Parte I
Versão DemimPro6 de Podcast
A transcrição completa está na sequência.
IDEIA DE JERICO
Inócua por inepta e inexequível!(*)
Será?
A sociedade humana, assim de forma ampla, incluindo todas as sociedades que formam o que chamamos de civilização, é resultado de um grande acordo.
Um acordo sobre como se administra essas sociedades.
Administrar exige tomar decisões sobre quase tudo que determina ou, no mínimo, influencia a qualidade de nossas vidas.
Isso vale em todos os níveis de administração, desde uma família até um país.
Administrar é um grande desafio, já que as opiniões sempre serão extremamente diversificadas, dependendo da inteligência, da sabedoria e dos interesses individuais.
Desde como organizar a próxima caçada, para garantir o alimento do grupo, passando por como preparar os alimentos, até como aliviar as dores e aflições de cada membro do grupo.
Primeiro, quem deve liderar?
Uma pessoa, um grupo de pessoas?
Como escolher esse líder?
Depois, as decisões, para serem mais rápidas, precisam de regras, leis, normas.
Essas leis devem ser elaboradas por uma única pessoa, um grupo de pessoas ou através de consulta pública?
E ainda nem chegamos ao sistema
político ou econômico!!!!
Quem tiver essas respostas e estiver certo de suas escolhas, desculpe, não merece ser chamado de inteligente!
Uma das soluções encontradas pela espécie deste que vos fala, foi estabelecer um acordo que, em suma, se constitui em dividir as tarefas e a solução dos problemas por especialidades, em que todos passam a depender e, consequentemente, a ter que confiar em todos.
Essa divisão deu aos "especialistas", surgidos desse grande acordo, as condições de se dedicar à sua especialidade, deixando as outras atividades para os demais "especialistas" do grupo.
Foi assim que saímos, pelo menos a parcela da humanidade que honrou melhor esse acordo, de uma situação de penúria e selvageria para as condições atuais, com melhorias extraordinárias na qualidade de vida, na segurança, na saúde física e mental, na longevidade etc.
Isso sem falar no progresso tecnológico e na compreensão cada vez mais profunda do universo em que vivemos.
Quem tiver dúvidas basta imaginar como era a vida de um hominídeo da pré-história ou mesmo dos primeiros séculos da história conhecida e comparar com a vida de um ser humano atual em uma sociedade desenvolvida.
Alguns poderão contestar dizendo que grande parcela da humanidade vive ainda em condições precárias.
A isso contraponho a seguinte
questão: há alguma forma mais eficiente do que esse grande acordo feito pela
civilização?
Se não temos proposta melhor que
essa, só nos resta continuar aprimorando o que temos!
Além disso, mesmo considerando os grupos menos favorecidos pelo desenvolvimento humano, eles tem hoje mais chances do que a maioria da humanidade há alguns séculos.
Precisei voltar às origens históricas da civilização porque, ao argumentar contra ou a favor de qualquer ideia, precisamos ter em perspectiva o "porquê" das coisas serem como são.
Nem tudo é evidente! A gente não come tudo que gosta porque desde a infância somos educados sobre alimentação saudável, da mesma forma aceitamos as normas sociais porque somos educados a isso, mas os motivos nem sempre estão claros, daí a necessidade de entendermos os "porquês" dessas normas existirem.
O chamado "negacionismo" ignora tudo isso, como o adolescente que tem certeza de suas convicções e despreza altivamente os conselhos dos mais experientes. Exemplo disso é ignorar recomendações de instituições reconhecidas pelo grande acordo e preferir seguir pessoas, normalmente mal intencionadas, que, com argumentos contra o sistema, garantem saber a solução do seu problema.
É a famosa "ideia de jerico", na maior parte das vezes, inócua por inepta e inexequível, embora muitas vezes não seja tão inócua, causando sérias consequências para o incauto iludido.
Do outro lado da questão, o que os "afirmacionistas" mais temem são as fake-news, entretanto o que a humanidade em geral sempre temeu foi a verdade.
Sempre preferimos acreditar em personagens reais ou mitológicos que nos dissessem o que é certo e o que é errado.
Apenas como lembrete, é bom ressaltar que, a bem da verdade, não existem personagens mitológicos, sejam eles fruto das filosofias ditas pagãs, sejam originados das religiões, quase todos, deuses, monstros ou heróis sempre foram fruto da imaginação de alguém que, dotado de dons como a liderança, a oratória ou o da escrita, conseguiu convencer multidões da "realidade" das suas criações imaginárias. Esse foi, de fato, o primeiro mentiroso!
Muitos dos atuais "afirmacionistas" creem firmemente em fantasias criadas pelos primeiros criadores de fake-news e não se dão conta disso.
Muitos tendem a ser divisionistas, o que é muito paradoxal, já que pregam a união.
Por incrível que pareça, ambos, "negacionistas" e "afirmacionistas", são obstáculos, alguns menores outros maiores, ao avanço do grande acordo.
Na segunda parte deste Pádaqui continuo a discussão sobre nossas convicções.
(*) Créditos: José Sérgio Lenitta
Eu já disse que as pessoas mais perigosas e, normalmente, mais deletérias à sociedade, são as que acreditam que o seu conhecimento é definitivo, que sabem o que é melhor para todos, por esse critério, qualquer deus absoluto é um potencial flagelo absoluto.
Alcides, nosso sócio de tempos atrás,
tinha um medo terrível de água e, obviamente, não sabia nadar.
Certo dia ele aparece todo animado com um anúncio de um curso de natação. O anúncio dizia:
Bombeiro com treinamento em
salvamentos aquáticos ensina natação para pessoas que querem perder o medo da
água!
Isso me chamou muito a atenção, porque o tal bombeiro tinha estabelecido uma fórmula de sucesso certo através do seu anúncio, afinal quem quer perder o medo de algo já está preparado para encarar esse medo e superar as limitações que ele impõe.
Já falamos muito sobre o fato de que nada se ensina, tudo se aprende, ou seja, se formos rigorosos nos conceitos, não há o “ensinar”, apenas podemos auxiliar no aprendizado que, em última análise, só ocorre pela iniciativa e esforço consciente do aprendiz.
Dessa forma é a disposição de aprender ou de perder o medo do desconhecido que permite superar a ignorância.
Sabe aquele amigo ou parente próximo
que vive dando palpites na sua vida?
Não que sejam desprezíveis - os palpites - apenas que continuamos tomando nossas decisões independentemente deles.
Até levamos alguns em consideração, até seguimos alguns deles, mas ignoramos a maioria.
De alguma forma acabamos sendo influenciados por eles, mas não seguimos cegamente sua orientação.
Pois é! O ego, na estrutura de nossa mente, é apenas o palpiteiro.
É isso mesmo, temos a ilusão de que temos plena consciência de quem somos e como decidimos nossas ações, mas só percebemos conscientemente a parte do ego, o palpiteiro.
É bom lembrar que grande parte do que chamamos STRESS vem dessa ilusão, de que eu estou no controle de mim, só que esse eu que se estressa é a parte superficial e ingênua de nossa mente, nós somos muito mais que isso!
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