Não nos deixei cair em tentação!
26/09/2014
“Tudo o que minha mãe tinha para oito filhos era um ovo e um
pouco de farinha e sal com umas palhinhas de cebola picada...” – Marina Silva
em debate na TV.
Pelo amor de
Deus! Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima! Vamos lá, com
esse nome só pode vir de família de latifundiários. Para com isso!
É analfabeto chegando à
presidência, agora essa maluca eco xiita, assim não dá!
E a situação do país cada vez
pior! Hoje não dá pra constituir uma empresa séria, porque tá tudo dominado
pela corrupção, emprego só com salários de fome ou te arrancam o sangue,
explorando até a alma, serviço público largado as traças.
E a falta de segurança? Com a
invasão desses nordestinos e favelados que empesteiam tudo! Basta dar uma volta
pelo Largo Treze ou por Paraisópolis...
Aliás, não são só os nordestinos
que a gente leva nas costas. Os cariocas, mineiros, tudo vagabundo sem-vergonha,
que só mamam nas tetas do governo, às custas dos nossos impostos. Tem até
paraguaio, boliviano e argentino invadindo São Paulo. Argentinos? Ô povinho:
não valem nada!
O pior é que tem uns metidos que
pensam que se deram bem, esnobando todo mundo, inclusive onde eu trabalho.
Todos puxa-sacos, venderam a alma ao diabo!
Adoram os USA, acham os
americanos o máximo, Bando de bossais! Pensam que podem ser como eles, o
paradigma do “vencedor”.
E o americano é um imbecil, a
própria língua inglesa é de uma pobreza que só por ali já se vê que povo
ignorante eles são. Só se deram bem porque exploraram tudo que é país pobre,
inclusive o nosso.
Nunca participei dessa palhaçada,
afinal tenho meus princípios, meus valores e não abro mão. Infelizmente as escolhas
que fiz na vida sempre foram balizadas por meus ideais. Fui muito crédulo,
achava que podia contar com certas pessoas para levar adiante ideais profissionais
e políticos, mas me lasquei, na verdade cada um só pensa em si mesmo. Fui mesmo
muito burro de acreditar que podia dar certo!
Tudo é podre, mas eu sou melhor
que isso, não vale a pena chafurdar nessa merda toda. Eu não tenho estômago
para isso.
Esses canalhas que “se deram bem”
se corromperam de alguma forma, ou por ambição ou por subserviência. Isso não
serve para mim.
Afinal, eu não pedi para nascer! Parem
o mundo que eu quero descer!
Bem, quem continuou a leitura até
aqui já deve ter desconfiado que “esse cara não sou eu”!
Pois é, não sou mesmo. Essa
viagem ao Canadá reforçou uma impressão que eu tinha: que nos países que nós
consideramos modelos de organização e qualidade de vida existe uma visão muito
mais clara que a nossa sobre “resolver as coisas do modo fácil” ou,
reportando-me às orações que nos ensinaram quando crianças, embora sem nenhuma
explicação do seu significado, sobre o significado do “Não nos deixei cair em
tentação!”
Não cair em tentação é não buscar
justificativas nos outros ou nas coisas para nossos fracassos ou frustrações.
É não pregar justiça e apregoar
preconceitos. É não reclamar dos motoristas
quando estamos a pé e dos pedestres quando estamos de carro.
Temos um ranço de “nobreza” que
nos faz olhar para as pessoas desses países com uma dualidade estranha: os
admiramos quando estamos lá, usufruindo do sistema de convivência que eles
criaram e sustentam a duras penas, mas ao voltar à nossa realidade de
“esperteza” e “jeitinho brasileiro” começamos a vê-los como “puritanos” e até
um pouco “otários”, como se nós vivêssemos mais livres do que eles. Afinal eles
acreditam nos políticos, nos policiais e no trabalho. Eles “confiam”.
Quando comparamos nossa vida
cercada de empregadas domésticas, daqueles “paraíbas” que nos acodem por um
pagamento irrisório para trocar a resistência do chuveiro etc., com a vida
daquele fazendeiro, proprietário de terras, produtor rural, que acompanha a
ordenha, recolhe o gado, opera seu próprio trator, armazena feno para o
inverno, limpa seu jardim, remove a neve da entrada de sua casa, logo pensamos:
como alguém pode viver assim? Afinal, será que eles não tem dinheiro para pagar
alguém que faça essas tarefas “braçais”?
Dinheiro eles têm, até mais do
que a maioria de nós, com certeza, o problema é que não têm a quem contratar,
simplesmente porque os ‘outros’ têm o mesmo nível de vida deles, as mesmas
necessidades e estão ocupados resolvendo seus próprios problemas e trabalhando.
Puritanos hipócritas somos nós,
que nos julgamos “seres especiais”, achando que sempre deve haver alguém para nos
servir. Com nossa cultura herdada do Império Romano, da Igreja Católica e dos
“nobres” portugueses, fujões que se orgulhavam de viver do trabalho alheio.
Caímos em tentação!
Nem percebemos que essa cultura é
a raiz da falta de confiança que mina nossa sociedade e que sem confiança
nenhuma sociedade sobrevive. Não conseguimos entender que o simples nunca é
fácil e que é o “fácil” que complica a vida.
Otários somos nós que não estamos
entendendo nada!
Hoje se morre de medo de
enfrentar a vida, se fala muito em “situação econômica”, em profissões
ingratas, em empresas exploradoras, em falta de segurança, na impossibilidade
de criar filhos e assim por diante. Pura falácia!
Todos nós tivemos que enfrentar
nossos problemas e, acreditem, eles foram grandes, entretanto não se faz alguma
coisa porque “vai dar certo”, mas porque se julga ser aquilo que deve ser
feito, aquilo que queremos fazer e aí vamos em frente e, simplesmente, fazemos!
Se você decide entrar na água
fria não espera para ter certeza de que vai aguentar, você entra e “aguenta”!
Caso contrário, cai na tentação de não entrar, afinal “é mais confortável”.
Ora,
se está procurando conforto não devia nem sequer ter nascido, afinal viver é
“sair da zona de conforto”. E perceba: a decisão de nascer foi só sua, lembra
do “Ubaldo”?:
“...antes de subir para o Poleiro das Almas, onde, mais cedo ou mais tarde, terão de vencer um grande medo e encarnar outra vez.
Não há necessidade de obrigá-las a fazer isso, porque é insuportável não poder aprender absolutamente nada, de forma que, a todo instante, multidões delas não conseguem mais conter-se e, despencando precipitosamente do Poleiro das Almas em voos dardejantes, baixam para encarnar.”
“...antes de subir para o Poleiro das Almas, onde, mais cedo ou mais tarde, terão de vencer um grande medo e encarnar outra vez.
Não há necessidade de obrigá-las a fazer isso, porque é insuportável não poder aprender absolutamente nada, de forma que, a todo instante, multidões delas não conseguem mais conter-se e, despencando precipitosamente do Poleiro das Almas em voos dardejantes, baixam para encarnar.”
E a auto piedade? Essa é a maior
das tentações: achar que foi prejudicado pelas circunstâncias, por terceiros
ou, o pior: pelas suas próprias escolhas –... como fui estúpido, agora não tem
mais jeito, já destruí todas as possibilidades que eu tinha, estou condenado a
sofrer “per omnia saecula saeculorum”.
Lembra muito a nobreza falida,
quando o que falta, na verdade, é vergonha na cara para reagir e buscar as
soluções para os problemas, antes que eles mesmos (os problemas) encontrem, o
que nem sempre vai estar conforme as suas expectativas.
Repetir essa ladainha parece até
coisa de mártir, mas na verdade é covarde e imbecil. Covarde porque é puro
comodismo, desistência e imbecil porque elimina qualquer possibilidade de ser
feliz.
Costumamos considerar nossa
língua como o primado da elegância e da riqueza de vocábulos, afinal, temos
talvez o único idioma com a palavra “saudade”. Quando comparamos “a última flor
do Lácio” com a língua inglesa, por exemplo, ficamos horrorizados com a
pobreza: não distinguem nem “ser” de “estar”.
Curioso que a pessoa considerada
o maior escritor de todos os tempos, Shakespeare, escreveu, nessa língua pobre,
as melhores e mais completas traduções da alma humana.
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