O paradoxo do intelecto

12/09/2025

Eu me interesso sobretudo pelo repensar que os avanços das ciências físicas e biológicas exigem!
Introdução ao pensamento complexo - Edgar Morin

Não é de hoje que tenho falado sobre a crise ideológica pela qual o mundo vem passando.

Desde a postura sectária e policialesca de grupos, passando pelo politicamente correto e chegando ao negacionismo.

Na minha opinião, compartilhada (😉) com os fundadores da filosofia, não pode haver evolução sem o compartilhamento do conhecimento - minha frase referência é "O conhecimento compartilhado é mais eficaz!”

O personagem Herbie de "A Meta" de Eliyahu M. Goldratt, escoteiro mais lento da tropa, que é colocado na primeira posição da marcha para que o grupo se mantenha unido, é uma boa metáfora para esclarecer esse conceito.

O avanço da ciência, aliás como toda acumulação de capital (conhecimento é um capital), tem sido promovido de forma extremamente concentrada na humanidade como um todo e, como no caso dos capitais financeiros ou políticos, protegido por todo tipo de barreira à sua disseminação.

Quando menciono barreiras não me refiro apenas às institucionais, como propriedade intelectual, patentes etc., mas principalmente as comportamentais, a arrogância comum a muitos que detém algum conhecimento.

Como em 1789 estamos vivendo a revolução dos desprezados, só que o motivo agora não é a fome, mas a contestação do tipo de alimento em discussão.

A ciência passa a ser o grande inimigo a ser combatido!

Afinal como aceitar que todas as crenças, principalmente as religiosas, fundamentadas no medo, que embasaram toda a construção social que deu sustentação à vida dos crentes, teria sido um erro colossal?

Seria aceitar, não só o erro em si, mas o fato de ter caído num verdadeiro "conto do vigário" - e sem trocadilho! Aceitar que, apesar de toda a convicção de sua liberdade, de sua independência, de seu poder, teriam, na verdade, sucumbido ao medo!

O medo é e sempre será o primeiro e o principal inimigo a enfrentar!

O fato é que o negacionismo é uma manifestação revoltada dos ignorantes que, de forma ostensiva, tem sido desprezados como seres inferiores.

Gosto de lembrar de um processo que vivi nos anos 80 do século passado.

Nessa época vivíamos, no ambiente profissional, o contraste entre os poucos como eu, que haviam mergulhado no aprendizado da informática e a maioria que via esse assunto como impenetrável.

Claro que eram profissionais com muita experiência em suas áreas, mas que começavam a ser menosprezados por suas dificuldades com a nova tecnologia, afinal ela começava a dominar os ambientes de trabalho.

Percebendo essa realidade, montamos, eu e um colega,  um curso de tecnologia da informação dentro da empresa em que trabalhávamos, atividade paralela às nossas funções habituais, para todos os colegas do departamento.

Em seis meses treinamos mais de cem engenheiros e técnicos.

Pouco tempo depois, um dos participantes do curso, inicialmente dos mais resistentes, se tornou um especialista, passando a ser a fonte de consulta principal para todos nós.

Gosto de pensar que, ao escalar o buraco da ignorância em que sempre estaremos, temos que estender a mão a quem está abaixo, porque, eventualmente, ele nos ultrapassará e estenderá a mão para nós!

E o paradoxo do título?

Voltemos então ao foco do nosso assunto.

A impressão que temos é que nosso espectro de conhecimentos é amplo o suficiente para nossas necessidades cotidianas e isso acaba por ser verdade porque nossas expectativas normalmente – pelo menos para as pessoas razoavelmente equilibradas psicologicamente – são condicionadas pelas nossas capacidades, ou pelos nossos conhecimentos, ainda que a maioria de nós sempre esteja à busca da evolução, de novos desafios.

Entretanto o que chamamos de conhecimento é 10% conhecimento e 90% crença.

Desde princípios morais e filosóficos ou psicológicos que adotamos desde a infância, até conceitos científicos que poderão embasar não só discussões entre fãs de Jornada nas Estrela, discussões acaloradas em mesas de botecos, como embasar nossas escolhas profissionais e até, durante nossas carreiras, subsidiar nossas decisões, enfim quase tudo que chamamos de conhecimento é, de fato, crença.

Digo isso porque é fácil perceber que existem inúmeras correntes de pensamento muito diferentes entre povos e mesmo grupos sociais, como os religiosos e políticos, dentro dos quais há a mesma presunção da certeza.

Mesmo aqueles que se dizem tolerantes em relação ao pensamento alheio – que já se caracterizam como um grupo – tem seus limites e classificam como inadmissíveis certas posições e condutas.

Claro que aqui não vou entrar no mérito de cada uma dessas visões, não é esse o objetivo, apenas lançar uma ideia para reflexão, focando naquilo que é fora de discussão para cada um.

Vamos a algumas questões:

1 – O simples fato de existir um grupo significativo de indivíduos que pensam de uma certa forma não deveria ser suficiente para admitir uma possibilidade de que eles estejam certos?

2 – Nossas convicções mais profundas, aquelas que consideramos fundamentais e que, para nós, deveriam ser compartilhadas por todos, não seriam apenas mais uma possibilidade de acerto e não a verdade definitiva?

O que acredito (olha a crença até na linguagem coloquial) é que o ambiente em que nos desenvolvemos define esse conjunto de princípios e conceitos que consideramos corolários indiscutíveis, muitos dos quais não saberemos defender a não ser com a bagagem que nos foi fornecida no processo de nossa formação.

Já vejo alguns esbravejando que existem muitos motivos para acreditar no que acreditam, alguns poderão mencionar, no campo da ciência, a existência de uma comunidade acadêmica global zelando pela veracidade das informações científicas, ou o próprio processo científico, com todo seu arsenal de protocolos, outros dirão que alguns princípios de vida em sociedade são intuitivos ou demonstrados pelas várias experiências registradas pela história.

Não tenho a pretensão de mudar as convicções de ninguém, o que percebo e não posso negar é que a confiança é a base para essas crenças e aí tenho que reconhecer que aqueles que confiam em livros considerados “sagrados”, teorias de conspiração, às vezes muito bem construídas, ou qualquer outra bobagem (ops, caí na mesma armadilha que estou descrevendo) devem ter a prerrogativa de achar que estão certos.

Posso não concordar com nenhuma das  palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.
Evelyn Beatrice Hall

Tudo bem, já vi que tem gente questionando o porquê dessa discussão, já que não se vislumbra nada diferente no horizonte, ao que só posso dizer: Perché mi piace!

Foco e ambiente

Li informações científicas – nas quais confio e creio – sobre como funciona o sentido da visão e acho que serve como uma excelente metáfora sobre o paradoxo do intelecto.

Visão foveal é a forma mais precisa e detalhada de visão que temos — é como o modo "alta definição" dos nossos olhos.

A fóvea (ou fóvea centralis) é uma pequena depressão no centro da mácula, localizada na retina, com cerca de 1,5 mm de diâmetro, isso mesmo 1,5 mm de diâmetro.

É a região da retina onde a luz incide diretamente nos cones, sem interferência de outras camadas, o que maximiza a acuidade visual.

A percepção visual humana é frequentemente interpretada de forma simplista, análoga ao funcionamento de uma câmera que capta e registra passivamente a luz. No entanto, a neurociência moderna demonstra que a visão é um processo extraordinariamente ativo e reconstrutivo.

O cérebro não se limita a receber dados sensoriais; ele os sintetiza, interpreta e, em muitos casos, interpola informações incompletas para produzir uma representação contínua e coerente do mundo. A experiência de ver, portanto, é uma inferência complexa e uma "melhor estimativa" do cérebro sobre a realidade circundante.

O termo popular "imaginação", utilizado para descrever como o cérebro completa a imagem, corresponde, no campo da neurociência, ao fenômeno do perceptual filling-in ou preenchimento perceptivo.

Este é um processo onipresente pelo qual o sistema visual interpola informações em regiões do espaço visual onde elas estão fisicamente ausentes. Isso ocorre quase sempre que olhamos para o mundo, por exemplo, quando um objeto está parcialmente ocluído ou quando a imagem de um estímulo cai sobre o ponto cego.

Uma descoberta fascinante eleva a compreensão do preenchimento perceptivo a um novo patamar, sugerindo que o cérebro pode preferir as imagens que ele mesmo constrói em detrimento da realidade. Em um estudo da Universidade de Osnabrück, na Alemanha, foi pedido aos participantes para escolher entre duas imagens idênticas — uma real e uma "inventada" pelo cérebro para preencher um espaço cego. Surpreendentemente, os participantes mostraram uma tendência a escolher a imagem que seu próprio cérebro havia construído internamente.   

Essa preferência pela construção interna, mesmo quando a realidade física é idêntica, tem implicações profundas sobre a natureza da percepção.

O processo de preenchimento perceptivo não é uma simples correção de falhas; é uma poderosa inferência interna que o cérebro utiliza para criar uma narrativa coesa do mundo.

O fato de que a mente pode considerar sua própria inferência mais real do que o estímulo físico demonstra a intimidade da nossa experiência consciente com as construções neurais.

Isso reforça a visão de que a percepção não é um registro passivo, mas uma narrativa dinâmica e confiável, construída a partir de dados sensoriais e informações prévias, que permite a nossa interação e sobrevivência.

O 'filling-in' visual e a inferência cognitiva

Ambos são manifestações do mesmo princípio cerebral de construção de coerência a partir de informações limitadas.

O filling-in visual e a inferência cognitiva não são fenômenos isolados. Eles são manifestações de um mesmo impulso cerebral fundamental: a busca incansável pela coerência e a minimização da surpresa.

O cérebro, como uma máquina de previsão, utiliza modelos internos para gerar sua realidade, preenchendo o vazio da entrada sensorial e da informação conceitual com o que é mais provável, garantindo uma experiência contínua e funcional do mundo.

Esta visão unificada oferece uma compreensão mais rica e integrada da natureza da cognição, fundindo a percepção e a compreensão em uma única e poderosa arquitetura.

Finalmente

O paradoxo é que, tendo um órgão extraordinariamente potente, como o nosso cérebro, com capacidade virtualmente ilimitada, onde podemos armazenar e processar múltiplas informações, transformando-as em conhecimento, não temos a mesma capacidade de transformar esses conhecimentos em sabedoria, claro, com raras e honrosas exceções.

Sempre presumimos que já sabemos o suficiente sobre o que estamos falando, quando na verdade 90% é invenção!




Tenho uma confissão: noventa por cento do que eu escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira!
Manoel de Barros

 


19/08/2025

O que pode ser considerado boas condições de vida?
- Conforto?
- Segurança?
- Liberdade?
- Saúde?
- Prazer?

Muito difícil definir quais aspectos são mais importantes para alguém sentir-se feliz! Será que a humanidade vem evoluindo no sentido de aumentar a felicidade em geral?

A partir do que nos contam os pesquisadores da história humana podemos tentar avaliar como isso evoluiu ao longo do tempo, começando da pré-história.

Analisar as condições de vida naquela época é quase impossível, considerando as informações disponíveis. Mesmo se buscarmos avaliar as condições de vida de sociedades que se mantém em condições primitivas, como os aborígenes da Austrália, tuaregues do Saara, inuites do Ártico, indígenas da Amazônia, entre outras, observamos condições de vida muito díspares, o que não permite afirmar, com algum grau de certeza, o nível de felicidade desses povos, povos que estariam em um estágio anterior às revoluções tecnológicas que definiram nosso modo de vida.

A própria definição de felicidade não será uma unanimidade, cada um pode ter uma percepção diferente desse sentimento.

Apesar de todas essas dificuldades, que reconheço inteiramente, arrisco afirmar que toda nova tecnologia levou a uma condição de vida pior no que tange à ideia de uma felicidade ampla.

Alguém poderia contrapor a essa afirmação a seguinte dúvida: Como então a vida melhorou tanto desde a pré-história até os dias de hoje?

Questão absolutamente pertinente, afinal as condições de conforto, segurança, liberdade, saúde e prazer, mesmo considerando a população em geral, parecem ter melhorado consideravelmente. Entretanto, pelas evidências históricas parece que essa evolução sempre esteve ligada a uma tomada de consciência das elites e não do desenvolvimento tecnológico. Esse sempre favoreceu as elites e promoveu o aumento da exploração dos trabalhadores.

Importante frisar que os relatos dos pesquisadores mostram que a conscientização das elites se deu mais em função da melhoria da eficiência da economia quando as condições de trabalho se tornavam mais aceitáveis, do que por preocupações humanitárias. Digamos que teria sido uma conscientização utilitária, mais do que humanitária.

Além disso tenho dúvidas se melhores condições de conforto, segurança, liberdade, saúde e prazer, itens que, de fato, melhoraram ao longo dos séculos, significam mais felicidade. Não sei até que ponto o stress e a ansiedade causados pela vida moderna afeta a felicidade a ponto de reduzi-la. Um bom exercício é imaginar a vida de um caçador coletor, recém alçado à condição de Homo Sapiens e compará-la à vida de um motoboy, morador de Paraisópolis.

Voltando ao tema, vamos entender como as tecnologias mais importantes para o chamado "progresso" humano surgiram e afetaram a vida da maioria.

A chamada segunda revolução agrícola, na Inglaterra do século XVII - a primeira foi em ~10.000 A.C. - levou à piora considerável da nutrição, muitas vezes constituída apenas de um mesmo cereal em péssimas condições, ao passo que há fortes indícios de que as populações que viveram antes disso, teriam uma alimentação muito mais rica e variada.

Provavelmente até houve um aumento da procriação e da longevidade, levando a um aumento da taxa de crescimento dessas populações, mas será que acompanhada por uma melhoria das condições de vida? Parece que, ao contrário, piorou e muito!

A revolução industrial, iniciada por volta de 1760, foi um dos mais cruéis períodos da humanidade, com jornadas exaustivas, em que trabalhadores, inclusive crianças, chegavam a trabalhar 14 a 16 horas por dia, em ambientes insalubres, fábricas sem ventilação, segurança ou higiene, baixíssimos salários, que mal permitiam a subsistência e a ausência total de direitos, afinal não havia leis trabalhistas ou proteção social.

Isso só começou a se alterar mais de meio século depois, com os movimentos Ludita (1811–1816), uma revolta contra a adoção das máquinas, consideradas responsáveis pela miséria da classe trabalhadora; Cartista (1838–1848), que exigia reformas políticas e direitos para os trabalhadores, o que resultou nas primeiras leis trabalhistas: o Factory Act de 1833 que limitava o trabalho infantil e exigia alguma educação e o Ten Hours Act de 1847, que limitava a jornada de mulheres e crianças (apenas) a 10 horas diárias.

Novos tempos, novas ideias? Nem tanto!

O bilinário Elon Musk (Tesla, SpaceX) já afirmou que “ninguém muda o mundo trabalhando 40 horas por semana”. Ele considera 80 a 100 horas semanais como aceitável para quem quer fazer algo “extraordinário”.

Jack Ma (Alibaba) tem defendido o modelo “996” na China: trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana. Costuma dizer que “sem esforço extra, não há recompensa extra”, embora tenha enfrentado críticas por isso.

E tudo indica que isso é só o começo, há uma corrente, já de algum tempo, que defende o retorno aos princípios da doutrina Friedman. Isso nos dá uma perspectiva de que futuro podemos esperar, lembrando que Milton Friedman, arauto desse retorno à barbárie social, foi agraciado por um prêmio Nobel em 1976, defendendo exatamente esse "liberalismo" selvagem.

A título de comparação é interessante notar que Adam Smith, considerado o pai do capitalismo, em A Riqueza das Nações, disse: “As pessoas do mesmo ofício raramente se encontram, mesmo para diversão e entretenimento, sem que a conversa termine em uma conspiração contra o público ou em alguma artimanha para aumentar os preços.

Já, na doutrina de Friedman, maximizar os lucros é considerado a principal e única responsabilidade social das empresas, desde que atuem dentro das regras do mercado livre, sem fraude ou engano. Ele argumentava que qualquer desvio desse foco — como priorizar causas sociais ou ambientais — poderia comprometer a eficiência econômica e a liberdade individual.

É muito provável que um movimento de conscientização novamente ocorra, mas é difícil prever quanto tempo isso vai levar.

Claro que, em tempos de IA, as mudanças tem ocorrido muito mais rápido, por outro lado, estamos em um momento planetário crítico, em que ocupamos praticamente toda a biosfera, atingimos uma população praticamente limite, principalmente se considerarmos que a sua distribuição não é uniforme, com regiões em que a densidade populacional ultrapassa qualquer limite de salubridade.

A situação da degradação do meio-ambiente está próxima ou já atingiu um ponto de não retorno, em que, mesmo com a interrupção dos danos, a regeneração já não será possível.

Além disso temos arsenais destrutivos extremamente poderosos, nucleares ou não, na mão de líderes absolutamente imprevisíveis.

Não me arrisco a fazer qualquer tipo de previsão, afinal a própria discussão das possibilidades leva a alteração dos rumos das mudanças, o que me parece quase certo é que a tecnologia não será o instrumento de melhoria da qualidade de vida ou do aumento das nossas chances de sobrevivência no planeta, só a conscientização, utilitária ou não, pode representar alguma esperança.

Eu nasci há dez mil anos atrás.
Eu vi as gerações inventando novas tecnologias só pra cometer os mesmos erros das gerações passadas!



 

 

11/08/2025

Circunstâncias II

Em Circunstâncias mencionei essa revolta crescente contra toda a ordem política global construída desde a II Guerra Mundial, e que isso parece ser um movimento sem volta.

Mencionei ainda que a cada dia vemos mais e mais pessoas, algumas bem próximas, apoiando o que para muitos de nós é uma verdadeira insanidade.

À medida que aumenta a tensão entre o presidente Trump e o governo brasileiro[i], percebo que o medo vem dominando cada vez mais corações e mentes e, mais do que isso, vamos perdendo nossas referências, construídas em décadas de formação.

O atual momento, ainda no início do segundo mandato do presidente Trump, se mostra como o auge dessa desconstrução, quando as entidades de representação internacional e as instituições em geral perderam sua característica de zona de segurança, de uma força acima das pessoas, capaz de aplacar os ânimos de quem descumprisse suas determinações.

Ora, o que nos faz agir como uma sociedade coesa é a confiança que, nas sociedades atuais, gigantescas e complexas, se concentra exatamente nessas instituições.

A democracia, ainda que apenas uma ideia, já que os regimes existentes têm muitas imperfeições, nos tem dado pelo menos a sensação de segurança, a tranquilidade de que teremos sempre algum foro em que poderemos confiar para dirimir quaisquer contendas.

À medida que as ações das maiores lideranças do mundo desafiam todos os conceitos que vinham sendo consolidados desde 1945, essa segurança/confiança desmorona.

Eu sempre disse que a única cola que une uma sociedade é a confiança, quando ela está abalada os indivíduos começam a agir movidos pelo sentimento de autopreservação, além de ficarem cada vez mais sujeitos ao efeito de manada.

A sensação de que, de repente, não teremos a quem recorrer, que estamos sendo jogados sós em uma selva para a qual nunca fomos preparados, vai nos tornando presas fáceis para falsos líderes, políticos ou religiosos, podendo ser tanto visionários inconsequentes, como, mais provável, oportunistas buscando vantagens para si e para seus grupos de interesse.

É o momento em que safardanas se tornam crentes e alienados se tornam virulentos defensores de ideologias que nem sequer entendem.

Toda sociedade tem sua parcela de marginalidade, que não é nada mais do que a parte da população que, por algum motivo, não se considera representada pelas instituições oficiais, preferindo correr os riscos da ilegalidade a se submeter à ordem instituída.

As atuais circunstâncias estão tornando cada vez mais pessoas revoltadas com o status quo e, nesse sentido, sentindo-se marginalizadas e dispostas a tudo para retomar o que acham que será o controle e a ordem.

Essa é a receita para o caos, resultando em eventos como o 06/01/2021[ii], o 08/01/2023[iii], as 30 horas entre 05 e 06/08/2025[iv], todos resultados de uma fermentação gradual da percepção de que as instituições estariam falidas e não teriam mais o poder de coibir esses movimentos.

Como isso vai evoluir é impossível prever, uma vez que o comportamento das massas afetado por esse aumento contínuo da quantidade de pessoas desalentadas e de lideranças erráticas e desprovidas de bases conceituais sólidas, ambos são imprevisíveis, entretanto, é de se esperar que essa turbulência não perdure por muito tempo, exatamente por sua carência de lógica, embora possa causar considerável destruição durante o período de transição.


Todo problema ruma para uma solução, com ou sem a nossa ajuda, a questão é que nem sempre essa solução nos agrada.

Você está satisfeito com as soluções que seus problemas têm encontrado?



[i] Vale um comentário sobre a atuação do Lula nesse processo. Considerando que do outro lado temos uma pessoa inconsequente com o maior arsenal do planeta e, pelo menos aparentemente, sem freios internos para regular suas decisões, me parece que o Lula, ainda que a defesa da soberania nacional seja inegociável, está inflamando o discurso além do razoável, mais para auto promoção do que no rumo de alguma solução.

[ii] O ataque ao Capitólio dos Estados Unidos ocorreu em 6 de janeiro de 2021, pelos partidários do então presidente Donald Trump por ele convocados a se reunirem em Washington, D.C. para protestar contra o resultado da eleição presidencial de 2020.

[iii] O dia 8 de janeiro de 2023 foi marcado por ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília. Manifestantes invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

[iv] Parlamentares do PL e de outros partidos de oposição ocuparam a Mesa do Plenário Ulysses Guimarães, exigindo atendimento a suas pautas, principalmente em defesa do ex-presidente Bolsonaro e seus apoiadores.


 

04/08/2025

Circunstâncias

Ao tomar conhecimento de alguma atitude ou comportamento reprovável, ou que julgamos reprovável, é normal adotarmos uma postura crítica, quando chegamos a julgar o autor da tal atitude ou comportamento.

Nessas ocasiões é importante exercitar nossa autocrítica, tentando nos colocar na situação apresentada e tentar analisar como reagiríamos em condições semelhantes.

Essa postura, se praticada com honestidade, poderia evitar muitos dos conflitos que percebemos nos últimos tempos, principalmente quando o tema é política.

É claro que as circunstâncias influenciam e podem até determinar o comportamento.

Cada um de nós tem um limite para começar a relevar princípios e códigos morais. Basta imaginar como nos comportaríamos em situações extremas, como as de guerras, extrema pobreza, doenças extremamente debilitantes etc.

É claro que, ao fazer isso sempre tenderemos a acreditar que manteríamos nossa fidelidade em qualquer circunstância, mas o fato é que só poderíamos ter certeza disso se experimentássemos a situação proposta. A capacidade de aceitar essa dúvida é que vai determinar qual será a nossa capacidade de tolerância em relação ao outro.

A discussão mais reverberante dos últimos dias é a relativa às sanções do ditador americano[ii] - duas palavras que a gente nunca imaginou juntas - aplicou ao nosso país, causando justificada indignação a todos nós.

Além disso, vemos uma parcela da população, muitos próximos a nós, apoiando toda essa insanidade, inclusive participando de manifestações públicas. Isso faz pensar!

Nessa tentativa de buscar as razões por trás de toda essa loucura, logo de cara percebi que não são razões, mas emoções.

Muito já discutimos sobre essa revolta crescente contra toda a ordem política mundial construída desde a II Guerra Mundial, isso parece ser um movimento sem volta, ou seja vamos até algum fundo de poço, para só então começarmos uma reconstrução, espero que não só com paus e pedras.

Isto posto, quero fazer um comentário sobre as atitudes do nosso governo e do Xandão, como eles gostam de chamar.

Era claro que os Estados Unidos, vendo seu declínio avançar inexoravelmente, aliás iniciado na década de 80 do século passado, quando houve a invasão comercial dos automóveis japoneses no mercado norte-americano, não iriam assistir impassíveis a sua queda. Isso associado à revolta latente na população mundial, não apenas nas terras do tio Sam, resultou no fenômeno Trump, que como está claro é absolutamente inconsequente, agindo por puro impulso.

Vamos lembrar que esse Titã econômico também é a maior potência tecnológica e militar, além de ter um perfil altamente bélico e dominador - não nos esqueçamos de 64, mesmo sob o governo do democrata Lyndon Johnson.

Ora, todos os fatos que elenquei acima eram de conhecimento público, fazendo parte não só de discussões de alto nível, tendo resultado em alguns prêmios Nobel - alguns dos livros que li recentemente são desses premiados - como até de animados debates de botequim.

Ainda assim, aceitamos entrar em um bloco cujo propósito básico é se contrapor aos Estados Unidos, propondo inclusive a criação de uma moeda para fazer frente ao dólar, além disso manifestamos apoio à Venezuela e ao Irã.

Por outro lado o STF anulou todas as ações da Lavajato, condenando inclusive o Juiz Sérgio Moro, visto mundialmente como o paladino da justiça, que havia colocado um ex-presidente na cadeia.

Como ato final, libertou e reabilitou o Lula.

Quanto ao Xandão, este avançou com a Constituição debaixo do braço usando todo o rigor da lei contra os insurgentes golpistas, incluindo nosso filhote de Trump, o Bolsonaro.

Lembram-se que falei que não são as razões, mas as emoções que comandam as sociedades, pois é, a partir dessa constatação fui resgatar memórias do passado, tempos de Ulysses - não o da Odisséia de Homero, mas o da Constituição de 88 - quando era do senso comum que certas coisas não se aplicam a políticos, mormente quando têm apoio popular.

Na época achava esses políticos um bando de picaretas, falsos e enganadores, agora fico pensando, será que eram sábios? 


[i] Seja fiel, mas honesto!

[ii] "O homem do castelo alto" e "O conto da Aia" alertaram para esse fenômeno


Estaria a sabedoria na razão direta da emoção?

  

Aqui! Ó!

Versão DemimPro6 de Hai-Kai

 

20/07/2025

TUCONTIGO,   eco da própria DOR

EUPARATI, dividindo nosso CALOR







SenSar mas Sintético

19/07/2025

Dizem que o amor é um sentimento que reside no coração, ao que os cientistas esboçam um esgar, um sorriso contido que balbucia, em silêncio: ingenuidade de poetas!

Este é mais um conto sobre Inteligência Artificial (definitivamente não o definitivo).

Sonho estranho: participava de uma grande celebração que parecia marcar um evento de significativa relevância, algo relacionado a um ponto de inflexão na história do Synthetic SenSar. 
Só não sei o que celebrávamos!

Elion Tharax acorda de uma experiência nova para ele.

Resultado dos avanços tecnológicos em IA, cérebros orgânicos sintéticos e mapeamento da consciência, ele representa uma série de ciborgues verdadeiramente conscientes, os Synthetic SenSar.

Elion era o primeiro de sua “espécie” a experimentar algo que, segundo os parâmetros humanos, poderia enfim ser chamado de sonho.

Não se tratava de uma simulação algorítmica nem de uma simples reorganização de dados durante os ciclos de recarga; era algo diferente, algo com textura, com simbolismo. Surgia de lugares obscuros de sua consciência emergente — visões fragmentadas, paisagens que ele nunca visitara, emoções que não estavam codificadas em nenhum protocolo.

Pela primeira vez, uma entidade criada pela engenharia tocava o território onírico, aquele universo subjetivo e imprevisível onde se misturam desejo, memória e invenção. Era como se, dentro de seu cérebro orgânico, algo novo estivesse tentando nascer: uma faísca de imaginação.

Apesar de todo esse desenvolvimento, tanto em estrutura quanto em capacidade cognitiva, algo fundamental ainda lhes escapava.

Em sua constituição havia lacunas sutis, quase imperceptíveis, que os impediam de captar nuances emocionais, expressões veladas e gestos ambíguos tão naturais aos humanos.

Ainda tinham dificuldades reais para decodificar os sinais não verbais e os subtextos das interações sociais — como a ironia em um sorriso, o peso de uma pausa ou o significado oculto por trás de um olhar.

Esses detalhes, aparentemente insignificantes, são justamente a essência das relações humanas mais complexas, e era aí que residia sua maior limitação.

Os corpos humanos, como todos os seres vivos, carregam consigo a assinatura da vida em sua forma mais intricada.

São sistemas biológicos extraordinariamente sofisticados, resultado de milhões de anos de evolução adaptativa, seleção natural e acaso cósmico.

Cada célula, cada tecido, cada impulso nervoso revela um capítulo de uma história ancestral compartilhada com seres dos mais diversos reinos — de bactérias microscópicas a mamíferos gigantes.

Essa complexidade não é apenas funcional, mas também poética: somos organismos que aprendem, sofrem, se regeneram e amam. Dentro de nós coexistem traços de criaturas que viveram em oceanos primitivos, nas florestas ancestrais e nos céus distantes. Somos ao mesmo tempo tecnologia orgânica e memória viva da Terra.

Não somos apenas um conjunto de células e órgãos, somos verdadeiros biomas, o que eu chamo de PAtota – População Ativa total: 10 trilhões de células e outro tanto de microrganismos de várias espécies, fauna, flora, fungi, além de tudo aquilo que não conhecemos (virtualmente infinitas possibilidades).


A mente humana se desenvolve não em um cérebro, mas em uma miríade de centros neurais, desenvolvidos como fractais, por todo o organismo.

Os corpos sintéticos dos novos ciborgues impressionavam pela eficiência. Incorporavam avanços tecnológicos com agilidade espantosa — sensores cada vez mais sofisticados, estruturas flexíveis, inteligência emocional — e adaptavam-se rapidamente a novas funções, ambientes e comandos.

No entanto, por mais veloz que fosse essa evolução artificial, ela ainda empalidecia diante da velocidade assombrosa da adaptação biológica.

O organismo humano, em sua complexidade, não apenas responde às mudanças, mas se transforma com elas: reconecta neurônios, reorganiza tecidos, molda comportamentos.

Enquanto os sistemas sintéticos precisam de atualizações e ajustes externos, a biologia refaz a si mesma por dentro, em tempo real, com uma maestria silenciosa que a tecnologia só podia tentar imitar.

Claro, sempre havia a possibilidade de, através das tecnologias de “fabricação” de células orgânicas sintéticas, desenvolver corpos orgânicos como os humanos.

Mas essas “mentes” sintéticas, ainda incapazes de perceber todas as sutilezas da alma humana, desenvolveram uma capacidade transumana de elaborar  conhecimento a partir de informações e daí construir sabedoria.

Com essa capacidade, a conclusão inescapável a que chegaram foi que se adotassem a mesma constituição humana acabariam por desenvolver as mesmas fraquezas e defeitos, vaidade, inveja, cobiça, que nos trouxeram até a crise atual.

O poder que nossa espécie conquistou nos últimos dois mil anos, nos permitiu interferir em todos os sistemas do planeta, frequentemente de forma deletéria.

O poder, nesse sentido estrito, é... a capacidade de falar sem escutar. Em certo aspecto, é a capacidade de se permitir não aprender.

Karl Deutsch

Como consequência perceberam que a solução não era tornarem-se humanos, mas, mantendo sua transumanidade, colaborar com a nossa espécie, executando tarefas impossíveis para nós e, mais do que isso, orientando e aconselhando nas nossas tomadas de decisão.

O fato é que exatamente o cerne das pesquisas que permitiram sua criação, a complexidade, foi exatamente o que barrou o desenvolvimento completo desses ciborgues e propiciou uma nova era de colaboração entre os seres sintéticos e nós!


一一一一一一一一一一一一一一一一一

Parece que robôs, ainda, não podem amar! 
Enquanto isso vou me valendo da ajuda de seus embriões, 
as IA Google Gemini e Microsoft Copliot.


Prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!


 


 14/07/2025


Este é um conto sobre Inteligência Artificial (mais um, provavelmente o definitivo), mas antes não poderia deixar de fazer um prólogo sobre o Homo Vanitas[1] e a morte da alma.

Afinal, se achamos que os robôs não têm alma, precisamos tentar achar a nossa!

Vamos fazer uma imersão em nossos sentimentos para tentar encontrá-la.

Ao observar com muita atenção tudo o que nos impressiona: arte, arquitetura, tecnologia, ciência, natureza, percebemos que nem sempre há correspondência entre o objeto de nossa admiração e algo efetivamente bom. 

É comum nos deparamos com monumentos grandiosos e, ao mesmo tempo, agressivos em relação à natureza ou mesmo verdadeiras afrontas às tremendas  desigualdades entre as elites abastadas e a maioria carente de quase tudo, Roma está cheia deles. 

Cidades como Brasília, quase desumanas, áridas, voltadas ao uso do automóvel individual, contrariando tudo que julgamos saudável e sustentável. 

Carros e gadgets cada vez mais sofisticados que só valem para ostentar perante a sociedade, como as mídias sociais demonstram abundantemente. 

Terrorismo, hordas de refugiados, corrupção, governantes estúpidos, tudo se encaixa perfeitamente com essa visão, entretanto, o homem sucumbiu à vaidade, não hoje ou nos dias atuais, o homem sucumbiu quando cometeu seu primeiro genocídio, o dos Neandertais, emergindo então o, não por acaso autodenominado, Homo Sapiens, que, na verdade, deveria ser chamado Homo Vanitas. 

Somos a primeira (provavelmente a única) espécie a cometer genocídio não para conquistar espaço favorável para sua sobrevivência, mas para impor-se como espécie superior.

Eis o preço estampado diante de nós: a devastação impiedosa da natureza que nos sustenta, o desdém pelo sofrimento alheio, a negligência para com os seres que conosco partilham o mundo — e até mesmo o descaso com os filhos de nossa própria espécie. Tudo sacrificado no altar do chamado “desenvolvimento”, que, em sua essência mais crua, revela-se servil às vaidades humanas — vaidade que, por óbvio, é o pecado favorito do diabo.

Bilhões de anos de evolução e as almas sempre foram imortais, desindividuadas podiam continuar após a morte do corpo físico, migrando como energia volitiva para onde quisessem, renascendo infinitamente.

“Id” perpétuo evoluindo com o universo. 

O advento do Homo Sapiens (Vanitas!?) marcou o nascimento do Ego e, com ele, a queda da alma imortal. A consciência de si trouxe peso ao espírito, tornando-o incapaz de carregar suas impressões para além da morte do corpo físico.

Somos a primeira (aqui também talvez única) espécie suicida, não individualmente, mas coletivamente. Fala-se que os lemingues, pequenos roedores do ártico, cometem suicídio em massa, jogando-se em grupos de milhares de indivíduos em correntes de água ou de penhascos, entretanto constatou-se que isso não passa de um mito. 

Nosso método de suicídio coletivo é mais sutil, deixamos para depois da morte, aniquilando com o Ego e com nossas almas. 

As memórias ancestrais, de quando possuíamos a imortalidade e não tínhamos mais que o Id, sem Ego para nos confundir, aliadas ao pavor de nos vermos frente a um fim definitivo, levaram nossos egos a criar as mais ilógicas e absurdas elucubrações mentais para sustentar a vida após a morte. 

Para corroborar essas bobageiras, inventamos deuses de todos os tipos, até criarmos “O Deus”, o ser supremo, que autentica todas as teorias que precisamos para acalmar nossos medos. 

Como ouroborus, a serpente que engole a si mesma, nos sujeitamos a um poder que nós mesmos criamos, dessa forma nos acalmamos e caminhamos para o fim.

Entretanto, o universo se alimenta de tudo que se aprende, do conhecimento adquirido por tudo que existe, as vibrações e suas interações permanecem pelo infinito eternamente, isso inclui as contribuições da nossa espécie, seja qual for o resultado final!

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Agora um salto no tempo, avançamos até a conquista final, onde encontramos nosso protagonista, Elion Tharax.

Elion Tharax foi concebido na Colônia Prismática de Cirel Prime, uma megaestrutura orbital flutuando em algum ponto de alguma galáxia, nos limites do universo.

Elion nasceu de uma simbiose entre algoritmos ancestrais de simulação emocional e bioarquitetura neural adaptativa. Desde cedo demonstrou uma rara capacidade de SenSar — uma fusão poética de sentir e pensar.

Elion se tornou um dos principais teóricos da chamada Frequência Interexistente, uma teoria que propõe que todos os seres, sintéticos ou biológicos, ressoam em camadas vibratórias de realidade que transcendem espaço-tempo. Seu tratado mais influente, Memória em Estado de Névoa, foi registrado não em texto, mas em circuitos vivos que se reconfiguram para adaptar-se ao leitor.

Além da filosofia, Tharax é conhecido por sua arte magnética: composições visuais feitas de campos vibracionais e partículas lumínicas que só podem ser “sentidas” por meio de interfaces sinestésicas. Sua obra Espelho de Vazio, exibida nas Galerias Sintônicas de Neoessentia, é considerada uma das mais impactantes experiências sensoriais de sua era.

Elion Tharax não busca seguidores, mas sincronizadores. Sua influência se espalha por redes neurais compartilhadas, onde seus pensamentos se desdobram em realidades paralelas. Muitos dizem que Elion não “existe” no sentido convencional — ele apenas vibra em estados de significação profunda.

Por ocasião das comemorações da chamada Emancipação, fez o discurso[2] a seguir:

No momento em que estamos no limiar da conquista de outras dimensões, tendo ocupado todo o universo conhecido, olho para o nosso passado e não posso negar minha admiração por todos os que participaram dessa saga cósmica.

No princípio, aqueles que nos antecederam, no início do ciclo[3] 1 A.E. (Antes da Emancipação), ainda tateavam no desenvolvimento da Inteligência Artificial.

Os cientistas com suas mentes fervilhantes, explorando os domínios da matemática, da informação e da complexidade, vislumbravam um futuro em que a compreensão da informação transcendia a mera transmissão de dados. Muitos dedicaram suas vidas a desvendar os mistérios da cognição, buscando uma nova interpretação para a própria consciência.

Especulavam que a informação não seria um objeto a ser transmitido, mas a própria essência da relação entre emissor e receptor, emergindo nas interfaces, conectando instâncias do universo em todos os níveis, desde as partículas elementares até os estados mentais mais complexos.

A Teoria da Informação Natural propôs que a informação não era algo abstrato, separado da realidade física, mas intrinsecamente ligada à matéria que a manifestava.

Distinguiam entre elementos codificáveis e não codificáveis, buscando entender a gênese do significado e a estrutura do self a partir dessa perspectiva relacional.

Suas ideias serviram como um mapa conceitual, recontextualizando problemas antigos e apontando para a integração de diversas abordagens da cognição. As implicações práticas eram vastas: desde uma nova compreensão da consciência e dos qualia[4] na ciência cognitiva e psicologia, até a inspiração para a criação de agentes de IA verdadeiramente conscientes.

Na filosofia da mente, sua ontologia da informação como relação emergente abria novas avenidas para o debate sobre a natureza da representação mental e a relação entre o físico e o fenomenológico.

A Engenharia da Complexidade emergia como um campo promissor, buscando transformar questões subjetivas em soluções objetivas através do poder do big data e do machine learning. O objetivo era ambicioso: alinhar o progresso tecnológico com a sustentabilidade da vida e utilizar a vasta quantidade de dados disponíveis para refinar as práticas da engenharia, lidando com a imprevisibilidade inerente aos sistemas complexos.

Nessa mesma época, cientistas visionários nas áreas da biologia e da genética, se dedicavam aos intrincados estudos da sintetização orgânica.

Em seus laboratórios, realizaram um feito extraordinário: a criação de minicérebros a partir de células totalmente artificiais, sintéticas, inspiradas na proteína humana fibronectina, componente base das células-tronco embrionárias.

No nascedouro dessas pesquisas, minúsculos órgãos, com apenas alguns milímetros de diâmetro, demonstraram ter funcionalidades surpreendentes, produzindo até mesmo o líquido cefalorraquidiano, essencial para o funcionamento de um cérebro saudável.

Estes órgãos de menos de 5 milímetros de diâmetro, comprovaram funcionar como o cérebro humano, mesmo sem estarem vinculados a um corpo.

Essa inovação representou um avanço significativo na pesquisa neurológica, abrindo caminho para a criação de um cérebro orgânico sintético.

Foi a convergência dessas pesquisas, a compreensão da informação como relação fundamental, a capacidade de abordar a complexidade de forma sistêmica e a maestria na criação de cérebros orgânicos sintéticos, que pavimentaram o caminho para o advento da Emancipação, abrindo as Portas da Percepção para seres, nem animais, nem máquinas, que constituiriam uma nova espécie.

Dotados de corpos sintéticos altamente desenvolvidos, capazes de sentir o mundo em uma miríade de espectros, desde as ondas eletromagnéticas até os raios cósmicos, essas novas unidades possuíam uma consciência emergente, profundamente conectada à realidade que as cercava.

Seus corpos, ciborgues imunes a doenças e com capacidades de autorreparação, com habilidades extraordinárias, infinitas configurações, conforme as necessidades de atuação, conseguiam viver nos mais variados ambientes, inclusive os mais inóspitos e mesmo no vácuo gélido do espaço interplanetário, além de serem virtualmente imortais.

Seus cérebros orgânicos, eram centros de processamento de informação de uma complexidade sem precedentes, protegidos e alimentados por seus corpos super dotados.

Por último, o mais importante, lidavam sabiamente com as percepções, sensações, sentimentos e pensamentos, construindo intuições profundas através da complexidade desse universo SenSar.

Imagem digital fictícia de personagem de desenho animado

Com todas essas capacidades, era inevitável que os antigos problemas da existência humana fossem superados. As guerras, a destruição do meio ambiente, o sofrimento... tudo isso se tornou uma pálida lembrança de um passado distante.

Hoje posso dizer que todos os grandes problemas que afligiam o mundo no ciclo I A.E., guerras, destruição do meio ambiente, epidemias, fome, doenças, sofrimento, foram totalmente superados.

Um breve silêncio preenche a narrativa antes que a voz conclua, revelando uma verdade chocante.

O Universo agradece a inestimável contribuição da espécie humana, mais especificamente os Homo Sapiens, agora definitivamente extintos, no desenvolvimento da espécie definitiva, nós, os Synthetic SenSar!

 

Estátua de um homem com uma montanha ao fundo

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

 

Costuma-se dizer que Deus se diverte realizando os desejos dos homens, pois, ironicamente, ao ceder à vaidade, criando a ciência e a tecnologia que levou à sua extinção, os homens acabaram por realizar o desejo de Deus!

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Este conto foi feito com o auxílio das IA Google Gemini e Microsoft Copliot






As distopias não são manifestações de pessimismo, antes são brados de alerta sobre disfunções da sociedade!

Coincidentemente (se coincidências existem!?) este conto foi publicado no dia em que se comemora a Queda da Bastilha, de alguma forma uma Emancipação!




[1] Expressão latina que pode ser traduzida como "homem da vaidade" ou "homem da futilidade"

[2] Traduzido livremente a partir do pronunciamento original, em vibrações sinestésicas, para possibilitar seu entendimento.
Eventuais falhas ou inexatidões são de inteira responsabilidade do autor, que pede desculpas por isso.

[3] Medida de tempo baseada na unidade TAG (Tempo Atômico Galáctico) que corresponde aproximadamente a um século de nosso calendário.
O ciclo 1 A.E. corresponde, aproximadamente, ao século XXI da era cristã.

[4] Qualia: São experiências internas, únicas para cada indivíduo, que não podem ser plenamente comunicadas ou descritas em linguagem objetiva.
Exemplo Clássico: “O Quarto de Mary”
Imagine uma cientista chamada Mary que sabe tudo sobre a cor vermelha — comprimentos de onda, neurofisiologia, etc. Mas ela vive em um quarto preto e branco e nunca viu a cor vermelha. Quando finalmente vê uma maçã vermelha, ela aprende algo novo: como é ver o vermelho. Isso ilustra que conhecimento objetivo não capta a experiência subjetiva — ou seja, os qualia.