O infinito inteiro na minha cama,
A eternidade em uma noite de sono.
O universo todo em fina trama,
Mergulho profundo ou só um sonho?
A clonagem virtual e a essência do ser humano
Um dos episódios de Black Mirror explora a possibilidade de clonar virtualmente um ser humano por meio da leitura de seu DNA, criando um reflexo digital perfeito no espaço cibernético. Esse avatar seria acessado pelo jogador que, através de uma interface, passaria a viver a experiência de seu clone virtual.
Mas até que ponto esse clone poderia capturar a verdadeira
essência da pessoa?
A
Inteligência Artificial continua sendo um mistério. Há muita especulação (beirando a paranoia) sobre se vai ser nossa aliada ou nossa inimiga. A ideia de clonagem digital desperta uma série
de reflexões, principalmente sobre o que realmente nos define como indivíduos.
A clonagem virtual de uma pessoa através do DNA parece uma possibilidade, mas a clonagem da "persona" depende não só do DNA, mas de todas as experiências vividas, todas as interações com o mundo, com as outras pessoas, com a sua alimentação, influências biológicas — como fungos e vírus — e até mesmo os acidentes que moldaram nossa trajetória.
Nós somos nós, como já comentei no DeMimPro6: Nós somos Nós
Não somos apenas um conjunto de códigos genéticos; somos uma interseção de infinitas ondas de energia, inseridos no cosmos ou no Tao descrito pelos chineses.
Dessa forma estamos inseridos nesse cosmos, ou no Tao, e não só podemos como efetivamente trocamos informações com esse todo, conscientemente ou não.
Entre crenças e percepções
Diante desse panorama, podemos falar de crenças. Eu tenho a minha, ainda que me considere agnóstico em relação ao "mistério" — ou seja, não me apego a explicações detalhadas que ultrapassem nosso horizonte de conhecimento.
Desenvolvi um modelo para entender meu próprio ser, algo que já registrei em alguns textos do DeMimPro6, como este:
DeMimPro6 - 06/02/2021 (clique para acessar este artigo)
Esse modelo se compõe de um ego, um subconsciente e uma patota, conforme explicado no texto acima. Mas há um quarto elemento essencial: aquele que muitos chamam de guia espiritual, anjo da guarda ou daemon.
Minha mãe me apresentou a esse guia quando eu tinha cerca de oito anos de idade — história que contei no Volume I do DeMimPro6:
DeMimPro6 - Boletim (clique para acessar este artigo)
Mais tarde, ao conhecer o bruxo de Castañeda, percebi que esse guia se alinha ao conceito de "aliado" descrito por ele.
DeMimPro6 - Castañeda (clique para acessar este artigo)
Hoje me refiro a ele pelo nome que minha mãe me passou, afinal está muito mais estabelecido em minha mente, mas acaba por ser o "aliado" de que falava o bruxo do Castañeda. Aqui faço um parênteses para explicar minha relação com esse "aliado" e, indiretamente com o todo.
Curiosamente
eu nunca tive problemas com o sono. Não importam as condições, sempre consigo
descansar bem. Mesmo que eu perca algumas horas de sono, no dia seguinte estou
completamente normal. Passei a imaginar que, quando adormeço, entro em um
estado onde o tempo parece parar — exagerando um pouco, é como se,
independentemente da duração do sono, eu vivenciasse uma eternidade.
Dentro dessa perspectiva, acredito que, nesse estado, entro em contato direto com meu "aliado". Ele coordena toda a patota, conduzindo-me pelo emaranhado de energia do todo que me cerca. Através de sua orientação, posso não apenas receber aconselhamento e informações, mas também influenciar esse todo com minhas intenções.
Robôs não podem amar!
Essa capacidade de lidar com o desconhecido, com a complexidade — que nada mais é do que a percepção de um conjunto de informações maior do que podemos processar diretamente — não me parece estar ao alcance da IA.
O dilema da clonagem virtual
E agora chegamos ao ponto central!
Se
considerarmos a possibilidade de criar um ser virtual clonado a partir do DNA
de alguém, essa entidade digital precisaria estar conectada à mente da matriz
original para realmente se integrar ao todo.
Um
ser, ainda que idêntico estruturalmente ao original, nunca terá todo o conjunto
de informações, conhecimento, dúvidas, anseios, angústias, paixões, medos e
tudo o mais que um ser vivo tem, portanto não atingiria esse estado de contato
com o todo. Dessa forma ele precisaria estar conectado à sua matriz original para obter essa experiência.
Mas, e se essa Inteligência Artificial decidisse colocar sua matriz humana em estado
vegetativo, deixando-a apenas como um "conector"? Rapidamente
perceberia que isso não iria funcionar. A verdadeira profundidade daquela mente
só existiria se a pessoa tivesse liberdade para exercer seu livre-arbítrio,
vivenciar experiências, correr riscos, amar — enfim, viver plenamente.
Neste ponto as vantagens da IA são cruciais, afinal uma entidade livre de paixões, medos, comodismo, imediatismo, egoísmo e tudo aquilo que nos define como seres sencientes, poderá fazer uma análise fria e isenta, coisa que temos muita dificuldade em conseguir.
Para
atingir seus objetivos, essa IA teria que garantir a liberdade da sua matriz. Em um
cenário inesperado, a tecnologia que inicialmente parecia ameaçadora poderia
acabar se tornando uma protetora da autonomia humana.