É bom desconfiar…
15/01/2015
Começo relembrando a motivação destas anotações: registrar não só minhas ideias, mas ‘as’ ideias que considero válidas por que são coerentes entre si e, principalmente, são coerentes com a minha experiência.
Além disso, me parecem conceitos úteis para serem experimentados por todos, conceitos cuja aplicação resultará em algo melhor.
Pois bem! Vou bater novamente na tecla da CONFIANÇA, que acredito ser um princípio fundamental para fazer as coisas melhores.
O terror, principal arma dos radicais que ultimamente tem se aparelhado e agido como nunca antes na história deste planeta, destrói exatamente a confiança em uma sociedade, desagregando-a e abrindo espaço para os totalitarismos, cujo alimento é o ódio, um sentimento também reflexivo, como a confiança.
Já disse em outros momentos que medo gera medo e coragem gera coragem, podemos dizer que uma tradução válida seria: ódio gera ódio, confiança gera confiança.
Um dos aspectos mais intrigantes desse sentimento - a Confiança - é o fato dele ser única e exclusivamente de quem o tem, nada tendo a ver com o seu objeto. Já falamos disso.
Entretanto não se pode negar que, em uma sociedade baseada em fortes laços de confiança, situação da qual ainda estamos bem longe, é muito mais fácil confiar, mas não pelo motivo mais óbvio: as pessoas serem mais confiáveis. Senão vejamos:
Vamos partir de uma situação bem clara: sei tudo sobre o objeto da minha confiança, por exemplo, ao negociar meu carro, sei perfeitamente quanto o comprador está disposto a oferecer por ele e qual o seu limite.
Nesse caso, se ele me oferecer esse valor na primeira rodada de negociação, não terei nenhuma dificuldade em confiar nele, não é mesmo?
Agora, vamos um pouco mais para a realidade: não sabemos nada sobre o comprador, mas temos informações confiáveis do mercado sobre esses valores.
Ainda nesse caso, se a oferta for compatível ficará fácil confiar nessa pessoa.
E nos casos em que não tenho nenhuma ou muito pouca informação?
Seja em uma sociedade bem educada, seja em uma republiqueta de bananas, negócio será sempre negócio, o que quer dizer que cada um vai querer obter o melhor resultado, ainda que dentro de parâmetros éticos. Dessa forma sempre existirá uma dúvida razoável sobre o que pensa a sua contraparte.
Primeiro temos que realinhar o conceito de confiança: é um sentimento, não um pensamento!
É o sentimento de lidar com a liberdade do outro!
Em qualquer sociedade, com laços de confiança fracos ou fortes, corremos riscos ao confiar, afinal estamos lidando com a liberdade do outro.
A intuição deve nos guiar sempre, lembrando que nossa intuição foi construída dentro da nossa sociedade, portanto está moldada a ela.
Olhar no olho do outro, dar uma chance para conhecê-lo melhor é importante, afinal a confiança cega nunca é o melhor conselho.
O ponto que eu gostaria de focar é que em uma sociedade com laços fortes de confiança, a autoconfiança se alicerça na confiança no outro.
As experiências vividas vão mostrando que nossa intuição pode melhorar ao longo do tempo e, com isso um sentimento muito forte de respeito e confiança em si mesmo acaba se refletindo em respeito pelos demais. Passamos a nos achar muito bons em avaliar os outros e, com isso, nos valorizamos mais.
Bom! Minha experiência mais recente foi a compra do nosso novo apartamento: fiz absoluta questão de negociar diretamente com o proprietário, estar cara a cara com ele e, imediatamente, tive certeza de que podia confiar. Fechamos o negócio com um aperto de mãos e, apesar dos protestos da corretora, deixamos a formalização para depois das festas de fim de ano, sem nenhum contrato, nem um sinal dado, apenas no ‘fio de bigode’.
A necessidade de postergar a escritura foi minha, devido a questões de declaração de renda, entretanto o proprietário concordou com a mesma garantia apenas da minha palavra.
Claro que antes de concluir a transferência do imóvel sabia que podia ocorrer algum fato que frustasse a transação, mas aí vem outro aspecto importante da confiança, saber que nem sempre dará certo e, se acontecer, o que temos que fazer é partir para outra, sem crise. O benefício de viver a confiança é infinitamente maior do que as eventuais perdas que possam ocorrer.
Pois é! Estas últimas considerações são apenas ‘retórica’ no meu caso, porque não me lembro de alguma vez ter perdido algo por confiar. (Agora não sei se ‘esqueci’ as decepções ou se elas não ocorreram mesmo!)
Me lembro da época em que tinha a oficina de automóveis (anos 80): apesar de ser considerado um dos setores com inadimplência mais significativa, onde era comum não se aceitar cheques, eu conhecia a grande maioria dos nossos clientes, que pagavam como queriam e, em 10 anos, tivemos apenas um cheque devolvido.
Mais: nessa época ainda alugava a casa onde moramos, bem como o imóvel da oficina. Nenhum dos dois tinha intermediários, eu depositava o valor do aluguel nas contas dos proprietários e pronto. Aliás ambos se tornaram amigos, o Roberto Nelson, de quem depois comprei a casa e D. Dira, uma professora aposentada e viúva, dona do prédio em que funcionava a oficina.
Resumindo confiança e auto-confiança são dois lados da mesma moeda ‘de vidro’!
É bom desconfiar
De ser desconfiado
Não vou desconfiar de você
Até que prove o contrário
                       É Bom Desconfiar
                       Titãs
Liderar é Confiar
Todos lideramos e produzimos.
Quando lideramos só podemos evitar o que não queremos, desestimulando práticas nesse sentido e confiando nos liderados.
O resultado não está sob o nosso controle e sempre vai nos surpreender, caso contrário não estamos liderando, estamos chefiando, comandando, controlando.
O que vai ser é por conta do liderado que é de fato quem está produzindo algo e só produzirá qualidade se colocar alma no que faz.
Seguir é Confiar
Todos produzimos.
Quando produzimos só podemos fazer o melhor para atender as orientações do líder, sem discutir essas orientações a não ser quando solicitado.
O resultado está diretamente sob o nosso controle e devemos sempre buscar exceder as expectativas, caso contrário não estamos produzindo, estamos disputando com a liderança.
O que vai ser é por nossa conta e, se tivermos a liberdade de colocar alma no que fazemos, será o melhor que podemos oferecer.