Segue o sétimo



Versão DemimPro6 de Podcast


A transcrição completa está na sequência.

UPG - TUCONTIGO
Entrevista

27/07/2022

Estamos aqui na UNIVERSAGACIDADE PÉ DE GATO, para mais uma entrevista TUCONTIGO.

Hoje nosso convidado é o Prof. Dr. Silpaci Pertran, nascido na Quimeróvia, e que é hoje titular da cadeira de Outroladodenossamentequecomandatudologia.

- Boa tarde professor!

- Boa tarde, estou muito feliz de estar aqui para falarmos um pouco dessa ciência tão importante e, lamentavelmente, pouco estudada, que é a Outroladodenossamentequecomandatudologia ou o estudo do ato de sonhar. Estou à disposição de vocês!

- Nós é que estamos muito honrados com a sua presença! Vou iniciar perguntando o que é a Outroladodenossamentequecomandatudologia e qual a sua importância?

- De fato a importância da Outroladodenossamentequecomandatudologia (e não confundir com a Onirologia, ramo da psiquiatria que estuda os sonhos) está sendo recuperada nas últimas décadas, porque ela sempre foi muito importante para os povos primitivos, sendo considerada inclusive a parte mais importante do que se considerava sabedoria, que, nas sociedades mais harmoniosas, era o principal pré-requisito para a liderança.

Trata-se de despertar em cada um de nós, pessoas modernas, as velhas técnicas de nos conectar com um lado de nossa mente que, por natureza, é inacessível pela consciência, ou seja, pelo nosso "eu".

- Muito interessante! O senhor quer dizer, então, que a sociedade moderna foi perdendo essa capacidade de conexão com o subconsciente?

- Sem dúvida, mas não gosto do termo subconsciente, dá uma ideia de que esse nível está abaixo ou subordinado ao consciente, o que é uma expressão de nossa visão comum da estrutura da mente. Na verdade o lado não consciente de nossa mente é o verdadeiro guia que nos conduz através das decisões que tomamos.

Aceitamos que mesmo os animais geneticamente mais próximos de nós, como os chimpanzés, tomam suas decisões principalmente por instinto e esquecemos que nossa constituição é muito similar à deles e que o instinto ainda é o principal fator na tomada de decisões, mais tarde podemos falar mais sobre nossas similaridades e diferenças em relação aos chimpanzés.

Mas, sim, a sociedade moderna foi deixando o consciente dominar a tal ponto que perdeu o contato com essa parte "oculta" de nossas mentes.

Joseph Campbell, mitologista e professor universitário norte-americano, famoso por seus estudos de mitologia e religião comparada e autor de obras como O Herói de Mil FacesO Poder do Mito, usou a metáfora "povos brancos e povos vermelhos" para identificar essas duas formas de pensar mais do que antagônicas, incomunicáveis entre si.

Os "povos brancos" seríamos nós, filhos de uma cultura tecnocientífica, racionalista e objetiva, também muito associada à simbologia masculina, enquanto os "vermelhos" seriam sociedades de cultura mais espiritualista, emocional e subjetiva, mais associadas à simbologia feminina.

Na sócio-antropologia há uma corrente de pensamento que, ainda que contestada por alguns, propõe ser essa diferença de visão de mundo, resultado de uma predisposição a usar mais um dos hemisférios do cérebro do que o outro. As culturas mais objetivas seriam fruto do predomínio do hemisfério esquerdo, “lógico”, “analítico”, e “intelectual”, enquanto as subjetivas usariam mais o hemisfério direito, "intuitivo", "emocional" e "criativo".

Nossa ciência não tem o objetivo de explicar os "porquês" das coisas serem como são, só sabemos que é assim! Ah, ah, ah!

Seja qual for a explicação desse fenômeno, o que percebemos é que o excessivo racionalismo - não que a racionalidade seja negativa - mas o excesso de racionalismo nos levou a um estado permanente de esquizofrenia, ao mesmo tempo que nos tornou paranoicos.

Costumo chamar nossa era de "Paranoicoceno", a era da paranoia.

- Isso é assustador! A que o senhor atribui essa desorientação em que nos metemos?

- Viramos do avesso!

- Como assim, viramos do avesso?

- É isso mesmo! A torrente de informação e a velocidade de tomada de decisão a que nos submetemos nos fez abandonar nossa essência e nos voltarmos totalmente para o exterior. É preciso retomar nossa visão interior.

Além disso, a evolução tecnológica provocada por essa forma de pensar, alterou tão profunda e rapidamente nosso modo de vida, inclusive o meio em que vivemos, que nossa genética, preparada para mudanças muito mais lentas, não teve tempo para se adaptar e nosso gene foi atropelado pelas mudanças.

Eu gostaria de fazer um pequeno preâmbulo para melhor contextualizar esse momento de nossa evolução, afinal nós também somos resultado da história, da cultura e do conhecimento que adquirimos.

Meu ilustre colega Yuval Noah Harari, em seu livro Sapiens, afirma que conceitos como "igualdade", "liberdade", "democracia", "direitos humanos" etc. não passam de ficções que aceitamos como parte de um grande acordo de cooperação que nos permitiu avançar enormemente na colaboração entre indivíduos propiciando que milhares e até milhões de pessoas, em diferentes localidades, pudessem trabalhar em conjunto com um mesmo objetivo. Isso nos permitiu um progresso científico e tecnológico único entre as espécies do planeta.



Ocorre que o ceticismo está cada vez mais dominante, seja por efeito do pensamento científico que é obrigado a ser cético, seja pelo desalento em relação aos resultados da civilização!

Isso aumenta muito a dificuldade de reunir o povo em torno de uma ficção, seja religiosa, seja política.

Atualmente só a população mais ignorante está disponível, daí o sucesso de pastores e populistas que não estão nem aí para os céticos. Isso produz ficções cada vez mais idiotizantes!

- Parece definitivo, mas como nos livrar dessa armadilha em que nós mesmos nos colocamos?

O fato é que não se pode recuperar a ignorância perdida, mas podemos, através de práticas adequadas, viver as mesmas experiências que os mais fervorosos crentes vivem e, através dessa jornada interior nos conectarmos mais ainda com as pessoas que nos cercam.

Sobre isso há um conto "A porta", na página 36 do primeiro volume do DeMimPro6 (neste link: DeMimPro6 - Vol. I), que dá uma ideia do que eu quero dizer.

As ficções se tornam efetivas exatamente na parte oculta de nossa mente, embora tenha uma origem consciente, ou seja, a partir de alguma experiência consciente, seja individual ou coletiva, seja acidental ou induzida por alguém, estabelece-se uma conexão com nossa mente profunda e, aquilo que para outra pessoa pode parecer uma fantasia, para nós vai se tornar uma verdade sagrada.

É exatamente pela falta de conexão com nosso ser interior que estamos vivendo tanta confusão, com legiões de desorientados, buscando alguma forma de fuga, seja com a ajuda de alucinógenos, seja tentando preencher esse vácuo de sentido com todo tipo de loucura, inclusive o consumismo.

- Faz sentido! E como podemos iniciar esse processo de retorno?

- Nossos estudos levaram a três chaves para abrir essa conexão interior: o Silêncio, a Paciência, a Perseverança e a Tranquilidade!

- Desculpe, mas são três ou quatro?

- Aaahh! Claro, sempre me perguntam isso! Costumo responder que, se Alexandre Dumas criou Os Três Mosqueteiros e eles eram quatro, porque não posso ter três chaves que são quatro! Ah, ah!

Na verdade, o quarto item, ainda que também seja uma chave, é resultante dos outros três, por isso prefiro dizer que as chaves disponíveis são três e, uma vez bem empregadas, levarão à quarta, a tranquilidade.

- Ok! O senhor poderia falar um pouco mais dessas chaves?

- Claro! Começando pela primeira que é o Silêncio. A prática do silêncio, muito importante para ajudar a chegada do sono, tem outra função tão importante quanto, que é a de fazer uma certa higiene nos pensamentos. O hábito de exercitar o silêncio da mente vai melhorando nossa autocrítica, sem que percebamos. Ao silenciar a mente, nossas idiossincrasias se tornam mais nítidas quando voltamos à consciência plena, é como se nos observássemos pelo buraco da fechadura e pudéssemos avaliar mais friamente nossas opiniões.

No que diz respeito à qualidade do sono é indiscutível o benefício dessa prática, mas ela exige paciência, a segunda chave. É preciso entender que qualquer intenção tem que ultrapassar o limiar da consciência, lembrando que somos guiados por algo que está além da consciência - e aqui é bom notar que isso nada tem de incoerente com o livre arbítrio, que continua válido, a questão é como ele se manifesta.

Quando temos a intenção, primeiro consciente, de algo, precisamos nos convencer - convencer nosso guia interior - da honestidade dessa intenção, aqui a paciência tem que nos ajudar a perseverar nessa intenção, daí a terceira chave, a perseverança.

Finalmente, a tranquilidade é fundamental para que a transição e a conexão com nossa mente profunda ocorra, ela se manifesta como o resultado de todo o processo.

Eu poderia dizer que ela seria o sinal de que o processo de completou, mas ocorre tão no limiar entre a consciência e o sono que praticamente não é percebida.

- Nesse caso como saber se atingimos a conexão ou não?

- Na verdade não sabemos, a única coisa que podemos avaliar no dia seguinte é a qualidade do sono que tivemos, eventuais lembranças de sonhos e como nos sentimos, se estamos mais tranquilos ou mais ansiosos.

Essa é a avaliação que podemos fazer, quanto mais ansiosos estivermos menos efetiva está sendo essa conexão, por outro lado quando percebemos que, a despeito das circunstâncias, estamos experimentando paz interior, tranquilidade para avaliar as situações e tomar as decisões necessárias para tocar nossa vida em frente, é sinal de que estamos em comunhão com nosso guia.

- E se, mesmo seguindo todos esses passos: o silêncio, a paciência, a perseverança e a tranquilidade, essa prática não estiver resultando na paz interior almejada?

- O senhor mesmo embutiu a resposta na sua pergunta: perseverar, com paciência até atingir a tranquilidade! O que podemos afirmar, com base em nossas pesquisas na UPG, é que a prática habitual desses passos vai melhorar a conexão entre consciência e mente profunda e isso vai propiciar mais paz interior!

- Muito bem, infelizmente o nosso tempo se esgotou e agradecemos muito a presença do Prof. Dr. Silpaci Pertran, ilustre catedrático da cadeira de Outroladodenossamentequecomandatudologia, da UPG - UNIVERSAGACIDADE PÉ DE GATO, para mais esta entrevista TUCONTIGO. Muito obrigado Dr. Silpaci Pertran.

- Eu é que agradeço! Com muita honra tive o prazer de participar desta entrevista, ficamos disponíveis para quando precisarem.

- Ok, muito obrigado! Desejamos que tenham gostado de nosso programa e até uma próxima oportunidade.



TUCONTIGO apresenta
CAÇADOR DE MIM

Os momentos de imersão, seja dormindo ou apenas em silêncio, são a base de tudo, a estrutura sobre a qual vamos funcionar, e a conexão está sempre disponível, basta acioná-la, para isso é bom lembrar: METÁFORA PERIPATÉTICA

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