Pra Unir... Vale... Vale Tudo! Só não vale inventar fantasias, nem... mentir pra si mesmo! O resto vale!
Eu vi as gerações inventando novas tecnologias só pra cometer os mesmos erros das gerações passadas!
11/08/2025
Circunstâncias II
Em Circunstâncias mencionei essa revolta crescente contra toda a ordem política global construída
desde a II Guerra Mundial, e que isso parece ser um movimento sem volta.
Mencionei
ainda que a cada dia vemos mais e mais pessoas, algumas bem próximas, apoiando
o que para muitos de nós é uma verdadeira insanidade.
À medida que aumenta
a tensão entre o presidente Trump e o governo brasileiro[i],
percebo que o medo vem dominando cada vez mais corações e mentes e, mais do que
isso, vamos perdendo nossas referências, construídas em décadas de formação.
O atual
momento, ainda no início do segundo mandato do presidente Trump, se mostra como
o auge dessa desconstrução, quando as entidades de representação internacional
e as instituições em geral perderam sua característica de zona de segurança, de
uma força acima das pessoas, capaz de aplacar os ânimos de quem descumprisse
suas determinações.
Ora, o que
nos faz agir como uma sociedade coesa é a confiança que, nas sociedades atuais,
gigantescas e complexas, se concentra exatamente nessas instituições.
A democracia,
ainda que apenas uma ideia, já que os regimes existentes têm muitas
imperfeições, nos tem dado pelo menos a sensação de segurança, a tranquilidade
de que teremos sempre algum foro em que poderemos confiar para dirimir
quaisquer contendas.
À medida que
as ações das maiores lideranças do mundo desafiam todos os conceitos que vinham
sendo consolidados desde 1945, essa segurança/confiança desmorona.
Eu sempre
disse que a única cola que une uma sociedade é a confiança, quando ela
está abalada os indivíduos começam a agir movidos pelo sentimento de
autopreservação, além de ficarem cada vez mais sujeitos ao efeito de manada.
A sensação de
que, de repente, não teremos a quem recorrer, que estamos sendo jogados sós em
uma selva para a qual nunca fomos preparados, vai nos tornando presas fáceis
para falsos líderes, políticos ou religiosos, podendo ser tanto visionários
inconsequentes, como, mais provável, oportunistas buscando vantagens para si e
para seus grupos de interesse.
É o momento
em que safardanas se tornam crentes e alienados se tornam virulentos defensores
de ideologias que nem sequer entendem.
Toda
sociedade tem sua parcela de marginalidade, que não é nada mais do que a parte
da população que, por algum motivo, não se considera representada pelas
instituições oficiais, preferindo correr os riscos da ilegalidade a se submeter
à ordem instituída.
As atuais
circunstâncias estão tornando cada vez mais pessoas revoltadas com o status quo
e, nesse sentido, sentindo-se marginalizadas e dispostas a tudo para retomar o que
acham que será o controle e a ordem.
Essa é a
receita para o caos, resultando em eventos como o 06/01/2021[ii],
o 08/01/2023[iii], as 30
horas entre 05 e 06/08/2025[iv],
todos resultados de uma fermentação gradual da percepção de que as instituições
estariam falidas e não teriam mais o poder de coibir esses movimentos.
Como isso vai evoluir é impossível prever, uma vez que o comportamento das massas afetado por esse aumento contínuo da quantidade de pessoas desalentadas e de lideranças erráticas e desprovidas de bases conceituais sólidas, ambos são imprevisíveis, entretanto, é de se esperar que essa turbulência não perdure por muito tempo, exatamente por sua carência de lógica, embora possa causar considerável destruição durante o período de transição.
Todo problema ruma para uma solução, com ou sem a nossa ajuda, a questão é que nem sempre essa solução nos agrada.
Você está satisfeito com as soluções que seus problemas têm
encontrado?
[i] Vale um
comentário sobre a atuação do Lula nesse processo. Considerando que do outro
lado temos uma pessoa inconsequente com o maior arsenal do planeta e, pelo
menos aparentemente, sem freios internos para regular suas decisões, me parece
que o Lula, ainda que a defesa da soberania nacional seja inegociável, está
inflamando o discurso além do razoável, mais para auto promoção do que no rumo
de alguma solução.
[ii] O
ataque ao Capitólio dos Estados Unidos ocorreu em 6 de janeiro de 2021, pelos
partidários do então presidente Donald Trump por ele convocados a se reunirem
em Washington, D.C. para protestar contra o resultado da eleição presidencial
de 2020.
[iii] O dia
8 de janeiro de 2023 foi marcado por ataques às sedes dos Três Poderes em
Brasília. Manifestantes invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o
Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
[iv] Parlamentares
do PL e de outros partidos de oposição ocuparam a Mesa do Plenário Ulysses
Guimarães, exigindo atendimento a suas pautas, principalmente em defesa do
ex-presidente Bolsonaro e seus apoiadores.
Circunstâncias
Ao tomar
conhecimento de alguma atitude ou comportamento reprovável, ou que julgamos
reprovável, é normal adotarmos uma postura crítica, quando chegamos a julgar o
autor da tal atitude ou comportamento.
Nessas
ocasiões é importante exercitar nossa autocrítica, tentando nos colocar na
situação apresentada e tentar analisar como reagiríamos em condições
semelhantes.
Essa postura,
se praticada com honestidade, poderia evitar muitos dos conflitos que
percebemos nos últimos tempos, principalmente quando o tema é política.
É claro que
as circunstâncias influenciam e podem até determinar o comportamento.
Cada um de
nós tem um limite para começar a relevar princípios e códigos morais. Basta
imaginar como nos comportaríamos em situações extremas, como as de guerras,
extrema pobreza, doenças extremamente debilitantes etc.
É claro que,
ao fazer isso sempre tenderemos a acreditar que manteríamos nossa fidelidade em
qualquer circunstância, mas o fato é que só poderíamos ter certeza disso se
experimentássemos a situação proposta. A capacidade de aceitar essa dúvida é
que vai determinar qual será a nossa capacidade de tolerância em relação ao
outro.
A discussão
mais reverberante dos últimos dias é a relativa às sanções do ditador americano[ii]
- duas palavras que a gente nunca imaginou juntas - aplicou ao nosso país,
causando justificada indignação a todos nós.
Além disso,
vemos uma parcela da população, muitos próximos a nós, apoiando toda essa
insanidade, inclusive participando de manifestações públicas. Isso faz pensar!
Nessa
tentativa de buscar as razões por trás de toda essa loucura, logo de cara
percebi que não são razões, mas emoções.
Muito já
discutimos sobre essa revolta crescente contra toda a ordem política mundial
construída desde a II Guerra Mundial, isso parece ser um movimento sem volta,
ou seja vamos até algum fundo de poço, para só então começarmos uma
reconstrução, espero que não só com paus e pedras.
Isto posto,
quero fazer um comentário sobre as atitudes do nosso governo e do Xandão, como
eles gostam de chamar.
Era claro que
os Estados Unidos, vendo seu declínio avançar inexoravelmente, aliás iniciado
na década de 80 do século passado, quando houve a invasão comercial dos
automóveis japoneses no mercado norte-americano, não iriam assistir impassíveis
a sua queda. Isso associado à revolta latente na população mundial, não apenas
nas terras do tio Sam, resultou no fenômeno Trump, que como está claro é
absolutamente inconsequente, agindo por puro impulso.
Vamos lembrar
que esse Titã econômico também é a maior potência tecnológica e militar, além
de ter um perfil altamente bélico e dominador - não nos esqueçamos de 64, mesmo
sob o governo do democrata Lyndon Johnson.
Ora, todos os
fatos que elenquei acima eram de conhecimento público, fazendo parte não só de
discussões de alto nível, tendo resultado em alguns prêmios Nobel - alguns dos
livros que li recentemente são desses premiados - como até de animados debates
de botequim.
Ainda assim,
aceitamos entrar em um bloco cujo propósito básico é se contrapor aos Estados
Unidos, propondo inclusive a criação de uma moeda para fazer frente ao dólar,
além disso manifestamos apoio à Venezuela e ao Irã.
Por outro
lado o STF anulou todas as ações da Lavajato, condenando inclusive o Juiz
Sérgio Moro, visto mundialmente como o paladino da justiça, que havia colocado
um ex-presidente na cadeia.
Como ato
final, libertou e reabilitou o Lula.
Quanto ao
Xandão, este avançou com a Constituição debaixo do braço usando todo o rigor da
lei contra os insurgentes golpistas, incluindo nosso filhote de Trump, o
Bolsonaro.
Lembram-se
que falei que não são as razões, mas as emoções que comandam as sociedades,
pois é, a partir dessa constatação fui resgatar memórias do passado, tempos de
Ulysses - não o da Odisséia de Homero, mas o da Constituição de 88 - quando era
do senso comum que certas coisas não se aplicam a políticos, mormente quando
têm apoio popular.
Na época achava esses políticos um bando de picaretas, falsos e enganadores, agora fico pensando, será que eram sábios?
[i]
[ii] "O homem do castelo alto" e "O conto da Aia" alertaram para esse fenômeno