bom, pelo menos não na visão de todos os ‘outros’.
Sempre que algum fenômeno ocorre, afeta a vida de cada um de forma diferente: alguns perceberão de forma positiva e outros de forma negativa. Não há como ser bom para todos.
Daí, sempre que a percepção de ‘bondade’ é generalizada, é porque está sendo encarada como “... ele nunca fez mal a ninguém!” É o caso dos que nada fazem, caso contrário, não haverá unanimidade: alguns aplaudirão, enquanto outros criticarão.
Esses ‘bons’ da frase do Martinho são os que vão lotar o inferno. Os demais são os que gritam, fazem e afetam o mundo de alguma forma.
Em outras palavras: se deixou de ser silencioso, deixou de ser bom. Por isso os candidatos mudam ao ser eleitos, nossos colegas de trabalho se transformam ao assumir uma chefia etc.
A evolução da consciência não pode ser à custa de hipocrisia e falsas esperanças, temos que encontrar formas de convivência mais pautadas pela realidade e não incentivarmos a indignação pela indignação. O que fazer então? Seguindo o raciocínio:

Amenidades profundas

Há muita divagação sobre as transformações da sociedade humana, embora sempre se trate de uma forma específica de sociedade, qual seja a auto-intitulada judaico-cristã ocidental e, eu acrescentaria, americana.
Essa é minha primeira objeção a essas análises. Se observarmos de forma menos superficial veremos que o mundo hoje hospeda uma infinidade de agrupamentos humanos, com costumes, regras e valores muito diferentes entre si, apesar da enorme pressão que a supremacia econômica exerce sobre a cultura e os hábitos de um modo geral.
Mas, ainda mais discutível é o fato desses analistas se aterem a detalhes complexos, como os tipos de tecnologia que utilizamos, como exercemos a política, quais os comportamentos da moda etc.
Tratam do assunto de forma tão séria que chega a ser ridículo, afinal não podemos esquecer que tudo no mundo é burla. Alguém já disse: “o mundo é uma comédia para os que pensam, e uma tragédia para os que sentem”. Prefiro pensar e simplificar(2).
O fato é que só estamos aqui para aprender!
O quê? Qualquer coisa que nos pareça suficientemente estimulante, desde física quântica até enologia, desde coisas práticas às mais fúteis, não importa, nossa ânsia de viver é a mesma de aprender!
Por quê? Porque é o que o gene exige! O gene, vale dizer, não é o “ente” misterioso que lhe trouxe a este mundo, ele é você!
Qualquer esforço só é válido para evitar o sofrimento que, é bom lembrar, não é dor nem privação, nem qualquer outro fenômeno real, mas a forma como percebemos as coisas, é um sentimento que pode ser administrado através de nossa mente.
A vida é um jogo e, como todo jogo, só vale enquanto está sendo jogado, quando acaba, acaba e pronto. Perder ou ganhar carece de sentido porque quando acaba, acaba!
Tudo acontece enquanto se joga, não antes nem depois: castigo, recompensa, tristezas, alegrias, dor, prazer, mas principalmente a promessa de algo que nos move como competidores.
Se o gene, o universo, Deus ou qualquer outra força tiver planos para depois do jogo, nunca saberemos, só podemos jogar!
Estamos condicionados por algumas coisas, que podem ser resumidas a um punhado de fatos:
  1. O que fazemos?
  • estamos sempre lutando entre liberdade e segurança;
  • a coragem define quem irá abrir mão da segurança pela liberdade e
  • a grande maioria não tem a disposição necessária para fazer essa escolha
  • ponto.
  1. Por quê fazemos?
  • em última análise por causa da enteléquia que nos move desde antes do nascimento;
  • atendendo às ordens do gene que, pasmem, é você mesmo, e
  • quando possível, nossas convicções.
O fato é que, como Xicó: Não sei, só sei que é assim!
O que posso dizer, com certeza, é que:

(2) Para relembrar veja o link: Você merece, particularmente o capítulo “Tesão & Taras”

A vontade vem antes!

Volto à tese do Gênesis: ‘no princípio era o verbo’.
Essa frase poderia muito bem ser: no princípio era a vontade (enteléquia).
O ato de concepção da vida é um ato de pura vontade: os espermatozóides dão a própria vida pela chance de sobreviver em um novo ser. Não há forma mais pura de determinação, de vontade.
Essa vontade imensa no ato da criação foi sua, era a sua potencialidade se expressando e agindo, portanto, em resumo: se você não quisesse muito, certamente não estaria aqui e, se você está aqui, a responsabilidade pela sua experiência é sua, só sua.
Não discordo que a vida em sociedade exige um compromisso entre todos e cada um de nós (afinal somos ‘nós’ de uma mesma rede), que dependemos em grande medida de ‘outros’ para a viabilização de nossa vida, mas isso não significa que podemos abdicar da responsabilidade pelo nosso destino.
Infelizmente vivemos em um tempo de ilusão. Certas iniciativas políticas, como o welfare estate, e pensamentos filosóficos, como o marxismo, além da super especialização da nossa sociedade, nos induziram uma sensação de que sempre haverá algum poder maior para nos atender e proteger - isso sem falar das muitas religiões.
Desde pequenas coisas como forçar demais um objeto e praguejar quando ele quebra, até ficar se lamentando porque o governo não dá as condições necessárias para o que julgamos ser uma vida descente, tudo tem a ver com essa ilusão, de que algo ou alguém é responsável por nossa felicidade.
Delargamos nossa saúde, educação e segurança para outras pessoas e instituições como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
Os chamados Mitos de Retorno, como a ressurreição de Cristo ou o retorno do Buda, estão bem descritos na Jornada do Herói (monomito), do antropólogo Joseph Campbell.
Esse mito descreve uma jornada cíclica. Significa ir ao paraíso e ressuscitar ou retornar por amor aos que ficaram, ir ao inferno resgatar alguém e retornar mais poderoso, depois de viver uma experiência limítrofe, algo que antes pareceria impossível de se fazer.
Se a enteléquia pode ser considerada a vontade de nascer, uma ânsia por conhecimento, a jornada do herói seria a enteléquia2 = vontade de renascer mais forte, tendo bebido na fonte do conhecimento.
O mito da expulsão do paraíso não deixa de ser a jornada do ser humano, enfrentando a autoridade divina, comendo do fruto da árvore do conhecimento e pagando o preço, sofrendo as vicissitudes da vida real.
A jornada do herói trata de uma aventura que ocorre muito mais dentro do que fora da gente, mas que não se consuma enquanto não fazemos a jornada real, no aqui e agora, desafiando os medos, enfrentando o desconhecido.
Um ditado antigo diz: “É pelos dedos que entra o ofício!” Eu diria que é mais ou menos por aí.
A experiência não traz apenas alguma nova habilidade, ela transforma, constrói, completa nossa estrutura básica, nossa infra-estrutura.
Certa ocasião, falei pra um do6: - Precisa ralar muito pra chegar onde você quer! Ao que ele, um pouco espantado, me perguntou: - Por que você acha que eu preciso ralar?
A pergunta já dá a resposta: se você não sabe porque precisa ralar é porque está precisando muito.
A única missão que temos é evoluir (aprender), daí a maior tentação é procurar os caminhos fáceis ou automáticos que nos desviem dessa evolução.
Mas, como eu disse a um jovem colega, que se lamentava por estar ainda muito longe da aposentadoria: — Pois é, infeliz ou felizmente, 40 anos demoram 40 anos para passar.
Qualquer tentativa de driblar o auto-desenvolvimento fatalmente será frustrada pelo descompasso entre nosso estágio de preparação e os desafios da etapa.
Por outro lado, é um erro imaginar que essa evolução pode ser individual, porque a individualidade é uma ilusão criada pelo ego, somos parte de um todo absolutamente interligado.
Mas, não é a dedicação a um projeto pessoal que impede a evolução, é a especialização (leia-se ‘terceirização’), na sociedade moderna, que afasta do que interessa, do caminho do verdadeiro conhecimento.
Ainda que nos retiremos ou nos afastemos do grupo para uma saga evolutiva, sempre teremos a ânsia de voltar para compartilhar, uma vez que o isolamento exige muito esforço, como se fosse um tendão que esticamos mas que não se rompe, puxando-nos de volta para a nossa realidade comum.
Uma penúltima (como no caso das cervejas) consideração:

Juízo final

Quando nos sentimos injustiçados precisamos de algum alento, algo que nos dê a esperança de ver a justiça acontecer - pelo menos a ‘justiça’ que julgamos ‘justa’.
Nessa hora a ideia de “Juízo final” é muito atraente. Como dizia meu tio Daniel: – Deus tá vendo!
Meus caros, a justiça, tal como a imaginamos, não passa de uma ilusão criada por nós.
A única justiça real neste mundo espaço-temporal em que vivemos(3), é o equilíbrio inexorável da entropia, em outras palavras, a ‘lei do mais forte’.
Lamento informar que as pessoas sem escrúpulos e poderosas vivem melhor que as escrupulosas e fracas. E nada nem ninguém vai alterar ou corrigir esse estado de coisas.
O que distingue um grupo do outro são os valores e esses valores são tão determinantes quanto maior for a convicção com que são encarados. Por isso julgo ser de fundamental importância rever constantemente nossas convicções, entendê-las o melhor possível para consolidá-las ou alterá-las, mas, sejam quais forem, mantê-las como sustentação de nosso modo de vida. Afinal, se estamos aqui, foi porque assim decidimos em algum nível existencial, então: quem pariu Mateus que o embale!.
Cabe a cada um de nós administrar nossa posição na cadeia alimentar da sociedade e viver o melhor que pudermos.










(3) Qualquer outro (mundo) só pode existir em nossa imaginação, chamemos de intuição, vidência ou qualquer outra ideia.