19/07/2017

Conforme vamos vivendo e tentando entender a vida, vamos percebendo quão sem sentido são nossas ideologias.
Na juventude somos fundamentalmente ideológicos, tudo tem que ter um sentido e uma razão, ainda que seja irracional e inconsistente, como acreditar em sociedades alternativas, onde tudo será da lei. À medida que amadurecemos somos instados, por força de compromissos sociais, como escola, trabalho, família, a de origem e a que viermos a formar, a nos relacionar, conviver e negociar com indivíduos e grupos com diferentes percepções da vida Até na formação do casal, somos obrigados a separar ideologia de vida em sociedade e, principalmente, de amor.
Católicos, espíritas, crentes, comunistas, workaholics, ateus, filósofos, bichos grilo, consumistas, engajados, direita, esquerda, tudo tem que ser digerido e assimilado quando se pretende manter uma certa harmonia em nosso ambiente.
Mais adiante começamos a entender até os “marginais”, afinal, se Henry Thoreau propôs que a desobediência civil era uma possibilidade moralmente aceitável, porque todos teriam que agir conforme a “norma”. A criminalidade é apenas mais uma forma de se enfrentar os desafios da vida e temos que reconhecer que a velha pregação de que agindo dentro da lei seríamos mais felizes não tem dado resultado para a grande maioria do povo, mormente em nossa terra brasilis.
Lembro de quando nossos filhos estavam em idade pré-escolar e um colega de trabalho manifestou a seguinte dúvida: Educo meu filho para ser honesto ou para se dar bem?
O fato é que acreditamos em certos valores como democracia, estado de direito, respeito à propriedade, apenas por ideologia, nada garante que essas ideias levarão cada um ao seu melhor resultado.
Isto posto é preciso dizer que tenho minha ideologia, meus valores e tento defendê-los da melhor forma possível. Além disso acredito que é importante para vivermos em sociedade acreditarmos em certos valores, principalmente o respeito ao próximo.
Ocorre que esse respeito passa por aceitar ideologias frontalmente contrárias às nossas.
Achei o depoimento abaixo, feito por uma pessoa da qual sou fã de carteirinha e que relata um episódio envolvendo duas outras personalidades que desde muito cedo povoaram as paredes do meu quarto imaginário, em fotos e cartazes, um belo exemplo disso que acabei de descrever.
Do BAÚ
Retirado do livro “Rita Lee – uma autobiografia”
Por essa época, Henfil andava fazendo minha caveira, tipo “a cantora descalça Lee, representante do imperialismo musical americano" coisa e tal. Fiquei triste, eu era muito do cara e comentei com Elis que até havia escrito uma letra baseada em suas tirinhas do personagem Ubaldo, o paranoico. Elis fez a diplomata e passou a história a ele que, em off, se declarou meu fã também, mas que precisava manter o discurso esquerdette e que dali em diante só faria a irresistível piada "ritalee, ritaqui". Não teve tempo de receber esta minha singela homenagem:
Desconfio da pomba
No meio de urubus
Desconfio de quem fala
Em nome de Jesus
A direita um abismo
A esquerda um vulcão
O beco é sem saída
Estou na contramão
Lá está o demo camuflado
Onde certo é o errado
Mãos ao alto!
Sorria!
Você está sendo assassinado
Desconfio que o rei
É filho da máfia
Desconfio que o herói
E da mesma falácia
Desconfio que os humanos
É que são os animais
Medo do velho, da criança
Das novelas, dos jornais
Lá está o demo camuflado
Onde certo é o errado
Mãos ao alto!
Sorria!
Você está sendo assassinado
Eu sou Ubaldo, Ubaldo, o paranoico

Apesar do ar heroico que procuro demonstrar