Segue a Parte III deste quinto


Versão DemimPro6 de Podcast


A transcrição completa está na sequência.

CONVICÇÕES

Livre pensar!

Será?

02/03/2022

Por décadas experimentamos uma insistência quase obsessiva por uma sociedade “perfeita”, ou seja, o fim do sofrimento para todos os indivíduos, sejam quais forem suas capacidades, a liberdade de comportamento, o estado como provedor e garantidor de tudo isso, a extensão da vida indefinidamente, enfim o estabelecimento do “paraíso” na Terra, quase reproduzindo as promessas da maioria das religiões, com a diferença que esse “paraíso” não estaria restrito aos justos ou “eleitos”, mas seria para todos, e, claro, não seria após a morte, mas “aqui e agora”!

Tudo isso se deve à perspectiva desses “afirmacionistas”, que, baseados em uma visão idílica da espécie humana, despreza solenemente o que a própria ciência já mostrou, que não são objetivos nem possíveis, nem lógicos, sob a perspectiva científica, seja qual for o cenário que se projete.

Os governos e legisladores, forçados por essa “opinião pública”, imprimiram nas regras formais, ou seja, leis, convenções nacionais e internacionais, o que, para grande parcela da população ou é absurdo ou é irrelevante.

Na minha opinião ocorreram alguns exageros, principalmente no controle do que podemos falar e até do que podemos pensar!

É interessante notar que os “negacionistas” não querem nem saber o que os outros pensam, querem derrubar as regras que os incomodam, sem nenhuma esperança de que o mundo possa melhorar, já os “afirmacionistas”, creem de tal forma na sua versão, na sua visão de um mundo perfeito, que esperam que “toda” a população seja  “convencida" ou “convertida” às suas verdades. Confundem isso com “esperança”!

Ainda que eu concorde com as ideias de justiça e preservação, é evidente que há uma jactância muito grande nessa atitude de “donos da verdade” dos “afirmacionistas”, o que, naturalmente, causa reação nos que pensam de forma diferente. Isso sem mencionar o fato de que eu faço parte dos “doutrinados” por esses formadores de opinião e, portanto, essas ideias que “defendo” não são exatamente minhas.

Claro que não se trata de mudar de lado, passar a defender uma atitude que de construtiva não tem nada, mas de entender o que move esse enorme contingente de pessoas e rever as nossas atitudes, já que as deles só a eles cabe dizer.

Podemos e devemos perseguir o fim do sofrimento, mas com a clareza de que existem condicionantes, afinal administrar é buscar o melhor agora e no futuro, para o indivíduo e para a humanidade como um todo, isso impõe escolhas. Sobre isso já falei em várias postagens.

Além disso, a realidade apresenta situações em que a falibilidade humana se manifesta, e isso vale para todos nós, a imposição de um controle, a meu ver excessivo, no pensamento de cada um, causou um cansaço extremo em relação às ideias de justiça social, liberdade comportamental, globalização, controle ambiental etc.

Quanto à liberdade comportamental é curioso ver que os dois lados a defendem, porém só em relação ao que consideram válido.

Nazismo e fascismo são proibidos, comunismo não!

Comunismo é proibido, nazismo e fascismo não!

Liberdade sexual é permitida, armas não!

Armas são permitidas, liberdade sexual não!

Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!

Pé em deus e fé na taba! Globalização já!

Seria cômico, não fosse trágico!

O fato é que a ciência, stricto sensu, vem demonstrando que não há espaço para fantasias de qualquer espécie, ou buscamos a solução por nossos próprios meios, em nível individual e coletivo, ou sucumbimos.

Voltando à onda de aparente loucura que assola o mundo, essa verdadeira rebelião ocorreu quando as conclusões da ciência se mostraram insuficientes para corroborar o senso imposto por essa “elite” e se aproximou demais do abismo, da conclusão “confuciana” de que cabe a cada um a responsabilidade de cuidar de si e do próximo, que não há força terrena ou divina para ajudar.

A imensa maioria das religiões nasceu do medo, da necessidade de um ser supremo protetor.

Quando ameaçaram destruir esses mitos, esse medo, que nunca foi sequer arranhado por toda nossa filosofia (vã, na opinião do crente), se manifestou como uma rebelião não “de”, mas “contra” Lúcifer, aquele que produz luz, clareza. Sobre esse personagem mítico escrevi em 2013: Lúcifer

Essa interpretação da nossa crise atual, ajuda muito a entender Niccolò Machiavelli.

Aliás, dois personagens que causam vertigem nos “afirmacionistas”, porque foram dos poucos que tentaram esclarecer a humanidade, mas o medo da verdade os relegou a uma posição de amaldiçoados, mais ou menos da mesma forma que se condenavam “feiticeiras” na Idade Média, mulheres cujo único pecado, muitas vezes, era só pensar livremente.

Quem tiver a pretensão de governar neste mundo, ainda que com objetivos elevados, tem que estar atento não só às necessidades materiais, mas principalmente às psicológicas, da imensa maioria da população e, principalmente, saber lidar com o medo, seu e de seus liderados.

Não por acaso os líderes do “negacionismo” e maiores ameaças à democracia e ao estado de direito nos dias de hoje, como o Trump, o Bolsonaro e, principalmente o Putin, permanecem incólumes, apesar de cometerem crimes às escâncaras, seguidamente. O medo, camuflado com vários discursos morais, éticos e jurídicos, impede que se tome qualquer atitude para frear esses que são os verdadeiros destemidos.



O “negacionismo” tem várias manifestações, algumas vindas de onde menos se espera, seja por pessoas “afirmacionistas” que mantém crenças fantasiosas, seja por alguns que, por exaustão, acabam caindo em tentação.

É o caso dos que se rendem aos Tratamentos Alternativos!

No Pádaqui 5 - Parte I, falei bastante sobre o grande acordo feito pela civilização, pois bem, um dos benefícios não tão evidentes desse acordo é a redução de riscos.

Em uma sociedade em que tudo é decidido por estatísticas e probabilidades, realmente certas “regras” ficam um pouco herméticas.

Numa postagem sobre a pandemia falei o seguinte:

Em análise de risco a primeira coisa que devemos ter em mente é que todo risco tem duas dimensões, a probabilidade e o prejuízo.

Existem riscos de alta probabilidade e pouco prejuízo, exemplo pequenas batidas de carro, nesse caso, mesmo tendo uma alta probabilidade de ocorrência pode ser vantajoso não pagar um seguro por isso, ter um seguro só para perda total, por exemplo, sai muito mais barato.

Por outro lado existem riscos de baixíssima probabilidade mas de prejuízo potencial muito alto, exemplo incêndio da casa em que moramos, nesse caso, ainda que a probabilidade seja muito baixa, vale a pena pagar um seguro, afinal podemos ficar sem a casa.

Ouço muito que as grandes farmacêuticas e os médicos cooptados por elas, nos impingem tratamentos que seriam não só ineficazes, como caros e prejudiciais.

Claro que é mais uma teoria conspiratória que compõe o discurso dos “negacionistas” e usado normalmente por alguém que, “heroicamente” se volta contra esse “poder tirânico”, propondo alguma solução milagrosa que dizem ser a solução dos seus problemas e que, só não foram aceitas pela ciência formal, porque vão contra os interesses comerciais, ou financeiros, dessas corporações.

Sob a perspectiva dos riscos envolvidos, deveria ser claro que optar por soluções pouco testadas, ao invés de buscar aquelas que foram submetidas à análise de milhares de especialistas, é um risco enorme de fracasso.

Um dos argumentos que se costuma usar, é citar inúmeros depoimentos de indivíduos que testaram e aprovaram o tal tratamento.

Seria como acusar as corporações de bombeiros de estarem mancomunadas com os fabricantes de extintores, apresentando vários testemunhos de pessoas que vivem em edifícios enormes há muitas décadas e nunca passaram por nenhum incêndio, então pra que gastar fortunas com extintores.

Ora vejam, as ditas corporações maléficas investiram montanhas de dinheiro e dispenderam décadas de trabalho para desenvolver medicamentos e terapias, muitas vezes em consórcio com instituições acadêmicas, passando por todas as exigências, não poucas, das agências regulatórias, tendo seus projetos recusados por inúmeras vezes até a aprovação final. Lembrando que esses são os interesseiros.

Por outro lado, o paladino desinteressado que nos promete uma solução mais rápida e mais barata, se baseia, além da sua convicção, de que vivemos na ditadura da ciência, na sua intuição, de que aquela é a solução correta. Investiu uma merreca e algumas semanas na divulgação de suas ideias e mais nada, mas cobra por suas consultas, tratamentos, intervenções etc., muito bem cobrado. Esses são os desinteressados e heroicos combatentes da revolução anti-ciência!

Deixo as conclusões para cada um!

 

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