13/10/2013


CORAGEM

A trilogia se completa!

Falamos de Liberdade, o maior anseio, de Confiança, o melhor meio, falta falar da Coragem, o instrumento.

Ao falar de coragem pensamos em luta e, ao pensar em luta, pensamos em inimigo e o grande inimigo a ser vencido é o medo e só precisamos de uma arma: a Coragem!

O MEDO

Esse talvez seja, dentre os “inimigos do homem”[1], o pior ou, pelo menos, o mais insidioso, sorrateiro e difícil de identificar. Uma coisa muito comum é ele vir disfarçado por uma atitude jocosa, de despreocupação, quase uma arrogância ante questões ligadas ao ‘mistério’.

O medo, que por vezes não é evidente, está influindo todo o tempo em nossas decisões e, principalmente, nos enfraquecendo nos embates da vida, sejam eles no trabalho, nos negócios, na família e até mesmo com os filhos, quando muitas vezes nos tornamos reféns de sentimentos de culpa e cedemos a pedidos que acabam por atrapalhar o bom desenvolvimento de suas personalidades em formação.

A atitude de ‘querer’ acreditar em algo – dar um sentido para nossa vida – é um dos melhores antídotos para o medo.

Essa atitude é uma forma de romper o ciclo vicioso do medo: “medo gera medo”, com o ciclo virtuoso: “coragem gera coragem”. Coragem de assumir os riscos dessa tomada de posição.

Uma das formas de medo mais sutis é a aversão à análise da vida.

“Se eu paro eu penso, se eu penso eu choro!”

É a negação em responder a perguntas que, independente de nossa vontade, estão presentes em nosso espírito.

Essas perguntas, ainda que afirmemos veementemente que não nos preocupam nem um pouco, estão lá, minando nossa vontade e nossa coragem.

Quantas vezes nos deparamos com situações em que, por falta de coragem, deixamos de conseguir alguma coisa: uma namorada, um emprego, uma promoção, um bom negócio e, ao olharmos para o lado, vemos alguém se dando bem. Claro: ou o cara é virado pra lua ou é apaniguado de alguém, não é mesmo? Nem sempre, pode ser apenas uma pessoa de coragem!

Pode ser que muitas das perguntas só possam ser respondidas com um rotundo: – Não sei! Mas, ainda assim, servem para conduzir nossa análise: partindo do fato de que não sabemos podemos adotar uma atitude mais coerente do que mantendo a ilusão de sabemos.

Uma das perguntas que causa mais medo é: – Deus existe? Basta verificar o que você pensa sobre isso e escrever a palavra “Deus”. Acho que, como eu, você escreveria com letra maiúscula, afinal, nas aulas de catecismo, em casa ou em algum lugar, alguém, em algum momento nos disse que era assim que tinha que ser escrito, caso contrário estaríamos desrespeitando e, de certa forma, desafiando o ser supremo.

Será normal ter medo de algo que nem se sabe se existe? Apesar de parecer prudente, não é! Pelo simples fato de que é um medo e, portanto, não pode ser ignorado porque nos atrapalhará.

Claro, você pode dizer: – Estou contente com minha vida, é bobagem me preocupar com isso!

Apenas digo que, infelizmente, você já está preocupado, só não tem coragem de encarar!

Medo em prosa

Medo de mudar de emprego, medo de não ser aceito, medo de não ser admirado, medo de não ser respeitado, medo de perder a companhia, medo de assumir riscos, medo de perder dinheiro, medo de perder a saúde, medo de perder uma oportunidade...
Medo de não estar certo...
e quando falta o sono, medo do dia seguinte: insônia certa!


MEDO de ter MEDO!

O medo de perder dinheiro é um dos mais perturbadores, porque perder a saúde é muito mais distante em nosso inconsciente.

Bem, posso dizer que já fiquei sem dinheiro, não por alguns meses, mas por vários anos. Tivemos que contar com ajuda, engolir o orgulho e ir e frente, mas posso dizer que viver sem dinheiro não é muito diferente do que com dinheiro, porque nos adaptamos às dificuldades e seguimos em frente.

Não fiquei sem dormir, não deixei de me divertir, não colocamos nossa família em risco, apenas tínhamos menos conforto, mas, como eu disse, é apenas uma questão de adaptação, em pouco tempo a gente se organiza e continua tocando a vida, fazendo piadas com nossa própria situação e la nave va.

Verso da Coragem

O emprego e os patrões assinalados,
assumindo a sua alma lusitana,
ainda que d’outras plagas desterrados,
impondo respeito à moda romana,
amigos e amores conquistados
assumindo os riscos com força humana
e da saúde e das chances aproveitaram
como a riqueza auferida bem usaram...
          Paródia de Os Lusíadas [2] de Luís Vaz de Camões

Coragem de ter dúvida...
e quando o sono faltar, a coragem de deixar pra lá: zzzzzz...

CORAGEM de ter CORAGEM!


Lúcifer
O que fez a luz

Não nos esqueçamos do mito da expulsão do paraíso. A serpente tentou Eva com o fruto da árvore do conhecimento.

Esse é o conceito de Lúcifer: aquele que ilumina, esclarece e... implanta o medo.

Em contrapartida temos um Deus, inescrutável, incompreensível, que tudo pode e que... opera milagres!

Muita informação favorece o medo, por isso, quanto mais nos informamos mais coragem devemos ter.

A informação não é conhecimento, é preciso ter disposição para transformá-la em algo útil, pesquisando, estudando, verificando enfim o conteúdo da informação. Essa atitude desenvolve a coragem e transforma conhecimento em sabedoria.

Bom exemplo disso é o ‘efeito Dráuzio Varela’, personagem bem intencionado que, todos os domingos, nos enche de informações sobre doenças, da mesma forma que o ‘oráculo de Google’, onde podemos pesquisar qualquer sintoma, por mais incipiente que seja. Eles mexem com um de nossos medos mais terríveis, que é o de perder a saúde. Antigamente, com menos informações disponíveis, tínhamos todo tipo de sintoma e, exceto quando se tratava de algo muito grave, esperávamos passar. Se dizia então: – Antes de casar sara!

Se a dor ou desconforto fosse insuportável, ou se perdurasse por muito tempo, algo como 30 dias ou mais, só então íamos procurar um médico. Hoje, ao contrário, ao menor sintoma, já estamos no pronto-socorro.

Não se trata de viver irresponsavelmente, mas precaução e previdência não são, nem devem ser, resultados do medo. A virtude da prudência[1] ensina: ser prudente é não titubear, tomar as decisões no momento e no prazo exigidos a cada situação.

Os riscos que a vida apresenta não são terríveis por si mesmos, mas única e tão somente pelo medo que provocam. É isso que faz o terrorismo e a igreja católica tão eficientes.

Mas, sendo assim, seria o medo uma arma dos poderosos, um ardil ou apenas parte da natureza humana, uma arma do gene?

Já sabemos que o gene não está nem aí para o indivíduo, só se interessa por ele quando é interessante para a sua preservação (do gene em si), daí criar armadilhas para que, através do medo, os mais capazes dominem os demais.

Isso se dá utilizando o próprio medo dos poderosos, por isso a impressão de conspirações tenebrosas e, essencialmente, misteriosas, porque as pessoas agem não por estratégias ou ardis, mas por impulsos provocados pelo gene.

O medo é o pai de todos os pecados: a vaidade, por exemplo, é um medo profundo de não ser aceito, não ser admirado, não ser respeitado.  A competitividade, embora não seja um pecado é fruto do medo, produzido pelo gene egoísta[3].

A confiança é perdida em função do medo, disfarçado de competitividade.

Ficar dependente das redes sociais, respondendo freneticamente todas as chamadas e nem pensar em ficar offline é puro medo. Medo de ficar de fora.

Estar vivo é ter medo, não há como fugir disso, porém quando esse medo nos impede de viver bem, se torna um inimigo a ser vencido.
"O anjo não pode ser forte porque é invulnerável."
Forte não é o que vence um combate, é o que consegue vencer o medo.

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem!
João Guimarães Rosa
A quem devemos nos curvar: Lúcifer ou Deus?

Nenhum dos dois. A Coragem pode nos libertar!





[2] As armas e os barões assinalados,| que da ocidental praia lusitana,
por mares nunca dantes navegados,| passaram ainda além da taprobana,
em perigos e guerras esforçados| mais do que prometia a força humana
e entre gente remota edificaram| novo reino que tanto sublimaram...
[3] Gene egoísta não é o lado egoísta do ser humano, mas a natureza do gene, qualquer gene.

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