Fé cega, faca amolada!
Consciência clara, palavra SenSada!

04/12/2015
“Os matadores morreram”


“Lamentável”
“Vocês não estão na lista”

Meu amigo George dizia lá nos anos 90:
− O século XXI será xiita... ou não será!
Um pouco menos sarcástico, lembrava o surgimento do cristianismo no Império Romano, um movimento que, nos anos 70, chamaríamos de underground. Sub-reptício, clandestino, mas avassalador, foi conquistando cada vez mais adeptos até não só ser aceito, mas assimilado pelo establishment, devido a força de sua mensagem, sintonizada com o inconformismo generalizado, e também devido à decadência do estado romano que já dava sinais de ruptura.
Sou obrigado a concordar que hoje vivemos uma situação muito similar: black-blocs, terrorismo, Al-Qaeda e Estado Islâmico são, evidentemente, um forte indício desse fenômeno, com o inconformismo nas alturas e o enfraquecimento dos estados cada vez mais visível.



Apesar dessa perspectiva preocupante, é possível verificar um outro “EI” se impondo e encontrando um enorme espaço favorável para seu desenvolvimento:
o Empreendedorismo da !nformação.
Muitos já chamaram o nosso tempo de era da informação ou do conhecimento e é aí que acho que está a grande revolução.
O conhecimento é a nossa arma contra as armas da fé cega, entretanto o conhecimento só é eficaz se for distribuído.
A revolução em andamento também é sub-reptícia, a popularização de tecnologias como a internet e os smartphones vêm promovendo uma mudança das relações, não só sociais, mas profissionais e de oferta serviços, reduzindo o poder dos estados, cada vez mais embananados com as dificuldades de regulamentar e fiscalizar essas relações, e das corporações tradicionais, sitiadas em seus castelos pela legião crescente de consumidores cada vez mais exigentes.
São os empreendedores dessa nova ordem que estão solapando as bases do establishment, permitindo uma aproximação muito maior entre as pessoas que querem se relacionar, fazer negócios etc., eliminando intermediários e permitindo negociações individualizadas.
Não confundir com algumas ideias polêmicas como a sociedade da abundância ou o fim do capitalismo (veja artigo sobre o livro A Sociedade do Custo Marginal Zero). Talvez seja o oposto de uma sociedade da abundância, apenas uma sociedade em que a difusão do conhecimento seja mais universal.
É interessante perceber que, ainda que muito gradualmente, governos e corporações já dão sinais de estarem se rendendo a essa realidade. Aonde isso vai levar não se pode prever, mas acho que estamos na borda de uma grande mudança.
A universalização dos recursos de informação, ainda que distante, parece ser possível e, eu diria, inexorável. Esse espaço é extremamente favorável ao permanente surgimento de iniciativas individuais, dificultando a concentração de poder, que, embora vá ocorrer de alguma forma, talvez o seja com menos intensidade.
De uma coisa não tenho dúvida, estamos caminhando para um ambiente onde cada um será mais responsável pelo seu destino, menos dependente das instituições e estabelecendo relações mais diretas.
Isso pode parecer, inicialmente, uma perda da qualidade de vida, mas acredito que abrir mão de certos confortos e, principalmente, da ilusão de segurança que vivemos, não vai fazer de nós menos felizes, ao contrário, os desafios só nos estimularão cada vez mais na busca do conhecimento.

Uma vez que cada um estará defendendo o seu interesse

haverá menos hipocrisia e assim, acredito, esse ambiente favorecerá relações mais honestas e produtivas, permitindo a construção de uma sociedade um pouco mais equilibrada.

Que Alá esteja conosco!

MaisDoMesmo

Quadrilha

Delcídio armava com Cerveró
que armava com Fernando Baiano
que armava com André Esteves
que armava com Romário
que armava com Eduardo Paes
que armava com Guilherme Paes
que armava com Pedro Paulo que armava com André Esteves que armava com Aécio Neves que armava com Pérsio Arida que armava com Daniel Dantas que armava com FHC que armava com Elena Landau que armava com Eduardo Azeredo que armava com Marcos Valério que armava com Lula que armava com Dilma que armava com Delcídio que foi pilhado por Cerveró que não amava ninguém.
Paródia do poema Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade
“João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém.”


Acompanhe o raciocínio:

  1. Delcídio do Amaral foi diretor de gás da Petrobras nos anos 90, durante o governo FHC, e seu subdiretor era Nestor Cerveró.
  2. Delcídio do Amaral conheceu Fernando Baiano, acusado de ser o operador da corrupção na Petrobras, justamente no período em que exercia diretoria da Petrobras, no governo FHC.
  3. Delcídio conheceu Dilma quando ainda era filiado ao PSDB e sempre elogiou a capacidade de trabalho dela. Na ocasião, Dilma comandava a Secretaria de Energia, Minas e Comunicações do governo do Rio Grande do Sul. Delcídio e Dilma se filiaram ao PT em 2001.
  4. Na época, Delcídio do Amaral era filiado ao PSDB de FHC.
  5. André Esteves é sócio e CEO do Banco Pactual.
  6. André Esteves também é amigo pessoal e padrinho de casamento de Aécio Neves, senador pelo PSDB de FHC.
  7. Em 2013, Esteves se viu envolvido em uma polêmica relacionada ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Após o casamento com a ex-modelo Letícia Weber, em outubro daquele ano, o tucano fez sua viagem de lua de mel para Nova York. As passagens aéreas e a reserva de três noites no mundialmente famoso Waldorf Astoria, hotel cinco estrelas da metrópole norte-americana, foram pagas pelo BTG Pactual.
  8. Em julho de 2015, a revista 'Veja' publicou que Romário tinha conta não declarada na Suíça. O ex-jogador foi então a Genebra e divulgou declaração do Banco BSI que negava a existência da tal conta.
  9. Desde julho de 2014 que  o BSI pertence ao Banco BTG Pactual, de André Esteves, também preso hoje. Guilherme da Costa Paes, irmão do prefeito do Rio, é diretor do BTG Pactual.
  10. Esteves é, também, próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem costumava visitar no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, quando este esteve doente.
  11. André Esteves é sócio de Pérsio Arida no Banco Pactual e inclusive o substituiu após a prisão.
  12. Pérsio Arida também é sócio do banqueiro Daniel Dantas no Banco Opportunity.
  13. Pérsio Arida é 'economista guru' do PSDB de FHC.
  14. Pérsio Arida foi presidente do Banco Central ao longo do Governo FHC.
  15. Pérsio Arida foi marido de Elena Landau.
  16. Elena Landau foi consultora do Banco Opportunity.
  17. Elena Landau também foi "diretora de desestatização" do BNDES ao longo do governo FHC, tendo sido a executiva responsável pelas privatizações.
  18. Com financiamento do BNDES de Elena Landau, em 1997, no governo FHC, o Banco Opportunity de Pérsio Arida adquiriu a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
  19. A Cemig de Daniel Dantas é uma das financiadoras do dito Mensalão Tucano, que teria sido criado para a reeleição do então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, do PSDB de FHC.
  20. O dito Mensalão Tucano teve como operador o publicitário Marcos Valério (lembram dele?), e sabe quem está entre os acusados de ser beneficiário deste esquema de corrupção? Rá! Delcídio do Amaral.
  21. Está claro o fato óbvio de que o caso de corrupção que está sendo investigado na Lava-Jato não começou em 2003 e não se encerra na Petrobras!

As informações acima foram devidamente checadas nas seguintes fontes:
Wikipedia, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, UOL e Veja.

Análise SenSática
Gramática Profunda
20/11/2015




O medo, como primeiro e principal inimigo do conhecimento, é excelente para usarmos como base desta Análise SenSática:
A primeira coisa a ser considerada é que uma vida não analisada não merece ser vivida.
Isto posto podemos dizer que análise precisa de pensamento, ou seja, uma vida só percebida fica assim como a vida de uma ameba com órgãos sensoriais.
A causa que o SenSar sempre assumiu é a de mostrar que pensar “antes” é uma inversão terrível, é o que provoca tanta necessidade de terapias e outras drogas. O pensar vem depois pelo simples fato de que o perceber é imediato, é instantâneo e, ao tentar pensar antes, estamos apenas ignorando o sentir, tirando conclusões através do raciocínio não SenSado e nos tornando uns Invertidos (palavras do Lincoln).
Muito bem, então vamos lá, me valho de um fato recente que ocorreu com a Patrícia:
Ela me contou sobre o acidente que aconteceu semana passada, vindo de Campinas: o carro em que vinham rodou na pista e, por muito pouco, não acontecia uma tragédia.
Considerando que ela faz esse percurso mais de uma vez por semana, em esquema de transporte solidário, a preocupação (medo) se instalou. Por outro lado ela estava muito satisfeita com o esquema que eles montaram porque ela não precisava dirigir esses 100 km de ida mais 100 de volta, o que era muito cansativo, lembrando que Nilo (8 meses) e Olívia (7 anos) estão em casa e, como toda criança, exigem muita dedicação.
Quando eu disse a ela que isso era só um medo a mais, que ela não deveria mudar sua rotina por causa disso, ela respondeu com muita razão: - falar é fácil!
Aí é que entra nossa análise, vamos à Gramática Profunda:
. Sentir medo é inevitável, está na esfera do “perceber” e é muito bom reconhecê-lo e encará-lo;
. A única arma que temos contra o medo é a coragem, mas não a coragem irresponsável, a coragem calculada;
. Se deixarmos de fazer tudo que represente algum risco ou que já deu errado, acabaremos imobilizados, porque sempre haverá alguma coisa dando errado em nossas vidas;
. Viajar em uma estrada como a Bandeirantes, ainda que seja todo dia, é algo arriscado, mas perfeitamente dentro dos limites do razoável, afinal basta ver as estatísticas de acidentes, talvez seja mais perigoso andar a noite em Pinheiros do que ir até Campinas de carro;
. A partir daí podemos até usar a neurolinguística (ou outra coisa, afinal todos temos nossas estratégias para isso) para ajudar e propor alguma lógica (sofisma) que nosso medo entenda. Por exemplo:
- Sua cota de acidentes está esgotada e você se safou bem, então não precisa mais se preocupar! ou
- Esse acidente serviu de alerta, vamos ter mais cuidado! ou ainda
- Esse acidente foi para o deus dos acidentes, agora ele está satisfeito!
Esse último tópico me lembra algo que já contei pra vo6: nos anos 80, ainda com os filhos pequenos, passamos por fases muito difíceis, mercado de trabalho muito ruim, incertezas, medos etc. Me lembro que a estratégia que eu usava era pensar que, em caso de ficarmos sem recursos, poderíamos sempre ir para o meio da mata Atlântica (no Espírito Santo, por exemplo, que ainda tinha muita mata inexplorada), viver de peixes e fruta-pão, como coletores. Claro que meu lado racional não acreditava nisso, mas não era o meu cérebro que eu queria convencer, era o meu coração e, francamente? Eu acabava rindo e funcionava!
Assim podemos criar coragem e seguir em frente. Não é fácil mesmo, mas eu acho que sem algum sofrimento não conseguimos nada.
O sofrimento, o medo, a dor, fazem parte da vida e, por mais que sejamos fortes e corajosos não temos como evitá-los. Isso, por paradoxal que pareça, é o que faz a vida tão maravilhosa, sem isso a ausência de estímulo nos levaria à inanição e à morte.

Já ouvi falarem: - Não tenho medo da morte, mas do sofrimento!
Ora, então o que resta é morrer, porque viver sem sofrimento é imposível.


L i v r a i - n o s  d o  m a l  III
05/11/2015


Su duda, mi duda!

Em tempos de mar calmo e céu de brigadeiro tudo parece permanente, é só alegria, mas basta o tempo fechar, a canoa quebrar e a água chegar na bunda e voltamos a nos indignar com a realidade e buscar explicações.
Neste fatídico 2015 temos um agravante que faz com que a situação seja particularmente frustrante. Vínhamos de um período de grande otimismo, parecia que, finalmente, o gigante tinha acordado, Lula era “o cara” e, de repente, o jogo virou do vinho para a falta d’água. Incertezas e mais incertezas.
Infelizmente era previsível, afinal não existe soberania grátis, mas não é disso que eu quero falar, ao contrário, quero falar da vida de cada um de nós nesse mundo aparentemente louco.
Pois bem, começando do começo, juntei uma série de conceitos que, como está dito no título desta introdução, não são respostas, só dúvidas, mas acho que são, pelo menos, dúvidas pertinentes e consistentes.
Partindo das coisas mais triviais, aparentemente óbvias e sem importância, mas que são a base de tudo, e avançando…
“ao infinito e além”(*)

(*) Buzz Lightyear


Quero pão se não tiver!
Ouvindo a Maria Bethânia cantando “De papo pro ar” pintou uma certa nostalgia, afinal a vida poderia ser tão simples, pra que complicar tanto?








Aí lembrei do Sérgio Reis cantando “Triste berrante”.




Pois é: uns curtindo a vida no rio de Jereré, outros lamentando a vida “perdida” encoberta pelo progresso.
A primeira impressão foi automática: Por quê será que destruímos tudo que é bom em nome de um progresso que, em vez de melhorar, piora nossa vida?
Parece que o rio de Jereré não existe mais, se é que existiu algum dia, e que aquele tempo bom não volta mais.
Claro, podemos apontar uma dúzia de exemplos de mudanças em nosso modo de vida que parecem, de fato, negativas. O distanciamento da natureza, aparentemente, é uma delas, a falta de segurança, a falta de espaço, também podem ser assim classificadas.
Mas, será que nossa experiência é tão pior do que era? Afinal, se de um lado temos algumas “perdas”, de outro temos muito mais possibilidades, como viajar, manter contato com pessoas que estão longe, ter o conforto de recursos tecnológicos diversos etc. As mudanças são uma constante no mundo real, tudo está em contínua transformação. Se isso é uma característica intrínseca da vida por que incomoda tanto?
Deixando a mente vagar à vontade, me dei conta de um fato embaraçoso: se os bons tempos voltassem, estaríamos reclamando do mesmo jeito! Acharíamos todos os defeitos dessas coisas tão maravilhosas que povoam nossas lembranças.
O fato é que muitas daquelas coisas ‘boas’ resistiram à sanha “do novo” - as festas juninas, as rodas de viola, as pescarias, os jogos de baralho, as fogueiras e tantas outras coisas continuam aí pra quem quiser - entretanto sempre tem alguém reclamando.
Ao fim e ao cabo: queremos pão se não tiver!
Me socorra, pensamento! Afinal qualquer aparente incoerência na observação da realidade só pode ser falta de compreensão do fenômeno.

Sutilezas do óbvio!




A quem diga que a consciência - com a qual estou escrevendo e você está lendo (se houver alguém) - não apita nada nas nossas decisões, o seu papel se limita a nos ajudar (ou atrapalhar) no treino.
Pelo que vi e senti ao longo da vida, observando as minhas experiências e as atitudes dos outros, cheguei à conclusão que é isso mesmo, daí a célebre frase: − Faça o que eu digo, não faça o que eu faço!
Se a consciência participa só do treino, que importância ela tem para nós? Treino é treino, jogo é jogo - dirão alguns. Concordo, mas é no treino que o jogo se sustenta.
Toquinho, o violonista, cantor, compositor e corintiano ilustre, em uma entrevista, quando perguntado sobre a forma descontraída com que tocava em shows, comentou: − Quando faço uma apresentação não me preocupo com nada, apenas curto o momento, talvez até mais do que a plateia, é uma grande diversão, mas, para cada hora de performance, ensaio pesado por pelo menos 12 horas. Quando estou ensaiando ou estudando, a concentração tem que ser total, assim como a disciplina. É isso que permite uma atuação extremamente prazerosa no palco.
Sempre achei que, ao analisar minhas experiências (como venho fazendo neste blog) ou planejar uma ação futura, estava de fato me preparando (treinando) para o jogo da vida.
Não se pode negar que, por vezes, ocorrem situações ou temos notícia de algo que nos incomoda, algo que não parece justo, ou não soa muito lógico e para o qual não vemos solução. Por sorte ou sabedoria, na maioria das vezes, deixamos pra lá, tocamos a vida e pronto.
Uma atitude absolutamente normal, embora a gente saiba que o “normal”, neste mundo em que vivemos, está longe de ser o desejável.
De uma certa forma a tentação de sucumbir(*) às pressões da vida, da sociedade, dos “costumes” e, principalmente, da vaidade(**) é muito forte, mas quando tive a pachorra de pensar um pouco, acabou surgindo alguma luz - e nem doeu!
As “verdades” que construímos conscientemente, nem sempre tem correspondência no mundo real, mas quando usamos essa mesma consciência, evitando hipocrisias ou ideias preconcebidas, dispostos à autocrítica e à análise fria do que nos incomoda, as coisas vão ficando mais claras. Isso sempre me deu uma sensação de liberdade diferente, mais honesta e, consequentemente, de entusiasmo pela vida.
Para mim, a disposição à autocrítica é fundamental pelo simples fato de que, ainda que o problema possa ter origem ‘fora’, a solução só pode vir de ‘dentro’. Em outras palavras: se estou incomodado tenho que mudar!
É bom lembrar que sempre queremos mais do que temos. É o gene colocando cada um de nós na competição.
Na prática curtimos os bons momentos de acordo com a índole de cada um, de forma mais contida ou mais efusiva, aproveitando tudo que for possível, mas com os ônus próprios da experiência real. O prazer fica registrado enquanto os possíveis “desconfortos” ou “sacrifícios” necessários acabam sendo esquecidos. Quando recordamos essas experiências projetamos nossos desejos nas memórias e construímos cenas ideais, sem os ‘probleminhas’ da experiência real.
Assim construímos nossas memórias que nada mais são do que imaginação com álibi(***). Pior quando temos saudades do que nunca vivemos, aí é loucura pura.
Enganar alguém é do jogo, impossível viver em sociedade sem ter enganado alguém, ainda que tenha sido apenas uma mentirinha inocente ou caridosa. Falta grave é enganar a si mesmo, cometer o auto-engano, aí não tem desculpa.
No aqui e agora estamos percebendo o bom e o ruim de cada experiência, em outras palavras, estamos pagando o preço do prazer que eventualmente estejamos gozando, aí a comparação com os prazeres ideais fica negativa, claro!
Estamos frustrados com o que temos porque isso é a vida: querer sempre mais! Achar que o que tínhamos antes era melhor é que é meio louco.
Eu prefiro, entendendo esse mecanismo mental, encarar de frente o que me incomoda e nunca levar tão a sério minhas frustrações, saber rir delas e, é claro, de mim mesmo.

(*) Lembrando que o súcubo tenta de todas as formas levar outros com ele. (**) Afinal é o pecado favorito do diabo e se camufla em muitos sentimentos “nobres”.
(***) Noventa porcento do que escrevo é invenção. Só dez porcento é mentira.
Manoel de Barros

O verdadeiro iceberg
Para mim isso é apenas a ponta do iceberg. Temo que nosso engano seja bem maior.
A vida, esse fenômeno tão difícil de explicar, mas que todos entendem, é extremamente dedicada à autopreservação, entretanto o progresso como o entendemos - não a simples evolução natural - esse só ocorre a partir do pensamento. Essa é a grande diferença entre nossa espécie e as demais.
Mas, o que isto tem a ver com nossa tese sobre a insatisfação crônica vivida por muitos de nós?
Vamos começar com um conceito desenvolvido por um grande amigo e colega de trabalho, o Chicão.
Trata-se da Parábola de Muccillo (seu sobrenome):

Parábola(*) de Muccillo



Achei que a representação de uma montanha russa seria interessante para demonstrar a ideia.

Trata-se de uma análise da relação entre progresso e liberdade.
Quanto mais alto nosso carrinho chegar, de qualquer lado da pista, maior o progresso alcançado(**).
O ponto inferior da parábola (pista) é a transição entre liberdade e repressão. O lado esquerdo é o da repressão e o direito da liberdade (irônico, não?)(***).
Percebemos que para a esquerda temos uma ajuda, representada pela grua, que não só nos auxilia na subida, mas ainda nos dá segurança. O lado preferido pela maioria, devido ao medo.
Do lado direito vamos por nosso próprio esforço e ainda temos uma âncora que torna a tarefa de progredir muito mais árdua e muito mais arriscada, exigindo muita coragem.


(*) Lembrando que aqui parábola é a forma geométrica, não o texto alegórico, embora possa ser.

(**) Aqui, progresso é tudo aquilo que seja fruto do pensamento humano, que represente alterações no meio em que vivemos ou em nosso modo de vida e, fundamental, que seja considerado como uma melhoria. Uma determinada forma de progresso, por exemplo o padrão americano, pode não ser considerado progresso por todos, mas, com certeza, todos tem a sua noção do que é progresso e concordam que isso - querer progredir - faz parte da natureza humana e, pelo menos a partir das observações que podemos fazer, de nenhuma outra espécie conhecida.
(***) Juro que não foi intencional, o direito e esquerdo saíram assim porque tendemos, ao construir um gráfico, a desenhar os valores positivos da esquerda para a direita.

Entretanto, do lado esquerdo temos uma limitação clara ao progresso, ainda que imaginemos a pista continuando indefinidamente. Essa limitação está representada pela altura da grua, que impede continuar a ascensão. Já do lado direito “o céu é o limite”, mas haja fôlego já que está por nossa conta levar o peso dessa decisão.
Explico: quando temos um sistema rigidamente controlado, como um governo ditatorial, ainda que bem intencionado, o progresso ocorre, mas, como nos ecossistemas, a excessiva manipulação acaba provocando desequilíbrios, desestabilizando o processo que acaba por fracassar.
Isso quando não ocorre uma ruptura, como uma revolução, em que o povo se rebela contra o poder instalado e rompe o processo a força. Essas revoluções se dão pela ânsia natural por liberdade, já que ninguém aceita viver permanentemente sob repressão.
Podemos dizer que é a diferença entre trabalhar na Amazon (clique para seguir o link) e no Google (clique para seguir o link).
Pois muito bem, isto posto podemos transportar esse conceito para algo mais abrangente. A Parábola de Muccillo pode ser utilizada para entender o comportamento da sociedade humana, mas também de cada indivíduo.
Assim o lado esquerdo da pista representaria um comportamento mais submisso às exigências do corpo, aos prazeres, à vaidade, à segurança, enfim, conformado a um tipo de felicidade “morninha”, a personalidade Cão.


O lado direito representaria o comportamento mais livre, rebelde, inventivo, empreendedor, disposto a qualquer sacrifício por um sonho, a personalidade Gato.


Normalmente, os indivíduos do primeiro tipo são mais propensos àquela insatisfação crônica de que falávamos. São pessoas que têm uma limitação maior ao progresso, achando-se eternas vítimas, para quem o sistema sempre será injusto, suas qualidades nunca são plenamente reconhecidas e por aí afora.
O fato de haver indivíduos com mais poder que outros e desses indivíduos acabarem dominando os demais é natural em qualquer espécie e a nossa não escapa dessa condição(*).
Ocorre que nas outras espécies os indivíduos dominadores são os mais aptos, entretanto, entre nós, ocorre uma “anomalia” que interfere nessa lógica, dando a alguns indivíduos a possibilidade de enganar os demais sem necessariamente serem os mais aptos, ao menos pelos padrões de avaliação naturais.
Com nosso lobo frontal maior temos uma capacidade cognitiva aumentada, mas também temos a habilidade de mentir melhor(**).
Podemos nos valer de artifícios para atingir nossos objetivos driblando nossas limitações. Essa habilidade, aparentemente, subverte a ordem natural das estruturas de poder em nossa sociedade.


(*) A dominação ocorrerá seja qual for o “tipo” de progresso considerado: pela força, o mais comum, cultural ou religiosa, não tão raro e por aí a fora. Uns condicionados por “Missão & Valores”, outros encarando “Tesão & Taras” de frente.
(**) Interessante notar que, à medida que um animal é mais dotado de “inteligência”, mais propenso a enganar seus pares para ter algum benefício.

Democracia
O poder do carisma

Existe uma diversidade muito grande de culturas e cada uma delas tem a sua própria estrutura social, algumas aparentemente mais eficientes, mais justas, outras mais empreendedoras. Já falamos do que Joseph Campbell chamou de “brancos” e “vermelhos”, uns representando os empreendedores e os outros os conservadores.
Já falamos dos seus eternos conflitos, da dominação que os “brancos” exercem sobre os demais etc.
Em nossa cultura ocidental, e muito da oriental moderna, somos predominantemente empreendedores (enquanto sociedade, não com respeito à totalidade dos indivíduos) e, por algum motivo, excluímos a possibilidade de diálogo com os conservadores. A coisa funciona mais ou menos assim: podemos fazer algumas concessões desde que não haja desvio da rota que determinamos, ou seja, democracia, capitalismo e industrialismo.
As culturas conservadoras(*) não são estruturadas sobre essas mesmas premissas, sendo menos hierarquizadas, a divisão de tarefas não exige tanta especialização e o instituto da propriedade privada é praticamente inexistente.

(*) Conservador aqui é usado para designar os povos que tem como essência de sua cultura a integração e conservação do meio em que vivem, como no caso dos povos selvagens.


Vamos nos ater apenas à nossa realidade mais próxima e deixar para outra discussão esse conflito cultural.
Nossa cultura empreendedora sempre prometeu a solução dos grandes problemas da humanidade, no entanto, por mais que tentemos acertar, fica a forte impressão de que estamos falhando, afinal a pobreza, os grupos radicais, as migrações de desesperados, a devastação da natureza, as crises cíclicas, estão aí dando testemunho de que as promessas de 50 anos atrás não passaram disso: promessas.
Nesse contexto, o aspecto mais sensível é a forma como são tomadas as macro-decisões. Temos a convicção de que a democracia é a única forma de chegar aos melhores resultados, mas essa mesma democracia leva ao poder pessoas que mais frustram as expectativas da maioria do que ajudam a resolver nossos problemas.
O que há de errado com a democracia? Por quê chegam ao poder sempre os enviesados, será que escolhemos errado ou os candidatos se transformam depois de eleitos?
Vamos lá! Se acreditarmos que a maioria da população é submissa (personalidade Cão) e pouco ou nada esclarecida, qual é a principal qualidade que um indivíduo obcecado pelo poder (ou pelo dinheiro, que é uma forma tacanha de entender o poder) precisa ter para ser candidato a um cargo público?
Na minha opinião, é o carisma. Carisma que consegue convencer apoiadores, financiadores e, princípio e fim, as massas (claro que a capacidade de barganhar é importante, mas sem o carisma de nada vale).
Os Gatos, neste mundo em que a maioria é dominada pelo medo, encontram um ambiente favorável ao exercício de sua liberdade. Muitos continuarão sendo apenas livres, mas alguns, os indivíduos que, de forma inata ou por uma força de vontade maior, desenvolvem melhor o seu carisma, acabam tendo mais chances no jogo democrático.
Com sua natureza avessa às regras tendem a usar esse poder em prol de sua própria liberdade e, uma vez que não se deixam dominar por quaisquer escrúpulos, seu poder será limitado apenas pela sua habilidade de negociação e enfrentamento.
Já a personalidade Cão, que aqui comparo descaradamente com os súcubos(*) de que falei antes, é limitada exatamente em função de sua enorme preocupação com a segurança, por isso mesmo é gregária(**) por excelência, precisa de um grupo de apoio e, para ser aceito, desenvolve algum tipo de carisma, que, ainda que não se explique, é uma característica que consegue confundir a percepção de outros “cães”, que perdem a capacidade de avaliar criticamente, adotando uma postura de admiração incondicional do carismático.

(*) Talvez venha daí a enorme afinidade que temos com esses animais. -
(Apenas para apaziguar os ânimos por ventura mais exaltados, devo dizer que minhas colocações são propositalmente extremas, apenas para dar mais ênfase às ideias. Acho que todos nós temos um pouco de cão e um pouco de gato, embora cada um tenha uma tendência predominante. Além disso, para nós, espécie humana, essa dualidade é natural e muito útil.)
(**) Interessante a comparação porque os cães são de fato animais que vivem em bando enquanto os gatos são tipicamente solitários.


Na campanha do Paulo Maluf à prefeitura de São Paulo, fizemos, eu e alguns amigos, uma pesquisa informal em uma feira da Zona Leste. Uma senhora que interpelamos disse de imediato que era eleitora fiel do Maluf. Perguntamos então: − Com os vários processos e a enormidade de evidências de roubalheira, mesmo assim, a senhora confia no Maluf? A resposta foi desconcertante: − Não precisa confiar, basta gostar!
Muito bem, a democracia se baseia, fundamentalmente, nisso, no carisma. A escolha da maioria não leva ao poder os melhores indivíduos, os mais bem intencionados, os mais capazes, os mais altruístas e sim os mais carismáticos e cujo processo de promoção seja o mais eficiente.
Acrescente-se que é o poder econômico que “escolhe” os candidatos, ou seja, quando votamos estamos apenas escolhendo entre os “escolhidos”.
Abraham Lincoln disse: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”
Essa frase, apesar de verdadeira, se mostra falaciosa, uma vez que basta enganar a maioria por algum tempo para ter sucesso na democracia.
Infelizmente, estamos depurando esses mecanismos cada vez mais: a propaganda possibilita que a fome de poder dos maiores crápulas da sociedade e os interesses de poucos carismáticos mestres da comunicação, prevaleçam cada vez mais sobre as necessidades da maioria calada, mal informada e ingênua.
O fato é que o caminho tomado pela nossa civilização foi o caminho fácil da delegação, não de tarefas, mas de responsabilidades. Acreditamos que podemos delegar nossas responsabilidades com segurança, saúde, educação, transporte etc. para outros, como se pertencessem a sistemas supra-humanos, capazes de tudo.
Vivemos algo que, em seus fundamentos, não difere em nada do feudalismo da idade média. O modus operandi é outro, sem dúvida, mas em essência temos a maioria abdicando de sua liberdade para submeter-se aos ditames dos poderosos e suas estruturas.
Lembro que há vários anos eu comentava: não conseguimos fazer as leis vigentes serem aplicadas a nosso favor enquanto alguns conseguem alterá-las a seu favor!
Se isso é um problema universal, inerente à formação de nossa civilização, para nós brasileiros é particularmente cruel.

Vale lembrar a velha tese de “Tesão & Taras”!



Sempre temos a impressão de que somos impotentes perante as injustiças do mundo -
meus heróis morreram de overdose e os meus inimigos estão no poder. Por quê será? Estamos agindo errado ou nossa percepção é que nos engana?
Sim e sim!
Seja porque estamos em um estágio evolutivo imaturo, em que ainda não conseguimos atingir um padrão de sociedade saudável, seja porque nossa sina é essa mesmo, viver em eterno conflito, é claro que estamos agindo errado. De um modo geral, as crises que percebemos seriam evitáveis com uma atitude mais inteligente.
Entretanto nossa percepção do que ocorre também é muito distorcida por nossas crenças e emoções, dificultando, inclusive, a concepção e adoção de sistemas mais eficientes de sociedade.
Vale a pena continuar esperando uma era de justiça e harmonia ou estamos redondamente enganados quanto a essa perspectiva?
Lamento dizer, embora com alguma satisfação(?!), que estamos redonda, quadrada e poligonalmente errados ao esperar que nossa sociedade venha a ser (ou parecer) melhor do que é, com base em “Missão & Valores”!
O fato é que inventamos esses conceitos: “Missão & Valores”, apenas para mascarar o medo que sentimos de não sermos suficientemente aptos para a vida em sociedade.
E como esses conceitos complicaram a vida! Pior: complicaram, não acrescentaram nada que prestasse!
Aposto que a proporção de poderosos por dominados continua a mesma desde Átila, o huno. Por quê?
Não se empala mais gente viva (pelo menos não com a mesma frequência), vilas não são mais devastadas por bandos de selvagens (talvez com alguma frequência).
Talvez a grande diferença é que séculos atrás eram os Gatos que dominavam, tinham menos escrúpulos, hoje estamos sendo dominados cada vez mais pelos Cães, que usam outras formas de dominação, principalmente a econômica, utilizadas com o mesmo objetivo de sempre e com mais eficiência.
Religiões, partidos políticos, esquerda, direita, agremiações profissionais, corporações(*) e tantos outros núcleos de apoio mútuo, foram criados para dar sustentação a teses absolutamente desprovidas de bases coerentes, mas que, em função do poder do medo difundido entre os participantes do grupo(**), exercem uma influência decisiva em nosso modo de vida. O pretexto sempre foi tirar do poderoso sua força e entregá-la ao povo oprimido. O motivo real era e ainda é concentrar o poder na mão do explorador.


(*) É bom lembrar que, não raro, esses grupos são criados por alguém inescrupuloso em busca de poder.
(**) Já falamos disso quando comentei sobre os religiosos (Livrai-nos do mal II)

O Discurso sobre a Servidão Voluntária - Etienne de La Boétie, de 1571 (clique para acessar o link), trata dessa característica humana. Alguns trechos:




























O natural, aquilo atende às necessidades do indivíduo e da espécie, bem como do ecossistema como um todo, que pode ser traduzido pela lei do mais apto, foi sufocado pelo artificial, pelas ideias de justiça e caridade, criadas em função do medo que cada um de nós tem - desde a expulsão do paraíso - de não ser o mais apto.
E aí? Sentamos na sarjeta e choramos?
Não é por aí! Uma vez que encaremos a realidade como ela é, podemos nos preparar de forma mais adequada.
Imaginar a realidade como a desejamos não faz dessa realidade algo melhor, imaginá-la muito pior do que é também não ajuda. Nenhuma dessas opções aumenta nossa capacidade de sobrevivência, ao contrário: nos deixa completamente vulneráveis no enfrentamento dos problemas que se apresentarão, exatamente por não entendermos corretamente o que está acontecendo.
Acredito que já podemos elaborar um pouco mais os conceitos, que precisamos cada vez menos de “tábuas da lei” e mais de consciência.
Não posso dizer que a minha forma de ver a realidade seja a mais correta, nem acredito que todos verão a realidade da mesma forma, apenas tento ser fiel aos meus conhecimentos e encarar de frente essa discussão, construindo o meu próprio modelo de mundo em uma estrutura coerente e traçando a melhor estratégia para a minha aventura, evitando as fórmulas que tentaram me impor, como: “retidão”, “honestidade”, “trabalho”, “moral”, “altruísmo”, “desapego”, “crenças” etc., todas filhotes de Missão & Valores.
Vejamos, por exemplo, a ideia de caridade:
O progresso tecnológico e econômico gera pobreza pelo simples fato de que alguns são mais aptos que outros e têm mais sucesso, assim é sempre uma minoria que consegue se apropriar da maior parte dos recursos. É um fenômeno que já abordamos: o medo levando a maioria (os súcubos de que sempre falo) a desistir de seus sonhos. Além disso é um processo retro-alimentado porque os menos favorecidos, percebendo que a proporção entre eles e os que se dão bem é acachapante, são fortemente desestimulados, o que reforça ainda mais o medo.
Daí alguém propôs: temos que ajudar os menos favorecidos, temos que fazer caridade. Ideia baseada na pretensa nobreza do ser humano. Ocorre que a consciência não progrediu da mesma forma que a tecnologia - se é que progrediu alguma coisa.
Sendo assim fica por conta da boa vontade de cada um e, sabemos há muito tempo, essa vontade é extremamente viciada - voltamos à matemática dedicada, se gastarmos o que precisamos e guardarmos ou doarmos o que sobrar, nunca vai sobrar nada! Resultado, a caridade nunca será suficiente para resolver essa equação! A caridade acaba por servir apenas para aliviar a “consciência” de quem a pratica.
Ocorre que a concentração de renda gerada por esse fenômeno acaba por solapar as bases da economia, destruindo a confiança dos investidores e acabando com o espaço favorável necessário ao progresso.
Embora não seja o objetivo deste artigo, podemos pensar em alternativas mais racionais de enfrentamento desse problema. Embora a desvantagem dos menos aptos sempre vá existir, é preciso apoiar os grupos que estejam abaixo do mínimo que permita a esses indivíduos se considerarem incluídos e serem capazes de reagir.
É por isso que políticas de distribuição de renda, como Imposto Negativo ou Bolsa Família, desde que condicionadas a políticas de saúde e de educação, são necessárias, mas precisam ser quantificadas levando em conta a disparidade de renda, de forma a atenuar essa diferença de forma efetiva. Além disso precisam ser aplicadas aos grupos realmente vulneráveis, abaixo da capacidade de reação, e ter caráter temporário, apenas enquanto o indivíduo não atingir uma condição em que seja capaz de voltar à competição.
Essa é uma forma de doar antes de gastar.
Se houver um nível mínimo de confiança, esse tipo de mecanismo ajudará os menos favorecidos, mas não apenas eles, ao contrário, vai gerar sustentação à atividade econômica e, consequentemente, a todos os indivíduos da sociedade e, principalmente, criará mais espaço favorável ao desenvolvimento da confiança para que cada um seja motivado a avançar: pobres e ricos.

Temos então uma inversão de conceitos: faço o bem por interesse próprio, algo mais adequado às nossas características como seres humanos. Em um ambiente mais honesto podemos resgatar muitos dos que haviam desistido, não de forma direta, mas apenas pela maior oferta de oportunidades e a confiança de que o esforço, a competência e a persistência representarão a melhor chance de sucesso.

A lei do mais apto não é, obviamente, a lei do mais forte, nem podemos relegar a consciência a algo sem valor, só porque não participa diretamente de nossas decisões.

Uma sociedade e, consequentemente, seus indivíduos podem viver em razoável harmonia se cultivarem a confiança, não a confiança cega, mas a confiança responsável, para isso é fundamental que cada um assuma suas responsabilidades conscientemente.
Podemos encarar os desafios da adaptação com todo nosso potencial, físico, intelectual, psicológico, afetivo etc. Ser “correto” e andar na linha é sinônimo de ser bem-intencionado, com o resultado conhecido: de bem-intencionados o inferno está cheio!
Basta agir lembrando sempre que “O que fazemos na vida ecoa por toda a eternidade!”, como disse alguém em algum filme e, completo eu, “... e, como um bumerangue, volta pra você!”. Isso reflete as modernas teorias do caos e da interdependência de tudo neste nosso mundo.
O bem comum emergirá sem a necessidade de tanto preceitos morais, regras e condicionamentos(*).

Nobreza não se põe à mesa!

Não podemos esquecer uma qualidade que também nos seduz: A Nobreza. Nobreza no sentido nobre da palavra, quero dizer, a necessidade que temos de ser altruístas, justos, acima das fraquezas humanas. Pois essa é a grande armadilha: não podemos esquecer que somos humanos e encarar o fato de que nem sempre seremos tão nobres.


A vaidade pode nos iludir (olha aí o auto-engano) distorcendo a imagem que fazemos de nós mesmos, como o vaidoso do
Pequeno Príncipe.
Seja o bufão, que se comove com a adulação recebida, ou o pobre-diabo, que se mortifica ao ver alguém ser admirado, ambos, tão diferentes personalidades, sofrem do mesmo mal que lhes entorpece a capacidade de fazer a única coisa que realmente importa: aprender!
Os Egolander(**) são aqueles que vão desde os que se acham melhores do que todos até os que, simplesmente, acreditam em azar ou sorte, que não deixam de ser invenções da vaidade - como se as forças do universo nos considerassem tão especiais a ponto de se distorcer a favor ou contra nós.

(*) É o meu velho ideal anarquista falando!
(**) Personagem do Lincoln.

Existem os Egolander tipo “Cão”: − Sou tão humilde, tão modesto! Me dou tão bem com as pessoas simples, mesmo fazendo parte de uma elite muito mais privilegiada. Me comovo profundamente com isso! Deus é tão bom pra mim! Não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho!
  • O pior é que… !
  • Não dá!
  • Não consigo!
  • Vai chover!
  • Com esse solão?”
- são algumas das frases prontas desse pessoal.
Existem também os Egolander tipo “Gato”: − Eu sou mais eu! Quem gosta de pobre é marmita! Tô me lixando. Sorte é pra quem pode! Se quero uma coisa vou atrás! As pessoas me adoram e eu “vô pra galera”, é só alegria!
  • Deixa comigo!
  • Não deu, mas agora vai ser diferente!
  • Se não fossem esses imbecis!
  • Já fiz muito por esses mal-agradecidos!
- é o que falam com frequência.
Ambos os casos, apesar de parecerem opostos, são sintomas de uma só coisa: insegurança! E, justamente por isso, nunca são admitidos: se você tentar aconselhar alguém sobre isso vai trombar com uma baita reação.
O auto-engano - do qual ninguém está livre, pelos motivos expostos até agora - é sutil, de tal forma que vemos muitas pessoas se dizendo contra o preconceito e esbravejando discriminação, alardeando desprendimento e vomitando autopromoção, jurando não ser supersticioso e usando amuletos, pregando amor e distilando ódio etc. etc. É algo que merece toda atenção.
Acho preferível admitir que tenho preconceito, egoísmo, medo, ódio, vaidade e, sabendo disso, administrar minhas atitudes, do que agir crente que sou imune a tudo isso e não conseguir interpretar bem os sentimentos. É aí que o auto-engano bate forte, tentando justificar com alguma causa externa um sentimento que tem origem nos meus próprios defeitos.

Carapuça para que te quero?

Eu resolvi experimentar todas as carapuças que apareceram na minha frente, afinal só assim eu podia saber se elas me serviriam. Aí, sempre que me serviam eu me lembrava do dilema Gabriela/Raul:
Eu nasci assim, eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
A gente constrói, a partir da vaidade e do medo, uma autoimagem que pode ser muito diferente do que somos. Um exercício de autocrítica às vezes é salutar, mas é preciso tomar a decisão de mudar, caso contrário continuaremos no auto-engano.

O AR do espelho

Minha vó dizia que, quando tinha relâmpago, a gente tinha que virar os espelhos pra parede, porque se você olhasse para o espelho na hora do clarão, vinha um AR que entortava a cara da gente.
Hoje percebo que esse AR existe mesmo e não é só em dia de trovão. Na verdade não é um AR, são dois:
O primeiro é o AR - Auto Reflexão.
As atitudes e comportamentos que mais nos irritam (nos outros) são exatamente aquelas que representam nossos piores defeitos (obviamente não reconhecidos).
Ao observar quais são as atitudes que me incomodam (nos outros) - e aqui não se trata de caráter, idoneidade, nada disso, apenas atitudes como ser metódico, vaidoso, petulante, impertinente, hipocondríaco, paranoico, egoísta, invejoso etc. - e refletir honestamente sobre as minhas atitudes em resposta a situações semelhantes, tenho um farto material de aprendizado sobre mim mesmo.
A última característica citada, a inveja, remete ao segundo AR - Anti Reflexo, quando vejo nos outros o que gostaria de ver em mim, uma InVeja: menosprezo pelas conquistas de alguém, desejo de algo que não conseguimos etc.
Quem disser que não sente ou sentiu isso em vários momentos da vida, desculpe, mas está mentindo. O problema não é esse, como eu disse só anjos não sentem essas coisas, o problema é que sem os dois AR, ou seja, sem um exercício honesto de reflexão, arrumamos as justificativas mais estúpidas e, não raro, injustas para esses sentimentos.
Infelizmente tenho que reconhecer que fui seduzido durante muitas décadas pelos ideais da esquerda e seu maniqueísmo, sua nobreza altamente vaidosa. Hoje entendo claramente que, ainda que os ditos ideais - intimamente ligados a Missão &Valores - sejam “nobres”, a motivação não passa de vaidade, da necessidade de ser melhor que os demais, ainda que não os mais aptos.
Muitas vezes o medo e a insegurança, me induziram a acreditar, como uma tábua de salvação, que teríamos mais chance se o sistema fosse diferente - e aqui aprendi que devo ter muito cuidado ao achar que estava pensando no “outro” - quando, na verdade, estava próximo de cair na armadilha da vaidade.
Não fosse assim todos os problemas se resolveriam com a esquerda no poder, entretanto os problemas sempre se mostram mais complicados quando a tarefa de resolvê-los se torna nossa responsabilidade.
Aprendi que não se pode evitar a vaidade ou o medo, mas acredito que, assumindo nossas intenções com coragem e, ao mesmo tempo, não levando tão a sério nossas frustrações, podemos buscar formas de sociedade mais liberais e mais estruturadas sob o ponto de vista do respeito mútuo e da confiança, promovendo a evolução da consciência e melhorando a qualidade da nossa vida em comum.
Aprendi, principalmente, que devemos evitar teses esotéricas, sejam religiosas, políticas ou morais que mascarem a realidade “real”. Vamos encarar de frente nosso tesão para melhor administrar nossas taras, percebendo sempre que missões e valores são “absolutamente relativos”, podendo ser adaptados aos nossos objetivos.




Acreditamos, como pessoas “esclarecidas”, que teorias da conspiração seriam impossíveis em um estado de liberdade de imprensa e de opinião.
Observo apenas que é mais comum do que se imagina não haver ninguém com disposição para dizer que “o rei está nu”.
Vejam, por exemplo, a situação atual do governo de São Paulo, em que as evidências de promiscuidade com o PCC são notórias, inclusive com o Secretário de Segurança envolvido e que, nem políticos, nem imprensa se mostram dispostos a esclarecer. Veja, por exemplo, esta matéria: Armados, delegados e PMs trocam provocações na Assembleia de SP - 10/10/2015. Como um Secretário de Segurança e um Governador aceitam esse tipo de atitude de seus “subordinados”? Por quê Deputados, Promotores, Juízes etc. se calam a respeito? A não ser que esses “subordinados” respondam a outro poder.
O mesmo poderíamos dizer do governo federal, do judiciário, dos partidos políticos e mesmo das grandes corporações. Todos bem quietinhos, esperando que as investigações cheguem ao fim, que alguns poucos sejam sacrificados - perdas de combate - e a vida siga em frente. Seja por desejarmos demais que tudo não passe de um pesadelo, seja porque todos estão envolvidos!
Se alguém continua achando que isso é paranoia lembro alguns fenômenos peculiares de nossa sociedade: a eterna leniência com os bicheiros, a permissividade com relação à gigantesca frota de carros irregulares em São Paulo, o absoluto descaso com a imensa quantidade de táxis clandestinos no Rio, a ausência de resultados das investigações das corregedorias de polícia sobre atividades de grupos de extermínio, o silêncio das autoridades sobre o poder de lideranças do crime nos presídios, dentro e fora deles e assim por diante.
Isso ocorre em relação aos poderes constituídos e também àqueles consagrados, ainda que não oficias, como a imprensa, as grandes corporações etc.
Que lhes parece? Vivemos em um estado de direito?
Parece que não entendemos A Regra do Jogo, continuamos insistindo em conceitos que, ainda que extremamente desejáveis, só funcionarão em uma sociedade de anjos. A impressão de que o “submundo” é quem está de fato no comando é cada vez mais forte.
Não se engane, somos falíveis e corruptíveis, por isso o enfoque tem que ser diferente.
Voltando: a consciência não participa de nossas decisões, por isso somos tão desenvolvidos em termos de consciência e continuamos os mesmos animais em nosso comportamento. Isso, de certa forma, explica um fato que sempre me incomodou: a filosofia já esclareceu a maioria dos nossos dramas e nós continuamos ignorantes - e eu falo dos que conhecem filosofia.
Em primeiro lugar não usamos a consciência como ela deve ser usada, para o treino! Preferimos falar de amenidades do que discutir, ainda que seja de forma leve e bem humorada, os assuntos que realmente vão influenciar nossas atitudes, preferimos falar o que “pega bem”, ainda que seja um discurso contrário ao que pensamos. Claro que as amenidades, a conversa de botequim, o futebol, tudo isso faz parte da convivência, mas tem que haver um espaço para a discussão um pouco mais séria, um pouco mais madura.
Em segundo lugar continuamos apostando na consciência e achamos que tudo o que fazemos está perfeitamente de acordo com a forma como pensamos, os “valores” em que acreditamos. Esse é, na minha opinião, nossa maior falha de autocrítica. Aqui é que o Lincoln, com o SenSar, diz a que veio!
A verdade é que os Gatos nunca pensaram em Missão & Valores, agem unicamente pelo Tesão, não tem escrúpulos. Para combatê-los ou freá-los só com muito heroísmo. O pior adversário é aquele que não tem medo porque basta isso para atacar sem nenhuma reserva.
Em um establishment que foi, pouco a pouco, sendo dominado pelos carismáticos cães, restou aos verdadeiros gatos o submundo.
Quantos juízes, políticos, policiais, líderes comunitários, padres etc. já morreram tentando enfrentar essas forças inabaláveis.
No âmago da questão está o mesmo instinto que existe nos grandes líderes, como Gandhi, que abandonou a família à própria sorte para se dedicar à sua causa, famosos pensadores que morreram na fogueira por defender suas ideias. O que caracteriza essas personalidades é a falta de escrúpulos quando se trata dos seus sonhos.
Em um âmbito mais doméstico temos a Strega, mulher considerada malévola ou bruxa, que se diferencia das Amélias por não ter escrúpulos quando se trata de defender suas ideias, sua vontade, sua liberdade. Ela põe em risco seus bens, seus relacionamentos e, em casos extremos, a própria vida, se achar que está sendo ameaçada ou confrontada.
O escrúpulo é o freio que impede "pessoas de bem" desrespeitarem a ética da sociedade para atingir seus objetivos, como as mulheres de se tornarem bruxas, entretanto, ao menos para os Gatos, ele é insuficiente quando a liberdade está em jogo.
Veja como pensam jovens do Rio que fazem arrastões!
(clique para seguir o link).
Sabem como também é conhecido o escrúpulo? Medo!
Pode-se dizer que seria um medo justificado, o medo de perder a estrutura social que nos dá sustentação, mas não passa de medo, o primeiro e, por isso mesmo, mais perigoso inimigo do homem.
A habilidade que a inteligência nos dá, de tentar compreender as coisas, nos permite antecipar os perigos e, ao mesmo tempo, mentir, gerando o medo, inclusive de ser enganado pelos demais. Esse é um fato que não podemos ignorar porque tem uma influência enorme em nossas atitudes.
Infelizmente, por medo, estamos insistindo no lado errado da parábola e, enquanto continuarmos nessa rota, a coisa só vai piorar!
A tendência é que os mecanismos “democráticos” sirvam para exacerbar esses efeitos, aumentando a concentração de poder na mão dos mais egoístas e tacanhos. Isso sem dizer das corporações que, caso não sejam impedidas, continuarão a exercer um poder cada vez maior, colocando no bolso - e isto não é figura de linguagem - as instituições.

Não é o conceito de democracia que está errado e sim a forma “confortável” que os Cães formataram para nós. Na verdade uma delargação total das responsabilidades e, principalmente, dos riscos das tomadas de decisão(*).

Acreditamos que o sistema vai nos garantir proteção, recursos de saúde e educação, energia, água, transporte, segurança das nossas informações e até lazer, por um mero pagamento, seja de imposto, seja de tarifa. O sistema inclui estado e corporações, que por esse pagamento - determinado pelas leis de mercado, ou seja por eles mesmos - garantem assumir os riscos para que nós possamos viver nossa vidinha canina em paz.
Claro que as decisões serão tomadas com base no retorno, seja popularidade, seja lucro e essas duas coisas não são sinônimo de bem estar, sustentabilidade, eficiência ou eficácia, como diz a propaganda.
Há muito percebi que, para um fabricante de automóveis, é muito mais lucrativo produzir 1 carro de luxo do que 10 carros econômicos.
Precisamos repensar nosso modo de vida e isso começa a ocorrer, ainda que a grande revolução (de costumes) esteja muito distante. Talvez a tecnologia nos permita fazer essa transição sem muito sofrimento, mas nunca sem coragem e muito esforço, porque só a necessidade compete com o medo.


(*) Aqui a migração do poder das instituições tradicionais para as corporações também pode ser notada: quem de nós não está nas mãos da Google?


Iniciativas como habitações auto-suficientes em energia, tratamento de água e esgoto, cultivo de alimentos etc. começam a ser realidade, ainda que em pequeníssima escala.
Famílias buscando soluções caseiras para suas atividades, sejam profissionais, sejam na educação ou na na saúde, sem abrir mão dos avanços científicos e tecnológicos já alcançados, mas assumindo sua parte nas responsabilidades e nos riscos, são cada vez mais numerosas.
Uber e outras iniciativas como mercados de troca, compartilhamento de acomodações e até de recursos financeiros, além do compartilhamento massivo de informações, sejam de conteúdo profissional ou cultural, estão no mesmo caminho, solapando as bases do “safety state” que acompanhou o “welfare state”, ambos fundamentalmente caninos em sua concepção.
Uma das coisas que ficou mais evidente para mim nestes tempos é a nossa dificuldade para avaliar situações em que as relações são indiretas(*). O melhor exemplo, na minha opinião, são os planos de saúde, em que todas as transações se dão de forma indireta.
Esse sistema tem se mostrado altamente desequilibrado, porque aquele que demanda não paga, o que oferece não recebe e o que paga não faz nem uma coisa nem outra, tornando-se a fórmula perfeita do descontrole, principalmente porque, além de indiretas são, frequentemente, impessoais, intermediadas por um sistema automatizado ou por um agente meramente operacional sem o conhecimento necessário e sem poder de decisão algum.
Os pacientes querem o que julgam ser o melhor tratamento, independente dos custos envolvidos, uma vez que não pagam diretamente pelos serviços.
Os médicos, até por uma questão de responsabilidade, tendem a solicitar os exames e procedimentos mais sofisticados, já que o paciente não paga e está achando ótimo ter o melhor.
Os recursos, como hospitais, laboratórios etc., tendem a oferecer os procedimentos top pelos mesmos motivos acrescido do fato de que ganham por isso(**).
A operadora tende a constranger todos os demais dificultando as aprovações, uma vez que ela só paga, não tendo responsabilidade direta sobre o paciente, responsabilidade que pesa sobre os ombros dos médicos e recursos empregados.
O resultado é um sistema que atende mal, representa um alto risco para as operadoras e, por isso mesmo, tende a ser ineficiente e caro.
(*) Em breve neste blog: Paradoxos & Sofismas.
(**) Sem falar dos desvios e corrupção que esse emaranhado de burocracia possibilitam.


O Estado e os impostos são o suprassumo das relações indiretas, a tal ponto que nem sabemos em que o dinheiro arrecadado é aplicado (ou sabemos!?)
Pois bem, relações indiretas exigem alto nível de consciência, entretanto não somos capazes de agir apenas pela consciência, pelo simples fato de que, como já disse, ela não toma parte de nossas decisões.
Precisamos projetar sistemas que se baseiem em transações recíprocas, fazendo com a relação responsabilidade x poder recaia sempre sobre os sujeitos da transação. Exemplo: quando vou comprar uma TV escolho o melhor custo x benefício automaticamente, já que eu vou usar a TV e eu também vou pagar por ela.
Relações recíprocas são a única forma de eliminar essa delargação desequilibrada em suas bases.
Precisamos dar mais valor à nossa liberdade. Dizemos que certos valores nos são muito caros, mas não nos dispomos a pagar o preço!
Precisamos um pouco mais de Gato nas nossas atitudes, um pouco menos de medo! Volto às minhas velhas ideias de uma vida mais simples, mais “selvagem”, como nas culturas mais primitivas. Parece que estamos correndo atrás do rabo, tanta complicação para voltar ao simples. Achamos a vida desses povos precária, pois eu acho que vivemos, em função dessa estrutura canina, uma vida muito mais precária que a deles.
Talvez seja nossa missão progredir, desenvolver novas tecnologias, de qualquer forma não proponho abrir mão do desenvolvimento tecnológico e científico, mas buscar novas formas de relacionamento. A grande diferença entre nós e os índios não está nas tecnologias e no progresso e sim na coragem que eles tem de assumir os riscos da vida e que nós perdemos em algum ponto da história.
Ao pensar nisso, me lembro do que me disse o Guilherme, amigo ou irmão, sei lá, que, da sua perspectiva espírita, dizia:
− Os índios vivem de forma mais sustentável do que nós quando isolados, mas quando expostos ao nosso modo de vida, são muito suscetíveis a se corromper. Por outro lado, nós estamos passando por uma fase evolutiva, como crianças, experimentando o mundo e, se voltarmos às formas mais simples de estrutura social, será conscientemente, menos sujeitos a nos perdermos de novo.
O fato é que do jeito que está, não pode ficar. As bases estão erradas, precisamos rever os fundamentos de tudo isso.

A comparação que não quer calar...

Não resisto à tentação de fazer a comparação que não quer calar: Brasil x Estados Unidos, e acho que a melhor forma de falar de nós é através da comparação com o oposto a nós.
Não acho que eles estejam no caminho certo, ou mesmo no caminho mais adequado, até porque acho que não existe esse caminho, mas estou convencido que devemos observá-los um pouco mais atentamente.
A obsessão pelo nosso grande irmão do norte não é descabida. Senão vejamos: excluindo os países do leste, desde o oriente médio até o Japão, cujas culturas são tão diferentes da nossa que, como já disse outras vezes, não me atrevo a estabelecer comparações, o país que melhor representa nossa antítese são os USA.
Quando falo em antítese me refiro a oposto mesmo, não apenas diferente. Branco é diferente de amarelo, mas não é o seu oposto, o seu oposto é o preto.
Ora, os países da Europa são formados por culturas milenares, etnias definidas e diversas, territórios diminutos e muito pouco espírito de união, na verdade ainda têm muitos movimentos separatistas em curso. A África ainda é constituída, na sua grande maioria, por nações primitivas demais. Os países da América Espanhola são excessivamente caudilhistas, além de pequenos, tanto em população como em território.
Países como Canadá e Austrália, além das diferenças de porte, seja do território, seja da população, muito menores, tiveram formações muito diferentes das nossas.
Quanto aos USA, tem uma idade igual à nossa, tiveram uma colonização semelhante e um desenvolvimento paralelo, população e território da mesma ordem de grandeza, características que, embora similares tem diferenças fundamentais.
A colonização deles foi pela cultura anglo-saxã, a nossa ibérica. O objetivo dos primeiros era a construção, dos nossos a exploração.
Nosso clima é predominantemente tropical, facilitando muito a manutenção da vida, seja pela menor necessidade de abrigo, seja pela abundância de alimento, mas diminuindo drasticamente nossa disposição para o esforço, eles têm parte do território em regiões subpolares, outras com clima desértico, impondo muito mais esforço para a sobrevivência, condições que favorecem a competitividade, ainda que possuam pequenas parcelas de território subtropicais.
Temos ainda a tendência a desprezar o trabalho, herança de nossa colonização portuguesa, como se fosse coisa para os serviçais, não para nobres.
Quando vemos o enorme aparato de produção e marketing (esse então nos arrepia) por detrás de um desenho animado de TV como os Simpsons, achamos um absurdo - existem até livros de filosofia sobre a série, eu mesmo ganhei um - achamos que é uma forma vil de ganhar dinheiro

Isso sem pensar em arte, que não admitimos que seja popular e comercial. Costumamos achar que arte tem que ser obtida só pelo talento, sem grandes produções, muito menos equipes de marketing - “... uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”.
Eu não sei quem está certo, mas acredito que seja importante reavaliar nossas crenças sobre isso.
Essas características definiram as culturas de cada uma de nossas nações e, como a música é, na minha opinião, um ótimo indicador da forma de pensar dos povos, é lá que podemos buscar o espírito de cada um:
Um bom exemplo de como pensamos é
Deixa a vida me levar do Zeca Pagodinho.

Em contra-partida, uma letra do Bob Dylan:



Outro dia, assistindo House of Cards que, apesar de ser uma obra de ficção, poderia ser a história de muitos presidentes americanos, inclusive o Kennedy (tão canalha quanto Frank Underwood), e pensei nos nossos “canalhas”, por exemplo, Paulo Maluf, Fernando Collor, José Sarney etc.
Há uma grande diferença, que faz com que os “canalhas” deles sejam menos perniciosos que os nossos. Eles tem coragem, são verdadeiros Gatos. Seu objetivo único é o Poder permanente e usam o dinheiro para esse fim.
Os nossos Cães, covardes que são, usam o poder apenas para se apropriar do Dinheiro imediato, que é a única coisa que querem de fato.
Quem busca o poder não mata a galinha dos ovos de ouro, já quem está preocupado só com o dinheiro deixa a bichinha morrer.
Grandes canalhas americanos deixaram um legado, pode se dizer, permanente, como Walt Disney, Thomas Edison, e foram canalhas maiúsculos, embora aparentemente muito mais espertos que os nossos.
Novamente recorro ao Lincoln e o conceito de Energia & Espaço Favorável em que ele, brilhantemente, nos faz perceber que energia sozinha não resolve, ela precisa de um espaço favorável. Exemplo? Tente usar a Libra síria nos Estados Unidos.
Os americanos construíram o seu espaço favorável pela força, criando um ambiente em que há um nível de confiança suficiente para que cada um, seja Cão ou Gato, pense em futuro, em progresso. Na verdade estenderam seu espaço favorável pelo planeta todo, qualquer americano, onde quer que esteja, se for prejudicado, sabe que pode contar com o Tio Sam.
Nosotros brazucas, não confiamos nem no vizinho que dirá das instituições, o que temos aqui é um verdadeiro espaço Hostil, favorecendo esse imediatismo: pego tudo que puder agora porque depois ninguém sabe.
Aproveito para lembrar o artigo Soberania Líquida de fevereiro de 2015 e Nossos heróis!? de setembro do mesmo ano: estamos vivendo a liquefação definitiva de nossa “soberania”?
Depois da Petrobrás o sonho do Mercosur se esvai em dois tratados articulados por quem sabe fazer as coisas.

Por outro lado, se não for de um jeito vai de outro: Brasil foi alvo de mesma manobra naval dos EUA que irritou China
Mais uma vez perdemos o bonde da história, na minha opinião por uma conjunção de covardia e deslumbramento.
No caso do PT foi muito mais deslumbramento, dissociação do pretendido em relação ao esforço que seria necessário para atingi-lo, principalmente no que diz respeito à defesa dos interesses nacionais. Houve também atos de covardia em que se preferiu o caminho fácil do “toma lá da cá” ao invés de um enfrentamento da canalhice que domina nossa política.
A despeito de tudo isso, coisas cuja solução cabe a deus e não a nós, pobres mortais, estou mais preocupado com a atitude que devemos adotar para continuar nossa aventura, sendo assim vamos em frente.

SENTIR-SE UMA ILHA DE RETIDÃO E COMPETÊNCIA EM MEIO A UM MAR DE CORRUPTOS E IMBECIS!


Triste mesmo é que isso não é exclusividade de alguns, infelizmente é um traço de nossa cultura que temos que combater ferozmente. Por sorte só teremos que ser ferozes conosco mesmos.
Não sei se estou certo, mas tenho a forte impressão que, se houvesse um esporte baseado no subtítulo acima, seríamos campeões mundiais.
Não que esse sentimento seja exclusividade nossa, afinal é um sintoma clássico da vaidade, mas acho que nós estabelecemos records imbatíveis, tanto que a mera menção é suficiente para reagirmos esbravejando justificativas mais do que suficientes para nos sentirmos desse jeito.
Segundo Sérgio Buarque de Holanda o brasileiro é um homem cordial(*), o que tem sido muito mal interpretado, como se significasse que somos gentis, amáveis etc. Na verdade o que ele observou é que somos “emocionais”, ou seja, guiados mais pela emoção do que pela razão, o que pode gerar amor ou ódio com a mesma facilidade.
Voltando ao tema do império americano, uma coisa que fica clara para mim é que as corporações estão controlando o mundo, não os governos. De um modo geral essas corporações são supra-nacionais, entretanto isso não se aplica totalmente às corporações americanas.
Esse povo conseguiu incutir valores, dentro e fora do seu território, que transcendem a mera lógica capitalista, significando a própria defesa do capitalismo. Esse simples fato, de terem conseguido universalizar esses conceitos, permite especular que sejam valores mais fundamentais para o ser humano.
Estamos vivendo uma ditadura do mercado e, não tenho dúvida: o mercado é controlado, isso mesmo, controlado pelas grandes corporações. Como as maiores corporações são americanas, temos essa peculiaridade: elas não estão apenas buscando poder ou dinheiro, estão defendendo o modelo e o império americano.
A mão invisível do Adão(**) foi substituída pela mão de Gato das corporações americanas. São os Gatos que comandam esse império, inescrupulosos, ciosos de sua liberdade, defendendo com unhas e mísseis o poder de seus empreendimentos e, inteligentemente, do seu espaço favorável.
Isso vem ocorrendo desde a 2ª guerra, vejam, por exemplo, Taken for a Ride, publicado na postagem Liberdade de 31/08/2013. Os empresários americanos têm a capacidade de se compor para defender seus interesses, aparentemente abrindo mão da competição para a preservação do seu valor maior, a manutenção do seu espaço favorável.



(*) Ver “Raízes do Brasil” desse autor.
(**) Adam Smith


Sininho
(*) está morrendo?

Li um artigo na Folha (Nosso universo está morrendo!?) que, de certa forma, reforça minha tese do “Eramos nós os astronautas?” (ver artigo em DeMimPro6).
Poucos anos atrás Fukuyama proclamou que o fim da história, preconizado por Hegel, havia chegado, justamente com a queda do muro de Berlim.
Agora cientistas descobrem que o Universo está chegando ao fim - ainda que estejam falando em muitos bilhões de anos.
Já estamos conformados com a extinção de nossa espécie, com o fim das condições de vida na Terra, com o fim do Sistema Solar, com a liquefação da nossa soberania etc. etc. etc., um fatalismo avassalador, mas nem sempre foi assim.
Me lembro que quando era adolescente a visão de mundo que dominava era de um otimismo desenfreado - fruto do pós-guerra.
Estávamos a um passo de dominar nosso meio, tudo seria automatizado, teríamos robôs, carros voadores, produziríamos até o ambiente onde viveríamos. Depois dominaríamos o universo, colonizando tudo que é planetinha disponível, não haveriam mais raças, seríamos todos dourados pela miscigenação. Seria o fim das fronteiras, das nações, a ONU seria o governo do mundo e por aí a fora.
Claro que era estupidez, mas qual a diferença em relação à estupidez de hoje, em que tudo está por um fio, se já não estiver perdido?
Em nenhum dos casos podemos dizer que estamos certos e nem fazer muita coisa para alterar nossos destinos, mas, pelo menos, no primeiro somos mais felizes.
Em Peter Pan, a fadinha morreria se ninguém mais acreditasse nela, mas se você tivesse bons pensamentos poderia até voar.
Acho que perdemos alguma coisa nesse processo!





(*) Tinker Bell!?

E aí! Por quê ser otimista?

A característica mais forte de nossa época é o utilitarismo, ou seja, aquilo que não tem aplicação prática para atender ao modelo de civilização vigente não interessa ou, se interessa, esse interesse é meramente marginal.
Isso fez com que perdêssemos, ainda que momentaneamente, a capacidade de ‘sonhar’, idealizar novas modalidades de convívio. A própria arte e a filosofia tem sofrido muito com isso.
Claro que existem núcleos de resistência, mas o pensamento dominante, “USA-gênico”, por assim dizer, é claramente voltado à tríade democracia-capitalismo-industrialismo.
Muito bem! Pode ser que esse seja o caminho que o gene nos impõe, mas sendo ou não, não precisamos nos preocupar - e não estou indo pelo caminho do conformismo não. Explico:
Será que nossa meta é um mundo melhor, uma sociedade melhor? Acho que essa é a questão! O desejo de ser Deus foi condicionado pela vaidade, queremos modelar o mundo à nossa imagem.
Os cães - paladinos da segurança - odeiam os gatos - livres por natureza - que, por sua vez, desprezam os cães. Esse é o caldo no qual temos a pretensão de construir sociedades “justas”?
Como já falamos, o problema é que indivíduos com visões de mundo tão opostas nem chegam a discordar entre si, simplesmente não falam  a mesma língua nem conseguem compreender a forma de pensar do outro.
Entretanto, esse mesmo desejo quando voltado para nós mesmos se traduz em duas palavras: Fé e Entusiasmo! Assim de forma intransitiva, sem necessidade de complemento.
Qualquer que seja a mudança tem que começar em cada um de nós. Tendo esses dois atributos como bússola, sempre saberemos o que fazer e quando. São atributos que se reforçam e alimentam mutuamente resultando na coragem necessária para ir em frente alimentando a confiança de que existem outros no mesmo caminho, daí nasce a confiança, base de qualquer sociedade desenvolvida. E a única meta é a liberdade, liberdade dada pelo conhecimento.
É sempre bom lembrar que conhecimento não fica obsoleto, ele evolui. É fundamental ser fiel ao que se aprendeu, ou seja, evitar o auto-engano ou a incoerência, avaliando e reavaliando novas ideias com base no que já se sabia.
O resto é para Deus mesmo, afinal nós o criamos para isso!
A é que deu origem à vida e não o contrário -“no princípio era o verbo”- portanto, a ainda está na base de tudo, ainda que adormecida, basta que nos voltemos um pouco para ela e ela renasce com toda a força. E a vida sempre encontra um meio!(*)
Um comentário: Sempre que falamos de Fé vem à mente - pra cada um de uma forma diferente - a ideia do mistério! Será que tenho alguma ajuda de “fora” ou são os mecanismos psicológicos que me ajudam a enfrentar os meus medos, mudando minha atitude e, em função disso, aumentando minhas chances e aproveitando melhor as oportunidades que surgirem?


(*) Jurassic Park

Acreditar que certas coisas nos ajudam a atingir nossos objetivos ajudam de fato. Como? Não sabemos.
Não sabemos, claro, mas, dada a curiosidade natural do homem, talvez um dia tenhamos mais clareza desses fenômenos, entretanto, quando  e se isso acontecer, essa nova compreensão será mais um peso para nós.
A clareza, que parece representar maior leveza, ao contrário representa um peso a mais, porque a cada nova revelação percebemos as infinitas possibilidades que se abrem e o infinito é insuportável para nós.
Nesse momento a gente vai acabar procurando um novo nível de mistério para se apoiar, porque o fato é que não suportamos a ideia de viver no caos, na ausência de controle, nem nosso nem de nenhuma outra força para nos dar apoio.
A gente sempre precisa de um ponto de apoio, um trilho para nos guiar e esse ponto de apoio só pode estar do lado do mistério, porque ao se revelar ele se mostra caótico, aleatório, permitindo todas as possibilidades, boas ou ruins, pelo nosso ponto de vista.
A cada revelação o infinito se abre de novo e isso é muito pesado, então a gente precisa limitar esse conceito e a fronteira é o mistério: Não sei, só sei que é assim!
Por isso acho Xicó um dos maiores sábios a quem poderíamos recorrer para nos acalmar as aflições.
O único inimigo que temos que encarar é o nosso próprio medo, não o sistema, o governo, o crime organizado ou não, o mal, o demo ou seja lá o que for, apenas e tão somente o medo, pelo simples fato que ele é o primeiro inimigo a vencer.


Bônus especial: vídeo e letra da música Miedo do Lenine

Miedo (link para o vídeo)

Compositores: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis
É um inimigo que assume várias formas, se insinua e disfarça, como a vaidade. É preciso mais coragem para admiti-lo, ainda que seja admitir só para nós mesmos, do que para enfrentá-lo.
Volto aos conselhos do bruxo mexicano Don Juan, o melhor guia para seguir em frente, lembrando sempre:
Medo gera medo
da mesma forma que
coragem gera coragem!


O homem de conhecimento
A única força que nos trouxe até aqui foi a vontade de aprender!

Lembrando os ‘Inimigos do homem’(*) do bruxo mexicano Don Juan: Tudo começa com a enteléquia, a vontade de existir, de viver, de aprender.
Enfrentar o “desconhecido mundo do acertar” dá medo! Só com muita coragem pra enfrentar. A maior parte dos homens empaca no medo! Medo de enfrentar os desafios, os concorrentes, o comodismo. Como são muitos nessa condição, acabam por encontrar uma fórmula para se apoiar mutuamente e sobreviver, não por suas aptidões de luta, mas por se esconderem atrás de falsas Missões & Valores. Alguns se refugiam em sua própria vaidade.
Perdem, nesse estágio, a grande oportunidade de evoluírem. Se percebessem que suas opções de vida foram condicionadas pelo medo e não pelos ‘valores’ estabelecidos pelo seu grupo de proteção ou por sua vaidade, ainda que não conseguissem ter a coragem suficiente para correr atrás, ao reconhecerem sua fraqueza estariam mantendo viva a chance de buscarem o seu sonho.
A virtude da fortaleza permite a uns poucos vencerem o medo. Estes são normalmente desprezados pela legião de medrosos, mas vão em frente e, através da experiência e do aprendizado, atingem a clareza.
Aí correm o risco de tornarem-se idiotas, vaidosos, arrogantes e presunçosos. Acho que o nosso FHC é um pouco disso.
Nesse momento a virtude da prudência ajudará a perceber que nunca estaremos totalmente preparados, portanto a jornada de aprendizado tem que ser contínua.
Como consequência natural desse processo vem o poder. Nesse ponto o inimigo é a empáfia, quando o poder serve para oprimir, para usurpar. Ok... Lembraram do Lula, não é?
A virtude da justiça vem dar o equilíbrio necessário para seguir em frente na aventura do conhecimento rumo à velhice.


Aí só a virtude da temperança pode conduzir a um fim seguro.
Raulzito que o diga. Só quem segue essa luta até o fim chegou de fato a ser o “homem de conhecimento”!



(*) Ver DeMimPro6 - vol. I - pg. 50