O socialismo residual nos países de cultura patrimonialista como resultado do sentimento de culpa das elites dominantes
24/07/2014
Ultimamente estamos vendo uma escalada preocupante do 'bolivarianismo' em nosso país, fruto desse ideário altamente discutível, para dizer o mínimo. Na minha avaliação representa a ascensão ao poder de uma ala mais radical do PT, com a 'presidenta' Dilma Rousseff liderando algo que, temo, ela não tem ideia do que representa.

A demonstração de autoritarismo, sob o manto de um pretenso 'feminismo', dessa senhora, com a exigência de que seu cargo seja redigido e falado no feminino, contrariando as regras da língua culta e desautorizando milhares de professores em todo o país, mostra o que se pode esperar de sua excelência:
  1. A política monetária míope imposta pelo seu governo, contendo os juros e liberando a inflação é semelhante a fechar o ladrão da caixa d'água para evitar as perdas e deixar a caixa transbordar.
  2. A redução de tarifas prometida pela 'presidenta', de 16% para as residências e de até 28% para as indústrias, se esvaiu com os reajustes deste ano. As tarifas já superam as praticadas antes do corte. Mas a política continuará impondo custos às empresas de energia, em especial às distribuidoras, uma vez que continuam prevalecendo as regras impostas por essa senhora, que impõe às empresas condições que contrariam as leis de mercado, forçando-as a pagar pela eletricidade mais do que podem cobrar dos consumidores. A diferença acaba tendo que ser coberta novamente pelos contribuintes, de uma forma ou de outra. Nesse ínterim os investimentos voam para longe do país, onde possam encontrar condições favoráveis para obtenção de lucro e, principalmente, onde as regras sejam estáveis e os contratos sejam honrados até o seu final.
  3. A tentativa de atribuir ao Judiciário o controle sobre projetos de lei no Congresso, felizmente rejeitado pelo próprio STF.
  4. A Política Nacional de Participação Social, que fortalecerá Conselhos Populares, cujas lideranças não sofrem nenhum controle e são facilmente cooptadas pelos grupos de poder políticos ou criminosos.
  5. O aceno insistente com a famigerada "Poupança Fraterna" que impõe um limite máximo de consumo a cada habitante do país.

O capitalismo liberal (a social democracia é um modelo capitalista) evoluiu a partir das culturas dos povos nórdicos: vikings, saxões, germânicos e outros, não latinos, como um sistema muito próximo do natural, pois essas culturas privilegiavam a seleção por competência.

Já os povos adestrados pela Pax Romana, denominados latinos, desenvolveram o capitalismo inserido em um sistema feudal e patrimonialista (aqui a figura da propriedade privada assumiu conotações de coisa sagrada), utilizando inclusive o discurso religioso para justificar o direito divino do rei.

O instituto da propriedade privada em si não representa uma invenção humana, pois ocorre na natureza pura, com demarcação de territórios, acumulação de alimento etc., entretanto exige esforço e vigilância para sua manutenção.

Nas culturas patrimonialistas evocam-se direitos sagrados (divinos) para cooptar acólitos que ajudem na defesa dessa 'propriedade', em troca de favores, para encobrir a falta de competência do 'proprietário' para manter sua propriedade, bastando sua habilidade de convencimento e de articulação dos interesses e dos 'medos' de seus asseclas. Isso é absolutamente artificial e fruto da inventividade humana.

Já falamos que o vigarista só existe devido à existência do otário, que nada mais é do que alguém que almeja e até acredita ser também um vigarista. Esse fenômeno cultural, dominante em nossa cultura latina, é que permite essa estrutura de poder baseada apenas em promessas e ameaças.

Essa comparação demonstra mais uma vez que um mesmo conceito, no caso a propriedade privada, quando utilizado por culturas em diferentes estados de desenvolvimento da consciência, pode resultar em efeitos opostos, reforçando minha convicção de que, em uma sociedade com alto grau de evolução da consciência qualquer sistema político ou econômico funcionará bem, por outro lado, sem essa consciência disseminada pelo grupo, nenhum sistema dará bons resultados.

Por que as culturas liberais anglo-saxãs parecem mais evoluídas nesse aspecto, do que o patrimonialismo latino?

Não se trata de demonizar uma ou outra cultura, é claro que esses fenômenos ocorrem em todas as sociedades humanas, mormente nesta nossa época globalizada, para o bem ou para o mal. O que se quer demonstrar é as características que predominam em uma e outra formas de convivência.

Uma hipótese seria o paternalismo da cultura romana, que via no povo apenas uma massa de manobra para o poder imperial, enquanto nas culturas do norte a competência era o valor mais cultuado.

A atitude ditatorial dos romanos, impondo a sua Pax a qualquer custo, embotou o desenvolvimento das capacidades individuais dos povos submetidos.

Essa estrutura patrimonialista que garante ao 'amigo do rei' as maiores benesses, acaba por produzir, de um lado, um sentimento de desconfiança e revolta por parte do pobre, e de outro lado, um sentimento de culpa nas elites dominantes, ao contrário dos países em que o capitalismo é, de fato, liberal, nos quais o pobre pode até invejar o rico, mas, de alguma forma, o admira, e o rico respeita as tentativas de qualquer um que queira entrar na competição, sem paternalismos ou condescendências, apenas respeito.

Iniciativas que melhorem as chances dos pobres, como educação, aumento de oportunidades etc., são mais bem aceitas em países com esse tipo de cultura do que nos de herança latina, em que há medo, culpa, desconfiança e revolta na relação entre as classes. Essa situação favorece a persistência de ideais voltados para o estado controlador, capaz de regular a distribuição não de oportunidades, mas de benefícios.

Os defensores dessa linha de pensamento alegam que o desenvolvimento dos países capitalistas se deve, principalmente, à exploração sobre os países em desenvolvimento - o imperialismo moderno, mas não levam em consideração o esforço de trabalho e de criação intelectual desses povos.

Curioso (e paradoxal) notar que, a prevalecer a teoria aqui desenvolvida, ao contrário do que esses teóricos da luta de classes defendem, teria sido o imperialismo paternalista de Roma que teria embotado a capacidade de desenvolvimento dos povos latinos, tornando inclusive o termo 'países em desenvolvimento' uma falácia quando atribuído aos países de cultura latina, uma vez que estes representam a estagnação da evolução individual, ao contrário do 'domínio' exercido pelos países não latinos que permite a competição e a educação dos 'dominados'.


Fiquemos atentos, temo que o futuro (mais uma vez) nos cobre muito caro a irresponsabilidade no presente.
Juniorização em Fatos
11/07/2014
Pressa e excesso de trabalho elevam risco de acidentes em obras no Brasil
Luis Kawaguti*
Da BBC Brasil em São Paulo
Atualizado em  17 de dezembro, 2013 - 06:51 (Brasília) 08:51 GMT
As mortes ocorridas nas obras de estádios da Copa do Mundo de 2014 colocam em evidência as falhas de segurança nos canteiros de obra brasileiros. Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, a pressa para cumprir prazos e as altas cargas horárias cumpridas por operários são hoje as maiores causas de acidentes no país.

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10/06/2014 02h27 - Atualizado em 10/06/2014 14h13

Vídeo mostra momento em que viga caiu na obra do monotrilho em SP


Acidente matou um operário e feriu outros dois na segunda-feira (9).
Peça despencou enquanto era ajustada por trabalhadores da obra.



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Queda de viaduto em construção matou dois em BH

Estrutura esmagou quatro veículos e feriu pelo menos 15 na avenida Pedro I, na Pampulha
Viaduto em construção fica a 5 km do Mineirão
Reprodução/Rede Record
Um viaduto em construção desaba e mata pelo menos duas pessoas. O desastre aconteceu na tarde desta quinta-feira (3) no complexo viário que receberá o BRT Move na região da Pampulha.



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Três vigas de viaduto em construção desabam na Anchieta, em Cubatão

Acidente aconteceu por volta das 10h40 desta quinta; ninguém ficou ferido.
Cada uma das vigas que desabaram pesava cerca de 100 toneladas.

Parte de viaduto desabou em Cubatão, no litoral de São Paulo (Foto: Jéssica Bitencourt/G1)
Três vigas de um viaduto em construção desabaram na Rodovia Anchieta, no sentido São Paulo, na altura de Cubatão (SP), na manhã desta quinta-feira (10). Segundo informações do Corpo de Bombeiros, ninguém ficou ferido. A Defesa Civil foi enviada ao local e vai investigar as causas do acidente.



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Indignação supera tristeza de torcedores após derrota de 7 x 1 para Alemanha

terça-feira, 8 de julho de 2014 21:51 BRT
Por Felipe Pontes


RIO DE JANEIRO (Reuters) - Indignação e humilhação foram os sentimentos predominantes entre torcedores brasileiros após a goleada histórica da Alemanha sobre o Brasil pela semifinal da Copa do Mundo em casa nesta terça-feira, com muitos incrédulos com o placar arrasador de 7 x 1.
“Eu não estou nem triste, me sinto surpreso. A derrota faz parte da vida, mas perder desse jeito não dá para entender. Nós brasileiros não estamos acostumados a esse tipo de derrota”, afirmou Marcelo Cardoso, de 46 anos, no Fan Fest nas areias de Copacabana, uma das festas oficiais montadas pela Fifa para o Mundial.


















Você merece!
O segredo do diabo

06/07/2014
O Jabor escreveu um texto (O Brasileiro Merece... - siga o link) que me deixou frustrado por não ter sido eu! Ainda assim vou corrigir dois aspectos:
ü A mensagem é dirigida ao ‘brasileiro’ – o conveniente ‘terceiro excluído’. Como se não fosse dirigida a todos nós: você, eu, nossa família, nossos colegas, amigos, vizinhos, inclusive a ele mesmo: Jabor, por que não?
A ressalva “Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse comentário...” colocada no final, isenta o leitor de qualquer responsabilidade.
  
ü A conclusão “Temos petróleo, álcool, bio-diesel, e sem dúvida nenhuma o mais importante: água doce! Só falta boa vontade. Será que é tão difícil assim?” – falsamente otimista – tem como único objetivo amenizar o problema e conquistar simpatia:
Infelizmente, como qualquer pessoa de bom senso sabe, a solução nunca é ‘fácil’, embora só falte, como diz Jabor, boa vontade, na verdade é muito simples, mas o simples nem sempre é fácil.
Mais uma vez sou forçado a repetir: Você nunca tem o que (pensa que) merece e sim o que negocia!
Não é que ‘merecimento’, como causa e efeito, não seja uma realidade, basta por a mão no fogo para entendermos perfeitamente esse conceito. O fato é que nossa auto avaliação é enganosa.
Para dar a devida dimensão dessa questão é fundamental fazer a pergunta: Você está contente com as soluções que seus problemas têm encontrado?

Estamos habituados a sempre dizer que está tudo bem, não só por ser um protocolo social, mas porque precisamos passar aos outros uma impressão de ‘sucesso’. Pode ser verdade mesmo, entretanto o mais comum, infelizmente, é que não seja.
– Estou ótimo! (mas queria estar fazendo outra coisa, com outras pessoas, em outro lugar...)
Precisamos achar que tudo está bem, que nossa vida é maravilhosa, que temos tudo que poderíamos querer, mas, lá no fundo, à noite, na solidão do travesseiro, algo tenta insistentemente nos desmentir. Muitas vezes o ambiente de trabalho não satisfaz mais, o ambiente familiar é tedioso – ou pior, cheio de conflitos – ou estamos menos tempo do que gostaríamos com nossos amigos.
Frequentemente estamos na expectativa de alguma coisa: uma festa, uma viagem, um carro novo, uma roupa nova (no caso das mulheres: um belo par de sapatos)... e, quando essa coisa ocorre, a história se repete: parece que não satisfaz, é um tédio, ficamos aborrecidos com o que alguém falou ou fez, aquilo que conseguimos não é exatamente o que esperávamos, e, mais uma vez, saltamos para a próxima expectativa, a ponto de muitas vezes nem chegar a realmente experimentar o nosso ‘presente’.
Leva! Merece! Expectativa é algo de fora (ex), quando ela não satisfaz é porque você não está contente com o que, de fato, merece, com a solução que seus problemas estão encontrando, que nem sempre é aquilo que você achou que merecia. O universo é implacável e, creiam, absolutamente justo, apesar de muitos acharem o contrário.
O que precisamos mudar é a EUpectativa, o que ‘temos’ que fazer para conseguir os resultados que esperamos, seja no campo material, seja no campo dos relacionamentos.
Outro dia encontrei uma senhora na farmácia e começamos a conversar sobre plano de saúde – os assuntos na ‘melhor idade’ são meio recorrentes. Ela me perguntou por que minha carteirinha era azul enquanto a dela era vermelha. Expliquei que eu tinha optado pelo plano básico e, quando necessário, pagava a diferença do atendimento no momento do uso, seja um recurso fora do meu plano, seja um padrão de acomodação melhor, como apartamento individual. Como exemplo, contei que, na minha cirurgia do ano passado, gastei R$ 900,00 pela diferença de padrão, em 7 dias de internação, o que resultou menos do que a diferença de mensalidade de um mês do meu plano, portanto essa opção é altamente compensadora financeiramente.
Depois de toda a minha explicação ela me respondeu: – Mas aí tem que fazer administração financeira, né? Com uma expressão de desdém, como quem diz: – Não tem perigo de eu fazer isso!
Leva! Merece! Depois reclama que a aposentadoria não dá pra nada.
Há quem diga que controlar as finanças é pra malucos, que é muito difícil, alegam que não tem nenhuma habilidade pr’a coisa. É como se ainda tivéssemos um pai pra tomar conta de nós ou como se não vivêssemos em uma selva, onde é cada um por si.
Isso é ‘arrogância’: arrogar-se um direito que ninguém lhe outorgou.
É como se contassem com a ajuda de Deus em tempo integral, mas é bom lembrar que ‘Deus ajuda quem cedo madruga!’ Uma das ajudas mais importante que Deus dá é a capacidade de se defender na ‘selva’.
– Mas, viver desse jeito, sob todo esse ‘stress’, reduz a expectativa de vida! – dirão muitos.
A isso eu respondo:
  1. Não precisa ser estressante. À medida que se assuma como condição intrínseca ao ato de viver, algo do que não se pode escapar, passa a ser o contrário, ficamos mais leves com a sensação de estarmos no controle de nossa vida. Afinal, quando ficamos sem dinheiro é assim que nos comportamos, a menos que sejamos totalmente inconsequentes.
  2. ‘Stress’ é a condição fundamental da ‘vida’. Se não houvesse o ‘stress’ não seríamos nem bactérias, apenas moléculas inanimadas.
  3. Expectativa de vida é uma das maiores idiotices já idealizadas pela humanidade. Além de ser ‘ex’, ou seja ‘de fora’, o que de antemão já se constitui em erro básico, uma vez que ‘de fora’ nada pode satisfazer, nem ao ser nem ao universo, também porque o ‘tempo’ (medida da expectativa de vida) não é medida para nada, é apenas uma ilusão de nossa consciência, um único ‘átimo’ pode ser mais importante do que toda a eternidade.

Meditabundos x Peripatéticos

Meditabundos são os arautos da conspiração, veem má fé em tudo que os rodeia, acham que todo mundo é otário. São os profetas do apocalipse.
Vaidosos e invejosos, sempre acham que têm a solução para tudo, entretanto, quando responsáveis por alguma missão um pouco mais importante, acabam agindo como aqueles que criticava.

Não têm uma noção muito boa da realidade, nem querem ter, súcubos que se voltam para si mesmo, para suas mazelas e ficam remoendo mágoas que eles mesmos produzem.

Cheios de auto piedade, estão sempre justificando, às vezes de forma extremamente tocante, seus fracassos. Em muitos casos, não chegam a ser infelizes, mas raramente conseguem se sentir felizes, no máximo alcançam algumas alegrias em meio a uma vida de comiseração, momentos que apenas servem para lembra-los de quão sofridos são seus dias.
Ao contrário, os peripatéticos vão ao mundo conferir suas ideias e, o que é muito frequente, se veem forçados a rever seus conceitos. São os ‘malucos beleza’, metamorfoses ambulantes, como dizia Raulzito.
Os peripatéticos vivem oxigenando seus cérebros – metafórica e literalmente também, o que faz toda a diferença – pesquisando, analisando e em permanente reforma.
Já os meditabundos são os engenheiros de obras prontas. Se alimentam da crítica ácida e mordaz, como se fossem os sábios definitivos. Pensam ‘anaerobicamente’, sempre paradões em seus castelos de ‘verdades prét-a-porter.
Pior do que um empregado incompetente é um empregado incompetente com iniciativa!
A frase, muito conhecida por qualquer um que já teve alguém sob seu comando, serve muito bem aos meditabundos: Pior do que um meditabundo é um meditabundo com iniciativa – vira black-bloc!

Tesão & Taras X Missão & Valores
O Elemento Sagrado

Senão vejamos: esse jogo que estamos jogando há alguns milênios neste nosso mundo, foi inventado por nós mesmos, de uma tabelinha entre o Gene Egoísta (Tesão & Taras) e o Espírito Humano (Missão & Valores). Engana-se redondamente quem pensa que fomos colocados aqui por algum ‘deus’ zombeteiro, em um jogo inventado por ele, com o único objetivo de se divertir com nossas tribulações e medos.
Antes de existir vem a enteléquia de Aristóteles: o potencial de ‘ser’ – “no princípio era o verbo”.
A enteléquia precede o ser, é verdade, mas, ao mesmo tempo, já ‘é’ o ser. A enteléquia é, ao menos, a intenção de ‘ser’, o projeto original, e é individual, tanto quanto algo possa ser individuado neste mar de vibrações chamado universo.
Pois é, quando decidimos existir e, mais do que isso, assumir uma existência consciente, entramos deliberadamente no jogo.
O ‘Banqueiro Anarquista’ de Fernando Pessoa, já citado por mim outras vezes, não é apenas uma anedota, na verdade retrata fielmente a realidade por trás desse jogo que inventamos e cujas regras nós mesmos estabelecemos.
O capitalismo é o regime de convívio social mais ‘natural’ até hoje experimentado, apesar de seus vícios e mazelas, os quais têm muito mais a ver com nossa educação do que com o ferramental disponibilizado por esse sistema.
Lamentavelmente, existe um lado mais tenebroso dessa questão: o segredo do diabo!
Hoje vemos muitos ‘merecedores’ reclamando seus ‘direitos’: jovens desinformados, ‘Black blocs’, misturados a vândalos e bandidos, convencidos que têm que lutar contra tudo e contra todos, determinados a ‘mudar’ as coisas pela destruição.


Uma sociedade se faz de lideranças e liderados, a anarquia é só uma utopia, uma impossibilidade lógica se falamos de convivência em grupos sociais.


O fato é que, como os que não cuidam de suas finanças e reclamam que estão ‘sem dinheiro pra nada’ ou aquele que, como dizia o poetinha: se acha ‘amo e senhor do material’ e não percebe que ‘as mulheres são muito estranhas... ’, os ‘rebeldes’ atuais também não se acham responsáveis pela solução, acham que alguém tem que resolver.

O segredo do diabo é esse: atrair os incautos pela sedução. Não existiriam os vigaristas se não existissem os otários!

Sempre achei que em uma sociedade com uma consciência bem desenvolvida, qualquer sistema vai funcionar. O sistema não é o vilão a ser combatido! O vilão está em nós mesmos!
A rebeldia, a contestação, a violência têm o seu papel, não nego, principalmente quando passam uma mensagem clara.
No caso do movimento ‘passe-livre’ houve uma conquista importante: o congelamento das tarifas já produziu seu efeito, governos estão repassando as fórmulas de financiamento do transporte público.
Mesmo quando a mensagem é difusa, produz alguma reflexão nas lideranças, mas nesses casos são muito mais uma reação espontânea de grupos descontentes do que movimentos organizados em busca de algum resultado, apenas ocorrem, como uma explosão.
Eu digo: subverter a ordem não é a resposta, não temos que lutar contra nada, ao contrário, temos que trabalhar com os recursos de que dispomos para construir o mundo que queremos.
Não somos e não nos tornaremos uma Faixa de Gaza, por sorte nosso clima, nosso território, nossa cultura, com todos os seus defeitos e nossa índole nos tornam imunes a isso, mas aos que, poucos eu sei, insistem em disseminar a desconfiança, o rancor e a discórdia eu digo: construiremos esta nação apesar de vocês, mas ainda assim ‘com’ vocês.
Infelizmente existem muitos povos que vivem desse ódio: palestinos e judeus, muçulmanos e hindus, xiitas e sunitas, que alimentam um sentimento única e exclusivamente destrutivo, que não propõe nada a não ser a fidelidade à sua verdade.
A Vaidade mina a Confiança e, dessa forma, inviabiliza qualquer tentativa de coesão social.



Nós nos contentamos com as rivalidades entre paulistas e cariocas, pernambucanos e baianos, brasileiros e argentinos. Já nos basta para diversão, não precisamos de outras brigas.
Muitos podem estar dizendo: – Que exagero! Eu não chego a tais limites! T’aí o poema: “Despertar é preciso”.
O demônio está dentro de nós e, se dermos espaço, vai nos convencendo a cada dia que merecemos mais, que estamos certos em agir daquela forma, ainda que os resultados nos desmintam.
É triste viver em uma sociedade em que agir de forma desinteressada ou demonstrar boa vontade é motivo de chacota. Ouvir que ‘esses voluntários são uns otários’ ou ‘não limpo para garantir o emprego do gari’.
Justamente em um país onde o tecido da Confiança está totalmente puído, esgarçado, onde deveríamos (nós, os minimamente esclarecidos) dar o exemplo de vida comunitária, de solidariedade integral, não só nas calamidades ou doenças.
Ocorre-me a lembrança de um episódio muito significativo acontecido no 1º ano da faculdade que, na época, eu e a classe inteira consideramos uma grande piada e agora vejo que os ridículos éramos nós.
Um colega: Romão Rybka, já falecido, filho de ucranianos – seu irmão, Jorge, é hoje o cônsul honorário da Ucrânia em São Paulo – vinha de uma família à moda antiga, com valores muito arraigados e protagonizou uma cena que ficou na memória de todos.
Durante uma prova, no anfiteatro da escola, quando a colatina rolava solta, ele se levantou e, aos brados, protestou contra o que ele achava um absurdo: – Eu não passei por um vestibular, sacrificando meus pais para que eu pudesse estudar, para passar a vergonha de ver todo mundo colando descaradamente, eu me recuso a participar disso! E saiu da sala. Foi um choque pra todo mundo e, ato contínuo, uma gargalhada geral.
Na época achamos aquilo ridículo, afinal todo mundo sabia: – Quem não cola não sai da escola! Hoje percebo que nada mais era do que um sintoma da nossa precariedade como nação organizada.
Fato muito parecido ocorreu com o Pelé quando disse: “Neste momento, afirmo que devo tudo ao povo brasileiro. E faço um apelo para que nunca se esqueçam das crianças pobres, dos necessitados e das casas de caridade.” (Novembro de 1969, logo após marcar o milésimo gol na carreira, no Maracanã)
Crucificaram o cara porque ele teria sido hipócrita ou piegas, sei lá. Ora, será tão difícil admitir que alguém, ainda que bem sucedido, esteja sendo sincero? Não estou dizendo que ele estava sendo, isso eu não sei, estou dizendo que nós não temos mais a capacidade de confiar e, não nos enganemos, confiança é um sentimento de quem confia, não pode ser colocado sobre os ombros de quem é o objeto dessa confiança.

Delegando direitos
Nossa católica sociedade

O mais interessante é que essa atitude pseudo ativa, de certa rebeldia, exigindo dos ‘poderosos’ os direitos que julgamos merecer, na verdade é passiva, porque continuamos esperando pelas soluções por parte de alguém, não assumimos a responsabilidade pelo nosso destino. Mais do que isso: é a causa de estarmos nos sentindo subjugados por esses ‘poderosos’.
Indo ao âmago da questão, conforme sempre defendemos que deve ser feito, verificamos que existe um paradoxo aqui: se consideramos que os ‘poderosos’ são os outros, que ‘poder’ temos para pressioná-los.
Nossa tradição católica nada mais é do que uma lavagem cerebral pela qual vimos passando ao longo de milênios, com o objetivo ‘único’ de nos tornar passivos para que os ‘poderosos’ dominem o fluxo de riqueza e conhecimento.
Essa lógica de poder tem duas falhas fatais: mata o Tesão nos subjugados, porque a vida submissa é castrante e direciona o Tesão dos poderosos apenas para a luta entre eles, uma vez que a massa está dominada, com isso eliminou-se quase totalmente a possibilidade de desenvolvimento social.
Claro que outras sociedades têm a mesma lógica hipócrita, basta ver um policial em ronda ou em ação: o que nos permite delegar a outra pessoa, nosso ‘direito’ à segurança?
Pensem bem: em nossa sociedade nós atribuímos aos outros a garantia de nossa segurança: policiais, bombeiros, pronto socorros etc., da mesma forma que nas estruturas feudais de poder, onde o senhor defendia seus súditos dos outros senhores. Por outro lado, pense em como é a vida dessas pessoas, que se expõem o tempo todo pela segurança de outros que elas nem conhecem, que tipo de caráter tem que ter e o que se pode esperar delas.
Poderão dizer que assim escolheram. Pode ser verdade em sociedades muito bem estabelecidas – mesmo assim tenho minhas dúvidas – mas na nossa, onde a maioria tem como únicas saídas para a sobrevivência ser padre ou soldado...
Claro que achamos impensável uma sociedade sem essas estruturas, mas não podemos esquecer que estamos construindo nossa vida toda sobre uma base feita exclusivamente de Missão & Valores, vale dizer, uma estrutura baseada em areia movediça.
Esses problemas são universais (excetuando-se poucas e minúsculas sociedades remanescentes de fases pré-religiões de massa), mas hoje eu posso dizer: bem-aventuradas as sociedades que ainda possuem associações de portadores de rifles, pelo menos seu povo mantém a chama da verdadeira luta pela vida e o senso de que direitos não se delegam.
Aonde você quer chegar? Essa é uma pergunta que alguém pode estar me fazendo.
Espero que seja óbvio, pelo menos para quem me conhece um pouco, que não estou pregando o retorno à barbárie, nem fazendo apologia ao armamento da população.
O fato é que essas lutas não estão levando a lugar nenhum, nossa organização social é falha em suas bases mais profundas: propriedade privada, democracia, especialização, capitalismo etc. etc.
Se analisarmos as alternativas idealizadas por alguns, vemos propostas comprovadamente falhas, como as experiências feitas ao longo de nossa história demonstraram, outras que não resistem a uma análise minimamente séria. Conclusão: entre líderes e liderados, nossa única possibilidade de opção é assumir um desses lados.
O ‘poder’ do líder, não é um bônus, ao contrário, é um ônus tão pesado que a grande maioria não está disposta a pagar.
Não há clareza sobre essa relação entre poder e disposição de conquista-lo e, principalmente, mantê-lo. De um modo geral, no Brasil, acaba-se com movimentos populares cooptando as lideranças ou ameaçando a massa com alguma punição, como demissão de grevistas.
Ora, quem entrou em greve, entregou seu emprego e só vai recuperá-lo se o movimento for vitorioso. Ameaças de demissão não deveriam abalar as convicções do grevista, exceto se esse grevista não está suficientemente organizado para suportar essa pressão.
Eu estou convencido que isso tudo só serve para o desenvolvimento de nossa consciência, de nosso entendimento, daí a necessidade de analisarmos continua e seriamente nossa vida. Definitivamente não estamos aqui para construir o mundo, mas apenas para nos construir, o mundo será uma consequência dessa construção individual.