A vida é um processo comandado pelo gene egoísta que é, por
natureza, selvagem. Tudo que ele quer é garantir a sobrevivência e a expansão
da espécie, ainda que à custa do espécime.
O problema é que nós somos os espécimes.
Achamos que, seres conscientes que somos, temos nosso livre
arbítrio para decidir viver como quisermos, entretanto não é bem assim, somos reféns do
nosso gene. Nossa liberdade vai até os limites do que ele nos permite e esse
condicionamento aflora através de nossas ‘qualidades’ e ‘defeitos’[1].
Nossos ideais de igualdade, justiça, paz etc., infelizmente
não são naturais, são fruto da nossa necessidade de colocar tudo sob o nosso 'domus'. Tentamos domesticar o
bicho para acomodá-lo sob nossas necessidades como indivíduos, não como
espécie.
Daí vivermos sempre às voltas com o paradoxal, com situações
aparentemente ilógicas ou, pelo menos, difíceis de aceitar.
Tenho um amigo que serve como exemplo desse tipo de
comportamento paradoxal.
Nos conhecemos na faculdade, inclusive morou comigo na mesma
república e depois de formados foi meu sócio em um pequeno negócio. Apesar de
nossa amizade que era e ainda é bem real, eu sempre senti uma grande
dificuldade para lidar com ele, principalmente em se tratando de assuntos
profissionais.
Era o que se pode chamar de ‘genioso’, por vezes dava
vontade de desistir da discussão devido à grande resistência que ele tinha de
aceitar argumentos contrários à sua ideia. Por outro lado era ‘genial’, tinha
uma inteligência brilhante e uma capacidade de trabalho inacreditável.
Coloquei as palavras “genioso’ e ‘genial’ para destacar que
costumamos exprimir esse tipo de caráter através de ideias ligadas ao ‘gene’,
inclusive dizemos ‘pessoa de gênio assim, gênio assado.
Nos meus muitos anos de convivência com ele cheguei à
conclusão que os dois aspectos, o positivo e o negativo, da personalidade dele,
eram duas faces da mesma moeda, anulando uma a outra se anularia ao mesmo
tempo.
Existem casos em que isso ocorre: uma pessoa se sente
pressionada a coibir certos impulsos e se tornar menos agressiva e acaba por se
tornar uma pessoa apática, sem vontade.
Assistindo a série The
Borgias pude acompanhar uma interpretação cinematográfica da história do
renascimento na Europa.
Nesse período, século XV, existiu um personagem, no caso o
papa Alexandre VI (Rodrigo Lanzol Borgia), extremamente contraditório. Por um
lado um líder inescrupuloso que fazia tudo pelo poder, por outro o responsável
pelas mudanças mais importantes no mundo ocidental, patrocinando o início do
renascimento.
O fato é que os gênios são aqueles que sabem sintonizar a
sua intuição, conectar-se com ela perfeitamente, e a intuição está em um nível quase
diretamente ligado ao ‘bicho’, ao selvagem. Entretanto continuam sendo seres
sociais e preservando certas ‘qualidades’ relativas à convivência, à vida
cotidiana, daí o comportamento aparentemente ‘esquizofrênico’ das pessoas
geniais.
Viver é manter Yin e Yang em equilíbrio instável. É como
andar: quase cair e se recuperar sucessivamente.
Nada tem sentido e cada um precisa encontrar um sentido para
si! Estabelecer um equilíbrio, ainda que instável, entre a falta de sentido, o
ceticismo e a fé, a busca de “um” sentido para nossa vida.
Ceticismo e Fé convivendo,
não em harmonia, mas em permanente disputa, confrontação e, principalmente,
discussão.
O frio é elegante, sóbrio, distinto, silencioso, meditativo, sério, nostálgico, solitário...
O calor é... escrachado!!
[1]
Vale a pena relembrar que qualidade e defeito, principalmente se referidas ao
caráter humano, não são opostos. De fato, o que chamamos ‘defeito’ nada mais é
do que um desequilíbrio entre nossas qualidades ou uma ‘qualidade’ exacerbada.
Ex.: Egoísmo é excesso de amor próprio; Vaidade é excesso de autoaceitação etc.
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