Democracia
O poder... do poder

14/04/2016  
72 h e contando...
A democracia é um processo difícil! Principalmente para quem estiver fora do poder.
Como dizia o personagem do Jô:
– E eu acrediteeei!
É tocante perceber que aqueles em que depositamos nossas esperanças - quem se lembra da esperança vencendo o medo? - esses mesmos, dão demonstrações tão eloquentes de espírito democrático.

Radical ou Sectário
Impeachment ou Golpe

12/04/2016
Hoje ouvi o Mário Sérgio Cortella no rádio e ele falava do comportamento das pessoas frente ao impasse que estamos vivendo esta semana.
Ele iniciou com um reparo sobre o uso da palavra radical, normalmente usada no sentido de sectário. Achei muito pertinente e, como costumo fazer, vou iniciar pelas definições:
Radical: relativo ou pertencente à raiz ou à origem; original.
Sectário: discricionário, que não transige; intolerante.
Acho, como o filósofo citado, que devemos ter uma posição, afinal o muro é do PSDB… ops, desculpem, é do Diabo. Sendo assim, vou falar, doa a quem doer.

Impeachment
Porque sou a favor

Impeach.png

O motivo mais vistoso é a Petrobrás. A empresa, maior do Brasil, está super endividada e em processo de encolhimento e desmonte, registrando prejuízos monstruosos.
Não, não pensem que é devido à corrupção! Não! As dívidas sobrevieram muito mais devido a preços tabelados e investimentos equivocados do que da corrupção. A Petrobrás arcou com os custos de um programa de industrialização que a obrigou a adquirir produtos nacionais a preços muito acima do mercado mundial. Somadas, são perdas na casa de centenas de bilhões.
Mas essa é a estupidez mais vistosa, em todos os outros setores que conheceram a mão deste governo, marcada por intervenção política rudimentar, incompetência e apego a ideias econômicas ultrapassadas, a ruína foi estrondosa.
A tentativa de baixar a fórceps os preços da energia, em 2012, contribuiu para que a segunda maior estatal do país, a Eletrobrás, tenha prejuízos desde aquele ano.
A manipulação de preços de combustíveis e energia elétrica arruinou a Petrobrás e todo o complexo petroleiro, diminuiu o setor de biocombustíveis e desorganizou e endividou o setor elétrico.
A politização da gerência dos fundos de pensão de estatais provocou prejuízos históricos. Além da mera incompetência, tais fundos foram levados a investir em projetos do "Brasil Grande" petista, caso da Sete Brasil ou de Belo Monte –um caso de falência quase certa e outro de prejuízo duradouro.
Os leilões de concessão de infraestrutura foram prejudicados e chegaram quase ao fim em 2013, dadas as tentativas canhestras do governo de controlar a rentabilidade dos empreendimentos e a barafunda das normas regulatórias. Perdeu-se então a última chance de conter a desaceleração econômica, que já começava.
A ideia estapafúrdia de incentivar o consumismo e manter juros baixos, descuidando do controle da inflação. Alimentar o fisiologismo na classe política com verbas e ministérios para manter o controle do Congresso (sem conseguir, o que é pior). Engordar uma máquina estatal super inchada, ineficiente e corrupta para cooptar votos. Promover a distribuição de subsídios para os pobres, às custas de impostos que asfixiam a atividade econômica, como se os recursos caíssem do céu.
Não se sabe quando nem de que forma terminará o governo Dilma Rousseff, mas já se sabe que a presidente deixará um legado histórico de destruição incomparável.

G  o  l  p  e
Porque sou contra

É exatamente essa classe política fisiológica e alimentada pelo governo que deve assumir em caso de golpe:
Michel Temer, o vice que já fez até discurso de posse, que conduziu o seu partido a romper com o governo, mas não renunciou.
Eduardo Cunha, braço do crime organizado (alguma coisa tinha que ser organizada por aqui), conduzindo o grande conchavo que deverá comandar o país.
Aí vem o maior dos mistérios: A República de Curitiba!
sergiomorolavajato.jpgDe onde vem esse poder?
Por um lado, parece estar chegando a alturas nunca dantes sobrevoadas, atingindo alguns dos Godfather mais poderosos, mas aparentando certa inapetência quando os investigados não são do governo.
Curiosamente, a 22ª fase da operação Lava Jato, batizada de Triplo X, é um desses casos.
Uma das buscas foi na filial brasileira da Mossack & Fonseca, recentemente popularizada no episódio dos Panama Papers. A suspeita era de que o famoso triplex do Lula fizesse parte de uma negociação intermediada por essa empresa.
Fato é que entre os documentos apreendidos durante a Triplo X, aparecem ligações potencialmente ilegais de offshores com as  Organizações Globo. Não à toa, a Globo registrou timidamente o escândalo internacional que monopolizou a atenção da mídia estrangeira nos últimos dias.
Há outros ilustres nativos, vários envolvidos em crimes de corrupção, no rol de clientes do escritório panamenho. Robson Marinho, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e acusado de receber propina durante sua passagem pelo governo do tucano Mário Covas, é dono da Higgins Finance.
Segundo o Ministério Público, Marinho embolsou 2,7 milhões de dólares em troca de contratos fraudulentos assinados com a multinacional francesa Alstom. A propina teria ainda abastecido o caixa 2 de campanhas eleitorais do PSDB paulista.
Além dos Marinho globais e do Marinho tucano, os proprietários de offshore até agora flagrados na enorme pilha de documentos incluem políticos brasileiros de sete partidos: PSDB, PDT, PMDB, PP, PSB, PSD e PTB.
Constam da lista, entre outros, o indefectível Eduardo Cunha, presidente da Câmara, o ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso, o ex-ministro Edison Lobão, o falecido tucano Sérgio Guerra, acusado por um dos delatores da Lava Jato de ter recebido 10 milhões de reais para abafar uma CPI, e o ex-deputado federal João Lyra.
Os Panama Papers, pelo que se viu até o momento, não vem ao caso para o juiz Moro.
Ao contrário de outras fases e do padrão de comportamento do juiz Moro, os representantes do escritório panamenho não amargaram longos períodos na cadeia nem tiveram os pedidos de prisões temporárias convertidos em detenções preventivas, cuja suspensão fica a critério da Justiça. Foram soltos em tempo recorde, menos de dez dias após a operação. Entre os libertados perfilava-se o principal representante da companhia no Brasil, Ricardo Honório Neto.
O executivo trabalha na Mossack & Fonseca há ao menos dez anos e é bem relacionado, com contatos na própria Polícia Federal. Em 2007, um e-mail interceptado prova que Honório Neto havia sido informado a respeito de uma operação da PF no escritório da empresa.
Na mensagem, ele avisa da ação e orienta subordinados a destruir e ocultar documentos antes da chegada dos federais. Esconder informações é, aliás, uma prática corriqueira e contínua na companhia. Escutas telefônicas recentemente autorizadas que embasaram a Triplo X flagraram Ademir Auada, um dos presos em 27 de janeiro e logo liberado, a confessar a destruição de papéis do escritório.
Teria sido apenas desatenção ou algum interesse específico explicaria o comportamento incomum da turma de Curitiba no episódio?

ImpeachGolpe.png

Impasse
Oh, dúvida!

Já tive meus momentos na vida, já acreditei com toda a convicção em ideias e em pessoas. Infelizmente, as convicções e a confiança se mostraram exageradas.
Cheguei à conclusão, como já mencionei diversas vezes e de diversas formas, que não temos como saber se estamos certos, apenas podemos acreditar e em ir em frente. Assumir uma posição, o mais conscientemente possível, e lutar por ela.
Lembram da celeuma gerada por aquele diálogo “O Cético e o Lúcido”?
Percebi que a nossa discussão é um embate entre pontos de vista que tem muito a ver com aquela polêmica.
Esquerda x Direita, Espiritualismo x Materialismo, Socialismo x Capitalismo, me parecem discussões cuja essência é a mesma, mas, ao invés de explicar, resolvi montar um contraponto, o “O Crente Cético”, um monólogo de um velhinho consigo mesmo sobre as suas convicções.
Seguem os links:

Consciência
A mãe de todos os Paradoxos
07/04/2016
Parem tudo!
A evolução da nossa consciência, pela qual nos dedicamos a vida toda, está nos levando a um beco sem saída!
Consciente.jpgSempre que eu me deparei com a estupidez humana, otimista que sou, acabava concluindo que, à medida que as consciências fossem evoluindo, sairíamos dessa situação absurda que vivemos.
No entanto a compreensão do que está por trás de toda injustiça só está servindo para percebermos como as coisas são de fato, e não está sendo bom.
Senão vejamos:
  • A imprensa livre
    Quando o FHC, o Lula, o Obama ou seja qual for o homem público, aí incluídos artistas e intelectuais, concorda em dar uma entrevista, principalmente mas não exclusivamente a órgãos de grande aceitação pública,  tudo já está combinado. A ingenuidade do entrevistador não tem nada de inocente, trata-se de um toma-lá-da-cá muito bem concertado entre as partes, servindo muito mais aos objetivos do entrevistado do que a qualquer outra coisa.
  • A democracia representativa
    A classe política há muito tempo está totalmente dominada pelos seus financiadores, pelos lobistas e pelas altas autoridades, por sua vez também dominadas pelos grandes agentes econômicos. Desde o enfraquecimento do comunismo e da guerra fria, os presidentes das nações ocidentais se tornaram caixeiros-viajantes das empresas de seus países, incluídos os Estados Unidos da América que chegam a promover guerras, com perdas significativas de vidas do seu próprio lado, apenas para garantir os interesses de empresas de energia e armas.
  • As religiões majoritárias
    Quando ouvimos a pregação dentro dos templos e acompanhamos as práticas dos líderes, percebemos que estes últimos só se mostram razoáveis em ambientes distantes dos centros de conflito, quando expostos a situações de crise se mostram com sua verdadeira cara, belicosa, ciosa de poder. Considerando as religiões Judaica, Católica e Islâmica temos desde estruturas corruptas, avarentas e midiáticas, mais semelhantes às máfias (tipo FIFA, por exemplo) até pregações sectárias e violentas incitando populações inteiras a se voltar contra algum inimigo que, normalmente, só ameaça o poder dessas lideranças.

Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI - trecho
EDUARDO ALVES DA COSTA

Pois é…

Lendo o livro do Nobel de Economia de 2015, The Great Escape: Health, Wealth, and the Origins of Inequality, de Angus Deaton, a gente começa a entender onde está a origem de tudo isso: nosso comportamento.
Como já citamos em outras ocasiões, o livro explica que a desigualdade não é, como se costuma pensar, algo que pode ser eliminado ou muito reduzido pelo desenvolvimento, mas, ao contrário, ela seria fruto do próprio desenvolvimento econômico, ou seja, quanto mais desenvolvimento tivermos, maior será a desigualdade.
Pessoas normais agindo normalmente e pensando, com certa razão, não estar prejudicando ninguém, apenas defendo sua vida, sua carreira, sua família, seus bens, estão na verdade construindo a injustiça do mundo.
Um dos aspectos do comportamento mais determinante nesse processo é o comodismo. O comodismo que está presente mesmo nos empreendedores mais ativos e nos governos mais atuantes, para não dizer em mim e em você.
Se o sistema comunista faliu devido ao desempoderamento dos indivíduos, provocado pela centralização das decisões e, com isso, o avanço do desestímulo e da corrupção, a livre iniciativa e o capitalismo, de outro lado, não conseguiram, ainda que mais estimulantes para os agentes econômicos, estabelecer práticas e condutas que garantissem um mínimo de estabilidade da economia, porque o diabo está nos detalhes.
Aparentemente, um dos aspectos mais importantes da liberdade, a falta de responsabilidade que ela enseja, é a essência do nosso problema.
Claro que a perda da liberdade não está em questão, mas como lidar com ela, sim!
É sabido que o capitalismo é um sistema que, por si só, é desbalanceado, ou seja, não tem mecanismos naturais de reequilíbrio para evitar a concentração de riqueza.
RegWatt.pngUm sistema é estável quando possui mecanismos de regulação, como o regulador de Watt (figura ao lado), usado para regular a pressão em máquinas a vapor.
O princípio é simples, um rotor com dois pêndulos oscilantes gira movido pelo eixo de saída da máquina. Quanto maior a pressão, mais rápido esse rotor vai girar fazendo com que os pêndulos oscilem para fora impulsionados pela força centrífuga e acionem, através de alavancas, uma válvula de alívio que descarrega vapor na atmosfera.
Essa descarga de vapor alivia a pressão na caldeira, fazendo com que o rotor gire mais lentamente e permitindo que os pêndulos voltem à posição inicial, fechando a válvula de alívio e equilibrando a pressão.
No capitalismo não existe nada que faça esse papel, ou seja, quanto mais dinheiro alguém tiver, mais fácil obter mais e quanto menos essa pessoa tiver, mais difícil fica parar de perder.
Se nunca tivéssemos adotado o instituto da propriedade privada e mantivéssemos apenas aquilo que estivéssemos usando diretamente, como em várias culturas primitivas e até algumas atuais, consideradas selvagens, essa regulação seria natural pela própria capacidade de usufruir que cada indivíduo tem. Sendo essa capacidade finita (basta pensar em quanto de comida alguém consegue comer de uma só vez) as possibilidades de distribuição seriam muito maiores do que em um sistema em que é possível acumular bens sob a proteção da propriedade privada (e de uma boa geladeira), muito além do que se poderia usufruir diretamente.
O problema começou quando nos tornamos sedentários e começamos a cultivar grandes áreas. Ninguém concordaria em trabalhar por um ano inteiro em uma gleba para depois vê-la ser usufruída por outro. Ainda assim não haveria problema, muitos animais são territoriais e nem por isso alugam territórios ociosos para ganhar um naco extra de carne.
O problema veio com a necessidade de maior segurança: se eu posso “ter” mais um pedaço de terra, porque não. Nesse momento incorporamos ao nosso modo de vida a ganância.
O fato é que quem leu atentamente A Riqueza das Nações, de Adam Smith, sabe que lá havia muito mais do que o conceito de mão invisível do mercado, conceito esse ali colocado como uma leitura de como funciona um mercado livre, como a lei da oferta e procura tende a regular os preços. Por outro lado ele alerta para os perigos da injustiça e da acumulação de poucos em detrimento de muitos.
“O que melhora as circunstâncias da maioria nunca pode ser visto como inconveniência para o todo. Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz, se a maioria de seus membros é pobre e miserável”. (…)
“Cada indivíduo (…) não pretende promover o interesse público, nem sabe o quanto o está promovendo (…) ele pretende apenas sua própria segurança e dirigindo sua atividade de tal maneira que sua produção seja de maior valor, ele pretende apenas seu próprio ganho, e nisto, como em muitos outros casos, é levado por uma mão invisível para promover um fim que não fazia parte de sua intenção”.
Adam Smith - A Riqueza das Nações
Nunca nos demos conta de que era preciso regulação para o mercado, não essa regulação dos bancos centrais ou dos estoques reguladores de grãos que o governo mantém, não, seria necessário muito menos hipocrisia e constatar que nosso modo de vida é o problema, que não basta defendermo-nos, precisamos buscar formas de promover o desenvolvimento para todos. Isso é fazer parte da solução e não do problema.
Mas, o que fazer?
Alguns exemplos de irresponsabilidade na gestão pública são notórios*. Vamos analisar alguns deles.

A invasão sistemática de áreas de preservação junto a mananciais de água em grandes centros urbanos.

A partir da imensa desigualdade entre as várias regiões do país, a migração para os grandes centros foi inevitável, como consequência veio o deficit habitacional e de empregos. A invasão de áreas de preservação foi acontecendo e quando o poder público viu, ou a imprensa denunciou, já era um problema social monstruoso. Ao invés de tomar providências para ao menos encaminhar uma solução para o problema a administração pública se acovardou frente aos problemas políticos que poderiam advir de sua ação e nada fez…
Aí entram os aproveitadores e fazem disso um negócio altamente rentável, explorando os infelizes.
Não foi uma ação coordenada de pessoas malintencionadas ou especialmente malévolas que levou a essa situação, apenas a tentativa de sobreviver de um lado e o comodismo do outro. Como já dizia Gabeira: “Não existem pragas, só insetos com fome.”
Nesse caso uma atuação corajosa do poder público seria:
  1. preservar as regras estabelecidas para a área, ainda que estejam com desvio de utilização, assumindo um prazo para a solução do problema;
  2. garantir que ninguém mais entre nessa área, evitando que o problema aumente;
  3. retirar, gradativamente, essa população para áreas de reassentamento planejadas para esse fim.
No primeiro momneto, o único motivo para não agir assim não são interesses escusos, é apenas e tão somente o comodismo, estar com o foco voltado para si próprio e não para o interesse público.

A especulação financeira

É da natureza humana querer sempre mais e ao adotar práticas financeiras que tem como fundamento conseguir mais dinheiro em prejuízo de outros, ao invés de obter esse dinheiro em alguma atividade produtiva, inicia-se uma bola de neve cujo único final possível é a crise.

Ocorre que, inicialmente, a maioria começa a obter recursos em atividades produtivas, porém as oportunidades vão surgindo e, paulatinamente, lá estamos nós também aplicando na bolsa. Claro que a maioria de nós vai entrar apenas para alimentar os tubarões, mas não deixa de ser um incentivo a esse processo.

O governo chinês anuncia que vai proibir ostentação nas construções. É exatamente disso que estou falando: ostentação!

Se houvesse um meio de coibi-la sem atentar contra as liberdades individuais, tudo bem, o problema é que só na China isso é possível, afinal é o único regime comunista que convive com o capitalismo numa boa, pelo menos até agora.

A venalidade dos políticos

O processo é o mesmo: um líder estudantil bem intencionado é instado a se filiar a um partido político, candidatar-se a um cargo público e, em pouco tempo, se vê envolvido nos processos que garantem financiamento para suas campanhas, nas barganhas impostas pelos caciques do partido etc. É isso ou você está fora do processo.

A atuação predatória dos lobistas

Começa com a ideia de publicidade. O que pode haver de errado em divulgar as qualidades de algo que se quer vender?
O que de fato aceitamos é que pessoas ou veículos de informação considerados respeitáveis, mintam descaradamente apregoando mil e uma coisas por um pagamento. Ora, se isso não é corrupção, não entendi o conceito.
Aí, quando vemos o tremendo estrago que os lobistas podem fazer com a política de um país inteiro, nos indignamos, esbravejamos, dizemos que são imorais.
São alguns exemplos de como a nossa sociedade está acomodada, conformada com o que considera pequenos desvios inerentes à liberdade.
O fato é que a cada dia estamos mais lenientes e quando o problema se agiganta não sabemos o que fazer.


“O pecado do século é a perda do sentido de pecado”
Papa Pio XII

(*) Não falo só do Brasil, é uma atitude que levou a todas as grandes crises vividas no mundo.



Heróis, Vilões & Súcubos

Como vilões acabam sendo heróis? Aquela pessoa que abandona família, amigos, vida pessoal, tudo por um objetivo, dificilmente é um súcubo e apesar de parecer um vilão pode ser exatamente o herói, o que promove mudanças que eventualmente beneficiam muitos ou, como a história é pródiga em contar, de toda a humanidade.
Aquele pai dedicado, marido fiel e amado por todos pode muito bem ser apenas um súcubo vivendo bem. O fato é que todos temos que ser, em alguma medida e em algum momento da vida, um pouco heróis, na hora de tomar uma decisão importante, de atender a um chamado da responsabilidade.
Como heróis podem se tornar vilões? O desalento leva a um estado de espírito em que começa a prevalecer um sentimento confuso: se eu não fizer alguém vai fazer; do jeito que está não vai fazer diferença; está tudo perdido, agora vale tudo. Eis que surge mais um vilão, este do pior tipo porque acha que não tem responsabilidade nenhuma sobre esse estado de coisas.

Vilão ou herói será apenas uma questão de ponto de vista, o que não se admite é sucumbir.
O Muro.jpg
“Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.” Apocalipse 3:15-16

Seria o Panama Papers o Wikileaks chapa branca? Estaria aí a origem do poder do senhor Sérgio Moro?
Sobre isso quero fazer um comentário: sempre que se questiona o Moro Power alguém sugere que se queira abafar as investigações.
É interessante como as cortinas de fumaça são eficientes. Uma vez que as investigações apontam para problemas graves, todos se voltam para elas e deixam de lado qualquer suspeita que surja sobre os investigadores.
Ninguém deve compactuar com a corrupção, muito menos com crimes ou mesmo com a incompetência de um governo incapaz de alinhavar o apoio necessário para garantir a governabilidade do país, mas nem por isso devemos esquecer que outros poderes estão em movimento e, muito provavelmente, por trás dos atores agora posando de heróis.

O malfeito nos persegue por toda a vida!
Se o malandro soubesse como é bom ser honesto...

Essa frase, que imediatamente nos soa muito verdadeira, trata daquilo que fazemos com base no auto-engano.
O que chamamos de “mal” é sempre originado de uma mentira, seja quando mentimos para os outros, seja quando mentimos para nós mesmos.
O avarento engana a si próprio achando que a segurança de um patrimônio crescente lhe trará a felicidade ou, pelo menos, o protegerá da infelicidade.
O malfeitor, seja um ladrão de galinhas ou um político corrupto é apenas um avarento corajoso.
O vigarista mente para o otário acreditando que essa é uma forma mais fácil de sobreviver.
Excetuando-se os psicopatas, todos os demais malfeitores incorrem no mesmo erro.
Esse tipo de atitude corrói a confiança que dá suporte a uma sociedade.
A mentira sempre deixa pontas soltas, que permanecem como que nos perseguindo para sempre, não apenas como um sentimento, arrependimento ou remorso, mas exigindo atenção e, muitas vezes, outras mentiras para sustentar a mentira original.
O paralelo com a Parábola de Muccillo é que, do lado esquerdo, o progresso é conseguido forçando a natureza humana, constrangendo as ações pela força ou por falsas promessas e, dessa maneira, de alguma forma, baseando-se na mentira, exigindo intervenções constantes para correção dos desvios que, inevitavelmente, contribuem para o colapso.
Já do lado direito, a disciplina, o trabalho e o progresso resultante ocorrem como evolução natural da consciência individual e coletiva.
Aqui aflora novamente a comparação que tínhamos feito com os ecossistemas, em que as nossas intervenções - artificiais - para corrigir desequilíbrios, sempre levam a novos desequilíbrios.
Fizemos essa observação em relação ao que consideramos “negativo”: o lado esquerdo da parábola e a sustentação de uma mentira, entretanto esse mesmo fenômeno ocorre em todas as ações humanas, uma vez que, mesmos as que julgamos positivas, são fruto do pensamento e, portanto, artificiais.
Nossas ações, sob a ótica da sociedade humana, de uma perspectiva mais imediatista, podem ser, de fato, positivas, mas de uma perspectiva mais ampla, sob uma ótica mais abrangente, sempre estarão provocando algum desequilíbrio*.
Sob essa nova ótica podemos dizer que a necessidade de intervenção constante não se dá só em um dos casos, mas em qualquer ação humana**.
Nesse caso, do lado esquerdo essa responsabilidade fica com a liderança do processo e do lado direito com cada um de nós.
Daí surge a questão: Agir ou não agir?
Eu não tenho dúvida que a vida pede ação. Vale a metáfora do caminhar:

A vida é como o ato de caminhar, ou seja promover, a cada passo, um desequilíbrio, imediatamente corrigido pelo outro pé. Se você não provocar esse desequilíbrio não vai andar.

Penso, logo estou vivo!

Descartes que me desculpe, mas não basta existir para pensar, é preciso estar vivo e estar vivo é pensar, não tem escapatória.
Se agiremos guiados pelos nossos pensamentos? Infelizmente nos condenamos a isso quando começamos a pensar, não temos mais como voltar ao paraíso.
Eu não posso ser desonesto a ponto de ignorar o que eu sei, esse é o pior tipo de auto-engano!
Qualquer discurso “zen” como fórmula de felicidade é, a meu ver, falso, pois contraria o fundamento básico da vida que é a incerteza, o stress e o risco. Só estaremos livres desses elementos na morte e daí para frente estaremos no mundo das especulações.
Isso me lembra a noite de Natal de 2015, quando ficamos conversando sobre nossas vidas e eu comentei meu desalento com o hedonismo, a busca do prazer, das necessidades do ego, que dominam a forma de pensar atual e disse: - A vida não é isso!
Aí, alguém disse, ironicamente: - É, a vida é um vale de lágrimas!
Claro que foi um comentário bem humorado, apenas para distensionar a conversa, mas é interessante esse maniqueísmo do senso comum. Se não for prazer é dor!
Acho que o buraco é mais em baixo. O prazer só satisfaz de verdade, só pode se transformar em felicidade, quando é resultado da busca de um objetivo maior, da construção de algo que julguemos importante, o resto tende rapidamente ao tédio e, eventualmente, à infelicidade.





(*) Daí minha convicção de que sustentabilidade, quando referida à espécie humana, é uma falácia, uma impossibilidade lógica. Basta pensarmos na palavra “artificial” (ou cultural), que significa algo feito pelo homem, em oposição a “natural”, algo que ocorre livre da intervenção humana. Nem nós achamos nossas ações naturais!
(**) Não quero aqui insinuar que somos uma mentira da natureza...