Afinal, se “não são apenas R$ 0,20”, o que é?11/07/2013
Um aspecto desse fenômeno político atual, representado pelas
várias manifestações populares ocorridas em muitas cidades do Brasil, é seu
sincronismo com outras manifestações pelo mundo afora: Occupy Wall Street, Europa
defeituosa, a onda de
protestos no mundo árabe etc., apesar de certo delay, como
sói acontecer em terras tupiniquins.
Todos, com exceção dos protestos no mundo árabe, são difusos,
sem um inimigo a ser derrotado, nem um ideal a ser conquistado, apenas
alaridos, não sem motivos, é imperativo dizer, mas ainda assim alaridos, sem
objetivo ou estratégia.
Em 1968, eu vivi a mesma sensação de coragem, o mesmo
impulso revolucionário, a mesma energia explosiva, entretanto naquela época, ao
menos para nós brasileiros, existia o inimigo a ser derrotado: a ditadura
militar, e um ideal a ser conquistado: a democratização do regime, que
culminaria com o movimento “Diretas já!”, quinze anos depois.
O sincronismo também ocorreu naquela época, as manifestações
espocaram em várias regiões: nos Estados Unidos contra a guerra do Vietnam, dos
estudantes em Paris pelo socialismo, no leste da Europa por direitos civis etc.
Claro, repito: motivos havia então e motivos há agora, mas
motivos sempre haverá. Por quê exatamente agora? Por quê, no auge da crise do
governo Lula, quando o impeachment
era uma possibilidade real, não saímos às ruas para protestar? Por quê não
houve um movimento para tirar o poderoso Sarney, quando levou a economia ao
fundo do poço e a inflação às alturas? É verdade que houve o movimento dos caras pintadas contra o Collor, mas foi
um movimento orquestrado por lideranças políticas desde o início, tanto que até
a Globo passou a apoiar com cobertura nacional.
Além
disso, alimentamos a hipocrisia legislativa mais imbecil do mundo:“Nada é mais prejudicial, para o prestígio da lei e do Estado, do que promulgar leis sem ter os meios para fazê-la respeitar."Einstein
Acreditamos que tudo se soluciona com novas leis, nos orgulhamos ingenuamente
de termos os códigos mais modernos e avançados do planeta e praquê?, se não
conseguimos fazer cumprir nem as regras de funcionamento dos serviços públicos.
Voltando aos protestos, proponho uma especulação
antropológica:
Será que agimos de acordo com emanações hormonais e psicológicas que, de tempos
em tempos, entram em ressonância na sociedade, induzindo à busca coletiva de
motivos para protestar?
Se assim for, sorte de quem viver um desses momentos ao
mesmo tempo em que existir um objetivo real, claro e vencível, porque aos
demais, prevalecendo a hipótese antropológica ou não, restará a frustração de
ver “lideranças” oportunistas se apropriarem de sua energia e a canalizarem
para objetivos nem sempre coerentes com os seus anseios.
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