A transcrição completa está na sequência.
Quem "se" acha vive se perdendo!
A origem das crianças
05/12/2020
Quando só tinha o nada, nada mesmo, nem ar tinha lá, nem
luz, nem... nada, de repente surgiu um pensamento.
Fraquinho, como se fosse uma luzinha muito apagadinha, mas
estava lá, naquele nada enorme e esse pensamento tinha duas palavras:
— Eu quero!
Quando esse pensamento pensou a palavra “eu” passou a
existir no meio do nada, brotou, bem pequenininho - como aqueles brotinhos de feijão
que a gente coloca no algodão com água, bem pequeninhos, que a gente até precisa
de lente para enxergar.

Foi aí que ele viu o mundo, que ele nunca tinha visto porque...
bem, porque, na verdade, esse nosso broto de pensamento nem existia um segundo
antes.
Ele viu o mundo e viu as pessoas e viu que era muito bonito, as pessoas brincavam, admiravam as
belezas do mundo, trabalhavam, se amavam e decidiu:
— Já sei, eu quero ir pro mundo, é pra lá, não tenho dúvidas!
E aquele brotinho de pensamento percebeu que ele queria a
beleza, queria poder amar, brincar. E ele viu que isso era bom.
Aqui alguém poderá objetar: Mas, como? Se não havia nada!
O fato é que antes de existir a “existência” não havia
espaço-tempo, que foi uma invenção do pensamento, as coisas podiam estar lá
antes mesmo de acontecerem.
Foi nesse momento que nasceu a Fé, assim mesmo, com “F”
maiúsculo, que é a certeza do que se quer e porque se quer.
Querer viver para contemplar, produzir e compartilhar a
beleza.
Aí ele viu que algumas pessoas se amavam tanto que desejavam
ter filhos e, através desse desejo, conseguiam gerar esses filhos, e pensou:
— Então é assim que eu vou pro mundo!
E, na horinha que ele pensou isso, já estava na barriga da
mãe. Até hoje ele não sabe como escolheu aquele casal, só sabe que não caiu ali
por acaso, foi tudo como ele queria, desde o primeiro momento.
Pelo menos é assim que eu me lembro!
Em Feitio de Oração começo este primeiro Pádaqui, porque
Preciso me Encontrar.
A estorinha que contei no início foi apenas para mostrar de
onde vem essa estranha mania de ter Fé na vida!
No título, Quem "se" acha vive se perdendo! incluí
um “se” maroto, que pode ser considerado sarcástico. Tem a ver com as certezas
que alguns teimam em manter por maiores que sejam as incertezas evidentes
destes tempos complexos.
Claro que isso sempre ocorreu. Os totalitarismos, por
exemplo, nasceram de mentes que “se achavam” e, ao fim e ao cabo, se perderam e
levaram à perdição povos inteiros. As origens desse fenômeno sempre foram a
luta pelo poder e pelo acesso a recursos vitais, mas vivemos um tempo em que essa
distopia pode ter origens mais graves.
Agora vou revelar, não um segredo, mas uma informação
oculta, por assim dizer, contido no primeiro volume do DeMimPro6.
Para tentar entender a maior crise que a humanidade já
enfrentou é necessário rever as origens e as causas dessa situação.
Nós começamos formando bandos.
O ser humano é fundamentalmente de natureza gregária, haja
vista que a pena de prisão solitária é utilizada como punição extrema.
A nossa natureza gregária procurou resolver os problemas do
medo, da colaboração e do melhor aproveitamento dos recursos, através da união.
A essência dessa estratégia sempre foi a CONFIANÇA,
lembrando que esse é um sentimento de quem confia, confia porque avaliou que,
entre as ameaças da vida isolada e a possibilidade de ser traído, o menor risco,
seja pela sua probabilidade, seja pelo custo envolvido, era o segundo.
Claro que, ao mesmo tempo que unia dentro do bando, essa
estratégia dividia entre bandos distintos.
Muito bem, assim foi por milhões de anos, com os bandos limitados
a cem pessoas, que era o alcance da comunicação entre indivíduos e do estabelecimento
de laços de confiança.
Até que apareceu o Sapiens e rompeu esse limite, como está muito
bem descrito no livro homônimo (Sapiens - Uma Breve História da
Humanidade, de Yuval Noah Harari).
Qual foi a grande invenção do Sapiens que permitiu ampliar,
não só a quantidade de indivíduos de um bando, mas o alcance territorial desse
bando?
Ele inventou o mito!
Somos todos farinha do mesmo saco, o que difere o Sapiens do
Neandertal é o lobo frontal, área que domina a imaginação e, consequentemente,
nos permite mentir com perfeição!
Seria esse tal “lobo” frontal um “lobo” mau? Afinal Thomas
Hobbes já nos alertava: "O homem é o lobo do homem!*"
* "homo homini
lupus", frase que, na verdade, é
do dramaturgo romano Plautus
Bela coincidência, a mesma palavra com significados tão
diferentes acabando por servir à mesma ideia!
Nosso ilustre ancestral sacou que se ele conseguisse
transmitir uma fantasia – ainda que levasse muito a sério suas crenças – poderia
juntar pessoas não só de tribos, mas de regiões inteiras, até de continentes
diferentes, porque, se esse mito se propagasse através, inicialmente da
tradição oral, muitos séculos depois pela escrita, seja de qualquer outro meio
de comunicação, ele conseguiria transmitir essa ideia, atraindo a confiança de
muitos pelo poder do mito. Sobre as fontes da força dessas fantasias, o livro
“O poder do mito” de Joseph Campbell dá pistas interessantes.
Aí fomos criando novos bandos, estávamos garantidos dentro
de uma religião, dentro de um estado, unidos como indivíduos de uma nação, com
um "Green Card", por uma ideologia.
Nos sentimos protegidos pelo bando pela maior parte de nossa
história como sociedade, até que, de repente, começou uma nova revolução, a
revolução liberal.
Curioso que essa revolução foi desencadeada justamente pelos
mesmos que defendem o estado forte, a economia centralizada e outras
características do socialismo.
Aos poucos fomos destruindo as bases sobre as quais
repousava nosso equilíbrio psicológico.
O conceito (mito) de um deus onipotente, por exemplo, foi
abalado por muitos pensadores.
O Paradoxo da Onipotência é um argumento que
contesta a onipotência de um ser divino. Surgiu na Era Medieval e foi abordado
por Tomás de Aquino (1225-1274). Sua forma popular mais conhecida é: “Pode Deus
criar uma pedra que não consegue carregar?”. Caso sim,
então não é mais onipotente; caso não, nunca foi onipotente.
Já que seu principal atributo não resistiu a um
simples teste lógico, especulou-se então que deus seria uma criação do homem, e
não o contrário como era a crença universal.
A revolução liberal começou na primeira metade do século XX,
com Marcuse e a escola de Frankfurt, que hoje, de certa forma, serve de
pretexto para um monte de ideologias, mas, enfim, era a libertação do homem, a
libertação sexual, a libertação moral, a queda das religiões e a coroação da
ciência como nova referência.
Tudo parecia muito lógico, afinal estávamos fazendo jus à expulsão do paraíso, havíamos finalmente digerido o fruto da árvore do conhecimento.
O que não percebemos é que com isso um monte de mitos foram
derrubados. Derrubando esse monte de mitos o que se fez de fato foi desfazer um
monte de bandos, um monte de tribos virtuais - afinal a realidade virtual não é
uma invenção moderna, muito menos ligada à informática, ela foi inventada pelo
Sapiens centenas de milhares de anos atrás. Nesse processo começamos a desfazer
a única cola que une a gente em grupos, a CONFIANÇA.
A nação não é mais respeitada como um bom bando, as
religiões muito menos e até a família já não é considerada um bom bando.
Paralelamente, todas as tradições e sabedorias acumuladas ao
longo da história humana são esquecidas.
Precisamos ser “homens superiores”, o Übermensch, conceito
central da obra de Nietzsche, ou seja acima das questões existenciais, livres
da necessidade de deuses e religiões.
Extrema clareza é aterrorizante!
Nesse ambiente um poder se eleva acima de todos os outros: o
MEDO! Esse é o ditador supremo do mundo atual, alimentando desde terrorismo até
crises existenciais.
Aliás, hoje, a grande crise é existencial. Tantos suicídios,
inclusive de jovens e crianças, se devem, principalmente, ao fato de não termos
mais o sentido de pertencimento que os antigos mitos nos davam.
Ainda que estejamos experimentando a sensação de medo com
mais frequência do que seria desejável, as evidências mostram que temos muito
menos motivos para isso do que gerações passadas e, quanto mais para trás se
olha, maior essa diferença.
As tentativas de criar novos mitos agregadores, como o
cientificismo, incluindo as pseudo ciências, ideologias políticas, enfim, são
conjuntos de ideias que não tem o poder e a profundidade dos mitos que
sustentaram a humanidade até aqui, pelo simples fato de que se resumem a isso,
ideias.
Os mitos que nos uniram nunca foram racionais, mas
essencialmente emocionais, derivados ou do medo ou do amor.
Sarça ardente
E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de
fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça
não se consumia.
Êxodo 3:2
Da mesma forma que Moisés, Jesus e Maomé conseguiram
inocular nos corações e mentes de bilhões de pessoas, por milhares de anos, uma
fantasia escalafobética, Marx, Engels e Gramsci inocularam as mentes de muitos
seguidores fiéis, com a promessa de salvação pelo estado proletário.
A essência dos dois mitos é a mesma, o fundamentalismo, isto
é, quem acredita será salvo, quem se opuser está a serviço do mal. O medo como
forma de aliciamento.
A diferença é que o primeiro é intensamente emocional e o
segundo exclusivamente racional.
No blog DeMimPro6, lá em 2014, publiquei o ensaio
Tesão&Taras, em que eu dizia que a humanidade se divide em duas sociedades
que coabitam o mesmo espaço, ao mesmo tempo:
1. As
máfias, o chamado crime organizado, um sistema de governo baseado em Tesão
& Taras que usa Missão e Valores como instrumento de poder: honra,
lealdade, devoção à causa da “famiglia”;
2. Os
governos institucionais, sistemas baseados em Missão e Valores e que usam Tesão
& Taras como instrumento de poder: marketing político, corrupção,
aliciamento.
A segunda é a formal, a ideal, fruto da ilusão de que somos
mais do que animais, a primeira é a real, onde somos mais humanos, ainda que
considerada marginal pela segunda!
Essa dicotomia não é uma característica deste ou daquele
momento da história da civilização, é “A” história da civilização e, na minha
opinião, sempre será, porque no embate entre segurança e liberdade, a primeira
nunca vai vencer a segunda.
O mais triste é que, não percebendo esse fenômeno, não
conseguindo reconhecer o abismo de carência em que vivem, os jovens se jogam de
cabeça em qualquer precipício fantasioso,
seja seguindo lideranças políticas, religiosas, filosóficas ou mesmo
embarcando em ideologias radicais.
Essa ingenuidade acabou agravando muito nossa condição
psicológica, já que esses mitos "modernos" só convencem em níveis
superficiais da consciência. Inconscientemente
os novos apóstolos percebem as enormes inconsistências dessas fórmulas criadas artificialmente
e com motivações muito mais egoístas do que autênticas.
A cada dia cresce o número dos desalentados, daqueles que só
acreditam na ciência e rejeitam qualquer mito diferente desse e, como a ciência
é o templo da dúvida, o espaço em que a incerteza tem que imperar, pela própria
natureza da busca pela verdade, se veem pisando em areia movediça.
Gabinetes do ódio, comportamento policialesco, sectarismo, aversão ao diálogo, são fruto de mentes convictas, indivíduos que “se” acham, colocando todos os que pensam diferente no lado do “mal”!
Nunca houve tanta animosidade entre pessoas que, até um momento antes, faziam parte da mesma camaradagem.
Como em um círculo vicioso, há um mecanismo de realimentação através do ódio, em que as atrocidades eventualmente cometidas pelo outro lado acabam reforçando as convicções do grupo. Os marxistas, por exemplo, que denunciaram o nascimento do nazismo, consolidaram ainda mais suas convicções depois da grande guerra, da mesma forma os fascistas, que, momentos antes, haviam denunciado o movimento comunista, consolidaram mais as suas certezas depois do surgimento da cortina de ferro.
O medo se manifesta de todos os lados, há os que temem as moléstias e há os que temem as vacinas.
Após comermos do fruto proibido, subjugando as ideias ao
escrutínio da lógica e da ciência, as
portas do paraíso se fecharam para nós e, mais grave, a partir de nossa visão
cientificista e predominantemente cética da realidade, construir mitos ou
"ideias" fortes o suficiente para voltar a nos reunir em bandos
coesos, garantindo a estabilidade psicológica perdida, é cada vez mais difícil,
senão impossível, porque a ciência se baseia no questionamento, na dúvida e no
ceticismo, muito mais causadores de polêmicas e discordâncias do que de
harmonia.
Paradoxalmente, o mesmo pensamento científico que nos
possibilitou avançar nas tecnologias do conforto e na expansão de nossa
espécie, está nos tornando céticos e carentes de sentido para a luta da vida.
Não se pode recuperar a ignorância perdida!
Os problemas ambientais não são nada frente aos problemas
psicológicos decorrentes da ausência de referências absolutas!
O alerta do Raulzito é sutil, a racionalidade levada até os
estertores da nossa psique está minando o único verdadeiro sustentáculo da
cabeça, que é o coração.
Nada nos impede de criar novas formas de relacionamento, de
sociedade e até de procriação, somos livres para isso, mas cada passo tem consequências
e refletir um pouco mais a fundo, ligeiramente abaixo do evidente, daquilo que
parece óbvio, se torna indispensável quando o nosso futuro e o futuro da
própria espécie estão em jogo.
Lembrando os Tribalistas, se queremos dar um pé em deus, temos que ter fé na taba: Tribalistas
Lembrando dos inimigos do homem: depois do MEDO, a CLAREZA é o inimigo a enfrentar: Day is done
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