Análise Dessistema

31/08/2021

dessistema - ausência de sistema, de organização.

Em dezembro de 2010 lancei o DeMimPro6, que no seu volume I (DeMimPro6 Vol. I), já explicava porque o pensamento científico precisa de disciplina e aplicação, o mundo nem sempre é como parece à primeira vista.

O capítulo "Sistemas" desse volume, que reproduzo abaixo, dá uma ideia disso:

Sistemas

Teoria

Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente.

Sistemas abertos

A teoria de sistemas afirma que organizações que sofrem interações com o ambiente onde estão inseridas, são sistemas abertos. Desta forma, a interação gera realimentações que podem ser positivas ou negativas, criando assim uma autorregularão regenerativa, que por sua vez cria novas propriedades que podem ser benéficas ou maléficas para o todo independente das partes.

Realimentações

Os organismos (ou sistemas orgânicos) em que as alterações benéficas são absorvidas e aproveitadas sobrevivem, e os sistemas onde as qualidades maléficas ao todo resultam em dificuldade de sobrevivência, tendem a desaparecer caso não haja outra alteração de contrabalanço que neutralize aquela primeira mutação. Assim, de acordo com Ludwig von Bertalanffy a evolução permanece ininterrupta enquanto os sistemas se autorregulam.

Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma saída é capaz de alterar a entrada que a gerou, e, consequentemente, a si própria. Se o sistema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto em uma malha de realimentação deve haver um certo retardo na resposta dinâmica. Esse retardo ocorre devido a uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo com variações bruscas na entrada. Isto é, ele deve possuir uma tendência de resistência a mudanças.

Ufa... o que é isso? De repente, do nada, um caminhão de teoria.

Calma, a ideia é demonstrar que certas coisas exigem um pouco mais de atenção da gente, nem tudo é intuição.

O ser humano, visto sob a luz dessa teoria, é uma organização realimentada e auto gerenciada, um sistema aberto cujo funcionamento é regulado por um complexo conjunto de elementos, físicos e mentais. Alguns aspectos dessa regulação, principalmente as de caráter físico, são automáticas, como a homeostase, nossa capacidade de manter a temperatura corporal estável, entretanto, outros aspectos, como nosso comportamento social, são determinados pelo nosso livre-arbítrio.

Sem desviar a conversa para casos especiais ou questões de sanidade, física ou mental, vamos nos ater aos comportamentos ditos normais.

Toda ação gera um feedback, porém todo feedback tem um retardo e é aí que mora o perigo.

Tomando alguns macro exemplos:

1. O capitalismo competitivo gera grandes lucros e, como efeito colateral, concentração de renda. Consequentemente, gera carências sociais em grupos cada vez maiores de pessoas, instabilidade social crescente, deterioração do ambiente de negócios, crises econômicas e redução dos lucros.

Se essa realimentação é tão clara, porque os negócios não são geridos para evitar a concentração de renda? Porque ao realizar o lucro e usufruí-lo, o efeito perverso da concentração de renda ainda não está sendo percebido! As crises só vão ocorrer muito tempo depois, em lugares longínquos e seus efeitos podem demorar décadas para aparecer.

2. A urbanização e o industrialismo trouxeram conforto e bem estar às pessoas às custas da deterioração do meio ambiente, com escassez crescente dos recursos naturais utilizados nas cidades e indústrias, produzindo poluição, redução da qualidade de vida, do conforto e do bem estar das pessoas.

Da mesma forma, o efeito só começou a ser percebido com muito retardo. Basta lembrar que, ao surgirem os primeiros automóveis, ante a reação da população, escandalizada com a fumaça, o barulho e os perigos que aquelas máquinas representavam, os industrialistas correram a afirmar que tudo não passava de paranoia, que nada daquilo seria prejudicial à saúde ou ao funcionamento das cidades.

No nosso microcosmo não é diferente, se não estivermos atentos aos nossos atos, poderemos perceber suas consequências muito tardiamente. O fato de termos uma consciência nos dá a responsabilidade de avaliar o que fazemos a todo o momento, levando em conta que o feedback pode não ser tão evidente.

As normas, sejam sociais, religiosas, morais ou legais, existem, em princípio, para nos orientar em questões cuja decisão a cada momento é muito difícil, no entanto, vivemos uma época com características de liberalidade, onde cada um é instado a agir conforme sua consciência e o rigor das normas já não é o mesmo. Não temos como fugir desse condicionante cultural, que se mostra quase universal e, sabendo que uma norma aniquila infinitas éticas, posso dizer até que agir de acordo com nossas consciências e ir eliminando normas é o meu ideal anarquista (graças a Deus) levado à prática, porém viver sem normas é quase impossível, o caos está toda hora batendo à nossa porta. Cabe a cada um de nós, ciente dessa complexa situação em que nos metemos como civilização, escolher como agir a cada momento, seguindo normas ou decidindo por conta própria.

É... viver é complicado! Mas a coisa não é tão difícil quando entendemos que somos um processo e entender melhor como esse processo funciona nos ajudará sempre a agir cada vez melhor, lembrando que “O que é do homem, o bicho não come!”, mas “Nós somos responsáveis pelo nosso destino”.

Agora surgiu um site que, provocado pela emergência de um negacionismo que nega não a ciência, mas a inteligência, explora a mesma ideia de um jeito muito mais divertido: Spurious Correlations


Vacina contra a estupidez é mais difícil!