O socialismo residual nos países de cultura patrimonialista
como resultado do sentimento de culpa das elites dominantes
24/07/2014
Ultimamente estamos vendo uma escalada preocupante do 'bolivarianismo' em nosso país, fruto desse ideário altamente discutível, para dizer o mínimo. Na minha avaliação representa a ascensão ao poder de uma ala mais radical do PT, com a 'presidenta' Dilma Rousseff liderando algo que, temo, ela não tem ideia do que representa.
A demonstração de autoritarismo, sob o manto de um pretenso 'feminismo', dessa senhora, com a exigência de que seu cargo seja redigido e falado no feminino, contrariando as regras da língua culta e desautorizando milhares de professores em todo o país, mostra o que se pode esperar de sua excelência:
- A política monetária míope imposta pelo seu governo, contendo os juros e liberando a inflação é semelhante a fechar o ladrão da caixa d'água para evitar as perdas e deixar a caixa transbordar.
- A redução de tarifas prometida pela 'presidenta', de 16% para as residências e de até 28% para as indústrias, se esvaiu com os reajustes deste ano. As tarifas já superam as praticadas antes do corte. Mas a política continuará impondo custos às empresas de energia, em especial às distribuidoras, uma vez que continuam prevalecendo as regras impostas por essa senhora, que impõe às empresas condições que contrariam as leis de mercado, forçando-as a pagar pela eletricidade mais do que podem cobrar dos consumidores. A diferença acaba tendo que ser coberta novamente pelos contribuintes, de uma forma ou de outra. Nesse ínterim os investimentos voam para longe do país, onde possam encontrar condições favoráveis para obtenção de lucro e, principalmente, onde as regras sejam estáveis e os contratos sejam honrados até o seu final.
- A tentativa de atribuir ao Judiciário o controle sobre projetos de lei no Congresso, felizmente rejeitado pelo próprio STF.
- A Política Nacional de Participação Social, que fortalecerá Conselhos Populares, cujas lideranças não sofrem nenhum controle e são facilmente cooptadas pelos grupos de poder políticos ou criminosos.
- O aceno insistente com a famigerada "Poupança Fraterna" que impõe um limite máximo de consumo a cada habitante do país.
O capitalismo liberal (a social democracia é um modelo
capitalista) evoluiu a partir das culturas dos povos nórdicos: vikings, saxões,
germânicos e outros, não latinos, como um sistema muito próximo do natural, pois
essas culturas privilegiavam a seleção por competência.
Já os povos adestrados pela Pax Romana, denominados latinos,
desenvolveram o capitalismo inserido em um sistema feudal e patrimonialista
(aqui a figura da propriedade privada assumiu conotações de coisa sagrada),
utilizando inclusive o discurso religioso para justificar o direito divino do
rei.
O instituto da propriedade privada em si não representa uma
invenção humana, pois ocorre na natureza pura, com demarcação de territórios,
acumulação de alimento etc., entretanto exige esforço e vigilância para sua
manutenção.
Nas culturas patrimonialistas evocam-se direitos sagrados (divinos)
para cooptar acólitos que ajudem na defesa dessa 'propriedade', em troca de
favores, para encobrir a falta de competência do 'proprietário' para manter sua
propriedade, bastando sua habilidade de convencimento e de articulação dos
interesses e dos 'medos' de seus asseclas. Isso é absolutamente artificial e
fruto da inventividade humana.
Já falamos que o vigarista só existe devido à existência do
otário, que nada mais é do que alguém que almeja e até acredita ser também um
vigarista. Esse fenômeno cultural, dominante em nossa cultura latina, é que permite
essa estrutura de poder baseada apenas em promessas e ameaças.
Essa comparação demonstra mais uma vez que um mesmo
conceito, no caso a propriedade privada, quando utilizado por culturas em
diferentes estados de desenvolvimento da consciência, pode resultar em efeitos
opostos, reforçando minha convicção de que, em uma sociedade com alto grau de
evolução da consciência qualquer sistema político ou econômico funcionará bem,
por outro lado, sem essa consciência disseminada pelo grupo, nenhum sistema
dará bons resultados.
Por que as culturas liberais anglo-saxãs parecem mais
evoluídas nesse aspecto, do que o patrimonialismo latino?
Não se trata de demonizar uma ou outra cultura, é claro que esses fenômenos ocorrem em todas as sociedades humanas, mormente nesta nossa época globalizada, para o bem ou para o mal. O que se quer demonstrar é as características que predominam em uma e outra formas de convivência.
Uma hipótese seria o paternalismo da cultura romana, que via
no povo apenas uma massa de manobra para o poder imperial, enquanto nas
culturas do norte a competência era o valor mais cultuado.
A atitude ditatorial dos romanos, impondo a sua Pax a
qualquer custo, embotou o desenvolvimento das capacidades individuais dos povos
submetidos.
Essa estrutura patrimonialista que garante ao 'amigo do rei'
as maiores benesses, acaba por produzir, de um lado, um sentimento de
desconfiança e revolta por parte do pobre, e de outro lado, um sentimento de
culpa nas elites dominantes, ao contrário dos países em que o capitalismo é, de
fato, liberal, nos quais o pobre pode até invejar o rico, mas, de alguma forma,
o admira, e o rico respeita as tentativas de qualquer um que queira entrar na
competição, sem paternalismos ou condescendências, apenas respeito.
Iniciativas que melhorem as chances dos pobres, como
educação, aumento de oportunidades etc., são mais bem aceitas em países com
esse tipo de cultura do que nos de herança latina, em que há medo, culpa, desconfiança e
revolta na relação entre as classes. Essa situação favorece a persistência de
ideais voltados para o estado controlador, capaz de regular a distribuição não
de oportunidades, mas de benefícios.
Os defensores dessa linha de pensamento alegam que o
desenvolvimento dos países capitalistas se deve, principalmente, à exploração
sobre os países em desenvolvimento - o imperialismo moderno, mas não levam em consideração o esforço de trabalho e de
criação intelectual desses povos.
Curioso (e paradoxal) notar que, a prevalecer a teoria aqui
desenvolvida, ao contrário do que esses teóricos da luta de classes defendem,
teria sido o imperialismo paternalista de Roma que teria embotado a capacidade
de desenvolvimento dos povos latinos, tornando inclusive o termo 'países em
desenvolvimento' uma falácia quando atribuído aos países de cultura latina, uma
vez que estes representam a estagnação da evolução individual, ao contrário do
'domínio' exercido pelos países não latinos que permite a competição e a
educação dos 'dominados'.
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