CIVIL WAR BRAZIL    01/05/2016
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Já falei muito sobre o embate entre “brancos” e “vermelhos”, referindo-me ao eterno conflito entre o conservacionista (vermelho) e o explorador (branco).
Outro confronto eterno, a rigor o mesmo, é “segurança x liberdade”.
Esses são conflitos insolúveis, cuja única esperança é a colaboração entre as partes, já que não há lado certo.
Entretanto insistimos em assumir um lado (eu, obviamente, me incluo nisso) e lutar ferozmente contra o que achamos ser o lado negro da força.
A cada dia fica mais claro para mim que, por mais que acreditemos estar isentos da manipulação da mídia, da propaganda oficial, do imperialismo cultural, na realidade estamos sendo miseravelmente manipulados.
Nos idos de 68, quando vivemos a rebeldia dos estudantes, achávamos que nosso movimento era uma demonstração de maturidade política, estávamos lutando por nossas mais profundas convicções, por valores próprios da nossa gente. O fato é que só estávamos respondendo aos eflúvios que emanavam da cultura ocidental naquele momento.
No texto “Afinal” de 11/07/2013, eu já mencionava a sincronicidade entre o MPL** e outros movimentos pelo mundo afora: Occupy Wall Street, Europa defeituosa, a onda de protestos no mundo árabe etc.
Hoje vivemos a confrontação “coxinhas x petralhas” e nos parece nada ter a ver com alguma influência externa.
Ora basta ver a guinada à direita que o mundo esta dando para constatar que, mais uma vez, estamos a reboque de um processo que não temos a mais mínima ideia de como se originou.
“Capitão América: Guerra Civil”, lançado nos gibis em 2006 e agora nas telonas, demonstra bem essa onda cultural, onde a arte imita a vida.
Você acha mesmo que “impeachment x golpe”, “coxinhas x petralhas”, “movimento passe livre”, o fenômeno “Moro” e todas essas autênticas manifestações populares são de fato “autênticas”?
Mais do que isso. Você acha que tem um lado “bom” nisso?
Dançamos conforme a música e o maestro é sempre o poder econômico.
A guinada do mundo atual era tão previsível quanto a queda da União Soviética e nós estamos vibrando nossos diapasões conforme a frequência do mundo.
Por quê agora estamos divididos, sendo que em outros momentos de nossa história era tão fácil assumir uma posição? Porque a cada ano fica mais claro que não há lado certo e, no fundo, só os interesses de cada grupo é que estão em jogo.
Talvez algum dia a gente perceba que o confronto não está levando a nada e adotemos alguma solução de conciliação, ainda que cada um continue a defender seus interesses, não contra o outro e sim a favor de alguma solução sustentável.




* Capitão América e seus aliados contra o Homem de Ferro por divergências políticas: enquanto Steve Rogers defende as liberdades individuais, Tony Stark acredita que os Vingadores têm que se submeter ao controle do Estado, para evitar passarem do limite. Esse é o enredo de "Capitão América: Guerra Civil", o novo embate de super-heróis que, na ausência de inimigo comum escolheram se enfrentar… para não perder o costume.


** Movimento Passe Livre


Wishful thinking, Pragmatismo
e os Titanicos

Ditados populares e livros de autoajuda existem para todos os gostos, uns nos dizendo que devemos ser positivos, otimistas, outros que devemos estar sempre atentos aos perigos, atentar para os obstáculos etc.
E nem podemos reclamar, afinal olhar só para o obstáculo faz perder o foco no objetivo, mas olhar só para o objetivo faz tropeçar no obstáculo.
O fato é que o wishful thinking, usado normalmente como critica àqueles que vivem em devaneios, é, na minha opinião, a origem de tudo. Como já disse em várias ocasiões, acredito que as coisas só são depois de quererem ser, assim nós quisemos “ser”, por isso estamos aqui*.
Se funcionou na origem porque deixaria de funcionar ao longo de nossas vidas?
Por outro lado, é claro que estar atento é fundamental porque sabemos que “shit happens”.
Quando adotar uma ou outra dessas atitudes é coisa que só cada um pode saber, coisa que vai se adquirindo - ou perdendo - ao longo da vida.


O fato é que existem pessoas que tem muita dificuldade em lidar com esse dilema constante e se paralisam, são os
Titanicos, impossíveis de afundar até que um iceberg rasgue sua couraça.
Afundar, por mais assustador que pareça, é fundamental. Ir mais fundo, buscar o conhecimento mais básico, mais essencial, ainda que isso possa revelar nossos erros mais graves (ou principalmente por isso).
Os Titanicos não afundam por medo do que vão encontrar lá embaixo, de descobrir algo que destrua seu wishful thinking.
O Titanico tem sido, quase invariavelmente, um vaidoso** pois, como só vê a superfície, confunde polidez, gentileza e educação com admiração. Como não se arrisca na busca da sua verdade, se agarra a uma religião, uma corrente política ou mesmo um guru - normalmente por influência dos pais - e, vaidoso que é, recusa-se a discutir seus dogmas.
A tendência é que eduquem seus filhos produzindo novos Titanicos, porém, a partir do final do século XX, o acesso à informação e à diversidade de ideias se tornou tão fácil e imediato que esses novos Titanicos tem menos disposição de se submeter aos mesmos dogmas de seus pais e aí se tornam vulneráveis aos icebergs.
Wishful thinking e Pragmatismo são apenas mais uma faceta dessa eterna luta do “bem x mal”, só que cada dia que passa fica mais claro, ao menos para aqueles que se dispõe a ir mais fundo (lembrando que tem que respirar), que nem o “bem” é necessariamente “bom”, nem o “mal” é necessariamente “mau”.



* Esse tipo de conclusão pode ser avaliada em Meditações Metafísicas, René Descartes.



** Isso depende muito do nível cultural do grupo que se está analisando, essa análise vale para grupos com nível semelhante ao nosso. Em grupos de nível cultural muito baixo, normalmente os Titanicos são a maioria, sempre dominados por alguma seita ou guru, e os rebeldes acabam por se tornar parias, não raro descambando para marginalidade e violência.

P.S.: O texto “Democracia - o poder… do poder” de 14/04/2016 foi um desabafo em relação à atitude daqueles em quem confiamos.