Segue o sexto










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A transcrição completa está na sequência.

Ideologias: Necessidades x Capacidades

07/07/2022

Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar

 

Pois é, eu quero falar de uma coisa que sempre me incomodou, essa tal de ideologia.

Tem momentos que eu me considero de direita (na verdade, a maior parte do tempo), em outros me acho simpatizando com alguns setores da esquerda, mas o fato é que sempre eu sinto uma insatisfação com as ideologias de um e outro lado, isso sem falar nos personagens que dizem encarná-las.

Eu vou tentar organizar as minhas conclusões até agora. Minha pretensão é tratar do assunto da forma mais geral possível, mas vai ser muito difícil evitar alguma contaminação com a situação brasileira, não só de hoje, mas de hoje e de sempre, né?

Vamos lá, algumas definições:

Problemas básicos da civilização:

"Atender às necessidades básicas de cada um!"

"Garantir a sobrevivência da espécie!"

Problemas essenciais da civilização:

"Definir quais são as necessidades essenciais de cada um!"

"Definir o que é essencial para a sobrevivência da espécie!"

Quando se fala em atender às necessidades básicas pressupõe-se que essas necessidades básicas sejam conhecidas, bom, o que eu quero debater é exatamente isso, ou seja, não há consenso sobre o que sejam as necessidades básicas do ser humano e as 'ideologias" são exatamente o conjunto de ideias que tentam definir esses conceitos.

A primeira confusão que normalmente se faz quando se discute essas questões é substituir a conjunção coordenativa aditiva "e" pela conjunção coordenativa alternativa "ou"! É comum se defender a atenção ao indivíduo "ou" à coletividade, como se uma fosse antagônica à outra, ainda que, no discurso não admitam isso. Mais à frente imagino que isso fique mais claro.

A ideologia depende da cosmovisão de cada um, sendo que as duas correntes ideológicas majoritárias basicamente partem do enfoque nas necessidades ou do enfoque nas capacidades.

As ideologias de esquerda se concentram nas necessidades, ou seja, defendem que a sociedade cuide de seus indivíduos garantindo a eles moradia, alimentação, saúde, educação, transporte, lazer e essa lista tende a aumentar conforme os limites dos desejos humanos.

As de direita focam principalmente nas capacidades, pregando o estado mínimo e a competição livre entre os indivíduos, promovendo assim o aumento das competências de cada um, sendo o acesso às necessidades responsabilidade individual, conforme suas capacidades. Claro que isso relega uma parte importante da população a uma situação de precariedade.

Vou colocar algumas situações de referência para exemplificar essa dicotomia:

A higiene é a principal responsável pelo aumento da saúde e longevidade do ser humano.

Entretanto, higiene em excesso pode induzir a baixa imunidade, a doenças autoimunes e outras, prejudicando a saúde global da população.

A sociedade de consumo é a responsável pela disponibilização de bens resultantes do desenvolvimento tecnológico e científico, desde alimentos de alta qualidade, até dispositivos eletrônicos sofisticados facilitando enormemente nossas vidas.

Entretanto, os hábitos de consumo, super estimulados pelas corporações que se alimentam do crescimento constante desse consumo, induz a obesidade, o sedentarismo, o endividamento, a indolência etc.

Facilidades aumentam o bem-estar, mas, em excesso, induzem a redução das capacidades.

Dificuldades provocam desconforto, mas acabam induzindo o aumento das capacidades.

Coragem gera coragem, mas irrefletida pode levar à morte!

Medo é fundamental para alertar dos riscos, mas se dominante paralisa!

Em uma equipe, seja em uma empresa, seja em esporte coletivo, cuidar do bem estar dos seus membros é fundamental para a harmonia interna, mas a competitividade exige esforço além do conforto, portanto, para a liderança, nunca será suficiente focar em um desses aspectos, será preciso equilibrar bem estar e exigência todo o tempo. Por isso líderes de sucesso são raros!

Essa dicotomia não se esgota nas discussões políticas, por isso, pelo menos no horizonte sociológico previsível, não se vislumbra o fim das ideologias.

É a mesma tendência de se tentar resolver problemas pelo caminho mais fácil e não fazendo aquilo que é necessário.

Exemplos:

Se há muitos acidentes com álcool, proíbe-se a venda de álcool.

Se estão roubando ou depredando bicicletas de aluguel, introduzem controles excessivos a todos os usuários.

Se há uma epidemia de consumo de drogas proíbe-se a venda dessas substâncias.

Parece lógico, mas temos que reconhecer que não são as soluções adequadas. Na maioria dos casos, não só não se consegue resolver o problema, como criam-se novos.

Em todos os casos apontados a única solução real seria adotar um modo de vida mais adequado e educar a população para que se evitassem os problemas, reduzindo a incidência desses problemas a níveis aceitáveis.

Claro que nas atuais circunstâncias de desorientação da sociedade - afinal são séculos de vigência da "lei do menor esforço" - seria quase impossível adotar essa solução, mas temos que reconhecer que é "a" solução!

Quando os meninos eram pequenos, várias pessoas, inclusive nossos pais, diziam que deveríamos retirar tudo que pudesse quebrar do alcance das crianças.

Ao contrário, mantivemos tudo como estava e, gradualmente, fomos ensinando os pequenos a mexer nas coisas com cuidado. Claro que houve acidentes, perdemos algumas cápsulas captadoras de toca disco, alguns botões de aparelhos de som, mas nós considerávamos que esse era o custo da educação, e eles aprenderam a lidar com isso sem maiores crises. Eles mesmos tocavam seus disquinhos, em toca discos de agulha. Evidentemente o que representava perigo nós retiramos, mas apenas o que apresentava risco de ferimentos.

O que eu quero dizer é que adotar uma ideologia e defendê-la é perfeitamente aceitável, mas acreditar que ela é a definitiva é, no mínimo, visão estreita!

Esse é o motivo pelo qual acredito que professores, assim como clérigos, devem cuidar para que seu discurso perante seus alunos ou fiéis, seja o mais isento possível de contaminação ideológica (de política nem se fala), sob pena de incutir uma confusão entre o que é ideologia e o que é formação intelectual ou espiritual.

Como não há forma de determinar qual ideologia seria a definitiva - na hipótese de que poderia haver essa ideologia - a melhor opção é deixarmos essa questão aberta para discussão.

Claro que isso é assunto para pessoas civilizadas, não para radicais sectários e ignorantes, muito menos para gangsteres travestidos de políticos cujo único objetivo é defender interesses próprios, os também chamados "populistas".

A pandemia realmente trágica que estamos vivendo não é virótica, mas do obscurantismo, ambiente propício para a proliferação de todo tipo de seres abjetos que, aproveitando-se da ignorância generalizada, dominam a cena política. Na minha opinião é a maior crise civilizatória já vivida pela humanidade e, como no caso da pandemia do Coronavírus, a cada dia está se manifestando mais próxima de nós.

Em política, as realizações de longo prazo sempre serão uma consequência das condicionantes de curto prazo, em outras palavras, o futuro a deus e só a deus pertence!

Objetivos de longo prazo não passam de ideais, a exposição desses objetivos serve para estimular as ações, pró e contra eles, que estabelecerão as condicionantes que vão determinar o futuro.

Um governante recém eleito tem objetivos de longo prazo, lícitos ou não. Quando propõe as novas orientações para seu governo, começa a se chocar com interesses de grupos de poder, da mesma forma, legítimos ou não, que impõem limites à atuação desse governante. O resultado dificilmente será sequer parecido com as propostas de campanha.

Retórica e convicções

Sofisma - argumentação que aparenta verossimilhança ou veridicidade, mas que comete, involuntariamente ou não, incorreções ou insuficiências lógicas.

O sofisma, quando involuntário, faz parte de um discurso induzido pelas convicções do sujeito, ou seja, mesmo quando formulamos nosso discurso com um esforço autêntico para respeitar a correção lógica, sempre partimos de nossas convicções ou crenças.

Por isso qualquer argumentação não basta ser lógica para nos convencer, precisa estar de acordo com nossas convicções e crenças.

Para alterar convicções e crenças é necessário atuar nos sentimentos da audiência, por isso a retórica precisa apelar para o sentimentalismo, daí as técnicas usadas pelos populistas.

Exemplos de sofismas muito eficazes: Alexis Carrel em seu livro "O homem esse desconhecido", onde defende, com vasta argumentação pretensamente científica, a eugenia, e Alan Kardec em toda sua obra pseudo científica sobre o espiritismo.

 



O homem é o “lobo” do homem, mas é também e ao mesmo tempo seu “pastor”!

O “lobo preda” e o “pastor prega”, quem vai vencer?



É fato que a esquerda conseguiu "fazer a cabeça", senão de todos, pelo menos das lideranças intelectuais mais influentes do mundo, usando uma postura mais "liberal". Essa prevalência do discurso de esquerda foi tão profunda que hoje muitos, inclusive a maior parte da mídia, dos intelectuais, acadêmicos e outros formadores de opinião, falam de globalização, direitos humanos, liberação do aborto, liberdade sexual, erradicação da pobreza, responsabilidade social, desarmamento, como temas pacificados, absolutos, indiscutíveis, quando parte da sociedade, conforme tudo que comentei antes, discorda veementemente de muitas dessas ideias.

Para mim é claro que ideologias de esquerda ou de direita são enviesadas, distorções da compreensão da complexidade da sociedade humana, mas também é verdade que os porta-vozes mais influentes da "direita" são sectários, ignorantes, violentos e egocêntricos. Parece que Gramsci estava vencendo, pelo menos na disputa da opinião pública, até o advento das mídias sociais, disseminadoras de falsas promessas de uma vida sem limitações, sem regras.

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