Negacionismo: As origens

19/06/2023

Eu me interesso sobretudo pelo repensar que os avanços das ciências físicas e biológicas exigem! ... 
Há infelizmente, no universo dos cientistas, um conformismo, uma satisfação tanto maior porque ela lhes mascara a questão cada vez mais terrível: para onde vai a ciência? 

Introdução ao pensamento complexo 
Edgar Morin
Não é de hoje que tenho falado sobre a crise ideológica pela qual o mundo vem passando, afinal é mais do que inesperada, para muitos de nós é inconcebível, inexplicável o que vem acontecendo, a ameaça cada vez mais forte de um retrocesso montruoso na compreensão da realidade.

Este artigo, inspirado por Edgar Morin, é uma continuação de outro: https://demimpro6.blogspot.com/2023/01/gramsci-e-o-negacionismo-05012023.html, de 01/2023.

Desde o policiamento ideológico, passando pelo politicamente correto e chegando ao negacionismo, vivemos uma verdadeira convulsão social.

No livro "A Meta" de Eliyahu M. Goldratt, há um escoteiro, Herbie que, sendo o mais lento da tropa, está sempre atrasando a marcha, a solução foi colocá-lo na primeira posição da fila, dessa forma  o grupo se manteve unido. Essa é uma boa metáfora para a lógica da marcha de uma sociedade e mesmo dos nossos grupos de convivência.

O avanço da ciência, aliás como toda acumulação de capital (conhecimento é um capital), tem sido promovido de forma extremamente concentrada  - e não se trata de um fenômeno localizado, ocorre em toda a sociedade humana. Mais, como no caso dos capitais financeiros ou políticos, esse capital é protegido por todo tipo de barreira à sua disseminação.

Quando menciono barreiras não me refiro apenas às institucionais, como propriedade intelectual, patentes etc., mas principalmente as comportamentais, como a arrogância comum a muitos dos que detém algum conhecimento.

Apenas como exercício de raciocínio, é possível imaginar que uma sociedade que promova um melhor compartilhamento do conhecimento, ainda que isso resulte em menor avanço científico, seria mais desenvolvida sociologicamente do que a nossa. Claro que não se trata de nenhum tipo de exortação, pra mim está claro que a natureza da vida - somos seres vivos - é a competição e a acumulação. Só digo essas coisas talvez na esperança que o avanço da consciência permita o surgimento de sociedades mais harmoniosas, uma semente de conceito para o futuro.

Como em 1789 estamos vivendo a revolução dos desprezados, só que o motivo agora não é a fome, mas a contestação do tipo de alimento em discussão.

A ciência passou a ser o grande inimigo a ser combatido!

Afinal como aceitar que todas as crenças, principalmente as religiosas, fundamentadas no medo, que embasaram toda a construção social que deu sustentação à vida dos crentes, tinha sido um erro?

Seria aceitar, não só o erro em si, mas o fato de ter caído num verdadeiro "conto do vigário" - sem trocadilho! Aceitar que, apesar de toda a convicção de suas liberdades, de sua independência, de seu poder, tinha, na verdade, sucumbido ao medo? Nunca!

O medo é e sempre será o primeiro e o principal inimigo a enfrentar!

O fato é que o negacionismo é uma manifestação revoltada dos ignorantes que, de forma ostensiva, tem sido desprezados como seres inferiores.

Dois exemplos na minha vida:

- Nos anos 80 do século passado eu vivia uma busca pelas minhas crenças e passei por uma fase de pesquisa do espiritismo. Cheguei a frequentar um centro espírita algumas vezes, mas ao me deparar com a resistência da minha companheira, acabei abandonando a ideia.

Não via como, um eventual benefício ou mesmo evolução que eu pudesse experimentar nessas práticas, poderia ser bom, se não compartilhado com ela. Seria, ao contrário, fator de desagregação e desarmonia.

- Na mesma época vivíamos, no ambiente profissional, o contraste entre os poucos,  como eu, que haviam mergulhado no aprendizado da informática e a maioria que via esse assunto como impenetrável.

Claro que eram profissionais com muita experiência em suas áreas, muitos bem mais velhos que eu, mas que começavam a ser menosprezados por suas dificuldades com a nova tecnologia, que começava a dominar os ambientes de trabalho.

Percebendo essa realidade, montei um curso de tecnologia da informação dentro da empresa em que trabalhava, como uma atividade paralela às minhas funções habituais, para todos os colegas do departamento.

Em seis meses treinamos, eu e um colega que se juntou na tarefa, mais de cem engenheiros e técnicos.

Pouco tempo depois, um dos participantes do curso, inicialmente dos mais resistentes, se tornou um especialista em DOS, o sistema operacional da Microsoft à época, passando a ser a fonte de consulta para todos nós.

Gosto de pensar que ao escalar o buraco da ignorância em que, aliás, sempre estaremos, temos que estender a mão aos que estão abaixo, eventualmente ele nos ultrapassará e estenderá a mão para nós!

Na minha opinião não pode haver evolução sem o compartilhamento do conhecimento - minha frase referência é "o conhecimento compartilhado é mais eficaz!"