Você merece!
O
segredo do diabo
06/07/2014
O Jabor escreveu um texto (O Brasileiro Merece... - siga o link) que me deixou frustrado por não ter
sido eu! Ainda assim vou corrigir dois aspectos:
ü
A
mensagem é dirigida ao ‘brasileiro’ – o conveniente ‘terceiro excluído’. Como
se não fosse dirigida a todos nós: você, eu, nossa família, nossos colegas,
amigos, vizinhos, inclusive a ele mesmo: Jabor, por que não?
A ressalva “Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse comentário...” colocada no final, isenta o leitor de qualquer responsabilidade.
A ressalva “Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse comentário...” colocada no final, isenta o leitor de qualquer responsabilidade.
ü
A
conclusão “Temos petróleo, álcool,
bio-diesel, e sem dúvida nenhuma o mais importante: água doce! Só falta boa
vontade. Será que é tão difícil assim?” – falsamente otimista – tem como
único objetivo amenizar o problema e conquistar simpatia:
Infelizmente, como qualquer pessoa de bom senso sabe, a solução nunca é ‘fácil’, embora só falte, como diz Jabor, boa vontade, na verdade é muito simples, mas o simples nem sempre é fácil.
Infelizmente, como qualquer pessoa de bom senso sabe, a solução nunca é ‘fácil’, embora só falte, como diz Jabor, boa vontade, na verdade é muito simples, mas o simples nem sempre é fácil.
Mais uma vez sou forçado a repetir: Você
nunca tem o que (pensa que) merece e
sim o que negocia!
Não é que ‘merecimento’, como causa e
efeito, não seja uma realidade, basta por a mão no fogo para entendermos
perfeitamente esse conceito. O fato é que nossa auto avaliação é enganosa.
Para dar a devida dimensão
dessa questão é fundamental fazer a pergunta: Você está contente com as
soluções que seus problemas têm encontrado?
Estamos habituados a sempre dizer que
está tudo bem, não só por ser um protocolo social, mas porque precisamos passar
aos outros uma impressão de ‘sucesso’. Pode ser verdade mesmo, entretanto o
mais comum, infelizmente, é que não seja.
– Estou ótimo! (mas queria estar
fazendo outra coisa, com outras pessoas, em outro lugar...)
Precisamos achar que tudo está
bem, que nossa vida é maravilhosa, que temos tudo que poderíamos querer, mas, lá no
fundo, à noite, na solidão do travesseiro, algo tenta insistentemente nos
desmentir. Muitas vezes o ambiente de trabalho não satisfaz mais, o ambiente
familiar é tedioso – ou pior, cheio de conflitos – ou estamos menos tempo do
que gostaríamos com nossos amigos.
Frequentemente estamos na expectativa
de alguma coisa: uma festa, uma viagem, um carro novo, uma roupa nova (no caso
das mulheres: um belo par de sapatos)... e, quando essa coisa ocorre, a história se repete: parece
que não satisfaz, é um tédio, ficamos aborrecidos com o que alguém falou ou
fez, aquilo que conseguimos não é exatamente o que esperávamos, e, mais uma
vez, saltamos para a próxima expectativa, a ponto de muitas vezes nem chegar a realmente
experimentar o nosso ‘presente’.
Leva! Merece! Expectativa é algo de fora (ex), quando ela não
satisfaz é porque você não está contente com o que, de fato, merece, com a
solução que seus problemas estão encontrando, que nem sempre é aquilo que você
achou que merecia. O universo é implacável e, creiam, absolutamente justo, apesar de muitos acharem o contrário.
O que precisamos mudar é a EUpectativa, o
que ‘temos’ que fazer para conseguir os resultados que esperamos, seja no campo
material, seja no campo dos relacionamentos.
Outro dia encontrei uma senhora na
farmácia e começamos a conversar sobre plano de saúde – os assuntos na ‘melhor
idade’ são meio recorrentes. Ela me perguntou por que minha carteirinha era
azul enquanto a dela era vermelha. Expliquei que eu tinha optado pelo plano
básico e, quando necessário, pagava a diferença do atendimento no momento do
uso, seja um recurso fora do meu plano, seja um padrão de acomodação melhor,
como apartamento individual. Como exemplo, contei que, na minha cirurgia do ano
passado, gastei R$ 900,00 pela diferença de padrão, em 7 dias de internação, o
que resultou menos do que a diferença de mensalidade de um mês do meu plano,
portanto essa opção é altamente compensadora financeiramente.
Depois de toda a minha explicação ela
me respondeu: – Mas aí tem que fazer administração financeira, né? Com uma
expressão de desdém, como quem diz: – Não tem perigo de eu fazer isso!
Leva! Merece! Depois reclama que a aposentadoria não dá pra nada.
Há quem diga que controlar as finanças
é pra malucos, que é muito difícil, alegam que não tem nenhuma habilidade pr’a
coisa. É como se ainda tivéssemos um pai pra tomar conta de nós ou como se não
vivêssemos em uma selva, onde é cada um por si.
Isso é ‘arrogância’: arrogar-se um
direito que ninguém lhe outorgou.
É como se contassem com a ajuda de
Deus em tempo integral, mas é bom lembrar que ‘Deus ajuda quem cedo madruga!’
Uma das ajudas mais importante que Deus dá é a capacidade de se defender na
‘selva’.
– Mas, viver desse jeito, sob todo
esse ‘stress’, reduz a expectativa de vida! – dirão muitos.
A isso eu respondo:
- Não precisa ser
estressante. À medida que se assuma como condição intrínseca ao ato de
viver, algo do que não se pode escapar, passa a ser o contrário, ficamos
mais leves com a sensação de estarmos no controle de nossa vida. Afinal,
quando ficamos sem dinheiro é assim que nos comportamos, a menos que
sejamos totalmente inconsequentes.
- ‘Stress’ é a
condição fundamental da ‘vida’. Se não houvesse o ‘stress’ não seríamos
nem bactérias, apenas moléculas inanimadas.
- Expectativa de vida é uma das maiores idiotices já idealizadas pela humanidade. Além de ser ‘ex’, ou seja ‘de fora’, o que de antemão já se constitui em erro básico, uma vez que ‘de fora’ nada pode satisfazer, nem ao ser nem ao universo, também porque o ‘tempo’ (medida da expectativa de vida) não é medida para nada, é apenas uma ilusão de nossa consciência, um único ‘átimo’ pode ser mais importante do que toda a eternidade.
Meditabundos x Peripatéticos
Meditabundos são os arautos da conspiração, veem má fé em tudo que os rodeia, acham
que todo mundo é otário. São os profetas do apocalipse.
Vaidosos e invejosos, sempre acham que têm a solução para tudo,
entretanto, quando responsáveis por alguma missão um pouco mais importante,
acabam agindo como aqueles que criticava.
Não têm uma noção muito boa
da realidade, nem querem ter, súcubos que se voltam para si mesmo, para suas
mazelas e ficam remoendo mágoas que eles mesmos produzem.
Cheios de auto piedade, estão sempre
justificando, às vezes de forma extremamente tocante, seus fracassos. Em muitos
casos, não chegam a ser infelizes, mas raramente conseguem se sentir felizes,
no máximo alcançam algumas alegrias em meio a uma vida de comiseração, momentos
que apenas servem para lembra-los de quão sofridos são seus dias.
Ao contrário, os peripatéticos vão ao mundo conferir suas ideias e, o que é muito
frequente, se veem forçados a rever seus conceitos. São os ‘malucos beleza’,
metamorfoses ambulantes, como dizia Raulzito.
Os peripatéticos vivem oxigenando seus cérebros – metafórica e
literalmente também, o que faz toda a diferença – pesquisando, analisando e em
permanente reforma.
Já os meditabundos são os engenheiros de obras prontas. Se alimentam da crítica ácida e mordaz, como se fossem
os sábios definitivos. Pensam ‘anaerobicamente’, sempre paradões em seus
castelos de ‘verdades prét-a-porter’.
Pior
do que um empregado incompetente é um empregado incompetente com iniciativa!
A frase, muito conhecida por qualquer
um que já teve alguém sob seu comando, serve muito bem aos meditabundos: Pior
do que um meditabundo é um meditabundo com iniciativa – vira black-bloc!
Tesão & Taras X Missão & Valores
O Elemento Sagrado
Senão vejamos: esse jogo que estamos
jogando há alguns milênios neste nosso mundo, foi inventado por nós mesmos, de
uma tabelinha entre o Gene Egoísta (Tesão & Taras) e o Espírito Humano (Missão
& Valores). Engana-se redondamente quem pensa que fomos colocados aqui por
algum ‘deus’ zombeteiro, em um jogo inventado por ele, com o único objetivo de se
divertir com nossas tribulações e medos.
Antes de existir vem a
enteléquia de Aristóteles: o potencial de ‘ser’ – “no princípio era o verbo”.
A enteléquia precede o ser, é
verdade, mas, ao mesmo tempo, já ‘é’ o ser. A enteléquia é, ao menos, a
intenção de ‘ser’, o projeto original, e é individual, tanto quanto algo possa ser individuado neste mar de vibrações chamado
universo.
Pois é, quando decidimos existir e,
mais do que isso, assumir uma existência consciente, entramos deliberadamente
no jogo.
O ‘Banqueiro Anarquista’ de Fernando
Pessoa, já citado por mim outras vezes, não é apenas uma anedota, na verdade retrata
fielmente a realidade por trás desse jogo que inventamos e cujas regras nós
mesmos estabelecemos.
O capitalismo é o regime de convívio
social mais ‘natural’ até hoje experimentado, apesar de seus vícios e mazelas, os
quais têm muito mais a ver com nossa educação do que com o ferramental
disponibilizado por esse sistema.
Lamentavelmente, existe um lado mais
tenebroso dessa questão: o segredo do diabo!
Hoje vemos muitos ‘merecedores’ reclamando seus ‘direitos’: jovens desinformados, ‘Black
blocs’, misturados a vândalos e bandidos, convencidos que têm que lutar contra
tudo e contra todos, determinados a ‘mudar’ as coisas pela destruição.
Uma sociedade se faz de
lideranças e liderados, a anarquia é só uma utopia, uma impossibilidade lógica
se falamos de convivência em grupos sociais.
O fato é que, como os que
não cuidam de suas finanças e reclamam que estão ‘sem dinheiro pra nada’ ou
aquele que, como dizia o poetinha: se acha ‘amo e senhor do material’ e não
percebe que ‘as mulheres são muito estranhas... ’, os ‘rebeldes’ atuais também não se acham
responsáveis pela solução, acham que alguém tem que resolver.
O segredo do diabo é esse:
atrair os incautos pela sedução. Não existiriam os vigaristas se não existissem
os otários!
Sempre achei que em uma sociedade com
uma consciência bem desenvolvida, qualquer sistema vai funcionar. O sistema não
é o vilão a ser combatido! O vilão está em nós mesmos!
A rebeldia, a contestação, a
violência têm o seu papel, não nego, principalmente quando passam uma mensagem
clara.
No caso do movimento ‘passe-livre’ houve
uma conquista importante: o congelamento das tarifas já produziu seu efeito,
governos estão repassando as fórmulas de financiamento do transporte público.
Mesmo quando a mensagem é difusa,
produz alguma reflexão nas lideranças, mas nesses casos são muito mais uma
reação espontânea de grupos descontentes do que movimentos organizados em busca
de algum resultado, apenas ocorrem, como uma explosão.
Eu digo: subverter a ordem não é a
resposta, não temos que lutar contra nada, ao contrário, temos que trabalhar
com os recursos de que dispomos para construir o mundo que queremos.
Não somos e não nos tornaremos uma Faixa de Gaza, por sorte nosso clima,
nosso território, nossa cultura, com todos os seus defeitos e nossa índole nos
tornam imunes a isso, mas aos que, poucos eu sei, insistem em disseminar a
desconfiança, o rancor e a discórdia eu digo: construiremos esta nação apesar
de vocês, mas ainda assim ‘com’ vocês.
Infelizmente existem muitos povos que
vivem desse ódio: palestinos e judeus, muçulmanos e hindus, xiitas e sunitas,
que alimentam um sentimento única e exclusivamente destrutivo, que não propõe
nada a não ser a fidelidade à sua verdade.
Nós nos contentamos com as
rivalidades entre paulistas e cariocas, pernambucanos e baianos, brasileiros e
argentinos. Já nos basta para diversão, não precisamos de outras brigas.

O demônio está dentro de
nós e, se dermos espaço, vai nos convencendo a cada dia que merecemos mais, que
estamos certos em agir daquela forma, ainda que os resultados nos desmintam.
É triste viver em uma sociedade em
que agir de forma desinteressada ou demonstrar boa vontade é motivo de chacota.
Ouvir que ‘esses voluntários são uns otários’ ou ‘não limpo para garantir o
emprego do gari’.
Justamente em um país onde o tecido
da Confiança está totalmente puído, esgarçado, onde deveríamos (nós, os
minimamente esclarecidos) dar o exemplo de vida comunitária, de solidariedade
integral, não só nas calamidades ou doenças.
Ocorre-me a lembrança de um episódio
muito significativo acontecido no 1º ano da faculdade que, na época, eu e a
classe inteira consideramos uma grande piada e agora vejo que os ridículos
éramos nós.
Um colega: Romão Rybka, já falecido,
filho de ucranianos – seu irmão, Jorge, é hoje o cônsul honorário da Ucrânia em
São Paulo – vinha de uma família à moda antiga, com valores muito arraigados e
protagonizou uma cena que ficou na memória de todos.
Durante uma prova, no anfiteatro da
escola, quando a colatina rolava solta, ele se levantou e, aos brados, protestou
contra o que ele achava um absurdo: – Eu não passei por um vestibular,
sacrificando meus pais para que eu pudesse estudar, para passar a vergonha de
ver todo mundo colando descaradamente, eu me recuso a participar disso! E saiu
da sala. Foi um choque pra todo mundo e, ato contínuo, uma gargalhada geral.
Na época achamos aquilo ridículo,
afinal todo mundo sabia: – Quem não cola não sai da escola! Hoje percebo que
nada mais era do que um sintoma da nossa precariedade como nação organizada.
Fato muito parecido ocorreu com o
Pelé quando disse: “Neste momento, afirmo que devo tudo ao povo brasileiro. E
faço um apelo para que nunca se esqueçam das crianças pobres, dos necessitados
e das casas de caridade.” (Novembro
de 1969, logo após marcar o milésimo gol na carreira, no Maracanã)
Crucificaram o cara porque ele teria
sido hipócrita ou piegas, sei lá. Ora, será tão difícil admitir que alguém,
ainda que bem sucedido, esteja sendo sincero? Não estou dizendo que ele estava
sendo, isso eu não sei, estou dizendo que nós não temos mais a capacidade de
confiar e, não nos enganemos, confiança é um sentimento de quem confia, não
pode ser colocado sobre os ombros de quem é o objeto dessa confiança.
Delegando direitos
Nossa católica
sociedade
O mais interessante é que essa
atitude pseudo ativa, de certa rebeldia, exigindo dos ‘poderosos’ os direitos
que julgamos merecer, na verdade é passiva, porque continuamos esperando pelas
soluções por parte de alguém, não assumimos a responsabilidade pelo nosso
destino. Mais do que isso: é a causa de estarmos nos sentindo subjugados por
esses ‘poderosos’.
Indo ao âmago da questão, conforme
sempre defendemos que deve ser feito, verificamos que existe um paradoxo aqui:
se consideramos que os ‘poderosos’ são os outros, que ‘poder’ temos para
pressioná-los.
Nossa tradição católica nada mais é
do que uma lavagem cerebral pela qual vimos passando ao longo de milênios, com
o objetivo ‘único’ de nos tornar passivos para que os ‘poderosos’ dominem o
fluxo de riqueza e conhecimento.
Essa lógica de poder tem duas falhas
fatais: mata o Tesão nos subjugados, porque a vida submissa é castrante e
direciona o Tesão dos poderosos apenas para a luta entre eles, uma vez que a
massa está dominada, com isso eliminou-se quase totalmente a possibilidade de
desenvolvimento social.
Claro que outras sociedades têm a
mesma lógica hipócrita, basta ver um policial em ronda ou em ação: o que nos permite
delegar a outra pessoa, nosso ‘direito’ à segurança?
Pensem bem: em nossa sociedade nós
atribuímos aos outros a garantia de nossa segurança: policiais, bombeiros,
pronto socorros etc., da mesma forma que nas estruturas feudais de poder, onde
o senhor defendia seus súditos dos outros senhores. Por outro lado, pense em
como é a vida dessas pessoas, que se expõem o tempo todo pela segurança de
outros que elas nem conhecem, que tipo de caráter tem que ter e o que se pode
esperar delas.
Poderão dizer que assim escolheram.
Pode ser verdade em sociedades muito bem estabelecidas – mesmo assim tenho
minhas dúvidas – mas na nossa, onde a maioria tem como únicas saídas para a
sobrevivência ser padre ou soldado...

Aonde você quer chegar? Essa é uma
pergunta que alguém pode estar me fazendo.
Espero que seja óbvio, pelo menos
para quem me conhece um pouco, que não estou pregando o retorno à barbárie, nem
fazendo apologia ao armamento da população.
O fato é que essas lutas não estão
levando a lugar nenhum, nossa organização social é falha em suas bases mais
profundas: propriedade privada, democracia, especialização, capitalismo etc.
etc.
Se analisarmos as alternativas
idealizadas por alguns, vemos propostas comprovadamente falhas, como as
experiências feitas ao longo de nossa história demonstraram, outras que não
resistem a uma análise minimamente séria. Conclusão: entre líderes e liderados,
nossa única possibilidade de opção é assumir um desses lados.
O ‘poder’ do líder, não é um bônus,
ao contrário, é um ônus tão pesado que a grande maioria não está disposta a
pagar.
Não há clareza sobre essa relação
entre poder e disposição de conquista-lo e, principalmente, mantê-lo. De um
modo geral, no Brasil, acaba-se com movimentos populares cooptando as
lideranças ou ameaçando a massa com alguma punição, como demissão de grevistas.

Eu estou convencido que isso tudo só
serve para o desenvolvimento de nossa consciência, de nosso entendimento, daí a
necessidade de analisarmos continua e seriamente nossa vida. Definitivamente
não estamos aqui para construir o mundo, mas apenas para nos construir, o mundo será uma consequência dessa construção individual.