Liberdade é pouco
22/09/2025
Muito tenho dito sobre a eterna disputa entre "brancos" e "vermelhos". Podemos imaginar essa divisão, que tem na sua origem a dicotomia entre os "civilizados" do velho mundo e os "selvagens" do novo mundo, com os primeiros representando os nacionalistas, desenvolvimentistas, algo como a "direita", e os outros como os globalistas, ambientalistas, o que eu chamaria de "esquerda"!
Claro que essas classificações, aliás como toda classificação, podem ter infinitas outras definições, consoante o tema: economia, poder etc.
Quero me ater a essa divisão entre desenvolvimentistas e ambientalistas - já ouço os atentos "correcionistas" de plantão berrando: os ambientalistas também são desenvolvimentistas e vice-versa, claro cada um defendendo o seu lado!
Quando proponho essa separação quero identificar os grupos pela sua prioridade, ninguém imaginaria que alguém se colocasse contra o desenvolvimento, o que aliás é um seríssimo problema, porque é aí que está o nó górdio da nossa evolução, afinal temos inúmeras evidências de civilizações extintas aparentemente mais harmoniosas e equilibradas do que a nossa.
Talvez devêssemos reavaliar o que entendemos por desenvolvimento.
Muito bem! Polêmicas a parte, vamos ao assunto.
Parece muito claro pra mim que os "desenvolvimentistas" vem ganhando essa disputa século após século, a ponto de os "ambientalistas" serem obrigados a admitir que o desenvolvimento, conforme entendemos majoritariamente hoje, é necessário.
Ocorre que é exatamente essa palavra que nos diferencia das outras espécies, o desenvolvimento para nós significa alterar (espera-se que para melhor) as condições de vida dos seres humanos independentemente de sua evolução natural ou mesmo de suas capacidades individuais.
Mais do que isso, significa também expandir continuamente nossa presença no planeta!
Quanto a essa questão, já houve discussões e mesmo ações contra a expansão populacional, como no caso da China que, no final dos 70, implantou a Política do Filho Único, abrandando depois para 2 e agora 3, outras nações fizeram esterilização em massa, até no Brasil, com o argumento de diminuir a pobreza.
Todas essas iniciativas foram, e são até hoje, consideradas desumanas, muitas delas, como aqui, totalmente ilegais e com resultados negativos.
Quando se fala em preservação do meio-ambiente é comum defender-se o consumo consciente, mas raramente, ou nunca, se associa os problemas de conservação à superpopulação.
Temos que acrescentar que a superpopulação é resultado, principalmente, de decisões individuais, sejam planejadas ou não, e que a ideia de impor, como na China, limitações a isso sempre será considerado negativo.
Nesse aspecto há, na minha opinião, uma inconsistência no discurso de ambos os lados, como um receio de explicitar o verdadeiro problema do Homo Sapiens, que é a presunção, consciente ou não, de estar hierarquicamente acima de tudo.
Esse é o real motivo dessa supremacia histórica dos desenvolvimentistas.
Um resultado disso é que atingimos um nível de conforto e poder que os que tem, não abrem mão, seja qual for seu matiz ideológico, e os que não tem, lutam para ter ou ao menos reivindicam seu usufruto.
Aqui enfrentamos outra incoerência. A vida é e sempre foi uma luta, consciente ou não, contra a entropia, ou seja, uma contínua e dura luta de reconstrução para sustentar o que a entropia consome.
Um dos aspectos mais deletérios para nossa capacidade de sobrevivência como espécie é a intenção indisfarçada de driblar essa realidade, criando sistemas, via instrumentos sociais ou tecnológicos, que propiciem cada vez mais conforto e segurança aos indivíduos, o que, como logicamente insustentável, só ocorre para poucos e às custas do sacrifício da maioria.
Como resultado, entre outros, temos a devastação da natureza a ponto de impactar o funcionamento da biosfera, provocando, por exemplo, as chamadas "mudanças climáticas".
Por outro lado, é notória nossa capacidade, como espécie, de adaptabilidade a condições extremas.
Ao observarmos uma estação de pesquisa no Ártico ou na Antártica, só pra tomar exemplos fáceis de imaginar, vemos como a capacidade e a resiliência do ser humano consegue se estabelecer em ambientes desafiadores. Grupos de abnegados, estabelecendo um nível razoável de colaboração dentro do seu grupo, se voluntariam a esforços quase sobre-humanos.
Competições como as Olímpiadas revelam os níveis de aptidão que alguns conseguem atingir quando devidamente estimulados.
Será que as mudanças climáticas vão acelerar o processo de seleção natural, promovendo uma espécie cada vez mais capaz, resiliente e competitiva, o que significará, provavelmente, uma redução da população com aumento das desigualdades e avanço exponencial da ciência e da tecnologia?
Não tenho posição nessa contenda, nem sei se uma alternância de poder entre os dois lados seria benéfica pra alguma coisa, apenas constato que as evidências não indicam um futuro muito diferente, talvez até acentue essa tendência.
O sonho acabou!
Essa desilusão que define o início do terceiro milênio da era cristã, tem muito a ver com as origens do "sonho de paz e amor" que dominou - e ainda domina - corações e mentes!
Paradoxalmente foi a partir de um bando de jovens criados na fartura e na exuberância do welfare state implementado no pós-guerra, momento de muito otimismo, cuja visão de vida era simplesmente arrumar um emprego de meio período em uma lanchonete e curtir seu salário o resto do tempo com prazer e mais prazer, como se não houvesse amanhã!
Daí surgiu toda a filosofia do pacifismo, mundo sem fronteiras, fim das religiões e das burocracias etc., paradoxalmente por mentes que nunca sofreram as agruras da construção do sistema que os sustentava.
Ressalvado o fato de que outrora o movimento era no sentido oposto do que vivemos ao fim do primeiro quarto do século XXI, a mesma irresponsabilidade que caracterizava aquele está presente agora.
Senão vejamos, hoje os novos empreendedores administram suas empresas como se pertencessem a um mundo fechado, em que a pobreza gerada por seus negócios, o desequilíbrio econômico ou a devastação do meio-ambiente não fossem sua responsabilidade, da mesma forma que, em 1950, jovens achavam que sua atitude displicente não provocaria o colapso da economia e o fechamento das lanchonetes que sustentavam seus "sonhos". A diferença é que os últimos amadureceram, já os primeiros...
são exatamente esses que amadureceram!
Sou do tempo em que "distopia" era uma ferramenta usada pela arte para alertar-nos sobre uma ameaça, resultando na frustração dessa ameaça com medidas preventivas. Hoje é o mesmo que "previsão"!
A humanidade não vive muitas décadas sem guerras globais, não essas que afetam regiões proporcionalmente pequenas, mas as que sacrificam ricos e pobres indiscriminadamente em quase todas as nações do mundo. Ou estamos às vésperas de uma, ou estamos falidos como espécie e o motivo é simples, é o mesmo do movimento anti-vacina: sem ver (lembrar) o mal, desprezamos a prevenção! Sem enfrentar a perda que leva à impotência e, portanto, à dependência da solidariedade alheia, promove-se a destruição de tudo que representou a união da sociedade em torno de valores solidários em nome de uma liberdade utópica!
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