Estamos morrendo pela boca
No princípio era o verbo, a enteléquia original, tudo nasce de uma intenção.
Ao repetir ideologias artificiais como os direitos universais, inclusive de perverter a natureza, podemos estar semeando nosso fim.
22/06/2018
Em uma sala de aula de 3º ano primário de uma escola pública, nos anos 60, a professora está recolhendo as “lições de casa”.
— Juquinha! Onde está a sua lição?
— Não pude fazer, professora!
— E o senhor pode me dizer por quê?
— Eu pedi pra minha mãe, mas ela não podia me ajudar! - já com beicinho ensaiando o chororô.
Ao ouvir a desculpa, a turma, em coro, começa a zombar do infeliz Juquinha:
— Coitadinho do filhinho da mamãe! Oh, dó!
Essa cena deve povoar a memória de muitos que tem a minha idade, hoje seria caso de uma intervenção da diretoria, um episódio que seria classificado como bullying, naquela época era apenas a reação natural de crianças em desenvolvimento.
Deixando um pouco de lado a questão do bullying, quero focar na espontaneidade da reação, típica das crianças, que não admitiam coleguinhas que se fizessem de vítima, afinal estavam começando a conhecer o mundo da competição, onde o admirado era o herói, não a vítima.
Ao ler o livro “A Crítica da Vítima” do filósofo italiano Daniele Gigliogli, finalmente senti que poderia expressar algumas ideias que, confesso, cheguei até a escrever, mas não tive coragem de publicar por achar que as reações não seriam muito boas. Para aqueles que como eu tem interesse em entender o que ocorre à nossa volta, recomendo mais essa leitura.
Ultimamente assistimos a uma tendência que, ainda que não seja generalizada, é preocupante, a intolerância potencializada pelo efeito manada das redes sociais, deixando sitiadas as opiniões divergentes.
O discurso da verdade definitiva, do inimigo comum, de como seria fácil resolver os problemas do mundo bastando vontade política, além, é claro, do patrulhamento ideológico sufocante, não só no que diz respeito à política, mas aos hábitos de vida e de comportamento: não se deve comer isso; você deve fazer aquilo; isso não se pode falar etc. etc.
Pessoas com formação cultural e acadêmica de alto nível se deixando levar por ímpetos emocionais injustificados e discursos quase juvenis, como se todos tivessem voltado a ter a inconsequência típica da adolescência.
Esse furor com que pretendem desqualificar qualquer opinião contrária, como se só eles percebessem a realidade “real”, não é próprio de pessoas maduras que já viveram e erraram vezes suficientes para saber que nem sempre estarão certas, se é que alguma vez estaremos “certos”.
Outra característica dessa onda avassaladora é o discurso baseado na defesa dos fracos e oprimidos de um lado e da desqualificação desse discurso por outro. Uns se acham vítimas dos outros, de um lado explorados, do outro exploradores.
A busca da justiça social tão sonhada ao longo de toda a história da civilização, tem se caracterizado nestes tempos, basicamente por reivindicações, pela exigência de mudança a qualquer custo, como se as mazelas da sociedade pudessem ser resolvidas a partir de uma mudança de comando.
É como se os problemas inerentes à condição de seres viventes em competição e, cada um, tentando tirar do mundo mais do que o mundo tira deles, fossem obra de um grupo de exploradores mal-intencionados e não fruto de um estágio de evolução das consciências. Como se fosse possível mudar essa consciência com leis e pela força de um governo “bem-intencionado”. Aqui não falo da esquerda, falo dos imbecis de qualquer lado dessa inequação insolúvel. O mesmo pensamento que levou a Alemanha, a União Soviética e todos os totalitarismos ao colapso. Isso tem um nome: fundamentalismo e quando o fundamentalismo prevalece nada de bom se pode esperar.
Isso, aliado às vaidades elevadas às alturas, justamente pela alavancagem que o mito da vítima lhes proporciona: “eu participo de grupos tais e quais”; “eu trabalhei com desfavorecidos”; “eu estudo esses problemas há muito tempo”; “eu tenho formação em políticas sociais” e outras “credenciais” conferem aos candidatos a defensores universais a total isenção quanto à consistência de suas propostas, à complexidade que o problema representa de fato, reduzindo-os a meras questões de boa vontade por parte dos governantes, em última análise à transferência de renda e de todo tipo de assistência a contingentes cada vez maiores da população.
Por outro lado, os defensores do autoritarismo contra-atacam: “a classe empresarial está sufocada por impostos e burocracia e ainda tem que financiar os vagabundos e safados, além da corrupção”,  como se essas “constatações” credenciassem o apoio a todo tipo de intervenção.
Pior que isso é ver pessoas defendendo certos personagens, de lado a lado, quase como gado sendo tocado por uma insanidade coletiva, evidentemente manipulados e com todas as evidências ignoradas e até repelidas.
Em setembro de 2016 escrevi os textos abaixo achando que estava sendo muito rigoroso em minha crítica. Graças a Daniele Giglioli pude entender o que estava por trás dessa minha percepção que, na época, atribuí às nossas origens culturais.


O ‘coitadinho’ como escudo humano

11/09/2016
Mais uma característica ‘macunaímica’ de nossa malfadada herança cultural lusitana[1].
Trata-se do vício de usar o ‘coitadinho’ que temos em nós como escudo humano do ‘safado’ dominante de fato, para conseguir o que queremos e não temos coragem de ‘conquistar’, ‘disputar’, ‘negociar’ etc.
Isso é muito mais evidente nas camadas mais carentes da população! Já dizia um amigo “petista esclarecido”: uma parcela significativa dos ‘explorados’ só precisa de ‘poder’ para se tornar um ‘explorador’, ou seja, não é a condição do indivíduo que define o seu caráter.
A atitude de falsa ‘humildade’, ‘acanhamento’, ‘ignorância’, muitas vezes é usada, descaradamente, para não agir de forma justa: desde ‘não entender’ uma fila de espera, até não devolver um objeto achado, não dar licença a quem mais necessita e por aí vai.
Vale lembrar que em nosso meio, muito mais abastado, também vemos muitos ‘se fazendo de mortos para comer o coveiro’, em estacionamentos, filas especiais etc.
Como mudar isso se está tão fortemente impregnado em nossa maneira de pensar? Pode ser que o desmascaramento de tantos escândalos seja um começo, para que as pessoas percebam o prejuízo que todos sofrem com essas atitudes, não sei, apenas ‘espero’.
-     Mas porque você é tão preocupado como os defeitos de nossa cultura, quase obsessivo?
Agradeço ao atento leitor virtual que teria, eventualmente, feito esse questionamento!
Trata-se de uma preocupação derivada da minha forma de ver a vida: já falei sobre a ideia de que “a vida só vale ser vivida se for analisada”, que “o mundo é uma comédia para os que pensam, e uma tragédia para os que sentem” (Tutto nel mondo è burla!).
Também já falei sobre a vida ser, fundamentalmente, capitalista, quero dizer, “competitiva”, “cumulativa” e “expansionista”. Explico:
Sobre ser competitiva, acho que não há dúvidas.
Cumulativa, porque o fluxo de recursos nunca é constante, então para garantir a subsistência, os seres vivos, em geral, tem que reservar recursos para os dias difíceis.
Finalmente, expansionista: precisa aumentar continuamente seu domínio no meio para garantir a preservação da espécie, assim como o indivíduo precisa aumentar continuamente as suas capacidades para garantir a preservação do espécime.
Isto posto e sendo eu um ser vivo, estou submetido a todas essas pressões, as derivadas das minhas crenças e as impostas pelo gene. Sendo assim e, considerando que quando falo de nossos defeitos como brasileiros, estou, evidentemente, me incluindo nesse grupo, então falo dos meus defeitos também.
Isso é, definitivamente, uma forma de auto-análise: ao organizar e escrever sobre esses aspectos, ‘deslembrando’ tudo em um papel - ainda que virtual - posso tentar administrar melhor esses defeitos.
Aqui cabe ainda (cabe porque a paciência de escrever é só minha mesmo), uma observação: defeitos são subrreptícios, quando ignorados são armas prontas para disparar, quando rejeitados, são minas explosivas distribuídas pelo nosso caminho.
Defeitos ignorados são como a vaidade, por exemplo: se não penso nela, não acho que seja um defeito meu, passo a exercitá-la sem perceber, me tornando uma pessoa cada vez mais arrogante.
Defeitos rejeitados são até mais perigosos, como por exemplo o racismo: tenho ciência do que é o racismo e digo que, definitivamente, eu não sou racista, passo então  a disfarçar todos os sentimentos e, principalmente, as sensações, provocadas pelo meu racismo natural, como justas, afinal ‘eles’ são mesmo ‘mal cheirosos’, ‘mal educados’, ‘desonestos’, ‘preguiçosos’ etc. etc.


[1] Aqui vale ressaltar que, como nos lembra Heráclito de Éfeso: ‘não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio’, sendo assim quando falo em herança cultural lusitana é de uma cultura que não existe mais, já passou por muitas transformações, falo da que era dominante à época de nossa colonização.


Um governo que, dizendo ser defensor dos pobres, alimentou diretamente JBS, Eike Batista, Odebrecht, Chaves, Castro, Kirchner, Ahmadinejad e, em contra-partida, deu um cala-boca chamado bolsa-família para as massas carentes sem tirar um tostão dos ricos, mas com o dinheiro da população contribuinte. O que fez para tirar de fato as pessoas da situação de impotência em que vivem?
Como pude ser enganado por esse grupo por tanto tempo?
Resposta: Primeiro, porque investi nessa ideia 30 anos da minha vida! Fica difícil enxergar os erros quando se alimenta por tanto tempo a convicção de estar certo, mas não é só isso.
Embora não atenue a decepção, temos que reconhecer que somos resultado do meio em que vivemos. Reagimos e pensamos para ser respeitados em nosso grupo. Parte disso é natural, afinal nos aproximamos daqueles com quem sentimos maior afinidade, mas uma parte enorme desse grupo se impõe sem que percebamos e continuamos achando que as escolhas são nossas.
No ambiente de trabalho que escolhemos por vários fatores, exceto quais vão ser nossos colegas de trabalho - isso, quando podemos escolher. Na escola que frequentamos, na família etc.
Algumas instituições exercem uma influência maior, por exemplo, gigantes da indústria, empresas estatais, universidades públicas, sindicatos, produzem ambientes extremamente corporativistas, onde pensar diferente é muito desconfortável.
A maior parte das nossas companhias é escolhida dentro de grupos pré-selecionados por nossas escolhas anteriores. Mais uma vez a Síndrome de Estoucalmo nos induz a achar que somos parte do grupo.
As pessoas com quem tive o melhor e mais próximo relacionamento, em que um frequentava a casa do outro, com uma convivência muito próxima, familiar mesmo, tinham concepções de mundo muito diferentes das minhas: Um comunista renitente, trotskista, outro, espírita convicto, tendendo mais ao liberalismo, outro ainda ao socialismo democrático.
Ex-colegas, de uma fase anterior, um membro residente da Opus Dei, um executivo que vestia a camisa da Ford, representavam outro tipo de visão do mundo, mais capitalista, conservador.
Aqueles com quem convivi mais tempo e mais proximamente eram os de tendências à esquerda. Some-se a isso o fato que trabalhei 15 anos em uma empresa estatal onde defender ideias liberais era quase um sacrilégio.
Fica a pergunta. Foi o ambiente de convívio, dominado, predominantemente, pelas ideias de esquerda, ainda que eu não partilhasse originalmente das mesmas ideias - como eu já disse, minha visão de mundo, originalmente, não era nem um pouco esquerdista - ou foi minha tendência de pensamento que me aproximou do primeiro grupo?

opiniões contrárias not allowed!



acebook

Cada um de nós era a média das cinco pessoas com quem passava mais tempo, conforme dizia Jim Rohn no início do século passado, agora somos o que o Facebook quiser que sejamos.
Claro que não falo da instituição Facebook ou qualquer outra mídia social, mas do que elas propiciam, já que tendemos a frequentar determinados grupos nesses ambientes, mais uma vez, escolhas que normalmente não são definidas pelas nossas ideias políticas.
Sem querer, acabei fazendo um verdadeiro teste durante os meses de agosto e setembro de 2016. Como não me sinto muito à vontade nesses meios, quase nunca acesso minha página, nem pra ver o que está acontecendo, mas, uma das vezes que acessei, estimulado por uma postagem sobre o “golpe”, fiz um comentário ligeiramente crítico. Não tive resposta alguma.
Aí comecei a postar só aquilo que achava mais polêmico, menos aceito pelos meus círculos, mas ainda assim com coerência e argumentação razoável. Nenhuma reação, nada! Nem contra, nem a favor, muito pelo contrário.
Aí pensei em fazer o teste. De forma que não parecesse uma total mudança de opinião, na realidade sem mudar de opinião, fui postando artigos que tivessem mais proximidade com as ideias defendidas por esse pessoal. Imediatamente recebi comentários e mesmo alguns “likes”.
Para mim foi revelador! Quando conversamos “cara a cara”, as pessoas não podem fingir  ignorar o que estamos falando. Ainda que não se manifestem, dão sinais de aprovação ou desaprovação, permitindo a quem fala mudar sua argumentação ou o tom, na tentativa de acessar o outro.
No Facebook o silêncio é mortal, leva o autor do post, principalmente no caso de um adolescente, a sentir-se o “cocô do cavalo do bandido”. Isso praticamente incita os participantes a, sem perceber, ir concordando cada vez mais com a ideia dominante daquele grupo.
Redes sociais além de condicionar, obrigando sutilmente a pensar igual, viciam, causando dependência de respostas ou novas informações. É um tal de olhar toda hora pro celular pra ver se tem alguma coisa!
Infelizmente, ideias dominantes nada tem de melhores do que qualquer outra ideia, pelo simples fato de que o são por serem aceitas pela maioria, basta analisar as ideias dominantes em cada fase da humanidade, a idade média, por exemplo, ou em grupos fechados, como o partido nacional-socialista alemão, os evangélicos ou mesmo o Estado Islâmico.
O pior é que ninguém sabe como elas nascem, só podemos afirmar com segurança que não é do livre debate de ideias ou de uma profunda análise de cada tema.
Isso me lembra uma velha tese minha, a de que o tamanho do grupo é que corrompe. Explico.
Como trabalhei em diversas empresas, grandes, pequenas, privadas e estatais, além de ter constituído duas microempresas, consegui uma experiência bem rica em termos de ambiente de trabalho, produtividade, comprometimento e eficiência.
A partir dessa vivência cheguei à conclusão que o fato de ser estatal ou privada não tem nada a ver, é o tamanho, ou a quantidade de funcionários, que determina as características do grupo.
Empresas com até algumas centenas de funcionários são razoavelmente bem controladas e dirigidas, a partir do patamar dos milhares não há mais possibilidade de controle adequado, seja a empresa privada, como a Ford, onde trabalhei por dois anos, seja estatal como a Cesp. A ética vigente, mais coletiva ou mais individual, dominará o ambiente qualquer que seja a orientação do corpo diretivo e os interesses particulares sempre encontrarão um meio de beliscar aqui e ali.
Digo isso porque esse tema de grupos sociais está intimamente ligado a essa questão da quantidade de membros e da ligação entre eles.
As formas desse relacionamento, no passado eram: família e círculo de amigos próximos se constituindo no núcleo social do indivíduo, onde circulavam as fofocas, mas também a solidariedade, as rusgas, grandes amizades e amores para toda vida e a religião, esta representando a grande esfera de relacionamentos, muitas vezes em escala mundial, onde circulavam as crenças, mas também as guerras.
Ao longo da história essas redes impessoais de relacionamento foram se diversificando com a criação das ideologias, partidos políticos e até times de futebol. Todas elas, principalmente a pioneira religião, foram criadas com o objetivo claro de dominação, de controle das populações e sempre foram a casa dos “lúmpen” [2].
Eis que esses mesmos “lúmpen” populam agora as redes sociais, acreditando que finalmente estão livres, que “abaixo de deus” eles são senhores de suas opiniões. Ledo engano, aliás típico desse pessoal.
[2] A única coisa que tenho contra as religiões -  e que basta para que eu me afaste delas - é o fato de quererem convencer o maior número de pessoas da "sua" verdade, não bastando viverem suas crenças em paz.
As redes sociais não só influenciam, mas determinam a forma de pensar das pessoas.
Por sorte, ao longo de minha vida, apesar de cometer muitos enganos, me mantive fiel ao que já sabia e, mesmo depois de um longo sequestro ideológico, consegui voltar a ver com alguma clareza, claro que sob novas influências, mas acredito que agora mais maduro e consciente.

MÍDIA: PROPAGANDA POLÍTICA E MANIPULAÇÃO

Noam Chomsky

... Mas, uma vez que as pessoas se encontram marginalizadas e confusas e não conseguem organizar ou articular seus sentimentos - ou mesmo saber que outras pessoas partilham desses sentimentos -, aqueles que diziam preferir gasto social em lugar de gasto militar, que respondiam às pesquisas como a esmagadora maioria fez, supunham que elas eram as únicas que tinham aquela ideia maluca na cabeça. Elas nunca ouviram isso de nenhuma outra fonte. Ninguém deve pensar isso. Portanto, se é isso que você acha e dá essa resposta numa pesquisa, você simplesmente imagina que deve ser um tipo meio esquisito. Como não há uma maneira de se juntar a outras pessoas que partilham ou reforçam aquele ponto de vista e ajudam-no a articulá-lo, você se sente uma pessoa esquisita, uma excentricidade. Assim, você se retrai e não presta a menor atenção ao que está acontecendo. Olha para outra coisa, vai assistir ao futebol americano.



O Chato
ou pentelho!

Por vezes gosto de  incursionar pelos segredos da última flor do lácio, inculta e bela, aí pensei nessa palavra e fui procurar sua origem.
Segundo o «Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa» de José Pedro Machado, chato vem «do latim pop. plattus, do grego platús, 'chato, estendido'».
Outras referências levaram à mesma explicação.
Pô, filólogos à parte, vão pra PQP! Convenhamos, o que plattus tem a ver com chato?
Tá bem, já me habituei a descobrir coisas aparentemente sem nexo na evolução da linguagem e sabemos que as formas de transmissão cultural, inicialmente oral, depois escrita, levaram a transformações radicais, mas esperava pelo menos uma explicação mais convincente.
O filólogo tem que ser além de estudioso da língua, um pesquisador de história e, em muitos casos, de arqueologia.
Vejam, por exemplo, a evolução do nome Thiago que ninguém entende porque tem esse “h”.
Sua origem vem do nome hebraico Jacob, cuja grafia não interessa, já que passou por várias versões, tantas quantas foram as línguas adotadas pelos judeus ao longo da história, o que importa é a sua pronúncia original, que era “Yacob”, escrevo com “Y” com a intenção de dar mais força à letra inicial, uma espécie de forçada da língua no céu da boca.
Claro que os sons das palavras só podem vir pela tradição oral, o que mostra quanto de pesquisa demanda o trabalho de um filólogo.
Muito bem, isso levou, pela mesma transmissão oral, à transformação de “Yacob” em “Thiago”. Dá pra perceber a semelhança dos sons, principalmente se lembrarmos que aquele “h” suaviza um pouco - ou dá um toque mais sibilino - ao “T”.
Isso pode ser verificado em vestígios deixados pelos vários povos que tiveram contato com esse nome: o famoso Caminho de Santiago tem como símbolo a vieira, que em francês é chamada “coquille de Saint Jacques”, sendo Jacques é a tradução de Jacob para o francês. Claro que Saint Jacques é São Thiago para nós, de língua portuguesa.
Na linguagem coloquial “chato” também significa “pentelho”, palavra esta muito mais precisa para meus objetivos presentes, afinal seu significado só não fica claro pra quem nunca entrou em uma banheira de hotel com um desses itens da nossa pilosidade “esquecido” por ali.
Se a palavra chato vem de “plattus”, “plano”, que identificaria a pessoa “chata”, “plana”, ou seja, sem nada de destaque, o “pentelho” vai muito além, ele “enche o saco”, “pentelha” mesmo.
Entretanto, devo admitir, a palavra chato assimilou muito bem essa função, exemplos: “ecochato”, “enochato” e, mais recentemente o já clássico “milichato”, o “militante” de alguma causa - ainda que haja muitos militantes sem causa por aí.
O milichato “táxi” acha, é o baluarte de tudo que é correto, nobre e - na opinião deles - humano, além de serem os únicos defensores dos fracos e oprimidos, todos os que defendem ideias diferentes são representantes da “classe exploradora”, “burgueses alienados” ou “dominados pela mídia manipuladora”, consequentemente são desonestos, falsos e - ainda na opinião deles - desumanos.
Cara! Nada mais chato!

As esquerdas e o mercado

A esquerda, me parece, não acredita em economia saudável nem em sociedade harmoniosa, já que insiste obsessivamente em exigir os tais direitos dos trabalhadores. Me refiro à “esquerda” porque estou iniciando nessa de olhar os gauche de fora.
Nesse processo impõem a instituição de uma parafernália legal que: abala profundamente qualquer resquício de confiança entre empregados e empresários, além de criar empecilhos reais às negociações, que deveriam se adequar às condições reais de mercado.
Olhando de forma mais consciente e responsável, temos que admitir que essa postura política pressupõe que a direita - ou “o outro lado’ se preferirem - esteja, no mínimo, tão estruturada quanto, promovendo a pressão sobre o sistema no sentido da garantia de um ambiente econômico capaz de propiciar a geração da riqueza da qual as esquerdas pretendem obter os “direitos” que julgam ter.
Claro que os simpatizantes e defensores da esquerda dirão: os capitalistas se organizam e já detém o poder e controlam o mercado e o estado segundo seus interesses financeiros.
Paradoxalmente, essas mesmas esquerdas propõem, com suas políticas públicas, a destruição do ambiente econômico, retirando toda a capacidade do mercado de criar riquezas, dessa forma matam o que eles mesmos acham ser a “galinha dos ovos de ouro”. Vide exemplos da União Soviética, Cuba e, mais recentemente, Venezuela, para citar os mais conhecidos.


Estou perdidinho não por falta de informação, mas por excesso, como no “Ensaio sobre a lucidez” (tópico da postagem O quintal do Lincoln), analisando todas as alternativas já experimentadas verifico cada vez mais que democracia e capitalismo não nos levarão a um bom termo, entretanto são os únicos (ênfase nos únicos) sistemas razoáveis, tudo o mais não passa de utopias.
Minha única consolação é que estar perdido nesse processo de pensamento político é o resultado de uma tentativa honesta de compreender a complexidade desse processo. Em outras palavras: não é da nossa conta a evolução da espécie, só podemos nos ocupar do espécime, mais especificamente de um único espécime, aquele que chamamos de “eu”.