04/08/2025

Circunstâncias

Ao tomar conhecimento de alguma atitude ou comportamento reprovável, ou que julgamos reprovável, é normal adotarmos uma postura crítica, quando chegamos a julgar o autor da tal atitude ou comportamento.

Nessas ocasiões é importante exercitar nossa autocrítica, tentando nos colocar na situação apresentada e tentar analisar como reagiríamos em condições semelhantes.

Essa postura, se praticada com honestidade, poderia evitar muitos dos conflitos que percebemos nos últimos tempos, principalmente quando o tema é política.

É claro que as circunstâncias influenciam e podem até determinar o comportamento.

Cada um de nós tem um limite para começar a relevar princípios e códigos morais. Basta imaginar como nos comportaríamos em situações extremas, como as de guerras, extrema pobreza, doenças extremamente debilitantes etc.

É claro que, ao fazer isso sempre tenderemos a acreditar que manteríamos nossa fidelidade em qualquer circunstância, mas o fato é que só poderíamos ter certeza disso se experimentássemos a situação proposta. A capacidade de aceitar essa dúvida é que vai determinar qual será a nossa capacidade de tolerância em relação ao outro.

A discussão mais reverberante dos últimos dias é a relativa às sanções do ditador americano[ii] - duas palavras que a gente nunca imaginou juntas - aplicou ao nosso país, causando justificada indignação a todos nós.

Além disso, vemos uma parcela da população, muitos próximos a nós, apoiando toda essa insanidade, inclusive participando de manifestações públicas. Isso faz pensar!

Nessa tentativa de buscar as razões por trás de toda essa loucura, logo de cara percebi que não são razões, mas emoções.

Muito já discutimos sobre essa revolta crescente contra toda a ordem política mundial construída desde a II Guerra Mundial, isso parece ser um movimento sem volta, ou seja vamos até algum fundo de poço, para só então começarmos uma reconstrução, espero que não só com paus e pedras.

Isto posto, quero fazer um comentário sobre as atitudes do nosso governo e do Xandão, como eles gostam de chamar.

Era claro que os Estados Unidos, vendo seu declínio avançar inexoravelmente, aliás iniciado na década de 80 do século passado, quando houve a invasão comercial dos automóveis japoneses no mercado norte-americano, não iriam assistir impassíveis a sua queda. Isso associado à revolta latente na população mundial, não apenas nas terras do tio Sam, resultou no fenômeno Trump, que como está claro é absolutamente inconsequente, agindo por puro impulso.

Vamos lembrar que esse Titã econômico também é a maior potência tecnológica e militar, além de ter um perfil altamente bélico e dominador - não nos esqueçamos de 64, mesmo sob o governo do democrata Lyndon Johnson.

Ora, todos os fatos que elenquei acima eram de conhecimento público, fazendo parte não só de discussões de alto nível, tendo resultado em alguns prêmios Nobel - alguns dos livros que li recentemente são desses premiados - como até de animados debates de botequim.

Ainda assim, aceitamos entrar em um bloco cujo propósito básico é se contrapor aos Estados Unidos, propondo inclusive a criação de uma moeda para fazer frente ao dólar, além disso manifestamos apoio à Venezuela e ao Irã.

Por outro lado o STF anulou todas as ações da Lavajato, condenando inclusive o Juiz Sérgio Moro, visto mundialmente como o paladino da justiça, que havia colocado um ex-presidente na cadeia.

Como ato final, libertou e reabilitou o Lula.

Quanto ao Xandão, este avançou com a Constituição debaixo do braço usando todo o rigor da lei contra os insurgentes golpistas, incluindo nosso filhote de Trump, o Bolsonaro.

Lembram-se que falei que não são as razões, mas as emoções que comandam as sociedades, pois é, a partir dessa constatação fui resgatar memórias do passado, tempos de Ulysses - não o da Odisséia de Homero, mas o da Constituição de 88 - quando era do senso comum que certas coisas não se aplicam a políticos, mormente quando têm apoio popular.

Na época achava esses políticos um bando de picaretas, falsos e enganadores, agora fico pensando, será que eram sábios? 


[i] Seja fiel, mas honesto!

[ii] "O homem do castelo alto" e "O conto da Aia" alertaram para esse fenômeno


Estaria a sabedoria na razão direta da emoção?

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