Circunstâncias
Ao tomar
conhecimento de alguma atitude ou comportamento reprovável, ou que julgamos
reprovável, é normal adotarmos uma postura crítica, quando chegamos a julgar o
autor da tal atitude ou comportamento.
Nessas
ocasiões é importante exercitar nossa autocrítica, tentando nos colocar na
situação apresentada e tentar analisar como reagiríamos em condições
semelhantes.
Essa postura,
se praticada com honestidade, poderia evitar muitos dos conflitos que
percebemos nos últimos tempos, principalmente quando o tema é política.
É claro que
as circunstâncias influenciam e podem até determinar o comportamento.
Cada um de
nós tem um limite para começar a relevar princípios e códigos morais. Basta
imaginar como nos comportaríamos em situações extremas, como as de guerras,
extrema pobreza, doenças extremamente debilitantes etc.
É claro que,
ao fazer isso sempre tenderemos a acreditar que manteríamos nossa fidelidade em
qualquer circunstância, mas o fato é que só poderíamos ter certeza disso se
experimentássemos a situação proposta. A capacidade de aceitar essa dúvida é
que vai determinar qual será a nossa capacidade de tolerância em relação ao
outro.
A discussão
mais reverberante dos últimos dias é a relativa às sanções do ditador americano[ii]
- duas palavras que a gente nunca imaginou juntas - aplicou ao nosso país,
causando justificada indignação a todos nós.
Além disso,
vemos uma parcela da população, muitos próximos a nós, apoiando toda essa
insanidade, inclusive participando de manifestações públicas. Isso faz pensar!
Nessa
tentativa de buscar as razões por trás de toda essa loucura, logo de cara
percebi que não são razões, mas emoções.
Muito já
discutimos sobre essa revolta crescente contra toda a ordem política mundial
construída desde a II Guerra Mundial, isso parece ser um movimento sem volta,
ou seja vamos até algum fundo de poço, para só então começarmos uma
reconstrução, espero que não só com paus e pedras.
Isto posto,
quero fazer um comentário sobre as atitudes do nosso governo e do Xandão, como
eles gostam de chamar.
Era claro que
os Estados Unidos, vendo seu declínio avançar inexoravelmente, aliás iniciado
na década de 80 do século passado, quando houve a invasão comercial dos
automóveis japoneses no mercado norte-americano, não iriam assistir impassíveis
a sua queda. Isso associado à revolta latente na população mundial, não apenas
nas terras do tio Sam, resultou no fenômeno Trump, que como está claro é
absolutamente inconsequente, agindo por puro impulso.
Vamos lembrar
que esse Titã econômico também é a maior potência tecnológica e militar, além
de ter um perfil altamente bélico e dominador - não nos esqueçamos de 64, mesmo
sob o governo do democrata Lyndon Johnson.
Ora, todos os
fatos que elenquei acima eram de conhecimento público, fazendo parte não só de
discussões de alto nível, tendo resultado em alguns prêmios Nobel - alguns dos
livros que li recentemente são desses premiados - como até de animados debates
de botequim.
Ainda assim,
aceitamos entrar em um bloco cujo propósito básico é se contrapor aos Estados
Unidos, propondo inclusive a criação de uma moeda para fazer frente ao dólar,
além disso manifestamos apoio à Venezuela e ao Irã.
Por outro
lado o STF anulou todas as ações da Lavajato, condenando inclusive o Juiz
Sérgio Moro, visto mundialmente como o paladino da justiça, que havia colocado
um ex-presidente na cadeia.
Como ato
final, libertou e reabilitou o Lula.
Quanto ao
Xandão, este avançou com a Constituição debaixo do braço usando todo o rigor da
lei contra os insurgentes golpistas, incluindo nosso filhote de Trump, o
Bolsonaro.
Lembram-se
que falei que não são as razões, mas as emoções que comandam as sociedades,
pois é, a partir dessa constatação fui resgatar memórias do passado, tempos de
Ulysses - não o da Odisséia de Homero, mas o da Constituição de 88 - quando era
do senso comum que certas coisas não se aplicam a políticos, mormente quando
têm apoio popular.
Na época achava esses políticos um bando de picaretas, falsos e enganadores, agora fico pensando, será que eram sábios?
[i]
[ii] "O homem do castelo alto" e "O conto da Aia" alertaram para esse fenômeno