EPIFANIAS DA MATURIDADE - AINDA QUE TARDIA

 01/06/2019
Medo

Exalta-se tanto a bondade
Na crença de fazer o bem
E brada-se: A vida não é justa!
Cada vez que o bem não vem!

Mas, se o bem pra cada um
Só se alcança pela competência,
Cadê a coragem pra pregar
Competição para excelência?

Estamos mesmo preparados,
Pregando tanto a bondade,
Mesmo sabendo-nos enganados?
Medo de enfrentar a realidade?

Prefere-se evitar a aspereza da luta
Pelo devaneio de uma justiça superior.
Ignorância tal não é coisa que se degluta,
Não sem ficar afogueado de rubor!

Assim vamos caminhando
Cabisbaixos, passo a passo
Indivíduo, família e nação
Rumo ao covarde fracasso!

Nos idos de 2010, no volume I do DeMimPro6, eu já alertava sobre o principal inimigo do homem, o medo, e cada vez que me deparo com uma questão importante para a vida, esbarro novamente nesse demônio.
E agora, 2019?

O que mais impressiona é a extrema covardia que domina as forças(?) políticas nesta nossa nação.

Nunca antes, na história deste país, tivemos condições tão perfeitas para que alguma liderança desponte como alternativa às duas doenças, uma que domina a cena há quase três décadas e meia[1] e a outra nascida da reação à primeira, ou seja, ambas estão na lona, sob contagem do juiz, entretanto o silêncio é ensurdecedor.

Estas últimas décadas evidenciaram a grande preocupação de Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.” Ainda que isso seja muito mais uma constatação do que uma exortação, sempre nos deixa perplexos.

Já a malta ignara - data venia à expressão jocosa - essa grita a plenos pulmões, enchendo as malfadadas mídias sociais com enxurradas de discussões vazias, normalmente motivadas por pura vaidade.

Sempre serão os mais convictos a gritar e esse é o problema, a convicção, a certeza é uma enorme estupidez, por isso os sensatos normalmente se calam.


[1] Essa doença se constitui de um só partido, nascido sob a liderança de José Sarney, o PCC – Populistas Comunistas Corruptos, a oligarquia política do país que acredita que um governo gigantesco e forte conseguirá conter as forças sociais que promovem a exploração dos proletários, mas, como precisam de apoio popular, adotam o discurso do estado provedor e pai dos pobres e, como não conseguem conter nem suas próprias taras, sucumbem à tentação de se locupletar. Esse partidão, composto por quase todas as sub-siglas partidárias, principalmente PMDB, PSDB e PT, é, indiretamente, o responsável pelo surgimento do outro PCC (Primeiro Comando da Capital), do Comando Vermelho, de mais uma dezena de facções criminosas menores, milícias e outros grupos de extermínio, com os quais mantém relação simbiôntica e, diretamente, das grandes quadrilhas estruturadas nos poderes executivo, legislativo e judiciário, além dos cartéis privados mais corruptos e inescrupulosos do mundo, mantendo com eles relação íntima de troca de favores.

Bom, a nosso favor eu diria que sobrevivemos - se não nós mesmos, aqueles que nos geraram - a um suicídio, uma renúncia, pelo menos dois presidentes mortos sem explicação convincente (Castelo Branco e Tancredo), dois impeachments, ao PT e estamos aqui, firmes e fortes.

Parodiando o cara que substituiu o  Carl Sagan na televisão (Neil deGrasse Tyson): O Brasil não tem obrigação de fazer sentido para você!

A pergunta é:
Deus tem o hábito de ficar ao lado de quem tem mais canhões, ou
Deus dá mais canhões a quem está ao lado dele?

A resposta, seja qual for, vai iluminar seu caminho!

Minha visão do nosso mundo político

Deixando um pouco de lado as questões da qualidade dos políticos, já que isso é cultural e não pode ser atribuído ao modelo de estrutura política, para mim é muito claro que o sistema político atual no Brasil, peca pelo excesso.

Talvez em função da baixíssima confiança que temos em nós mesmos, em nossa cultura e, consequentemente, em nossos políticos, fenômeno muito bem retratado por Macunaíma e definido por Nelson Rodrigues como “complexo de vira-lata”, enfim, talvez por causa desse nosso complexo, tendemos a criar regras excessivamente rigorosas na esperança que elas coíbam os efeitos deletérios dessa estupidez generalizada.

Há décadas eu digo que somos mais realistas que o rei, ou seja, quando comparamos nossas preocupações – não nossas atitudes – em relação a questões de segurança, de saúde, de educação, de qualidade dos equipamentos públicos e mesmo de comportamento, somos inclinados a criticar excessivamente a nossa realidade.

Somos capazes de querer regulamentar esportes radicais de forma a desradicalizá-los, exigir suporte a todo tipo de mal que nos acometa, nos revoltando quando os bares e restaurantes não oferecem alimentos dietéticos, delegar às escolas a formação integral de nossos filhos, reclamar da qualidade das estradas, mesmo as mais afastadas, como se nos países desenvolvidos tudo fosse como nas Autobahn da Alemanha e considerar como inadmissível qualquer comportamento estranho a nossas crenças, sejam religiosas, sejam morais, independentemente de como tenhamos nos comportado durante nossas vidas.

Isso não quer dizer que nossa segurança, nossa saúde, nossa educação, a qualidade dos equipamentos públicos e nosso comportamento sejam primorosos ou, por outro lado, não mereçam preocupação e possam ser liberados de qualquer controle, mas o fato é que, consideradas as dimensões, a diversidade cultural e os recursos produzidos em nosso país, temos sistemas universais de saúde e de educação dos maiores e mais bem estruturados do mundo, ainda que tenham problemas, da mesma forma nosso sistema de segurança, transportes e manutenção dos equipamentos públicos, ainda levando em conta os recursos disponíveis por região, estão muito acima da maioria dos países com a mesma capacidade de produção, basta verificar a situação em regiões similares dos USA, por exemplo.

Quero dizer que o nível de crítica que temos em relação a essas questões é desproporcional às diferenças de qualidade com que convivemos, comparando com países desenvolvidos em que a tolerância com os “defeitos” do sistema é muito maior, sendo que em muitos casos esses “defeitos” nem são considerados como tal, mas como inerentes ao caos que é a vida ou “ossos do ofício” – no caso, ossos da sociedade.

Essa tolerância com as deficiências do sistema é proporcional ao nível de confiança que permeia uma sociedade, quanto maior a confiança entre os cidadãos e, consequentemente, nas instituições, maior a tolerância.

Quando há confiança, as ações dos demais são avaliadas muito mais pelas intenções do que pelos resultados, os padrões de exigência passam a ser relativos. Mesmo quando há cobrança ela é carregada de empatia, cada um tentando se colocar no lugar do outro num esforço para entender as dificuldades e obstáculos enfrentados.

Em nosso caso é evidente o baixíssimo nível de confiança que temos entre nós, dessa forma buscamos padrões absolutos de exigência.

Esse excesso de preocupação com a perfeição é a causa principal de não conseguirmos nem mesmo o mínimo necessário para construirmos uma sociedade razoável.

Um dos aspectos mais prejudiciais dessa visão idealista da realidade é nosso sistema político, cujo principal defeito é ser excessivamente garantista e excessivamente democrático. OOhhh! Dirão os baluartes desses excessos deletérios – uma minoria barulhenta de nossa população, mas principalmente os idealistas de esquerda – Que absurdo! – dirão - É exatamente o contrário, precisamos radicalizar a democracia e os direitos humanos.

Lamentavelmente nada posso fazer em relação a isso, como disse é cultural e não vai mudar sem muito e prolongado sofrimento.

O fato é que temos um sistema político que garante a qualquer um que tenha recursos, lícitos ou não – incluídos aqui os empreendedores do crime organizado em todas as suas modalidades - manter seus privilégios a despeito de todas as evidências de seus crimes.

Pior do que isso é o sistema representativo que inventamos, em que o indivíduo escolhido para presidir o país não tem poder para presidir nada, tolhido por uma teia de burocracias parlamentares e rituais de aprovação quase intransponíveis, descaracterizando completamente o governo que se pretendia obter quando da eleição do infeliz. Claro que nossos defensores da estupidez dirão, indignados: – Graças a deus, pelo menos temos instâncias de controle para evitar erros irremediáveis.

Esquecem que a evolução, seja de um organismo, seja de uma sociedade, só ocorre a partir dos “erros” que são o resultado de ações transformadoras e, portanto, em algum grau, em desacordo com as normas vigentes.

O caso Julian Assange é interessante para entender porque precisamos “dar uma chance ao erro”.

É sabido que ele violou leis e até uma ética de que os estados nacionais teriam o direito de esconder certas informações por motivos de segurança nacional, leis essas que não estavam sob nenhuma pressão da sociedade, ou seja, eram aceitas, pelo menos tacitamente, pela maioria, entretanto, essas informações revelaram, como era de se esperar, fatos que chocaram a opinião pública.

Esse fato, aliás, é exatamente o motivo pelo qual eram sigilosas, quer dizer, considerando que o chefe de estado eleito pelo povo teria a confiança desse povo, seria obrigado, por circunstâncias críticas, a tomar decisões drásticas e, eventualmente, cometer atos de violência pelo bem maior que seria a garantia da soberania e da segurança da nação. Afinal não é de se esperar, para pessoas normais e inteligentes, que alguém consiga administrar seja o que for, de forma mais correta do que nós mesmos fazemos, dando nossos jeitinhos nem sempre tão perfeitos, inclusive para corrigir eventuais “jeitinhos” cometidos e que resultaram em consequências contra os nossos interesses – “ninguém é perfeito, não é mesmo?”

Isso é mais crítico quanto maior a responsabilidade de sua posição na sociedade, dessa forma, no cargo mais alto, de chefe de estado, as coisas escabrosas vão fazer parte do dia a dia. Só não percebe quem não quer.

Muito bem, considerando esses últimos argumentos – e concordando com eles – alguém poderia considerar correto terem prendido o cara e coibido sua ação, entretanto, esse desmascaramento permitiu que esse maquiavelismo fosse percebido pela sociedade como um todo, provocou um choque na hipocrisia dominante no discurso dos poderosos e, inclusive, permitiu esse arrazoado que estou fazendo aqui.

Não sei que consequências isso terá, mas, com certeza, resultará em algum tipo de evolução na forma como administramos nossas sociedades.

Sem esses rebeldes e sem a possibilidade do que consideramos errado hoje, não há possibilidade de criar o amanhã.

A irresponsabilidade vem de permitir que minorias, usando de artifícios ou da força, imponham suas ideologias sem nenhum filtro democrático. Quero dizer que, se precisamos dar uma chance ao erro que seja, pelo menos, um “erro” escolhido democraticamente.

A única forma de evoluir é admitir as mudanças pedidas pela maioria e tentar viabilizá-las da melhor forma possível, eventuais desvios poderão ser corrigidos na próxima eleição ou mesmo poderão levar a um processo de impeachment, agora, impedir que o presidente e sua equipe implementem as mudanças pelas quais foram eleitos é, para dizer o mínimo, estupidez de vira-latas que pretendem ser mais realistas que o rei e, principalmente, contra a democracia.

Convicção

Cerca de 25% da população brasileira, dividida igualmente entre em petistas e bolsonaristas, são o que poderíamos chamar de convictos, aqueles que defendem suas opções como se fosse caso de vida ou morte.

São aqueles que reagem a qualquer provocação, seja ela real ou apenas brincadeira, que não se entregam mesmo diante das evidências mais claras e são, também, os maiores empecilhos a qualquer tipo de mudança.

Vale a pena refletir sobre como essas convicções se formam, quão racionais são as opções que fazemos.

Se um cientista defender a teoria do multiverso, afirmando que experimentos científicos demonstraram a possibilidade de existência de várias dimensões, cada uma contendo um universo próprio, e outro defender a existência de apenas um universo, com base em outras experiências, com teorias consistentes e aceitas pela academia, ainda que não definitivas, cada um de nós, desde que interessados no assunto, poderá inclinar-se para uma ou outra teoria.

Dificilmente entraríamos em atrito sério com alguém que não concordasse conosco.

Entretanto, quando se trata de liberalismo e socialismo, que são tão incertos como a teoria de tudo perseguida pelo Stephen Hawking, nos atiramos em discussões violentas, não como alguém que está defendendo uma ideia, mas como quem está se defendendo de um inimigo perigosíssimo.

Perguntar-se por que isso ocorre seria de grande valia para entender o que se passa com esses temas em nossa cabeça.

A emoção é a ferramenta dos comunicadores, seja através da arte, seja da exortação política.

Como está cada vez mais claro no momento político que passamos (primeiros meses do governo Bolsonaro), a direita não prima por essa habilidade, enquanto a esquerda representa uma verdadeira legião de formadores de opinião – não, não vou falar de novo sobre o gramscismo, fiquem tranquilos – esses formadores de opinião ocupam a mídia, as escolas e as artes, enquanto a direita – aqui falo do liberalismo econômico, não em relação a questões morais e de comportamento - talvez pela presunção de estarem defendendo o óbvio, nunca se preocuparam em convencer ninguém.

Outro fator decisivo é nossa tendência a pintar tudo de cor de rosa, tornando a defesa de uma ideologia que encara um mundo real, competitivo, em que muitos – a maioria – não terá acesso aos benefícios do progresso, quando confrontada com uma ideologia que promete um paraíso, onde o bem triunfará e todos viverão em harmonia e abundância, em uma tarefa extremamente difícil, se não impossível.

Esse estado da nossa cultura após 300.000 anos da emergência do sapiens, precisa ser considerado na pesquisa dos motivos pelos quais pensamos como pensamos. A racionalidade não parece ser nosso principal capital intelectual.

Sou radicalmente contra o comunismo e nunca acreditei que ele tinha morrido. Assisti duas séries da Netflix bem interessantes - O levante da Páscoa e Traidores - que mostram como a União Soviética quase dominou a Europa e só não conseguiu pela pertinácia dos Estados Unidos que, contra tudo e contra todos, nunca se acomodou e, como em 64 no Brasil, reagiu fortemente às pretensões dos vermelhos.

Interessante que a primeira trata de um movimento ocorrido na Irlanda em 1916 e que provocou a morte de um civil, amigo de James Joyce, que veio a inspirar o famoso personagem Leopold Bloom, do não menos famoso Ulysses.

Apesar do aparente final do comunismo na Rússia, a ideia continua muito viva, tanto que qualquer um de nós vai lembrar de alguém próximo que tem uma quedinha por essa ideologia, o que é fácil de entender, quem não gostaria de um mundo onde não houvessem pobres nem fronteiras, até o John Lennon. Quem não reconhece esse fato não está preparado para a vida real.

O fato é que isso é utópico, o ser humano não funciona como um robô, fazendo o que o governo manda, daí terem que impor tantas restrições às liberdades individuais e o motivo da perda de produtividade nesses regimes, até seu colapso.

Essa convicção parte de algo muito mais essencial. Faz muitas décadas que adotei o seguinte lema: o conhecimento distribuído é mais eficaz!

Partindo da certeza de que o conhecimento é a essência da vida e a sua busca é a força vital do universo, é fácil verificar que se esse conhecimento for distribuído o resultado será infinitamente superior à opção de centralização.

Isso se constata no processamento de dados, por exemplo, o processamento distribuído, introduzido pelo PC foi o que transformou iniciativas criadas em sistemas centralizados, como a internet, em uma revolução do conhecimento.

Da mesma forma a economia descentralizada em que o capitalismo se baseia é infinitamente mais eficaz do que a centralização proposta pelo socialismo.

O Olavo de Carvalho defende princípios com os quais eu concordo, o liberalismo e a individualidade responsável, embora eu esteja convencido que isso, tal como o socialismo, é uma utopia. No momento atual, na sequência de um período desastroso de distribuição irresponsável, constitui-se na única opção razoável.

Quanto ao personagem citado, além de ser radical, o que, por si só, já seria suficiente para ler seus textos com reservas, é também paranoico com a ameaça de retorno do socialismo, coisa que ele meteu na cabeça da nossa família imperial, além de ser uma besta fera.

Esse é o problema, eles estão obcecados com a extinção do Gramscismo que inundou a cultura do mundo nas últimas décadas e não enxergam mais nada, não percebem que as mudanças que esse movimento promoveu, só comparável aos efeitos da igreja romana na formação e consolidação do senso comum, por mais terrível que possa parecer, como todo o atraso decorrente da visão fundamentalista, enfim, por pior que possa parecer, é uma mudança que não se reverterá em uma geração, na verdade nem acredito que se altere por aprendizado intelectual, acho que só o sofrimento, como no caso do catolicismo, que precisou das cruzadas e da inquisição para começar a provocar alguma resistência, da mesma forma, acho que só o sofrimento, a miséria e a violência, como pode se antever no micro-exemplo da Venezuela, poderá provocar uma reversão dessa insanidade, isso se não estivermos extintos antes.

A realidade é irritantemente indefinida, não se sujeita a ideologias. Quando, em 11/09/2001, houve os ataques ao World Trade Center, muitos líderes, políticos ou não, movidos por um impulso patriótico, tiveram a pretensão de corrigir tudo, reconstruir o que havia sido colocado abaixo, compensar financeiramente todas as vítimas, eliminar as ameaças terroristas pelo mundo afora e restaurar a pax americana que parecia imperar desde a 2ª guerra mundial.

O fato é que, nem a maior potência econômica e militar do mundo, reunindo todos os seus “poderosos capitalistas” conseguiu restabelecer aquele estado de coisas. O terrorismo passou a ser uma realidade, ora mais controlada, ora menos, permanente no mundo.

Da mesma forma, a guerra contra as drogas está fadada ao fracasso, são movimentos globais resultantes das pressões sociais que não conseguimos administrar.

As ideologias de esquerda fazem parte desse pacote, não são passíveis de eliminação, estão disseminadas por todo o planeta e, como um vírus não letal, contagiando todas as mentes “bem intencionadas”. Qualquer política que tenha como objetivo erradicar essas ideias estará, como no caso do terrorismo ou das drogas, destinada a ser apenas perda de energia inútil.

Ma non dimenticare,
Tutto nel mondo è burla,
L’uomo è nato burlone!
Come diceva Verdi.

Necessidades pessoais são privilégios quando vistos pelo menos favorecido.

Interesse social é sempre conflitante com interesse individual.

Quando um grupo corporativo defende uma política é muito diferente das demandas da população em geral, porque os interesses, muitas vezes legítimos, sempre serão principalmente em defesa dos componentes da corporação, sejam militares, industriais, médicos, operários ou professores. Não se pode embarcar na conversa desses grupos sem muita análise crítica.

Quando o cobertor é curto, alguém tem que deixar os pés pra fora, o desafio é o seguinte:
1 - Se exigirmos que apenas os mais ricos sejam penalizados, estaremos interferindo com todos os empreendedores e alguns rentistas e teremos dois tipos de desestímulo à produção, o psicológico, gerando menos estímulo e confiança do investidor e o financeiro, sobrando menos dinheiro pra investimento das empresas;
2 - Se distribuirmos o ônus uniformemente pela população, aumentaremos a pobreza e o sofrimento dos mais pobres.

Desde a guerra fria o mundo civilizado percebeu duas coisas, que o socialismo é inviável e que o liberalismo também é inviável, ou seja, como ficou célebre desde aquela época, o segundo é a exploração do homem pelo homem e o primeiro é exatamente o contrário.

A partir dessa constatação os liberais aprenderam que são imprescindíveis políticas sociais para dar conta da extrema pobreza, não da desigualdade, esta decorrente das diferenças naturais entre os indivíduos, e principalmente no sentido de garantir as mesmas oportunidades a todos.

Isso nunca foi alcançado totalmente, exceto em algumas bolhas de riqueza, normalmente resultantes de muitas décadas de exploração de outros povos, mas todos os dados mostram que, nos últimos 100 anos os mais pobres alcançaram condições de vida muito melhores, em média, do que no século anterior, claro que estamos falando dos países que colocaram essas políticas efetivamente em prática.

Hoje é praticamente consenso que, além da segurança interna e externa, a universalização dos serviços de saúde e educação são pressupostos para o desenvolvimento.

Repito aqui o que se tornou um mantra nos meus textos: não pretendo convencer ninguém de coisa nenhuma, apenas expor as minhas conclusões que frutificarão na mente de cada leitor quando vier a maturidade, se ela vier, já que muitos estão de tal forma inoculados com ideias pré-formatadas baseadas em devaneios atraentes que correm o risco de se tornarem uma legião de Peter Pan achando que não precisam amadurecer e, dessa forma, convencidos de serem altruístas, acabarem por ser os mais egoístas.

As experiências políticas reais nunca são totalmente liberais nem totalmente socialistas, sendo uma composição de princípios de uma e de outra ideologia, o desafio é encontrar o equilíbrio entre elas.

Por isso, a única solução é a alternância de poder, já que temos a tendência de insistir cada vez mais em nossos princípios, provocando cada vez mais desequilíbrio.

Especulações sobre a emergência de um novo tipo de inteligência, extracorpórea, por assim dizer - como mencionei no ensaio O mundo está doente!, a inteligência artificial, propõem que ela poderia ser uma solução para esse impasse nascido de nossas fraquezas psicológicas, mas eu, particularmente, não acredito.

Em dois ensaios de 2013 tentei organizar minhas ideias sobre isso:

Os textos nos links acima foram publicados originalmente em 01/11/2013 no DeMimPro6

IA é uma ameaça?

Quando se especula sobre a IA, sobre a escalada do potencial de desenvolvimento dessas tecnologias e quando ela ultrapassará o cérebro humano, dão a impressão de que basta aumentar a capacidade de processamento, mapear o funcionamento do nosso cérebro e teremos criado um novo ser senciente.

A realidade atual do conhecimento humano não corrobora essa suposição.

Id, Ego e Superego, apenas para ficar nos limites da teoria freud-jungiana, são tão misteriosos hoje quanto na idade média, quando nem sequer imaginavam mais do que corpo e alma.

Sonhos, devaneios, imaginação, medo, desejo, fantasia, ficção, necessidades ou patologias psicológicas, tesão ou taras, continuam sendo processos cujas origens pertencem ao mistério, daí nossa necessidade de acreditar em mitos transcendentais.

Nesse contexto como podemos sonhar que poderemos algum dia criar algo que reproduza esses processos artificialmente?

O mais avançado que se conseguiu sobre o fenômeno da vida está no livro A Árvore do Conhecimento de Maturana e Varela e apenas descreve o fenômeno da autopoiese, como a base do processo vital, porém sem nenhuma pista de como se poderia reproduzi-lo em laboratório. Além disso trata dos aspectos materiais da vida sem chegar nem perto dos fenômenos psicológicos.
Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto "próprio", poiesis "criação") é um termo criado na década de 1970 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares (processos) em que as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Portanto, um sistema vivo, como sistema autônomo está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo.

Deus é amor?

Não sou a melhor pessoa para dar opinião sobre Deus ou deuses, já que considero isso uma questão totalmente subjetiva, mas fiquei tentado a pegar carona nessa máxima milenar que transcendeu muito os limites das religiões.

Posso dizer, que, considerando a ideia de um Deus, então, sim, na minha opinião, Deus é amor!

Se associamos essa ideia, da existência de um Deus - um criador, uma fonte de tudo - à ideia da vida, não tenho dúvida que é o amor a força vital.

Amor como algo necessariamente transitivo, ou seja amor por algo ou por alguém. O amor genérico ou universal não significa nada, é como não amar, o amor só é uma força, uma potência, quando há uma diferença de potencial que promove algum movimento, alguma transformação.

Amor é ódio, porque são irmãos gêmeos.

Ternura e violência, colaboração e competição cada um a seu tempo, esse o segredo de amadurecer sem apodrecer, sem perder a ligação com tudo que é realmente importante!

A burrice endêmica
A minoria burra vota nos espertalhões!
Os espertalhões institucionalizam a burrice!
A maioria, sem opção, vota nos burros campeões!
Será que ser burro é a própria brasileirice?


Vestígios da estupidez
Tinha, até hoje, certa antipatia pelo Senna - sei, isso deve chocar muita gente, mas é verdade - antipatia pela extrema competitividade desse cara.
Me parecia alguém sem escrúpulos sobre o que era aceitável para vencer, alguém que não media atitudes, esforços, ações, tendo em vista o objetivo final, que era sempre vencer.
Hoje, assistindo uma reportagem no aniversário de sua morte trágica, caiu a ficha e tive que me desculpar com o gênio.
Percebi que minha "antipatia" era nada mais do que vestígios da minha estupidez, a mesma estupidez que me levou a acreditar nas ideias de esquerda, na negação da competitividade como a única qualidade que pode nos conduzir ao aperfeiçoamento.

Pérolas do hipocritamente correto
Se um maluco usa seu skate pra ir pra faculdade descendo a Consolação no meio dos automóveis, tudo bem, mas, basta uma empresa - aquelas entidades malévolas criadas para dar lucro e explorar os proletários - oferecer um serviço de aluguel de patinetes e vai ter que garantir a segurança do usuário e de toda a sociedade em volta do seu equipamento.

Pensamento hiperbólico
Se meu pensamento parece confuso,
sua razão de ser é examinar minuciosamente os conceitos de modo a só admitir por verdadeiro o que realmente é, e declarar duvidoso o que não pode afastar o mínimo de incerteza.
Descartes