Um Pragnóstico

 19/12/2022

Toda escuridão pode ser iluminada, mas...

Toda luz produz sombra e

Toda escuridão exige lucidez.

Todo som se dissipa no espaço e

Todo silêncio pede uma voz.

Todo argumento admite o contraditório e

Todo pensamento sábio tem outro que o contradiz.

A cada ação corresponde uma reação.

 

IDEAL é viver o REAL, presente e atento!

Experiência é uma palavra muito clara, é o ato de experimentar. Tem, além disso, o significado do que se acumula a partir desses atos, coisa que é essencialmente complexa, porque ao experimentar podemos adquirir conhecimento, mas também sentimentos, o que é muito mais difícil de compreender.

Normalmente a complexidade é muito difícil de explicar, mas é facilmente percebida.

No caso das experiências ou da experiência acumulada por alguém, elas afetam nosso comportamento e atitude de forma extremamente consistente, ainda que nem sempre seja fácil explicar essa relação de causa e efeito.

A partir de 2010, coincidentemente o ano em que comecei a fazer o registro de minhas experiências no DeMimPro6, passei por muitos momentos de revisão de conceitos, convicções e, claro, sentimentos.

Neste dia 31/10/2022, percebo algo novo, algo que já percebia, mas nunca com tanta intensidade, que é o sentimento extremamente constrangedor de ver muita gente no meu entorno, em uma quantidade que até dá a impressão de ser todo mundo, eufóricos com algo, que me parece evidente estar muito longe de ser uma grande conquista, no máximo pode ser considerado algum alívio por ver uma outra ameaça ser afastada.

Apesar de entender o motivo dessa dissociação entre o que eu penso e essa manifestação toda, o sentimento é de estar excluído. É como se a seleção conquistasse o hexa e eu não estivesse participando da festa.

Falando em futebol, lembro que no governo Collor houve um movimento pra torcer contra a seleção, já que se achava que isso favoreceria o governo. Eu nem cogitei de fazer isso, assim como a grande maioria do povo que preferiu impeachar o sujeito.

Em 2002 eu estava do lado dos que hoje comemoram, um momento de catarse e, devo reconhecer, muito mais positivo, porque, naquele momento a esperança (ou devo dizer a ignorância?) era muito grande e não estávamos ameaçados como hoje.

Muitos acreditam ser esta uma grande conquista (ou renascimento), ainda que outros não vejam dessa forma, entretanto é bem possível que, como eu, pouco mais de uma década atrás, estejam apenas seduzidos por essa atmosfera de vitória.

É muito esclarecedor perceber em si mesmo o que faz com que tantos embarquem em canoas furadas, sem se dar conta dos sinais de vazamento, atraídos pelo carisma e boa retórica de lideranças populistas.

ACERVO DE UM PRAGNÓSTICO

Já disse Cazuza: “Ideologia, eu quero uma pra viver!” e concluía:
“... os meus sonhos foram todos vendidos tão barato que eu nem acredito...”
“Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder...”

Essa foi a minha experiência nos últimos 50 anos, mas não lamento, afinal também somos o resultado de nossas experiências.

Foi uma construção em que eu sempre soube o caminho a percorrer, mas sem ter a menor ideia de onde iria chegar.

Afinal cheguei aqui, um Pragnóstico, pragmático em política e agnóstico em religião.

A experiência só constrói conhecimento se acompanhada de estudo sistemático e nisso eu me considero bem disciplinado, ainda que não muito esforçado. A cada momento, cada nova situação, sempre busquei me informar o máximo possível, dentro das limitações de quem precisava buscar, além de conhecimento, seu sustento e de sua família e, como a gente não quer só comida, quer comida, diversão e arte, me diverti muito também.

Sempre evitei, tanto quanto pude, duas armadilhas, achar que sabia mais do que havia estudado e achar que a intuição ou a razão disputam a primazia do entendimento. Em outras palavras, sempre que me deparava com uma dúvida, ou, principalmente, com uma certeza, ia atrás de toda informação válida sobre o tema e analisava tudo tentando equilibrar o sentimento que aquilo provocava em mim e a lógica por trás daquelas informações.

Aqui vale lembrar algo que tenho dito sempre:

As opiniões não são imutáveis, mas uma nova ideia não pode passar por cima de toda a bagagem de conhecimento anterior, temos que ser fiéis às nossas concepções e só mudá-las quando a argumentação (ainda que criada por nós mesmos, através do estudo) for muito convincente e estruturada.

Outra preocupação constante sempre foi buscar a lógica fundamental por trás de todo pensamento, por mais complexo que seja, ou o que seria a base desse pensamento, o que o motivaria e o que o justificaria. Uma referência muito boa nesse assunto é o livro “Introdução ao pensamento complexo” de Edgar Morin, onde ele diz: “Complexidade é uma palavra problema, não é uma palavra solução.”

Não acho que domino esses assuntos, inclusive admito que posso estar errado em muitas das minhas conclusões, mas acho que tenho conteúdo para sustentar uma discussão. Sem isso, não devo nem entrar num debate, o que, aliás, está se tornando cada vez mais comum entre os radicais, aqueles que tem certeza de suas convicções, discutir coisas sobre as quais não tem conhecimento.

Também não acho que sou um “maluco beleza”, mas percebo que atingi um nível de equilíbrio bom entre razão e emoção, entre o que penso e o que sinto, até porque nunca ignorei os sentimentos, eles são, em última análise o que nos provoca entusiasmo ou desânimo.

Nunca cedi ao medo ou à preguiça de buscar respostas, esses são os verdadeiros inimigos a vencer porque eles nos sequestram em crenças e convicções que em nada contribuem para nossa estabilidade psicológica, ao contrário, nos condicionam e viciam a ponto de acharmos que algo de ruim nos acontecerá se abandonarmos essas fantasias.

Nesse processo construí um acervo que, longe demais de ser completo, se constitui em uma base bem razoável para alguém que tenha como objetivo mais do que seguir o que outros pensam, mas buscar seus próprios caminhos de conhecimento, caminhos sem fim e onde as certezas se transformam em curiosidade.

Sempre busquei informações evitando qualquer preconceito, com o intuito de buscar respostas ainda que nas fontes menos atraentes para mim, como por exemplo a Bíblia, que desde adolescente achava, além de difícil de ler, muito sem sentido, mas, mesmo assim, assumi minha ignorância e fui tentar entender as mensagens ali registradas.

Passo agora esse acervo para que outros possam, não trilhar o mesmo caminho, mas desbravar os mistérios do conhecimento por sua própria bússola. Um acervo que, se não é completo, é suficiente para dar a partida nessa exploração. As fotos a seguir são dos livros e publicações que já estão devidamente organizados para essa doação.


A sequência a seguir não respeita a ordem cronológica em que os li, até porque depois de mais de quatro décadas já não me lembro dessa ordem, mas tentei colocar em uma ordem lógica que acredito facilite a construção de uma base razoável para entendimento das questões em discussão.

Começando por uma análise sobre a situação do pensamento político em uma era que já foi chamada das incertezas e algumas especulações sobre futuro.

A evolução política do mundo também foi objeto desses estudos.

Como não podia deixar de ser, minha grande curiosidade sempre foi pela nossa cultura, daí minha admiração sobre Darcy Ribeiro, que talvez seja, junto com Mário de Andrade, uma das melhores referências sobre o assunto, mas não são deles os livros a seguir, porque para concluir que eles estavam certos me custou ler todos estes:



Nos anos 80, com a criação do PT e tendo em conta minha tendência ao pensamento anarquista liberal (até li alguma coisa de  Bakunin, mas “O banqueiro anarquista”, de Fernando Pessoa, é que me deu a verdadeira dimensão dessa ideologia!), achei que ali havia uma chance de surgir algo mais parecido com política de verdade, não a briga de conchavos pelo poder que dominava o congresso e todas as instâncias de poder do nosso país.

Aqui cabe uma explicação, antes de me tornar o pragnóstico que sou tinha algumas convicções, coisas em que acreditava e discutia desde os 18 anos, uma era o liberalismo, ou seja livre iniciativa, liberdades individuais etc., por outro lado considerava que conceitos como propriedade eram ilógicos, afinal "porque um animal poderia se apoderar do que quer que seja e impedir que outros pudessem usufruir daquilo?", coisa que logo entendi que seria impraticável, pelo menos num horizonte imaginável.

Como consequência das ideias liberais me convenci que o capitalismo é a forma natural de funcionamento de uma sociedade complexa, ou seja, se adotamos o caminho do progresso científico, tecnológico e social não temos alternativa, o capitalismo não é uma ideologia, é a forma natural como essa sociedade vai organizar suas transações.

Considero o livro “A riqueza das nações” de Adam Smith, um trabalho de pesquisa e observação sobre como isso ocorre, similar ao livro “A Origem das Espécies” de Charles Darwin. Nenhum dos dois expõe uma ideologia, apenas explica as conclusões da observação isenta dos fenômenos.

Nesse livro, “A riqueza das nações”, Adam Smith salienta os problemas desse tipo de organização social, com a tendência inevitável à concentração de riqueza e crescimento das populações carentes, observando que caberia aos governos criar sistemas de compensação para minimizar esses efeitos, o que até hoje entendo que seja uma união entre os princípios liberais e os do socialismo.

Todas as teorias alternativas são construções ideológicas baseadas em um desejo muito forte de promover justiça social. O primeiro problema é serem apenas isso, construções ideológicas, já que, mesmo em sociedades primitivas e muito menos complexas do que o chamado “mundo civilizado”, nunca houve nada parecido com os sistemas propostos por essas teses, o segundo problema é que, em todas elas, a necessidade de haver geração de riqueza é dada como um fato consumado, esquecendo que ao eliminar a livre iniciativa, elimina-se o estímulo a essa geração de riqueza.

Além disso sempre envolviam a concentração de poder, inclusive quando propunham sistemas de tomada de decisão colegiados - aliás essa é a forma mais efetiva de estabelecer ditaduras baseadas em decisões “democráticas”. Meu liberalismo inato sempre teve como premissa combater toda concentração de poder, seja daqueles com quem simpatizo, seja dos que rejeito.

O PT nesse contexto representava um enigma a ser desvendado, porque tendo sido criado pelos mais renitentes socialistas, como Zé Dirceu, Genoíno, Vladimir Palmeira e outros, se apoiou totalmente nas lideranças sindicais mais fortes da época, que nem sempre tinham as mesmas convicções, além de terem se firmado por suas habilidades de negociação, não de confrontação, além de intelectuais como Sérgio Buarque de Holanda, Hélio Bicudo, que, como eu entendiam que o caminho do progresso deveria ser pela democracia, não pela revolução.

Nesse ambiente tentei buscar as informações para tentar entender toda essa barafunda.





Para mim, que até essa época (anos 80), tive como premissas a democracia, a livre iniciativa e o capitalismo, não como as melhores formas de organização social, mas as únicas possíveis, essa imersão no mundo da esquerda, totalmente nova para mim, foi ao mesmo tempo excitante e reveladora, embora tenha resultado em grande confusão.

De qualquer forma me suscitou muitas dúvidas que busquei esclarecer da melhor forma possível.


Percorri os caminhos do pensamento anarquista, que sempre me atraiu muito, mais como utopia do que ideologia, com Bakunin, socialista, com Marx e companhia, e, claro os ideólogos do PT,
incluindo aí o grande Paulo Freire.

A confrontação do que consegui obter das leituras e o que vivi dentro do ambiente político, tem participado de campanhas, planos de governo etc., foi aos poucos me dando uma certa segurança de que os radicais não tinham apoio suficiente no partido para implementar seus planos extremistas e que a liderança cada vez mais forte do fenômeno Lula, sindicalista e depois político extremamente pragmático, estava fazendo o partido de refém.

Meu apoio quase incondicional ao Lula nessa época se deveu muito à minha convicção de que ele não era de esquerda, muito menos socialista, era um cara obcecado pelo poder e suficientemente carismático para conseguir isso. Por outro lado me parecia bem intencionado e o partido tinha uma organização e uma militância que nenhum outro chegava nem perto.



Sempre busquei apoio nas bases filosóficas que sustentaram o pensamento de todas as correntes ideológicas existentes.

Muitas vezes encontrei joias de sabedoria nas fontes mais inusitadas.



AUTOSECTARISMO
Paródia de Autopsicografia de Fernando Pessoa

Todo crente é um sectário,
Desdenha tão completamente,
Que chega a achar otário,
De outra crença qualquer crente.

E os que ouvem o que prega,
No que diz creem bem,
Não a crença que ele prega,
Mas só a que eles não tem.

E assim, nas calhas de roda,
Gira, a entreter o que sente,
Esse comboio de corda
Que é nossa própria mente.

Poema que dedico a Lulistas e Bolsonaristas!

A minha opinião (complexa como eu) é que, ao não julgar e punir os excessos da ditadura, como fez a Argentina, por exemplo, criamos um monstro. Os militares se sentiram intocáveis e se acham acima dos poderes.

Pra mim, o Bolsonaro não "usou" as Forças Armadas, mas nasceu dessa convicção, de que eles são os guardiões contra a esquerda.

Por outro lado, a tal da "anistia ampla, geral e irrestrita" que os militares sempre repetem que deve valer pros dois lados, não deixa de ser característica de nossa cultura, menos radical.

O problema é que os "radicais", ainda que minoria, se sentem poderosos nesse ambiente.

Estudo e experiência me levaram a abandonar qualquer grupo político, seja qual for sua tendência, e evitar ainda mais qualquer convicção ou radicalismo.

 

Idades ou “A era que nunca foi porque já era!”

As eras da civilização foram divididas em quatro:

Era Antiga: primórdios da civilização (lembrando que a pré-história é considerada pré-civilização);

Era Medieval: também denominada "idade média", ou seja, um intervalo entre uma época de trevas no conhecimento humano e das luzes da ciência, por isso associada ao movimento do "iluminismo";

Era Moderna: tudo que veio depois;

Era Contemporânea: os dias atuais.

Como se pode observar, essas denominações são relativas, ou seja, são referentes aos dias atuais designando quanto tempo há entre hoje e os tempos que se quer designar, o que, obviamente, não explica nada.

Sendo assim proponho uma reflexão:

Com base na divisão atualmente utilizada, encontrar designações mais adequadas para as eras:

Era Antiga: Era Real

Era Medieval: Era da Ilusão

Era Moderna: Era Material

Era Contemporânea: Era Virtual

Nestas duas últimas houve uma mudança que talvez seja a mais significativa e arriscada da civilização, a mudança de foco do coletivo para o individual.

Muitos podem achar que é apenas mais uma forma de encarar a vida e vai mudar hábitos e formas de relacionamento, nada além.

Eu vejo mais do que isso!

A ciência nos libertou (?) de crenças fantasiosas e nos doutrinou para novas crenças "científicas". Digo crenças porque para a grande maioria da população humana os postulados da ciência são incompreensíveis, só são aceitos (quando o são) baseados na confiança no "sistema", ou seja a crença migrou de uma ficção além da esfera humana, para uma ficção de dentro dessa esfera, ou seja, as instituições oficiais.


Essa mesma ciência tem como postulado bem estabelecido (pelo menos até este início do século XXI) as premissas da evolução das espécies, quais sejam, os impulsos de autopreservação dos indivíduos e de preservação da espécie quando o enfoque é o coletivo, desses derivaram-se os impulsos da competição por recursos e pela reprodução e a seleção natural.

Ora, com a mudança de enfoque privilegiando o indivíduo, criou-se um desbalanceamento nessa equação.

Quais as consequências desse desequilíbrio? Difícil avaliar, mas uma já se percebe, a emergência de um sentimento de resistência a esse novo modo de encarar a vida humana, como a busca individual da felicidade e aqui cabe bem a exortação usada muito em shows de rock, talvez a maior manifestação desse individualismo crescente, "como se não houvesse amanhã"!

Nesse contexto sempre tive muita curiosidade pelo tema “religião”.

Passei por todas as fases de formação católica, frequentando regularmente a igreja até a minha adolescência. Interessante que sempre fui orientado a essa prática que meus pais não acompanhavam, os mesmos que me orientavam!?

Já adulto me dediquei a entender melhor essa religião, li muitos trechos da Bíblia, embora nunca tenha tido a paciência necessária para ler inteira, e outras publicações que um amigo “Opus Dei” me passava.

Interessante que se, por um lado, sempre li os livros que ele me mandava, por outro, quando dei para ele um livro sobre os primeiros cristãos, mostrando as práticas “socialistas” dessas sociedades primitivas, ele me devolveu dizendo: “Não li, nós temos pessoas que tem um preparo muito melhor na avaliação dessas obras e que nos indica o que podemos e o que não devemos ler.”

Passagens como essa foram me alertando sobre como pensam os convictos.

De qualquer forma continuei minha busca, li sobre judaísmo e meditação também.


Outra experiência da juventude foi com o espiritismo, que cheguei a frequentar várias vezes com minha mãe e nessa fase de busca de entendimento recorri ao mestre do assunto, Alan Kardec, além de outros.



Outro ramo do pensamento místico, como hoje classifico quase todas as religiões, que me atraiu muito a atenção foi o esoterismo.

Depois de muitas imersões, não só de leituras, mas de prática, me tornei um agnóstico, ou seja, alguém que não discute o mistério, apenas aceita que há um limite para o nosso conhecimento e além disso, há o mistério, algo que não deve ser explicado por qualquer forma de fantasia, apenas deve ser respeitado como tal.

Uma exceção em relação à minhas conclusões sobre religião é o Taoísmo, que, se eu decidisse adotar uma, seria minha escolha.

Apesar de o Taoísmo dar uma “explicação” para o mistério, é muito mais sobre como devemos encará-lo do que como ele seria de fato.



Lembrando que o caminho para se tornar um "homem de conhecimento", segundo as palavras de Don Juan, deve passar pelas etapas:
                • Vencer o MEDO
                • Vencer a CLAREZA
                • Vencer o PODER
                • Resistir à VELHICE