Dogma x Dúvida
29/12/2014
A história da humanidade tem mostrado que nosso diferencial competitivo é, de forma incontestável, o que chamamos de ‘inteligência’. Seja em relação às outras espécies seja quando referido à competição entre ‘espécimes’.
Claro que nossa filosofia, ainda que filhote gerado e amamentado pela inteligência, tem investigado e especulado sobre várias facetas dessa faculdade: inteletual, emocional, transcendental etc. Nessa busca, provocada pela curiosidade decorrente dessa mesma inteligência, tem tentado estabelecer pesos e medidas para cada um desses aspectos, ora pendendo mais para o intelectual, ora para o transcendental.
Entretanto, qualquer que seja a abordagem, ninguém discute o valor da inteligência na competição pela vida.
No outro canto do ringue temos a ‘vaidade’, como o ‘pecado preferido do diabo’, aquilo que nos enfraquece e favorece os nossos inimigos.
É neste ponto que pretendo dar os meus pitacos.
Certas correntes de pensamento ou ‘filosofias’ sempre me intrigaram. Sempre tive dificuldade em aceitar que pessoas dotadas de ‘inteligência’, instruídas e bem intencionadas possam acreditar em ‘doutrinas’ tão carentes de racionalidade, muitas vezes sustentadas única e tão somente na necessidade visceral de acreditar em algo. Estou falando de algumas religiões, notadamente as judaico-cristãs(1) e o espiritismo.
Minha especulação é a seguinte: somos, de várias maneiras e em variados graus, condicionados por nossa vaidade, que como já dito em outros textos, é apenas uma qualidade muito exacerbada - amor próprio, auto-estima - caso em que a dose faz o veneno.
Pois é! A nossa experiência, durante a vida, vai nos condicionando, pela via da vaidade, a privilegiar certas atitudes em relação a outras, o que vai formando nosso caráter, aquilo que nos diferencia dos demais.
Neste ponto é importante lembrar que, a despeito de nosso diferencial competitivo ser a inteligência, outras capacidades continuam necessárias para sobrevivermos: força, coragem, destreza etc. etc.
Como a vaidade é o grande maestro, naturalmente privilegiamos as atitudes que nos deem mais reconhecimento por parte do nosso público: família, amigos, colegas, vizinhos etc.

(1) Quando penso na igreja católica, por exemplo, é impossível ignorar sua história, suas bases estruturais, sua estratégia absolutamente política e voltada para a conquista de poder material, e sua retórica hipocritamente ‘espiritual’, tentando convencer seus adeptos do caráter transcendente da instituição. Não consigo associar ao cristianismo, porque nasceu de uma decisão política do imperador de Roma. Vendo alguém se declarar seguidor dessa pantomima não posso deixar de ser muito crítico.A única ressalva que faço é o fato de que, tenho que admitir, “Deus escreve certo por linhas tortas”, fazendo uma citação mais do que apropriada. Muitos crápulas dessa instituição foram responsáveis por mudanças importantíssimas no mundo, como o papa Bórgia - Alexandre I - que sendo um dos mais corruptos e descarados do seu tempo, ainda assim teve um papel fundamental no renascimento, apoiando e financiando as artes e as iniciativas iluministas, o que nos obriga a reavaliar certas convicções.O artigo “Muito tempo atrás, numa eleição distante…”, ao final deste texto, ilustra muito bem essa ideia.

Quando alguém não se sente confiante em suas habilidades, sejam intelectuais, físicas ou de qualquer outro tipo, achando que elas não garantem a aceitação que a vaidade exige, em que irá se apoiar?
Nessa hora surgem os salvadores, pessoas que organizam ideias prontas para uso, sem a necessidade de muita articulação, análise ou elaboração, os DOGMAS. Pregam a superioridade de outras ‘qualidades’: moral, caridade, fraternidade e outras semelhantes, garantindo aos adeptos que essas são as únicas qualidades necessárias para garantir sua aceitação.
Veja que não é necessário ser destituído de habilidades genuínas, basta não confiar o suficiente nelas, ou seja, basta ser ‘vaidoso’.
Os seguidores de doutrinas desse tipo, se apóiam completamente nas ideias defendidas pelo líder, seja católico, espírita, evangélico ou cientologista, fundamentando sua argumentação nos dogmas professados por ele, sem crítica nem discussão, usando argumentos do tipo:
Pra Deus nada é impossível!
Como discutir contra esse tipo de argumentação?
Essas ideias são como coletes salva-vidas para quem não sabe nadar.
Ora! Não me atrevo a discutir a validade dessas ideias, entretanto não aceito que se abandone a racionalidade para ‘acreditar’ em algo que outro pensou. Se falamos de intuição e isso vale tanto para a elaboração da fé (nada a ver com crença, hein) de cada um, como para nos orientar na escolha do nosso par, de um negócio etc., essa intuição deve vir de dentro e não de fora, caso contrário seremos os otários caindo na conversa de vigaristas.
No caso de religiões ou seitas basta acreditar na boa fé do líder? Isso basta para dirigirmos nossa forma de ver o mundo, nossas ações, nossos medos?
Concluindo: a vaidade, nesses casos, cega o indivíduo. Quando alguém sucumbe à vaidade, quando ela ultrapassa a auto-estima, a pessoa nunca está satisfeita consigo mesma, precisa se afirmar a cada momento, perde a capacidade de rir dela mesma.
A única coisa que ela busca é reconhecimento e como o reconhecimento entre os membros desses grupos é uma regra de ouro, esses ‘seguidores’ vão reforçando suas ‘convicções’ entre si, até perder completamente o senso crítico, preferindo assumir que aqueles que não estão de acordo com seus dogmas ou ainda não estão preparados(2) para perceber a ‘verdade’ ou têm medo de expor seu lado mais ‘obscuro’.
Esse fenômeno não é exclusivo dos grupos religiosos, existem outros tipos de agremiação criadas para alimentar a vaidade dos seus participantes. Falo de religião porque foi o que me chamou a atenção.
A DÚVIDA, ainda que represente um risco de travar a percepção devido a excessos de racionalismo, pelo menos mantém viva a chance de se libertar. Pessoas com mais tendência ao ceticismo podem inclusive participar de qualquer religião sem necessariamente se submeter aos seus dogmas, aproveitando aquilo que consideram importante para sua vida espiritual ou seja lá que nome dêem.
(2)"Se vocêestiver preparado, uma força maior o levará ao Pró-Vida."

L i v r a i - n o s   d o   m a l
17/12/2014
Tenho uma tese! Grande novidade, dirão alguns.
Bem, de qualquer forma, como todas as teses partiu de uma ‘vontade primária’, aquilo que define como a gente vê o mundo, no que acreditamos, nossos valores etc. etc. Enfim, a ‘forma’ do recipiente no qual acrescentamos o que se aprende.
Essa tese foi tomando corpo a partir de leituras, trocas de ideias e, principalmente, da experiência de viver, de ter que lidar com a beleza e com a feiura do mundo, de ter que buscar por sustentação, cuidar do meu grupo, dos meus dependentes. Coisas que sempre entusiasmam muito, mas também exigem um bocado de determinação.
Vamos a ela:
Lembro-me de ter citado em algum lugar a ideia de que o ‘demônio’ é uma fera acorrentada, impossibilitada de nos alcançar, que apenas nós podemos nos colocar ao alcance dela, por nossa única e exclusiva vontade.
Muito bem. Essa ideia me induziu a tese, que, parodiando Rita Lee, ficaria assim:
“Feiura vem dos outros e vai embora,
Beleza vem de nós e demora!”
Conforme essa lógica, livrar-nos do mal depende só de nós.
Até aí não chega a ser nenhuma novidade, todos os ensinamentos esotéricos ou filosóficos e até psicológicos, indicam esse caminho.
Entretanto, acho que seria interessante ir um pouco mais além, ou mais pro fundo (profundo, hein?).
Para demonstrar minha tese vou buscar o tema inicial do DeMimPro6: os 6 tesouros, contribuição do já célebre Lincoln, que, como bom pescador de ideias, captou e redesenhou o que segue, com algumas contribuições minhas:

6 tesouros
A Conquista dos novos Tempos Modernos

"O tempo é muito lento para os que esperam.
muito rápido para os que têm medo,
muito longo para os que lamentam,
muito curto para os que festejam.
Mas, para os que amam, o tempo é eternidade.”
William Shakespeare

Contemplação da Beleza
Pedra de toque, instrumento a partir do qual se inicia a conquista

Vejo o mundo e o mundo me vê!
Mundo feio: sou pura maldade;
Faço o bem: a beleza vem!
Autonomia

1ª força a ser utilizada na conquista


Medo: paraliso.
Movo: encorajo.
Quero: vou em frente!

Espaço
1ª conquista, define as possibilidades

Vou: o universo conspira a meu favor!
Tempo

2ª conquista, permite exercer Au. no Es.


Eu: onde e quando quero!
Ambiente Saudável
3ª conquista, resultado das anteriores

Agora sou só Desejo e Vontade virando Saúde!
Tranqüilidade

Conquista final, só pode ser atingida a partir dos passos anteriores


Paz Ciência!
Navegar é preciso, mas
Eu Morro por uma vida boa!
Se Deus quiser que eu viva sem fazer nada, que eu faça por merecer!

“Das profundezas desse bosque,
Da essência das pedras parece sair –
O canto da cigarra.”
Haicai – Matsuo Bashô

Esses são os verdadeiros tesouros dos tempos modernos, tempos do gene atropelado.

As conquistas materiais não satisfazem, queremos mais.
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte
                      Comida
Titãs
De todos esses tesouros tenho a impressão que a Contemplação da beleza deve ser, se não o mais importante, a chave para todos os demais.
Ela é a capacidade de perceber a beleza que está nas coisas e pessoas, separando atos de intenções, ou, quem sabe, a beleza que está em nós mesmos. Aprender a confiar, porque é a confiança a única cola que mantém uma sociedade unida e evoluindo.
A feiura é óbvia, a beleza precisa de certa disposição para ser percebida. O problema é que ela está lá, independente de ser percebida, porém se não a vemos não temos como ter uma visão abrangente da realidade, ficamos limitados aos nossos medos e inseguranças.
Por que buscar a beleza, eventualmente oculta, nas coisas? Porque é libertador, a feiura é limitante.
Ao contemplar a beleza estamos sendo fiéis ao nosso maior anseio: a liberdade, ao ignorá-la estamos nos submetendo aos nossos medos e inseguranças.


A beleza é fiel?



A frase de pára-choque “Deus é fiel!”, lamentavelmente, está equivocada. Se o Deus citado é a personificação da beleza e do bem ele nunca será fiel a nada, simplesmente porque não precisa. Nós é que, através de nossa livre decisão, é que podemos escolher ser fiéis a Ele, ou a ela, a beleza, no nosso caso.
Quem é fiel é o demônio, este sim, caso caiamos em tentação ele não nos abandonará nunca, por toda a eternidade.
Trata-se, em última análise, de uma escolha simples: liberdade ou segurança.
Acreditar em teorias da conspiração enfraquece a confiança, duvidar de tudo e de todos: políticos, governo, imprensa, empresas, superiores, juízes de futebol, é a melhor forma de aprofundar medos e tornar o mundo muito feio.
É bom desconfiar
De ser desconfiado
Não vou desconfiar de você
Até que prove o contrário
                        É Bom Desconfiar
                   Titãs
Nesta altura todos estão pensando: mas, e se todos são safados mesmo, como acreditar? Simplesmente admitindo que nós também somos safados em alguma medida, isso muda tudo e nos transforma em críticos e não hipócritas.
É tudo uma questão de limites: na essência estamos todos sujeitos a incorrer em erro, a questão, e disso não tenho nenhuma dúvida, é que temos limites - os tais valores de que já falamos - que nos impedem de cometer erros muito grandes, entretanto, se não temos a humildade de admitir nossa falibilidade, cobramos do outro uma perfeição impossível de ser alcançada e passamos a ver a tal ‘safadeza’ em tudo e todos.
O fato é que uma parcela significativa dos ‘outros’, incluindo políticos, governantes, jornalistas, empresários, chefes e juízes de futebol, é como nós, apenas imperfeitos, embora alguns, também não tenho dúvida disso, exacerbem. O problema é que nunca, mas nunca mesmo, temos informação e discernimento suficientes para construir uma conclusão minimamente razoável sobre o ‘outro’. Em outras palavras, qualquer julgamento sempre será leviano.
Desde que me lembro, sempre disse que eu era como o mineiro: confio incondicionalmente até ser traído pela minha confiança, mas será só uma vez!
Continuo achando essa atitude a mais saudável para estabelecer uma sociedade consistente e perene, porque o arredio, o desconfiado de todos, aquele que se coloca todo o tempo na defensiva, não consegue estabelecer relacionamentos e compromissos duradouros e intensos e o crédulo, de tanto se decepcionar, passa a não acreditar no mundo, passa a se fechar.
Para completar a minha música preferida, que reúne beleza, criança, confiança e coragem!




Eu fico com a pureza das respostas das crianças:

É a vida! É bonita e é bonita!

Viver e não ter a vergonha de ser feliz,

Cantar, 
A beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será,
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!
E a vida? E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo,
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo,
Há quem fale que é um divino mistério profundo,
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer,
Ele diz que a vida é viver,
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é, e o verbo é sofrer.
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé,
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser,
Sempre desejada por mais que esteja errada,
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte,
E a pergunta roda, e a cabeça agita.
Fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
É a vida! É bonita e é bonita!


O Que é, o Que é?

O gene egoísta e nossos desejos
Direita x Esquerda - a verdadeira história
26/10/2014 18:00


A contenda ‘direita x esquerda’ é tão velha quanto a existência do homo-habilis, existe há milhões - é isso mesmo - milhões de anos.
Recentemente recebi um e-mail desses que a gente costuma receber em época eleitoral, com uma visão um tanto leviana sobre essa questão - Direita x Esquerda-orig.pps - e não resisti à tentação de responder. Fiz uma nova versão e devolvi - Direita x Esquerda.pps.
Passado o calor da disputa - este texto foi publicado após o encerramento das eleições - podemos olhar para esse tema de forma mais clara e, principalmente, construtiva. Afinal nosso destino é, queiramos ou não, definido em grande parte pelas opções políticas que fazemos.
A vida é um processo comandado pelo gene egoísta que é, por natureza, selvagem. Tudo que ele quer é garantir a sobrevivência e a expansão da espécie, ainda que à custa do espécime.
O problema é que nós somos os espécimes.
Achamos que, como seres conscientes, temos nosso livre arbítrio para decidir viver conforme nossos desejos, entretanto não é bem assim, somos reféns do nosso gene. Nossa liberdade vai até os limites do que ele nos permite e esse condicionamento aflora através de nossas ‘qualidades’ e ‘defeitos’.


A história do pescador e do empresário demonstra duas visões de mundo antagônicas.
Certa vez, um homem muito rico e muito ocupado caminhava pela praia para tentar aliviar a carga dos inúmeros e complexos problemas que atormentavam sua vida. De repente, ele deparou-se com um pescador deitado despreocupadamente junto a um barco, olhando o azul do céu. 
Indignado, deteve-se junto ao pescador e perguntou:
- Como você pode ficar deitado aí, em pleno dia de trabalho, porque não está pescando?
- O pescador virou lentamente a cabeça na direção do homem e respondeu com outra pergunta:
- Por que você está tão irritado? Eu não estou pescando porque já pesquei o suficiente para o dia de hoje.
Inconformado, o homem insistiu:
- Se você estivesse com seu barco no mar, certamente traria mais peixes para vender ou estocar e poderia ganhar muito mais dinheiro.
- E pra que eu preciso de mais dinheiro? quis saber o pescador.
- Com mais dinheiro você compraria um barco melhor, mais moderno, com maior capacidade de navegação e com ele teria uma pesca mais abundante e consequentemente, mais dinheiro. Logo você poderia até ser dono de uma companhia pesqueira e ser um homem rico.
- E o que eu faria então? Perguntou o pescador.
- Você teria condições de gozar muito mais desta vida, namorar lindas mulheres, enfim tudo o que o dinheiro pode oferecer.
- Já tenho minha casinha, mulher e filhos, eu sou feliz assim, vivendo cada momento. Vivo o presente e o que tenho basta para mim e minha família. Adoro a vida que levo e sou feliz!
Mas, retrucou o empresário:
- Você poderia comprar uma linda casa, automóvel do ano, roupas caras, viajar e descansar! Você se contenta com pouco. É preciso aproveitar mais a vida!
Olhando o interlocutor com um leve sorriso desenhado no rosto, o pescador perguntou:
- O que você acha que eu estou fazendo agora?
Nada aqui é óbvio!
Se a nossa luta, como manda o gene egoísta é para escapar de um planeta condenado, seja através de tecnologias de transporte seja através de transformação do meio em que vivemos - o aspecto “multiplicai-vos” ou preservação da espécie - temos que ter a coragem de ‘criar’ essa tecnologia, ainda que indiretamente, como o empresário da anedota, mesmo abrindo mão dos nossos desejos imediatos.
Se optamos pelos fatalismo da integração com a natureza, seja do planeta seja de nós mesmos enquanto espécimes - o “crescei-vos” ou a manutenção da espécie - temos que resistir às imposições de uma sociedade altamente competitiva para nos manter de forma sustentável.
Ambas as opções são consistentes com os ditames do gene egoísta e, num mundo ideal, deveriam colaborar entre si. Trata-se da célebre disputa entre ‘branco’ e ‘vermelho’ presente em todos os mitos humanos, o ‘explorador’ e o ‘preservador’, o ‘nômade’ e o ‘sedentário’ etc. Nessa disputa não há covardia, ambas as opções exigem muita coragem para serem assumidas!
A história da humanidade é feita por aqueles que assumiram riscos, ousaram, viram oportunidades onde os outros só viam riscos, seja de um lado ou do outro dessa luta.
Nosso país vive um dilema muito mais importante do que aparece na mídia e nas propagandas políticas.
Outro dia ouvi um candidato responder a um jornalista que os temas mais complexos da economia não eram abordados na campanha porque a população não tinha capacidade de entender a profundidade dos conceitos.
Darcy - continuo darcysista - já alertava: ‘Se queremos ser uma “nação” temos que decidir que nação queremos ser’.
Não é possível querer gozar dos benefícios da industrialização sem investir na organização da sociedade para a produção industrial. Por outro lado não se pode esperar que o poder econômico e militar permitam que vivamos idilicamente, gozando nossas belezas naturais indefinidamente (imaginando que fossemos suficientemente conscientes e conservativos) enquanto eles produzem as “facilidades” que consumimos.
A questão da soberania passa por essa escolha e pelo desafio de viabilizá-la, seja ela qual for. O fato é que “copiar” as nações desenvolvidas ou permitir que elas “explorem” o nosso mercado não nos garantirá a liberdade. É apenas uma questão de tempo, uma vez que os recursos do planeta são finitos e a avidez humana não, mais cedo ou mais tarde nossas belezas atrairão a cobiça de algum “poder” instituído.
Um dos maiores problemas da política nacional é não encarar de frente essa questão.
Quando Jânio Quadros se aproximou de Fidel Castro, nos anos 60, o que se viu foi uma inclinação para o comunismo, quando nada mais era do que uma estratégia de mostrar aos Estados Unidos uma certa independência e, dessa forma, conseguir melhorar o nível das negociações com eles.
A geopolítica, construída pelas condicionantes geográficas e pela história dos povos, determina o futuro das nações. Exemplos:
A Suíça se formou por situar-se em uma região dos Alpes que apresenta grandes dificuldades para o desenvolvimento de atividades permanentes, sem falar nas dificuldades de transporte. Isso favoreceu a chegada de imigrantes de vários países no seu entorno - daí manter quatro línguas em um território tão pequeno - em busca de um espaço, já que seus países de origem estavam superlotados, formando um povo extremamente trabalhador e voltado para si mesmo, sem grandes laços com seus vizinhos.
O japão se tornou uma potência industrial porque as suas possibilidades agrícolas são praticamente inexistentes, mas, principalmente porque seu povo tem uma vocação extraordinária para a competitividade, tendo se formado a partir de uma confrontação milenar com a gigantesca China.
A China, a despeito da pobreza extrema em que a maioria da sua população viveu ao longo de milhares de anos e dos anos de ditadura comunista, mesmo com um sistema político improvável, está despontando como líder mundial, diretamente em função de sua dimensão, população e predisposição.
Nossa realidade impõe, de forma inescapável, a vocação de potência mundial, considerando-se: dimensão geográfica, coesão política, população e estágio de desenvolvimento.
A única possibilidade de não nos tornarmos uma potência é a fragmentação geográfica e política, ou seja, se nos mantivermos unidos, mais dia menos dia, chegaremos lá, e, se isso acontecer, é porque quisemos que assim fosse.
A aproximação do Lula com o Hugo Chávez e Cuba, não tem nada a ver com ‘bolivarianismos’, e sim com uma visão muito lúcida de nosso papel geopolítico.
A Venezuela, como grande produtor de petróleo - faz parte da OPEP - e com sua presença no Caribe, representa uma posição estratégica em relação aos Estados Unidos.
Cuba é, literalmente, um pé no hemisfério norte.
Ambos extremamente vulneráveis e abandonados pelas grandes potências. Não aproveitar essa circunstância só se justificaria por covardia.
O Mercosul é uma conquista indiscutível nessa guerra moderna, onde as armas são econômicas.
Nossa presença no Haiti não tem nada a ver com razões humanitárias, trata-se de mais uma tentativa de aumentar nossa presença no cenário político internacional. Da mesma forma em relação a nossas ações na África.
A opção ao Mercosul é ceder aos acordos comerciais com os USA, como fizeram o México - cuja geopolítica está limitada pela sua dimensão comparativa e fronteiras diretas com os Estados Unidos - e o Chile - limitado por suas dimensões e população.
Ceder a esse tipo de acordo, seria, evidentemente, abdicar do papel de protagonista no mundo, aceitando o comando de uma nação que nos permitirá viver bem enquanto for interessante para ela - não nos esqueçamos que a Amazônia é objeto de cobiça desde muitas décadas.
A ampliação do Mercosul com a entrada da Venezuela e do Peru, nos daria o controle da Amazônia e do Caribe, nos tornando definitivamente um ‘player’ no jogo econômico imposto pelo nosso grande irmão do norte.
Essa é a diferença entre PSDB x PT, de um lado a opção, na minha opinião, covarde, por uma solução imediatista e fácil, bem ao estilo “Armínio”, subordinando nosso país à economia mundial e, de outro, a opção de lutar até o fim por uma nação independente e dona do seu destino.
A Marina poderia representar o outro lado da medalha, que seria optar por ser o país da sustentabilidade, mas sem abdicar de nossa independência, com uma visão clara de nosso papel no mundo. Infelizmente não demonstrou competência para permanecer no jogo.
Nosso futuro político continua, como nos mostrou Darcy, uma incógnita.
Eu, particularmente, acredito em duas forças recém surgidas: Kassab e Haddad.
Kassab, com a ambição e a falta de escrúpulos absolutamente necessárias àqueles que fazem a diferença, entretanto não tenho muita clareza da natureza de seus objetivos, se puramente pessoais ou pessoais associados a um projeto político maior.
Haddad, com objetivos claramente associados a um projeto político maior, entretanto não tenho muita clareza da sua ambição e da necessária falta de escrúpulos para fazer a diferença.
Expulsos do Paraíso:  A SAGA
Tudo é possível, inclusive Nada!


O Super Espiritismo

08/10/2014
Começo com a grande dúvida da humanidade – embora ninguém esteja de fato preocupado com ela:
“Ao infinito e além...” – Buzz Lightyear, ou  
“Não saio de mim nem pra pescar...” – Manoel de Barros
Estamos vivendo uma nova expulsão do Paraíso, aliás, nestes dois últimos séculos, vivemos essa crise a cada 25, 30 anos. Ponto de mutação atrás de ponto de mutação. Afinal aonde queremos ir?
O mito original diz: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás;” - Gênesis 2:17.
Sempre que estamos muito próximos de desvendar as leis fundamentais da natureza, alguma descoberta nos tira a resposta das mãos, como se Deus estivesse brincando com a gente.
O documentário Particle Fever (clique para ver o filme), mostra o último momento desse tipo, ocorrido a pouco mais de um ano.
Mas, o que queremos? As questões consideradas fundamentais pela humanidade nunca fazem parte das preocupações das pessoas comuns. Por quê?
O fato é que, como uma das pesquisadoras do CERN, Fabiola Gianotti, cita Dante, que no seu “Inferno”, diz: “non siete nati per vivere come bruti, ma per praticare la virtù e apprendere la conoscenza.” não nascestes para viverem como bestas, mas para praticar a virtude e aprender o conhecimento”.
Lindo, não? Para a espécie, para o gene egoísta, sem dúvida, mas e para cada um de nós? Afinal esse objetivo exige determinação, coragem e desprendimento. Estamos dispostos?
Esse é o verdadeiro dilema da humanidade: a transcendência versus a sobrevivência. Como indivíduo, tenho a minha sobrevivência como prioridade, mas como parte da humanidade, persigo obsessivamente sonhos impossíveis.
Vendo o documentário, que mostra os dramas pessoais dos pesquisadores que viveram 20, 30 e até 40 anos esperando os resultados desse experimento e, quando finalmente eles aparecem, vêem frustradas suas expectativas, é inevitável a comparação com religião.
A diferença entre os pesquisadores do CERN e os espíritas é o orçamento do "Centro" deles.
São verdadeiros Super Espíritas e a Física das Partículas (que não podem ser consideradas partículas, mas apenas 'entes' idealizados por matemáticos, cuja massa pode ser inferida de alguns experimentos altamente indiretos) é comparável a um Super Espiritismo.