Coitado é cu de cachorro!
Peculiaridades de nossa língua e como o costume transforma tudo!
"Sou feito de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.
Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade... que me tornam mais pessoa, mais humano, mais completo.
E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma.
Portanto, obrigado a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os  retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias.
E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de 'nós'."                        

Texto de  Cora Coralina
Aproveitando o aniversário da grande Cora Coralina, comentários sobre a nossa língua.
Ninguém se espantaria ao ver uma doce e idosa freirinha, observando um bebê chorando, dizer: Coitadinho, deve estar com fome!
Exceto se o indivíduo atentar para o significado original das palavras, afinal “coitado” nada mais é do que o particípio passado do verdo “coitar”. Tá bom ou quer que eu desenhe pra você?
Isso me faz pensar nesse novo significado da palavra.
O que é um coitado?
Na minha opinião é todo aquele que, quando só em si mesmo, se acha um coitado, ainda que socialmente se proclame a melhor expressão da felicidade.
A vaidade que sufoca, a hipocrisia que desconstrói, o medo que paralisa são os elementos constituintes do perfeito “coitado”.
O coitado sempre tem uma explicação para seus fracassos que, aliás, nunca são fracassos, apenas resultado de escolhas nobres e heróicas que, função da injustiça característica de nossa estrutura social, familiar, econômica etc. etc., levaram esse nobre hipócrita medroso a deixar de conquistar o que de fato queria.

sic transit fabulam mundi



Por quê os portugueses tinham que inventar de colocar um “m” no final das palavras “um”, “em”, “também” etc?
Peça para um francês, italiano ou mesmo espanhol, para falar “um” e eles vão ter que se esforçar muito e acabarão falando “ummme”, pressionando os lábios para produzir o “mmme” no final.
Por outro lado, para nós, pronunciar “un” é muito fácil, a língua toca suavemente o céu da boca e o final fica como deve ser, mudo, ninguém vai falar “unnne” devido a alguma dificuldade especial.
Isso se deve ao fato de que falamos predominantemente pela boca, então ao pressionar os lábios um contra o outro, inevitavelmente fechamos a boca dificultando a saída do som, então precisamos abri-la de novo fazendo a sílaba extra “mmme”.
Esse fato é tão verdade que não pronunciamos “um” e sim “umn” algo como um “m” aberto no fim, o que é muito mais confortável.
Querem mais? Por quê a contração - pelo menos na linguagem coloquial -  da preposição “em” com o artigo indefinido “um” é “num”? Deveria ser “mum”, “em+um”, mas não, é “num”, pelo simples fato de que é mais natural.
Tudo isso para justificar minha frase “Paz nun zaP” que não ficaria tão boa se eu escrevesse “Paz num zaP”, perceberam?
Agora sobre o título: "a história do mundo que está passando".
Me refiro à tese do “Resident Evil - DCLXVI”, sobre a lucidez que estamos alcançando, o fim das “fábulas”, dos “profetas” e das “crenças”.
A profecia do Gênesis, sobre a expulsão do paraíso, está se cumprindo à risca - só espero não ser responsabilizado por isso, sou apenas o mensageiro - mas isso talvez seja, realmente, o fim da aventura humana.
Senão vejamos, só vivemos se tivermos algum sentido para a vida. Se não acreditarmos mais nas “fábulas” sobre nosso futuro, vivos ou mortos, adotando a via da ciência para concentrar nossas esperanças e, por via da própria ciência, constatarmos que a “verdade final” nunca será alcançada, pelo simples fato que, ao que parece, ela não existe, depende do observador, então “caput”, é o fim.
Exceto pelo fato de que estamos vivos e precisamos continuar? E aí?














Il  galetino vecchio i  u Chantecléro
Otra fábula chi non é du Anderse ni du Esopo e ni fui atradutta pelu Bananère
U tar du Chantecréro era um galo molto du elegante, buniton mismo, che - tutto mondo tá cansado di sabê - cantava tutta matina, bem cedigno. Cantava come nessuno, era una bilezura de cantoria!
Mar acabava di cantá e giá arguma galigna vigna pidi pra eli: Ô, seo Chantecréro, corri lá che mio pintigno ficô preso na tela du galignêro.
E lá ia o tar do galo arrisorvê o probrema. Chigô, deu una vuada cun as ispora in riste e bateu cun tanta forza na cerca chi o pintigno fui jogado longi. Foi só caí nu chon e saiu currendo, lépido e lampêro.
A galigna quasi choranu: Brigada, viu seo Chatecréro, che Dio Genaro ti proteja!
Dio Genaro era u dono du galignêro. As galigna tutto pensave chi eli era Dio, perché eli é chi trazia cumida e livava us ovo tutto giorno. Di veiz in quano vigna cun una caxa cheigna de pintigno. As galigna dizia che ele era o Dio da chucadêra.
Quanu paricia tutto tranquilo, o Chantecréro tava ciscando pra prucurá unas bruta mignoca, má che esperanza, lá vigna ôtra galigna pidi pra apartá una baita briga di doise franguigno, dessis chi os pissoar chama “di leite” i nóis fala “al primo canto” - fica una gustusura assadigno - maise elis tava se matando a toa.
I lá vai o Chantecréro apartá a briga.
Nu galignêro tambè tinha un galetino meio mirradigno, má invocado pra xuxú. Eli già era ben vecchio, má sempre fui daccheli jeito.
O galetino falava pras galigna: Perché só u Chantecréro pódi cantá? Eli paréci u rei du galignêro!
Eli vivia contano lorota: Io fiz a raposa corrê! Perchè io isso… io aquilo… Era só cominçá a parlá qui lá vigna lorota grossa.
Unas galigna molto da fofocchêra - perché nun tem animar maise fofocchêro chi as galigna - foro falá pru Chantecréro. Eli feiz chi nem tigna prestado attenzione.
Un bello giorno, tava nostro herói correndo atraise de unas galigna bem bunitigna, quano ouviu um berrêro: A raposa, a raposa!
Aí eli pegô e chamô o galetino invocado: Ô galetino, si vucê ché cantá alla matina, vai butá a raposa pra corrê. Si vucê consiguí, domani podi cantá nu mio lugare.
Comme u galetino num sapeva o chi fazê, falô anssim: Io… io passê mia vitta tutta ciscano, comme vô butá a raposa pra corrê. Io nun trenê, nun tegno apreparo físico.
Puis é, enton aspetta un poco chi io ti mostro. Aparlô i saiu ventano.
Quano a raposa vio as ispora do Chantecréro vuano pra cima dela, livô un bruta susto, deu una cambagliota tão arta che pulô a cerca dis costa.
Desse giorno in diante o galetino num recramô maise di nada e o Chatecréro continuô a cantá tuttos giorno.

Morale da história:
Chi ha pio paura chi coraggio só serve pra cantá nu bagnêro!