02/11/


A morte tem duas faces: Negativa e positiva.
A leveza do futuro, conforme o que foi preparado.
Saber morrer é a grande sabedoria!
Que eu tenha dignificado minha condição de homem,
Aceitado minhas limitações e me feito pedra de segurança
dos valores que já desmoronaram.
Morrerei em tempos confusos, se há contradições,
lutas e pedras não sejam legados da morte
e sim lições para quem fica. Aprendi a morrer!


Aprender a morrer é viver aprendendo.
Aprendi com meus pais,
Aprendi com meu avô,
Aprendi com meus tios,
Aprendi com meus professores,
Aprendi com meus chefes,
Aprendi com meu sogro,
Aprendi com meus colegas,
Aprendo com minha mulher,
Aprendo com meus filhos,
Aprendo com meus sobrinhos,
Aprendo com minha irmã,
Aprendo com os livros,
Aprendo comigo mesmo,
Aprendo, aprendo, aprendo...
Apenas isso, morrer aprendendo.

Essa é a grande missão do vivente, aprender, não para si, mas para o universo, ser a própria enteléquia, ou seja, o verbo inicial da criação, em constante desenvolvimento pela agregação das experiências e aprendizados das criaturas.

Planos para viver eternamente, não para a ‘Vida Eterna’!

Que a vida lhe seja intensa, pois é a única coisa que você vai experimentar. A morte só estará presente quando você não existir mais!

Decepção, sentimento que engana, já se disse que deus se diverte realizando os desejos dos homens, mais ainda, que o diabo fica triste quando o homem se decepciona, sendo assim aprendi a cuidar com muito carinho de minhas decepções, é delas que surgirão as possibilidades, as ações e as mudanças, três elementos que constituem a vida!

O silêncio se tornou eloquente, bastou a perspectiva real de mudança, o fim do caminho fácil das certezas, bastou o futuro voltar a ser o que sempre foi: incerto!

deixou questionamentos omitidos que, de repente, como uma avalanche, se precipitaram nos facebooks da vida e revelaram todas as contradições que o silêncio já anunciava.

Esperança, sentimento persistente, já se disse que é o último que morre - essa a melhor definição da palavra - dela nunca me separei, a enteléquia essencial que constrói futuros!

Todos os enganos criativos e os acertos superados continuarão incomodando, desafiando e produzindo vida onde as certezas pretenderão sempre a conclusão utópica e mortal.

Assim eu vejo a vida
Cora Coralina
A vida tem duas faces: Positiva e negativa.
O passado foi duro, mas deixou o seu legado.
Saber viver é a grande sabedoria!
Que eu possa dignificar minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações e me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes, aceitei contradições,
lutas e pedras, como lições de vida
e delas me sirvo. Aprendi a viver!

Cora Coralina (Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas), 20/08/1889 — 10/04/1985, é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa". Em 1910, seu primeiro conto, "Tragédia na Roça", é publicado no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás", já com o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos: Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP). Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado "Meu Livro de Cordel", pela editora Cultura Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feitio, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a faz ficar conhecida em todo o Brasil.
Sintam a admiração do poeta, manifestada em carta dirigida a Cora em 1983:
"Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...)."
Editado pela Universidade Federal de Goiás, em 1983, seu novo livro "Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha", é muito bem recebido pela crítica e pelos amantes da poesia. Em 1984, torna-se a primeira mulher a receber o Prêmio Juca Pato, como intelectual do ano de 1983. Viveu 96 anos, teve seis filhos, quinze netos e 19 bisnetos, foi doceira e membro efetivo de diversas entidades culturais, tendo recebido o título de doutora "Honoris Causa" pela Universidade Federal de Goiás. No dia 10 de abril de 1985, falece em Goiânia. Seu corpo é velado na Igreja do Rosário, ao lado da Casa Velha da Ponte. "Estórias da Casa Velha da Ponte" é lançado pela Global Editora. Postumamente, foram lançados os livros infantis "Os Meninos Verdes", em 1986, e "A Moeda de Ouro que um Pato Comeu", em 1997, e "O Tesouro da Casa Velha da Ponte", em 1989.
O poema acima, inédito em livro, foi publicado pelo jornal "Folha de São Paulo" — caderno "Folha Ilustrada", edição de 04/07/2001.