Fundamentalismo
à   b r a s i l e i r a

adendo ao artigo Confrangimento
31/05/2016
Sobre o Estado de Direitos* indico três obras interessantes para reflexão:
  1. O livro “A Casa dos Espíritos” de Isabel Allende;
  2. O filme “Uma lição para não esquecer” com Paul Newman e Henry Fonda, direção de Paul Newman;
  3. O filme “O milagre de Anne Sullivan” baseado no livro “The Story of my Life”, de Helen Keller.
As primeiras duas mostram a luta pelos direitos dos dois lados: daqueles que assumem a responsabilidade direta pelos seus direitos e daqueles que sonham com um Estado de Direitos. A primeira pela insuspeita sobrinha de Salvador Allende, a segunda pelo conhecido defensor de causas liberais nos Estados Unidos, Paul Newman.
A partir dessas visões podemos refletir um pouco mais sobre o que é “direito”.
Quanto à terceira obra, diz respeito a como libertar uma criança cega e surda de seu próprio isolamento.
Se pensarmos bem, cada um de nós é um pouco cego e surdo para algum aspecto da vida e, se isso for verdade, como me parece claro que é, quem e como alguém poderá nos libertar? Uma Anne Sullivan nos desafiando ou uma mãe amorosa nos protegendo?

A fábula do passarinho



Um passarinho voava para o sul, para se preparar para o inverno.
No caminho, encontrou uma forte nevasca.
O frio era tão intenso, que o passarinho quase congelou e caiu no chão.

Enquanto ele estava ali deitado, sem conseguir se mexer, quase morrendo, uma vaca que passava pelo local, defecou em cima dele.
O passarinho começou a perceber o quão quente estava.
O calor da bosta da vaca o manteve aquecido e isolado do frio. Estava tão quentinho que ele começou a cantar de felicidade.
Um gato passando nas proximidades, ouviu o canto e seguiu o som até encontrar o passarinho.
Ao localizá-lo no meio da merda, o gato imediatamente, tratou de retirá-lo dali e começou a limpá-lo.
Assim que o passarinho ficou limpinho, comeu o coitado!

Moral da história

  1. Nem sempre aquele que te põe na merda é seu inimigo.
  2. Nem sempre aquele que te tira da merda é seu amigo.






* Não confundir com Estado de Direito


As Máfias, O Comunismo e o Fundamentalismo

Máfia: A origem da palavra máfia tem duas hipóteses: um termo do dialeto siciliano, mafia, inspirado em mahyah, que em árabe significa audácia, ou uma expressão da época em que os italianos lutavam contra as invasões napoleônicas: Movimento Anti Francesi Italiano Azione (Movimento de ação italiana contra os franceses).
Percebe-se que há uma raiz comum às duas explicações: Coragem, seja pela audácia seja resistência.
O que caracteriza as máfias é exatamente o enfrentamento do establishment, a ação destemida de um grupo pela conquista de poder.
Não há sociedade imune a essas organizações, que existem pelo mundo afora:
  1. A máfia siciliana: Cosa Nostra
  2. A máfia americana
  3. A máfia russa
  4. A máfia japonesa: Yakuza
  5. PCC no Brasil
  6. Máfia Colombiana: FARC
  7. Máfia chinesa: Tríade
  8. A Yardie Britânica
  9. A máfia albanesa
  10. A máfia sérvia
  11. A máfia israelita
  12. A máfia mexicana
Todas tem influência nos governos de seus países e algumas em vários países.
Fazer vistas grossas sobre a atuação desses grupos tem sido a prática comum no mundo inteiro por um simples motivo: a incapacidade total de dominá-los.
Por quê? Porque eles não tem medo!
Também por isso o establishment é e sempre será invencível! Sendo o estrato mais poderoso da sociedade, por ter a habilidade de negociar bem com todos os seus núcleos de poder, sempre dominará a esmagadora maioria de nós, tão ciosos de nossa segurança (eu tinha escrito medrosos, mas achei que alguns pudessem ficar ofendidos, embora não acredito que tivessem coragem de me falar).
Houve várias mega operações para combate ao crime organizado, o FBI de Hoover ( Os Intocáveis), a Operazione Mani Pulite e tantas outras menos famosas, mas todas de caráter eminentemente fundamentalista: o único modo de pensar é o nosso, portanto precisamos eliminar os diferentes.
Nenhuma delas chegou sequer a reduzir o poder das máfias que combatiam.
Deu-se o mesmo com os comunistas que, enquanto durou a alucinação, foram tão destemidos quanto os mafiosos. A reação fundamentalista foi o Macartismo, inspirado pelo senador americano Joseph McCarthy, cujo objetivo era eliminar não só os comunistas dos Estados Unidos, mas a ideia de comunismo.
Não é preciso lembrar dos Gulag, campos de concentração soviéticos para os contrários ao regime.
Assim como o ebola, todas essas reações extremadas foram passageiras, ainda que letais. Em pouco tempo, enterrados os mortos e curadas as feridas, as ditas nações desenvolvidas acabaram por encontrar um “ponto de equilíbrio”, tendo que admitir a presença de todos os atores, já que nem as máfias, nem o comunismo e nem o liberalismo foram extirpados da cena social.
Essa atitude é que manteve a violência e a insegurança em níveis considerados aceitáveis quando comparados com os momentos de tensão exacerbada.
Tudo em nome, muito mais do desenvolvimento econômico (leia-se abundância), do que das leis ou da capacidade repressiva de qualquer dos lados, desenvolvimento esse que permitiu a essas nações viverem por longos períodos de tempo (ao menos maiores que os das crises e confrontações) em relativa paz.
Fenômenos como o PCC, as FARC e o EI são peculiares porque têm em comum o fato de surgirem em sociedades pobres, sem capacidade econômica para satisfazer ambos os lados: o oficial e o marginal.
Desde o nosso enlouquecido Joaquim Barbosa, que comparo ao Enéas,  a gente vem flertando com esse mesmo tipo de fundamentalismo, agora personificado pelo paladino Sérgio Moro.
É possível até que o próprio não tenha se dado conta desse fenômeno e esteja simplesmente fazendo o que acha certo (ainda que eu continue suspeitando muito desse “poder”), mas o clima que se instalou é de caráter fundamentalista, não tenho dúvida nenhuma, aliás fundamentalismo muito relativo: de R$ 77.000,00 por mês. Veja artigo neste link.
Pode ser que não haja outra alternativa que não o confronto, a guerra civil, o colapso, sei lá! Não é de hoje minha impressão de que o ser humano não vive longos períodos sem uma boa guerrinha.

Mas, não se iludam, tudo isso vai passar e o poder sempre
vai estar com quem pode, não com quem quer!

Confrangimento
Porque de Hipocrisia o inferno está cheio!
25/05/2016
Existe um termo na língua inglesa que aceita muitas traduções: constraint. Uma delas seria constrangimento, mas, considerando a “riqueza” de nossa língua, essa palavra se presta mais a um contexto pessoal, comportamental.
Nós, engenheiros, quando precisamos designar uma limitação de movimento em uma estrutura, costumamos usar a palavra em inglês mesmo: constraint ou restraint (restrição). Como não vou falar de cálculo estrutural, preferi usar a palavra “confrangimento”, que também se aplica a uma restrição, uma limitação, pode ser empregada em qualquer sistema e, sendo menos usada, se presta melhor ao que eu quero dizer.
No Volume 1 escrevi um capítulo sobre Sistemas (pág. 18) em que alerto para algumas armadilhas da nossa percepção quando procuramos determinar a causa de alguma coisa. A proximidade e a sincronicidade podem indicar uma relação causa-efeito falsa, assim como a distância e o tempo podem mascarar essa relação.
Considerando o fato de “pensarmos que” agimos segundo nossas motivações, quando na realidade só agimos pelo entusiasmo (ver “Tesão & Taras”), vamos comparar diversos sistemas que são utilizados para gerir os processos de nossa sociedade pelos dois pontos de vista: Motivação e Entusiasmo.
A motivação, e mais ainda, o entusiasmo, são coisas que não se compram ou se trocam, elas simplesmente estão ou não estão presentes em nossas ações. Claro que podem ser estimuladas ou reprimidas, mas dificilmente de forma intencional, é muito mais comum ocorrer como resultado das circunstâncias.
Definindo melhor:
Motivação: conjunto de valores que elegemos como nossa intenção perseguir.
Entusiasmo: do grego enthousiasmós (en = dentro e thou ou theos = "deus") ou agir por inspiração divina, significando aquilo que nos dispomos a fazer com alma.
A motivação é o que nossa consciência escolheu para fazermos, mas só o entusiasmo é que comanda nossas ações.
Um dos melhores exemplos de sistema que falhou por não perceber essa distinção foi o comunismo, que apesar de prenhe de motivações, não possuía os elementos necessários para dar à luz o entusiasmo. Isso além dos malefícios conhecidos (inclusive em nossa história presente e passada) da concentração de poder por um longo tempo, com a acomodação e o surgimento da corrupção sistêmica.
Um sistema em que os agentes são seres humanos, só funcionará bem se contemplar ambos, motivação e entusiasmo, o que só ocorrerá se forem previstos os confrangimentos adequados. Exemplo: pagamentos por produção, ou seja, quem produz só recebe após apresentar o resultado do trabalho executado.

Caso contrário seremos como o Rei do Pequeno Príncipe, só poderemos ordenar o que os súditos estiverem dispostos a fazer.
O fato é que vivemos em uma rede de relações altamente enganosa, exatamente pela falta desses confrangimentos. Vejamos alguns casos, partindo do modelo, já abordado anteriormente, dos Planos de Saúde:

Acredito que todos estejam de acordo que o segundo esquema representa melhor a realidade, mas o que merece uma atenção maior é o primeiro esquema, que representa a forma como o gestor pensou ao modelar o processo.
Percebemos um alto grau de hipocrisia, ou seja baixo nível de crítica (eu sei, estou sendo repetitivo, mas é para reforçar) em relação a como as pessoas, que são os reais agentes do processo, iriam reagir.
O idealizador desse sistema contou demais com a motivação, com os valores de cada um e se deu mal.
Dizem os treinadores de atletas que, nos treinos, deve-se desenvolver o que eles chamam de "memória muscular", ou seja repetir à exaustão certos movimentos para que, na competição, os músculos como que reajam sem precisar do pensamento.
Da mesma forma a motivação é muito boa para o treino, mas na hora da ação, lembrando que a vida é, de fato, uma competição (ainda que se fale muito em colaboração), enfim, na hora do "vamo vê" é só o entusiasmo que vale.
Voltando ao caso dos Planos de Saúde, faltam os confrangimentos que ocorrem em outras transações comuns, como uma compra de feira, por exemplo.
Quando encaramos o feirante sabemos perfeitamente quanto dinheiro temos no bolso e o que queremos comprar, da mesma forma o feirante sabe quanto pagou pelos seus produtos e quanto precisa ganhar.
Nesse instante se dá uma transação submetida aos confrangimentos necessários, veja que não precisa haver cons't'rangimento, ao contrário, em muitos casos os envolvidos estão tendo prazer em participar daquilo, podendo desenvolver uma empatia positiva entre comprador e vendedor, afinal todos ali tem clareza dos interesses envolvidos e julga que os mesmos são muito justos.
No caso em questão, dos Planos de Saúde, quem paga não leva e quem recebe não entrega, ficando na mão de um gestor, alijado completamente do processo real, julgar os parâmetros das transações. Isso não só exige muita motivação como uma quantidade de informações impossível de se obter por vias indiretas.
Esse mesmo fenômeno se verifica nos processos de terceirização e nas sociedades por ações, em que há uma completa dissociação entre causa e efeito para os agentes das operações. Temos que lembrar que não fazemos negócios com empresas e sim com pessoas e que o sucesso ou fracasso dessas negociações dependem do relacionamento interpessoal, ainda que exista uma infinidade de controles e regras.
Agora vamos examinar como funciona a nossa democracia representativa:
 

Fica claro aqui a desconexão total e o enorme distanciamento entre os agentes: quem vota exerce um poder praticamente inócuo sobre o eleito, quem recebe não tem que prestar contas a quem o elegeu e quem financia eleições não está nem aí com as necessidades dos eleitores, exceto como eventuais acionistas de suas empresas. Vale a pena destacar que o bloco dos Financiadores não se altera nos dois esquemas.
É bom deixar claro que essas aberrações ocorrem seja qual for a ideologia vigente, haja vista as alianças espúrias feitas pelo nosso maior partido de esquerda com o objetivo de conseguir apoio do congresso que, além de não lograr o intento, conseguiram levar o país a sua maior crise, provocando um retrocesso de pelo menos 20 anos em nosso amadurecimento político.
Já citei mais de uma vez o prêmio Nobel de economia de 2015, Angus Deaton, e suas teses sobre as diferenças entre ricos e pobres no mundo. Uma das explicações para a ineficiência da ajuda internacional tem muito a ver com nosso tema:



Conforme Angus Deaton:
Benin, Burkina Faso, República Democrática do Congo, Etiópia, Madagascar, Mali, Níger, Serra Leoa, Togo e Uganda estão entre os países onde a ajuda ultrapassou 75% das despesas públicas por período nos últimos anos. No Quênia e Zâmbia, a ajuda internacional chega a um quarto e metade das despesas governamentais, respectivamente. Dado que grande parte da despesa pública é pré-comprometida e quase impossível de mudar no curto prazo, para esses países (e outros para os quais os dados não estão disponíveis) despesas discricionárias por parte dos governos são quase inteiramente dependentes de fundos de doadores estrangeiros. Como veremos, isso não significa que os doadores estão ditando em que os governos devem gastar, longe disso. No entanto, o comportamento de ambos, doadores e receptores, é fundamentalmente afetado pela existência e magnitude desses fluxos de ajuda.
Pedagogia da Dependência

Um dos aspectos mais importantes frisado pelo mesmo autor é o enorme bloqueio ao desenvolvimento que esses fluxos de ajuda representam. Primeiro pelo condicionamento a interesses alheios às reais necessidades desses povos, segundo pela manutenção de governos deletérios cuja sobrevivência se deve muito ao apoio das nações doadoras e, por último, mas não menos importante, pela acomodação que promove nesses países, praticamente impedindo o surgimento de ideias e soluções internas para os seus problemas.
Todos esses casos sofrem do mesmo mal: são concebidos através de relações indiretas*, não por casualidade, mas por puro comodismo ou conveniência, porque esse tipo de relação dilui responsabilidades e elimina os constrangimentos (aqui no contexto pessoal mesmo) entre as partes, entretanto eliminam também os confrangimentos necessários ao bom equilíbrio dessas relações.
Tudo isso já era sobejamente conhecido desde o mundo antigo, através dos grandes filósofos, donde se conclui, mais uma vez, que o conhecimento adquirido pela humanidade não só não é aplicado à organização de nossa sociedade, como é subvertido por ela, apenas e tão somente por comodismo.
Por quê insisto no comodismo? Eu concordo que, ao analisar a situação atual, percebemos muitas intenções deletérias, estratégias malintencionadas na origem, coisas que nos inclinam para a visão maniqueísta da realidade. Entretanto, se analisarmos a origem desses fenômenos, sob uma perspectiva histórica da construção da sociedade, veremos que foi o comodismo que nos trouxe até essa situação, não uma intenção especialmente diabólica.
Claro que temos que combater com muita energia os malintencionados, as organizações criminosas, principalmente as oficiais, mas se não tivermos clareza das origens desse “mal”, será como enxugar gelo, repetiremos tudo de novo.
O esforço para fazer do jeito certo é o mesmo de fazer do jeito aparentemente fácil, às vezes é até menor, mas a ilusão de ter encontrado um meio de driblar as dificuldades, queimar etapas, sempre vence.

* Ver, neste blog, “Paradoxos & Sofismas”, de 26/01/2016, sobre relações diretas e “O socialismo residual nos países de cultura patrimonialista como resultado do sentimento de culpa das elites dominantes”, de 24/07/2014, sobre a correlação “paternalismo” x “desenvolvimento”.

O mesmo comodismo está nos levando a um mundo de “direitos”!
Hoje só se fala em direitos, os taxistas têm direito à reserva de mercado, estudantes de escolas técnicas tem direito a merenda quente* e por aí afora. Ora, perguntem para alguém que estudou no Liceu de Artes e Ofícios se tinha “merenda”.
Não se trata de desdenhar das necessidades dos menos favorecidos, o problema é que não é assim que vamos resgatá-los. Também não podemos ignorar a importância dos movimentos sociais, apenas temos que enxergar um pouco mais fundo.
Na verdade só cada um é que pode encontrar os meios para vencer a sua luta pela vida, a única coisa pela qual todos devemos nos empenhar é pela garantia de oportunidade igual para todo mundo e isso não é merenda em escola técnica.
Estamos criando uma geração de pessoas que preferem gastar uma barbaridade de energia tentando garantir os “seus” direitos ao invés de construir o seu futuro.


* Apesar de sabermos que a maioria em qualquer movimento é massa de manobra e, neste caso, não termos ideia de quais os reais motivos ou quem está por trás dessas iniciativas.


Quando falamos de direitos temos que pensar em quem é o guardião desses direitos, e não me venham com xurumelas: leis; governo; algum grupo político; talvez uma ONG.
O guardião dos nossos “direitos” tem que ser “alguém”, não uma instituição, porque por trás das instituições estão pessoas e elas, não os papéis ou documentos, é que vão agir.
Ainda que se diga que o próprio indivíduo é o responsável pela defesa de seus direitos, é preciso saber de que forma cada um deve defender esses “direitos”. O que se vê são pessoas querendo exigir que alguém as adote, querendo delargar cada vez parcelas maiores da sua responsabilidade para governos, empresas etc.
É preciso um tanto de confrangimento para darmos o nosso melhor, qualquer um sabe disso. Não basta o sonho, é preciso ter clareza do que nos espera se fracassarmos, sem rede de proteção, porque, por mais que você confie no seu modelo de sociedade, na hora H a rede pode não estar lá.
Já falei inúmeras vezes que nunca temos o que merecemos, apenas o que conseguimos negociar. Já falei também da delargação desenfreada que promovemos em nossa estrutura social. Ainda que seja desejável uma sociedade bem estruturada, não adianta insistir no que já sabemos que não funciona.
Como no caso das emissões de carbono - sabemos que a redução a zero de forma abrupta seria o caos, mas não fazer nada vai levar ao mesmo caos - da mesma forma, abandonarmos as proteções do sistema de uma hora para outra levaria ao caos, mas precisamos pelo menos interromper o crescimento dessa irresponsabilidade e pensar, mesmo que seja para um futuro distante, um modelo em que cada um seja menos dependente das estruturas e mais responsável por seu destino.
Esse é o ideal anarquista que, como todo ideal, é utópico, porém mais realista do que utopias como o malfadado Welfare State ou, pior, o socialismo.
O ideal anarquista não vai se tornar realidade porque é inviável, mas uma sociedade norteada por esse ideal vai respeitar muito mais as liberdades individuais e será capaz de garantir a oportunidade para que cada um, de acordo com seu entusiasmo e sua capacidade, cresça e alcance seus sonhos.
As regras, leis, normas etc. não corroem apenas a ética de uma sociedade, mas tem efeito pedagógico, influenciando na forma de pensar dessa sociedade. Um governo paternalista induzirá um ambiente cada vez mais reivindicatório, e isso enquanto funcionar, uma vez que, dadas essas mesmas características, não conseguirá manter o ritmo da economia em consonância com o crescimento das necessidades da população, provocando a ascensão dos seus opositores. O caso mais preocupante desse tipo de situação é o da China, cujo colapso anunciado já começa a dar seus sinais.
Esse é mais um dos paradoxos com os quais temos que lidar: quanto mais temos, mais queremos. Inversamente, quanto maiores os desafios, mais nos empoderamos.

Estados paternalistas formam sociedades de dependentes.
Por quê herdeiros fracassam? Por não terem experimentado nem o sofrimento de galgar encostas, nem a dor de despencar de abismos.
A realidade sempre vai ser menor que as expectativas, daí a insatisfação crescente.
SATISFAÇÃO = REALIDADE - EXPECTATIVA
Ainda conforme Angus Deaton, nossa percepção de "satisfação" varia conforme nossos ganhos se multiplicam.
O Instituto Gallup pediu que as pessoas ao redor do mundo avaliassem suas vidas imaginando uma "escada da vida" com onze degraus; o último degrau, 0, é "a pior vida possível para você", enquanto 10 é "a melhor vida possível para você." Cada entrevistado foi solicitado a indicar "em que degrau da escada você diria que você, pessoalmente, sente que está neste momento?" Podemos utilizar esses dados para ver como os países se saem em relação uns aos outros e, em particular, se os países de renda mais elevada se saem melhor sobre esta medida.
...
Quando pensamos sobre o dinheiro, pensamos em termos de dólares, mas também pensamos em termos percentuais. Nas raras ocasiões em que meus colegas de Princeton discutem seus salários uns com os outros, eles são propensos a relatar que um teve um aumento de 3%, enquanto outro teve 1%. De fato, o deão é mais susceptível de sinalizar a sua vontade ou desagrado através do tamanho do aumento percentual do que através da dimensão do aumento em dólares.
... diferenças percentuais iguais de renda produzem iguais mudanças absolutas na avaliação de vida. Em média, se passar de um país para outro, cuja renda per capita é quatro vezes mais elevada, a nota de avaliação da vida vai passar por cerca de um ponto em uma escala de zero a dez, e isso é verdade se estamos nos movendo entre países pobres ou os ricos. E só para remover qualquer mal-entendido: sim, há muitas exceções, e muitos países apresentam resultados maiores ou menores do que poderíamos esperar, dados os seus rendimentos nacionais. Nem sempre é verdade que todos os países ricos têm avaliações de vida mais elevadas do que todos os países que são mais pobres; China e índia são dois exemplos notáveis. Mas, em média, para todos os países, ricos ou pobres, uma diferença de quatro vezes no rendimento vem com um aumento de um ponto na avaliação da vida. 
O problema de lidar com a satisfação do povo tentando distribuir benefícios é secular, não só no Brasil, mas na maioria do antigamente chamado "terceiro mundo".
Tivemos Getúlio, Juscelino, Jânio, Sarney, Collor, FHC, Lula e agora Temer, todos representando grandes "guinadas", "qui nada" isso sim, foi sempre mais do mesmo. Sempre com a retórica de ajudar os pobres, são, sem exceção, pretensos tutores da nação.
Pior do que o corrupto é o bem-intencionado. Uma política de distribuição de renda (indiscutivelmente necessária, aliás) sem uma gestão eficaz, sem compromisso com o equilíbrio financeiro do estado e, principalmente, que utilize os mesmos expedientes de corrupção arraigados na política, além de desestimular a atividade econômica, abala o que há de mais importante em uma sociedade: a Confiança! É por isso que o inferno puLULA com eles.
Novamente temos a situação de como enfrentar um problema tão grande que parece insolúvel. Na minha opinião a melhor estratégia é: primeiro tomamos as medidas necessárias para que o problema não aumente e, em seguida, agimos para reduzi-lo no ritmo que for possível. A única coisa inaceitável é não fazer nada.
Descartes que me desculpe, mas
 
 
"Volo, ergo sum!”,
depois vem o “Cogito”.

Queremos antes, compreendemos depois

O que quero dizer é que existem vários graus de desvio em relação ao que consideramos um comportamento ideal, desde aqueles que todos nós cometemos e consideramos “absolutamente perdoáveis”, passando pelos que julgamos indesejáveis, até os “imperdoáveis”. Se sabemos que é assim porque continuar criando sistemas sem levar isso em consideração.
Um bom sistema deve primeiro admitir que agimos pelo entusiasmo, depois ser estruturado de forma a reduzir ao mínimo os intermediários nas relações, isso significa menos regulamentos, leis, regras.
Quando isso não for possível, estabelecer restrições (confrangimentos) que induzam ao melhor equilíbrio entre as partes e prever fiscalização e punição apenas para os desvios mais graves.
É bom lembrar que ética é o que há naturalmente em qualquer sociedade. É um erro pregar um comportamento ético quando na verdade estamos querendo que as pessoas ajam conforme aquilo que acreditamos ser o melhor, isso é moral.
Ética é o que há no jogo do bicho, na máfia, em um grupo de crianças brincando, em uma pelada de fim de semana. Ou seja, é aquilo que dá coesão ao grupo. Quando a ética é desrespeitada o grupo se desfaz ou, no mínimo, se modifica muito.
Uma sociedade é formada em torno de uma ética e a nossa não é diferente, se não estamos satisfeitos com o comportamento de tantas pessoas é, em grande parte, porque estabelecemos muitas regras, muitos direitos, diminuindo o espaço da conquista de cada um e da consciência que as responsabilidades pelo individual e pelo coletivo são de cada um de nós.
Cada regra formal extermina com uma infinidade de normas éticas. Exemplo: ao estabelecer um salário mínimo, isentamos o empregador da responsabilidade com a qualidade de vida do seu empregado.
Uma sociedade justa nunca propiciará a todos os mesmos benefícios e sim as mesmas oportunidades. A competência e a capacidade de cada um negociar com a vida sempre serão diferentes e levarão a resultados diferentes, afinal já dizia meu avô: - A aranha vive da teia que tece!
De qualquer forma, todos os problemas sempre terão solução.
Os “Uber” da vida vão vingar, assim como outras formas de relação via internet, as bicicletas vão ocupar o espaço dos carros, as redes sociais vão continuar dominando a comunicação, o capitalismo vai continuar sendo a nossa forma de organização etc. etc.
Aliás, o caso dos taxistas x Uber é interessante porque revela um pouco da natureza de nossa sociedade:
  1. As manifestações dos taxistas não contam com o apoio da maioria da classe, aliás verifica-se, até pela violência contra colegas, que se trata de uma minoria. Os sindicatos não representam mais a classe e sim um grupelho político cujo único objetivo é manter o poder (tal e qual na "Democracia Representativa").
  2. O Uber, assim como outros aplicativos de oferta de serviços, significa a "comoditização" do serviço, ou seja, a democratização do "bem", ainda que explorado por um grupo econômico, mas sem reserva de mercado, o que quer dizer que qualquer um pode entrar na competição, como já é o caso da 99Taxis e do Waze que vão oferecer o mesmo serviço do Uber.
  3. Os taxistas representam a parcela "regulamentada" da questão e o "Uber" a democratizada. Essa mudança só está sendo possível devido à ausência de regulamentação que a internet propicia e ao sistema de livre iniciativa.
Isso significa que os mais fortes vão continuar por cima e a economia vai girar, por mais que esperneemos, como se nada tivesse acontecido, independente de quanto gostemos disso ou não, simplesmente porque é natural que seja assim.
Será que ficaremos satisfeitos com as soluções que nossos problemas vão encontrar?

Alguém vai dizer:
 E os exploradores, intolerantes, sectários? É contra isso que estamos lutando!

Claro, todos estamos de acordo que algo precisa mudar, o problema é que se continuarmos pensando que o mundo está como está porque "eles" são o problema, vamos continuar correndo atrás do nosso próprio rabo. 

Temos que continuar combatendo, sem dúvida, principalmente os sectários, para isso precisamos, nós, deixar de sermos "sectários".



Se não encararmos o fato de que nossa natureza é o problema, não vamos a lugar nenhum. Ou pensamos nossos sistemas tendo em conta que somos o que somos e que não existe o "lado negro da força" ou continuaremos nos digladiando por nada.