22/10/2018
Calma! Usei o título acima em alemão - “Minha Luta” em
português - como poderia ter usado em russo, “Моя Борьба” (Moie Beribá, grosso
modo), mas acho que ninguém entenderia, né? Já o título do mais demonizado
livro dessa nossa civilização judaico-cristã-ocidental causa até calafrios!
Nada contra os calafrios, aliás muito justificados, mas o
que me interessa neste ensaio é o desinteresse e quase, por que não dizer,
simpatia em relação a fatos históricos muito mais graves e presentes.
Me lembra aquela piadinha velha (e de mau gosto):
―
Estou escrevendo um livro: “Sobre a perseguição
aos judeus e aos ciclistas”.– diz o sujeito.
―
Ué? Por que aos ciclistas?
―
Vê como tenho razão: ninguém se importa com os
judeus!
O discurso que criamos tenta nos lembrar o tempo todo do que
é “bom” e do que é “mau”. Esquecer do holocausto por que passaram os judeus é
imperdoável, as pessoas que o fazem devem ser admoestadas, nem que seja em uma
piada.
Novamente recorro a coisas que já escrevi muitas vezes, ou
seja, não são novas ideias ou epifanias do momento, apenas a necessidade de
relembrar conceitos e conclusões antigas, mas que continuam atuais.
O nazi-fascismo foi responsável por, aproximadamente, 6 milhões
de mortes, quase totalmente de judeus, já o comunismo matou em seus gulags entre 20 e 70 milhões, não
importando a etnia ou origem dos infelizes.
Veja neste link: Holocausto comunista
Veja neste link: Holocausto comunista
Mais uma vez, antes que eu seja linchado em praça pública,
nada contra ser revoltado contra a morte de judeus, índios, burakumin, cristãos
etc., nada mais justificado, mas em relação aos “traidores” (supostos) do
comunismo não sentimos nada? Seria porque não pertencem a uma raça ou religião
específica?
Por quê temos tantos memoriais, museus, monumentos e todo
tipo de publicidade sobre os horrores do primeiro e quase nada sobre o segundo,
que foi muito pior sob qualquer ponto de vista?
Por quê temos em nosso ideário comum tanto horror ao nazismo
e ao fascismo e certa condescendência em relação ao comunismo?

Essas perguntas me lembram uma dúvida que expressei muitos
anos atrás, antes do acirramento dos ativismos de um modo geral, sobre o
racismo. Me perguntava, à época, se algum grupo musical adotasse o nome “Raça
Branca” ou “Raça Ariana”, qual seria a reação, popular e até oficial?
Entretanto existia, como acho que ainda existe, o grupo musical “Raça Negra”,
que não causa, a não ser em mim e talvez outros gatos pingados lúcidos, nenhuma
estranheza.
Infelizmente a explicação é simples: somos
ingênuos!

Nessa luta, qualquer mensagem de esperança se torna nossa
tábua de salvação, lembrando que todas as religiões nasceram dessa necessidade.
Quanto ao fato de que socialismo ou comunismo, assim como os
fascismos, que aliás foram muitos e de várias ideologias, serem assemelhados às
religiões, já falamos bastante. Como as bases científico-filosóficas dessas
ideologias são desprovidas de coerência e consistência, coisa que a academia já
provou extensiva e intensivamente, só resta a crença incondicional para manter
unidos seus fiéis seguidores.
É o desejo – inconsciente?! - de não precisar mais lutar o
tempo todo pela vida, a delargação de
todas as nossas aflições a alguém, um guru, um líder, um pastor, um deus, o fim
de todo sofrimento, da miséria, da pobreza?
Seria essa a cenoura que move essas hordas de crentes?
Nossa sociedade está dividida entre a grande maioria que exerce
burocraticamente funções básicas quase sem risco e a delargação de todos os riscos para entes misteriosos (misteriosos porque formados por indivíduos
diferentes da média, cuja origem ninguém sabe qual é) do estado: forças
armadas, polícia, bombeiros, socorristas etc. etc. que, por uma remuneração
pecuniária apenas, tem que assumir todos os riscos que o restante da população
é covarde demais para assumir. Será que isso é evolução e, mais, será que isso
vai dar certo pra sempre?
Em março de 2016 escrevi o seguinte sobre o que chamei de Síndrome de EstouCalmo:
Aí percebemos a diferença entre as visões dominantes sobre direita
e esquerda.
Apesar da discussão sobre as definições de direita e esquerda ser infindável, eu prefiro adotar o seguinte:
- Direita é a ideologia do senso de dever, ressaltando valores como trabalho, mérito e competição. Daí decorrem os valores da liberdade individual, lealdade ao grupo, admiração da força e desprezo à covardia.
- Esquerda é a ideologia da exigência dos direitos, centrada nas necessidades e na colaboração. Os valores decorrentes são a solidariedade, o desapego e respeito às minorias e aos vulneráveis.
Fica fácil perceber qual das duas é mais atraente para os
que sonham com um mundo melhor, mais justo e livre das desigualdades, da
discriminação e outras mazelas sociais.
Por quê, então, essa ideologia nunca conseguiu dominar a
maioria da população mundial?
A ideologia de esquerda pressupõe um estágio “evolutivo” das
sociedades em que seus indivíduos serão quase anjos, despidos de suas pulsões
animais e devidamente catequizados para viver em uma sociedade de abundância e
harmonia, mas sem privilégios.
Ainda que a doutrinação para esse “Admirável Mundo Novo” esteja
em plena atividade há quase um século, conseguindo converter formadores de
opinião por todo o mundo, também fica fácil perceber que isso ainda não é
verdade, se é que algum dia será.
Como algum filósofo disse: As únicas coisas verdadeiras que
pensamos são aquelas que ocorrem quando estamos nos afogando!
O discurso do náufrago
é o único autêntico, porque a vida está por um fio, não podemos nos distrair
com nada que não seja vital.
A esquerda, no afã de resolver os problemas sociais, invariavelmente
produz crises profundas em todos os países em que se impôs. Adicionalmente,
dada sua tendência evidente à hegemonia, concentra poder por longos períodos em
um único grupo político, o seu, criando o ambiente ideal para o alastramento da
corrupção.
No auge dessas crises, a população em pleno naufrágio, se
volta violentamente contra esse grupo e, naturalmente, agarra a tábua que
aparecer, claro que será sempre a oposição de direita.
Isso sempre me suscitou a dúvida sobre o que representaria
evolução da espécie humana.
Será que a ciência, a tecnologia, e o estado de bem-estar
social estão nos levando para essa evolução ou seria o contrário.
O filme Wall-e é uma caricatura interessante dessa questão:
a espécie humana com o domínio da tecnologia se torna, na animação citada, indolente
e fraca, totalmente dependente da tecnologia para sua subsistência.
Quando eu era jovem, lá pelos anos 1970, isso já me
intrigava, eu achava que o desenvolvimento das capacidades físicas e
intelectuais dos indivíduos deveria ser prioritário em relação ao
desenvolvimento de tecnologias. Gostava de pensar que os nossos índios seriam
esse tipo de sociedade, usando a tecnologia mínima necessária e dedicando-se ao
aprimoramento do corpo. Coisas da juventude!
Em junho de 2017 escrevi, a respeito de um texto sobre a
necessidade de amadurecer, o seguinte:
O texto acima, assim como os da alemã Judith Mair há cerca de 10 anos,
é baseado em uma corrente de pensamento que defende o fim da hipocrisia na
forma de encararmos a nós mesmos e a nossa sociedade. Os defensores dessa
corrente afirmam que um pouco mais de autocrítica e um pouco menos de
romantismo não farão mal nenhum à humanidade.
Essa forma de pensar nossos hábitos de vida levanta um questionamento
fundamental:
Seja o welfare state dos americanos que se universalizou pelas
democracias ocidentais, seja o estado provedor de direitos dos socialistas,
ambos, aparentemente em lados opostos, tiveram desde o início um objetivo
comum: a busca do bem estar, do conforto e da segurança da população em geral.
Independente do grau de sucesso obtido por esses modelos de sociedade,
eles revelam nossa tendência de buscar sempre uma vida mais fácil, em
detrimento de uma vida melhor.
Será que esse caminho não nos desviou do que poderia ter sido uma real
evolução humana?
Para conseguir a aprovação da maioria, líderes suficientemente maduros
e dispostos a correr os riscos inerentes de suas buscas pessoais, promoveram,
apenas atendendo aos reclamos do povo, uma mentalidade de inércia e delargação.
Falamos muito que a vida humana melhorou nos séculos mais recentes.
Será mesmo?
Sob o ponto de vista do conforto físico e aparente segurança pode
parecer que sim, mas e se usarmos o parâmetro felicidade? Será que somos mais
felizes do que há quatro ou cinco séculos?
Considerando o sofrimento físico e psicológico a que a maioria de nossos
ancestrais eram submetidos, a resposta é um retumbante sim, mas se
considerarmos aqueles que se arriscaram, sejam conquistadores, guerreiros,
amantes, artistas ou mesmo sonhadores, como o Dom Quixote de la Mancha da
ficção de Cervantes, a resposta já não será tão clara.
Teríamos promovido uma distribuição da felicidade, fazendo com que
todos nos tornássemos semi-infelizes?
Veja este trecho de uma palestra da prof.ª Lucia Helena
Galvão do Instituto Nova Acrópole:
Ver neste link
Ver neste link
O medo é o primeiro e principal inimigo do homem.
O homem dorme mais apegado ao seu medo do que à sua maior amante.
Perguntas impertinentes:
Seria essa paixão tão profunda, a ponto de termos criado sociedades,
religiões, escolas e ensinarmos nossos filhos a pensar só no medo e esquecer os
sonhos verdadeiros, aqueles que envolvem grandes riscos?
Seria esse o motor das crenças, a necessidade de algo mais, algo que
nos liberte completamente, sem as amarras da gravidade e da atmosfera?
Será por isso que, para a imensa maioria, é tão necessário acreditar
que a morte não seja o fim?
As maravilhas da vida não seriam suficientes para aceitarmos plenamente
seus perigos?
É muito evidente a mudança pela qual as crianças vão passando no seu
ciclo de educação, de livres para pensar, perguntar e especular qualquer coisa,
para uma atitude cada vez mais contida e refratária à discussão, apoiando-se
cada vez mais em dogmas que lhe vão sendo impostos, como barrinhas de uma gaiola
dourada na qual o adulto que emerge desse processo vai viver toda a sua vida.
Não seria essa a origem do que chamamos “mal”, uma visão distorcida de
tudo que está fora de nossa gaiolinha de segurança?
Apesar de acreditarmos que sair dessa proteção nos levaria ao inferno,
não é dentro dela que nos sentimos condenados e aspiramos ardentemente por uma
libertação?
Esse é o campo fértil em que pregadores e pastores regam seus rebanhos.
Para quem quiser conferir o texto na íntegra, veja neste
link:
Porque amadurecer é tão difícil
Porque amadurecer é tão difícil
Se por um lado o discurso da esquerda é mais atraente, nos
leva inexoravelmente para o naufrágio, do qual sempre seremos salvos pela mão
forte da direita e, como disse a prof.ª Lucia no vídeo do link acima, quem foi
educado para a ação, para a competição, acaba por ter mais audácia e normalmente
reúne os indivíduos mais truculentos.
Gramsci talvez tenha
sido o filósofo mais amoral já surgido, porque Niccolò Machiavelli descreveu os mecanismos pelos quais o príncipe controlaria
o estado, mas nunca disse que isso era intrinsecamente bom, enquanto Antonio Gramsci apregoou aos quatro
cantos do mundo as maravilhas do estado controlado por uma hegemonia socialista
e através da homogeneização da cultura.
Esse douto senhor descobriu que o discurso da vítima seria
uma arma muito mais eficiente do que qualquer violência e convenceu os modernos
comunistas a explorar esse discurso sub-repticiamente – isto não é teoria da
conspiração, está devidamente registrado nos ensinamentos de Gramsci, nas
discursos de todos os socialistas de algumas décadas para cá e, inclusive, nos
programas dos partidos e documentos de doutrina.
Desde então, por causas endógenas, ou seja, nossos medos,
nossos arquétipos, enfim nossa constituição como seres pensantes, e exógenas, disseminadas
por canalhas que utilizam-se dessas vulnerabilidades para nos controlar, muitos
deles nem tão canalhas, apenas inocentes úteis, os que chamo de súcubos, enfim, por todas essas causas, a
imensa maioria da população ficou refém desse discurso politicamente correto, que nada mais é do que o discurso do dominador.
Quando a realidade “real" se impõe, por circunstâncias da vida, ofuscando a realidade “ideal”, inseminada em
nossas mentes com a ajuda de nossos medos, utilizando inescrupulosamente a Síndrome de EstouCalmo – e ela
se impõe queiramos ou não – nos deparamos com o confronto e, nesse momento, são
os náufragos, exatamente aqueles que idealizamos como indefesos, que nos
surpreendem.
Recentemente escrevi o ensaio a seguir:
Tenho certeza de que essa visão da realidade (a minha, no
caso) incomoda muito, mas acho que vale a pena refletir sobre os por quês desse
incômodo.
Deu medinho?
