Síndrome de EstouCalmo
A verdade sobre a sua existência!
23/03/2016


Sabe quando nos mandam aquelas apresentações com imagens magníficas, fundos musicais maravilhosos, com mensagens do tipo: agradeçam a deus pelas maravilhas da vida, do universo etc. etc.? Não há como negar que, por mais piegas que sejam, acabamos achando bonito mesmo.
Sempre que isso acontece me lembro de Jornada nas Estrelas, a cada episódio surgiam formas de vida estranhas e ambientes mais estranhos ainda, alguns de fogo, outros de gases tóxicos e eu pensava: os seres hipotéticos que viveriam em lugares assim achariam tudo lindo também? Acho que sim, pelo simples motivo de não terem opção, de estarem presos inexoravelmente a seus corpos e ambientes.
Seria esse o nosso caso? Vamos reconhecer que isso tudo que consideramos maravilhoso, espetacular, divino, o milagre da vida, não passa de uma forma de nos acalmar, como no caso da Síndrome de Estocolmo*, uma forma de suportarmos nossa condição.
O que gostaríamos mesmo é de não ter que dormir, nem comer, nem cagar, nem ficar doentes ou sozinhos, nem lutar pela sobrevivência, nem competir com os concorrentes, nem sofrer, nem envelhecer, nem saber que vamos morrer, talvez até não morrer. Gostaríamos de poder voar, estar onde quiséssemos quando quiséssemos, mas… tinha que respirar (lembram do Arnaldo?)
Pois é! O problema (ou o paradoxo) é que esses desejos aparentemente básicos são pura ilusão, se tivéssemos tudo isso estaríamos querendo morrer, seríamos os mais prováveis candidatos a suicidas.
Isso não tem explicação a não ser por dedução, se verificarmos o que nos trouxe até aqui:
Considerando as ideias dominantes na maioria das religiões, filosofias e, mais recentemente, as conclusões da ciência, tudo se inicia do nada, seja do Tao, a partir do qual brotaram o Yin e o Yang, seja, como nos ensinam os cosmólogos, que a matéria é fruto da divisão do nada em matéria e antimatéria**, seja, como dizia Aristóteles, a intenção precede o ato, ou a enteléquia precede a coisa.
Yin e Yang só existem em movimento, em desequilíbrio, como ao andar de bicicleta (pare pra ver), também a matéria está em constante desequilíbrio sujeita à entropia que tende a desorganizá-la e à vida que luta por reorganizar o que for possível.
Da mesma forma, sejam os religiosos, os filósofos ou os cientistas, todos concordam que tudo nasce de uma intenção e que essa intenção está no âmago de cada coisa.
Todos estão de acordo com isso, podemos dizer que nós já tínhamos a intenção de ser antes de nascer ou mesmo de ser concebido.
Daí a minha conclusão: estamos aqui, vivendo e aprendendo por uma simples razão, por que assim quisemos em algum momento prévio.
Então o milagre, a maravilha, o espetacular da vida é isso: querer viver, em outras palavras: querer aprender!


(*) Síndrome de Estocolmo é o nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade pelo seu dominador.
(**) Que eles não sabem para onde vai, talvez alguma dimensão diferente da nossa.

Muito bem! Mas por quê toda essa conversa? Para avaliarmos o que acontece hoje:

A política e a Síndrome de Estocolmo

Hoje vivemos uma situação que tem muita semelhança, ao menos sob o aspecto em pauta, com a vivida durante a ditadura, com a diferença apenas da proporção das pessoas de um e de outro lado.
Naquela época, e alguns de nós lembram bem, existiu, durante um bom tempo, uma sensação de segurança para a maioria, o milagre brasileiro, alguma estabilidade, desenvolvimento, obras gigantescas, empresas crescendo em escala multinacional, de tal forma que nesse período houve apoio da população. Do outro lado era uma minoria que sofria com as perdas das liberdades individuais, eram perseguidos, presos, torturados e assassinados, por discordar da forma totalitária como as decisões eram tomadas.
Além disso a censura aos meios de comunicação impedia que a maioria tivesse acesso a essas informações, inclusive em relação à ingerência maliciosa dos Estados Unidos.
Com o passar dos anos essa minoria foi conquistando espaços, muito devido à militância dos artistas que, apesar do cerceamento que sofriam, conseguiam encontrar meios de mostrar o seu lado dos fatos. Afinal, como a vida, a arte sempre encontra um meio.
Hoje a minoria está do lado que defende o poder que se instalou a partir de um projeto muito sedutor (posso dizer até pelo meu envolvimento pessoal com esse projeto), aparentemente muito bem dirigido durante os oito anos de governo Lula, mas que se afogou no próprio poder que instituiu, um poder tão extraordinário que só se explica, como ficou evidenciado nas investigações, pela institucionalização da corrupção. Parece que eles se convenceram que era o único jeito de lidar com aqueles “trezentos picaretas” do congresso.
A explicação para essa adesão de alguns aos donos do poder, em dois momentos tão diferentes de nossa história é a mesma: a empatia gerada pelo próprio poderoso. Da mesma forma que, na época da ditadura militar, era evidente que o país estava crescendo, gerando uma “justificativa” para a violência física, hoje é evidente a melhora significativa na justiça social (embora já escorrendo entre os dedos), o que justificaria a violência econômica.
Então chegamos aos ponto que eu queria:

Pra unir vale tudo!

Já que o slogan deste blog é “para unir vale tudo”, pensei em discutir um pouco o que é unir e o que é separar.
Logo de cara me parece que um grupo unido seria um grupo com os mesmos valores, mais ou menos a mesma filosofia de vida, mas, é claro, a conveniência, a interdependência e coisas menos tangíveis, como afinidade, amor e simpatia têm um papel importante nessa coesão. Quero me ater, pelo menos por enquanto, ao modo de pensar, ao senso comum.
Nos primórdios da civilização e, acho eu, até a idade média, o modo de pensar era delimitado pelas fronteiras físicas, uma comunidade vivia num determinado sítio e, salvas as exceções esperadas, um ou outro rebelde, os loucos (na visão dos normais, evidentemente), os sonhadores, a maioria comungava de convicções e filosofias muito parecidas que, por outro lado, poderiam ser muito diferentes de comunidades distantes, mais ou menos como ainda se verifica comparando o indivíduo dito urbano e civilizado e alguns povos isolados considerados selvagens.
Hoje essa delimitação não é mais física, ainda que em relação a povos isolados isso seja verdade, mas em comunidades modernas os grupos ou tribos, como virou moda chamar, coabitam os mesmos espaços físicos, agrupando-se em espaços virtuais.
Entretanto a vida diária continua delimitada fisicamente, habitamos e exercemos nossas atividades em espaços físicos delimitados e em conjunto com muitas pessoas: familiares, colegas de trabalho, companheiros de atividades esportivas etc. É nessa esfera que o relacionamento é real, quer dizer, olho no olho, sensorial, onde a empatia tem uma chance de ocorrer.
Quando compartilhamos ideias apenas nos confundimos com a máquina, adotamos a máscara que quisermos, daí os avatares, basta verificar a quantidade enorme de mal-entendidos que os e-mails podem gerar.
Ainda que não compartilhemos as mesmas ideias com as pessoas do nosso entorno físico, é altamente conveniente, se não absolutamente necessário, manter um relacionamento mais do que harmônico com essas pessoas, um relacionamento de amizade, confiança e apoio mútuo.
A partir dessa constatação verifica-se que unir não significa mais pensar igual, ao contrário, quanto mais se aceitar os diferentes modos de pensar, mais unido será um grupo. E o que separa?
Essa é uma questão delicada, porque lida com uma área do comportamento muito complexa, onde valores, filosofia de vida e sentimentos se mesclam para um resultado.
Uma das áreas mais sensíveis do comportamento é a política em tempos de crise. É talvez o tema que mais causa afastamento entre as pessoas. Por quê?
Porque estamos falando de paixões, não de racionalidade.
A síndrome de que falamos sempre tem um contraponto: a rebeldia!
Nenhum argumento vale mais nada porque as forças envolvidas são o medo, a necessidade de fazer parte de um grupo, a vaidade etc.
Quando discutimos nossos interesses comuns, aqueles que mesmo os amigos mais íntimos podem discordar, como preferências pessoais em relação a comidas, a lugares, a esportes, a opções de lazer etc., normalmente fazemos brincadeiras, muitas vezes zombamos da outra pessoa e tudo acaba em uma grande gargalhada. Mesmo que alguém se sinta desconfortável, afinal chatos há em todo lugar (olha, não gostei do que vocês pensaram agora, tá!), ainda assim tudo acaba em confraternização.
A síndrome de que falo acende uma paixão quase irrefreável, aí nos sentimos ofendidos profundamente com qualquer comentário depreciativo ou jocoso e, mais do que depressa, tentamos atingir o, nesse momento, inimigo.
Na minha opinião nada vale esse tipo de comportamento, nenhum assunto, por mais essencial que pareça, é para ser levado tão a sério.
Nada irá se resolver com isso, ao contrário, só irá piorar. Então às favas com essas baboseiras de ideologia, de partidos políticos, de filosofias e vamos ao que interessa: viver, aprender e compartilhar o que aprendemos em um ambiente o menos sério possível.
E aí, o que pode acontecer?

Há um lado certo?

Quando percebemos que a Regra do Jogo foi feita pelos donos deste cassino chamado mundo civilizado parece que tudo está perdido, que não nos resta mais do que vegetar neste mundinho.
Entretanto, se há um contexto em que a ideia de Deus é aceitável, esse contexto é este.
Nem todos os vilões do mundo alterarão a ordem natural das coisas, a rota da evolução. Seja através das manifestações, seja pela intervenção da imprensa ou dos antagonismos entre as várias forças disputando o poder, as coisas fluirão.
Ao longo da história cansamos de ver esse tipo de fenômeno. Apenas como exemplos cito:
O Papa Bórgia, um dos maiores cafajestes do mundo, canalha, corrupto, devasso e, apesar de tudo um dos grandes responsáveis pela restauração de Roma e pelo renascimento nas artes e no pensamento do ocidente.
Kennedy, um político apoiado pela máfia, tão ou mais inescrupuloso do que Frank Underwood, o político cafajeste da série House of Cards, foi o responsável por impulsionar os Estados Unidos para a posição de primeiros do mundo em poder político, militar e econômico.

Resumindo, apesar de ser um lugar comum, o fato é que ninguém é totalmente dono do seu destino, embora não sejamos simples marionetes dos deuses. Quem leu Os Lusíadas sabe do que estou falando.