O reino do povo cordial
 fábula  araponguiana  moderna
29/08/2018

Era uma vez um reino encantado, bonito por natureza, cujo povo era extremamente cordial, agiam movidos pelo coração.

Ali as pessoas se deixavam tomar pela emoção, seja torcendo por um time de ludopédio - o esporte preferido do país -, seja na admiração a seus ídolos, nas artes ou na política.

O problema é que esse povo era comandado por um governo autoritário.  Era o que chamavam "regime de exceção".

O símbolo da autoridade naqueles tempos era a Forca, uma grande estrutura construída no meio da praça principal. Ali eram enforcados todos aqueles que se insurgiam contra a autoridade do déspota.

Até que um dia o povo, cansado daquela tirania, saiu para as ruas pedindo "eleições diretas já".

A pressão foi tanta que o governo teve que ceder àquela onda de racionalidade e, a partir daquele momento, uma nova liderança surgiu.

A mensagem daquele movimento era "a esperança vai vencer o medo" e conseguiu conquistar os corações e mentes daquele povo que, docilmente, voltou ao seu caráter cordial.

A primeira medida foi a destruição da grande Forca e, ato contínuo, propuseram a construção de uma nova estrutura que viesse a simbolizar os novos tempos, o tempo da esperança.

Começaram a construção, a cada dia ia crescendo a estrutura. O mundo se admirou: teria o gigante finalmente acordado?

A base da grande estrutura já estava pronta e começaram a erguer um grande poste. Alguém gritou: É uma forca! E todos os homens e mulheres cordiais riram e disseram: Pobre coitado, enlouqueceu!

Algum tempo depois colocaram uma trave sobre o poste e alguns homens e mulheres gritaram: É uma forca! E os homens e mulheres cordiais contestaram: Como pode ser uma forca? Não em nosso reino, o reino em que a esperança venceu o medo, isso só pode ser alucinação de quem perdeu a capacidade de sonhar.

Um dia, alguém denunciou as verdadeiras intenções daquele governo e revelou o projeto da estrutura que estava sendo construída. Além disso revelou a existência de uma organização que transcendia o próprio reino e a existência de outras estruturas similares em outros reinos ligados à essa organização.

Finalmente havia ficado claro: a estrutura que estava em construção era uma forca, igualzinha a que tinham destruído, apenas com uma cor diferente, trocaram o verde-oliva pelo vermelho-sangue.

Até hoje alguns homens e mulheres cordiais continuam defendendo que é a esperança que deve triunfar, ainda que o projeto da estrutura esteja desmascarado. Dizem que em seu reino a estrutura final será diferente, que é um reino que nada tem a ver com outros, apoiados pela tal organização.

O fato é que a maioria dos homens e mulheres do reino já tinham superado a fase da cordialidade ingênua e estavam sendo cada vez mais racionais, desenvolvendo um senso crítico e desconfiando de heróis salvadores do povo.








Foi assim que o Reino do Povo Cordial se tornou uma sociedade desenvolvida.